Acho que será consensual dizer que este
díptico de Blueberry, correspondente aos álbuns #11 e #12 da série,
corresponde a um ponto de viragem nas suas aventuras e é nele que se
afirma como um dos melhores westerns
da banda desenhada.
Passo
a explanar
algumas das
razões
que, segundo
a minha prometida releitura da série, a pretexto da colecção ASA/Público em curso,
justificam aquela afirmação.
A primeira,
está
relacionada com a
sua temática. Depois de dois ciclos de alguma forma balizados pelos
seus contornos históricos - as guerras índias nos 5 primeiros álbuns e a construção do caminho de ferro que ligou os dois
extremos dos Estados Unidos, na tetralogia O
Cavalo de Ferro/O
homem do punho de aço/A pista dos Sioux/O
general “cabeça-amarela” -
e do (mais) estereotipado O
homem da estrela de prata,
aqui Charlier aborda uma outra temática - recorrente também no
género, reconheço - a busca
da fortuna em minas de ouro, de uma forma bastante original.
Por um lado,
porque constrói (mais uma vez, espelhando
a sua imagem de marca)
uma narrativa muito densa, com frequentes mudanças de orientação e
constantes surpresas, em que o leitor é arrastado, como o próprio
Blueberry, por um alemão de nome Prosit, na
busca de uma fabulosa mina perdida.
No seu rasto, com ele, atrás dele, surgem um McClure cego -
semi-literalmente
e pela
perspectiva de fortuna -, dois caçadores de prémios e um bando de
apaches, sendo que na verdade nem todos são o que parecem e
nem todos tê,m os mesmos objectivos.
Depois, de forma especialmente feliz, condimento a sua narrativa com
um toque de sobrenatural
- o tal ‘espectro’ que refere o título - que se torna uma
elemento extra a despertar a curiosidade do leitor. A variação de
situações e de paisagens, e o suspense constante de que o relato
está imbuído, são outros elementos a considerar.
Do ponto de
vista gráfico, penso poder escrever que este é o momento em que
Giraud deixa definitivamente para trás as (muito boas) influências
de Jijé. O seu traço revela-se mais solto e a caminho da
desinibição que ostentará mais para a frente e alcançará a sua
plenitude nas obras que assina como Moebius.
Em termos
narrativos, o recurso frequente a apenas três tiras por página ou a
quebra do esquema rígido de quatro tiras por página graças à
utilização de vinhetas de grande dimensão, imprime uma maior
dinâmica, permitindo ao mesmo tempo que Giraud demonstre o seu
virtuosismo nos
rostos, nas paisagens, nos detalhes… -
e deixe os leitores a ansiar por uma edição de grande formato da
obra…
Blueberry
#11 A Mina do Alemão Perdido
#12 O Espectro das Balas de Ouro
Jean-Michel Charlier (argumento)
Jean Giraud (desenho)
Relido na edição da
Meribérica/Líber
Portugal, 1988
210 x 290 mm, 46/56 p., cor, capa mole
(imagens recolhidas na base de dados BD Portugal; clicar nelas para as aproveitar em toda
a sua extensão)
Sem dúvida um dos meus favoritos Blueberry/Giraud...obrigatório
ResponderEliminarAcabei de o ler à relativamente pouco tempo, e curiosamente para além da triologia dos dólares/Homem sem nome do Sergio Leone que vi na mesma altura numa reposição em cinema (a mesma busca pelo ouro) levou-me a decidir comprar a actual colecção do Público, uma vez que até ai nem era grande fã do Blueberry. Coincidências engraçadas
ResponderEliminarPara mim, pessoalmente, estes albums são mesmo de viragem artística e de legibilidade, o que não se perdeu são os grandes diálogos à moda de E. P. Jacobs que se tornam menos densos devido ao aumento das vinhetas mas não menos chatos e muitas vezes redundantes sobre as imagens que os suportam.
ResponderEliminarPara mim Hermann com o seu Comanche e o seu Duke está a léguas, o western é americano por natureza e não francês ou belga, não tentando ser um purista estes pastiches palavrosos acabam por ser aborrecidos numa segunda leitura, sim está bem feito, é artístico, bla bla bla, mas é aborrecido.
Blueberry é o personagem que menos visitei nas últimas décadas, agora o Incal...
Sergio Leone também fazia pastiches mas era um mestre a usar o silêncio, ele acreditava que uma imagem valia por mim palavras, Charlier não.
ResponderEliminar