12/03/2011

Dennis the menace

Um traquinas sexagenário
Com 5 anos, louro, sardento e um sorriso cândido, Dennis, protagonista de uma BD estreada exactamente há 60 anos nos Estados Unidos, era o exemplo perfeito de um diab(inh)o em corpo de anjo, como aliás deixava antever o seu apelido: the Menace (a ameaça).
Na verdade, justiça lhe seja feita, as diabruras provocadas pelo miúdo, conhecido em Portugal como Denis o Pimentinha, por via das edições brasileiras distribuídas em tempos no nosso país, devem-se mais à sua vontade de ajudar os outros e à inocência própria da idade, do que propriamente a um desejo de fazer o mal ou prejudicar. Só que, infelizmente para ele, “de boas intenções está o Inferno cheio”, pelo que os fundilhos das suas calças frequentemente acabam por ser fraca protecção para as palmadas com que muitas vezes terminam as confusões que originou.
Porque, importa lembrar aos mais desatentos, nos anos 1950 o (enjoativo) “politicamente correcto” era (felizmente) desconhecido e um castigo corporal justo e com a justa medida era algo de natural. Até porque, o Dennis dessa época, por vezes era bem mais rude e mesmo violento, capaz de dar um nó (literalmente) no pescoço dum cisne, de rasteirar o pai ou de dizer à mãe para não ralhar com ele porque não era marido dela.
Depois, com o passar dos anos, amoleceu um tanto, e as suas partidas e travessuras tornaram-se mais leves e inocentes, sem que isso signifique que os cartoons e bandas desenhadas tenham perdido o humor e a capacidade de divertir. Claro que não será essa a opinião dos seus pais, o casal Mitchell, nem de Mr. Wilson, o vizinho do lado, os seus alvos de eleição.
Como imagem de marca Dennis veste umas jardineiras vermelhas, geralmente sujas de lama ou chocolate, tem quase sempre o cabelo revolto e anda na companhia do seu cão Ruff, companheiro de brincadeiras e (involuntárias) partidas. Da sua roda de amigos mais próximos, alternadamente cúmplices ou vítimas, fazem parte Joey, Margaret e Gina.
O seu criador foi Hank Ketcham (1920-2001), que fez a sua aprendizagem como ilustrador nos estúdios de animação de Walter Lantz e de Walt Disney, tendo neste último participado nas longas-metragens “Fantasia”, “Bambi” e “Pinóquio”. Durante a II Guerra Mundial, baseado na sua experiência na Marinha, estreou-se nos quadradinhos com o marinheiro Half Hitch, surgindo em 1951 a sua grande criação, o traquina Dennis the Menace, que, estreado em apenas 18 jornais, em poucos meses chegava já a mais de uma centena e, nos seus tempos áureos foi publicado em mais de um milhar de títulos, por todo o mundo.
Originalmente, Dennis protagonizava cartoons de imagem única, pontualmente divididos em duas vinhetas verticais. O seu sucesso imediato levaria o autor a desenvolver uma prancha dominical, logo no ano seguinte, e à criação de uma revista homónima, em 1953, que, anos mais tarde, ostentaria o selo da Marvel. Ketcham, com recurso a alguns assistentes, assumiu a sua criação até 1994, quando se reformou. A popularidade de Dennis faz com que continue em publicação nos nossos dias, agora assinado por Marcus Hamilton e Ron Ferdinand.

A Fantagraphics Books, a exemplo dos Peantus, tem em curso a reedição integral da obra de Ketcham, e no ano passado, os correios norte-americanos incluíram Dennis the menace (juntamente com Calvin, Garfield, Beetle Bailey e Archie) numa emissão filatélica intitulada Sunday Funnies Stamp.

Do papel, a ameaça saltou para o audiovisual em 1959, numa série televisiva protagonizada por Jay North que durou 4 anos. Regressaria no final da década de 80, em 78 episódios animados, antes de fazer a sua estreia cinematográfica em 1993, com Mason Gamble como protagonista e Walther Matthau como o infeliz Mr. Wilson.

Curiosamente, a 17 de Março de 1951, apenas 5 dias após a estreia do Pimentinha, estreava no reino Unido um outro Dennis the Menace, posteriormente baptizado de Dennis and Gnasher (o seu cão), para evitar confusões.
Publicado na revista infantil “The Beano”, é a banda desenhada mais antiga em publicação em Inglaterra, tendo como protagonista um miúdo considerado “o mais malcriado do mundo”. Criado por David Law, que o assinou até 1970, passaria depois pelas mãos de diversos autores, entre eles David Sutherland e David Parkins.
Este Dennis, que já teve duas adaptações animadas televisivas, é em tudo diferente do seu homónimo americano: mais velho, mais alto, tem cabelo escuro, usa camisola às riscas vermelhas e pretas e é também mais indisciplinado e malvado.

(Versão revista e aumentada do texto publicado no Jornal de Notícias de 12 de Março de 2011)

11/03/2011

Rui Ricardo na Mundo Fantasma

Data: 12 de Março a 1 de Maio de 2011
Local: Galeria Mundo Fantasma, loja 510, Centro Comercial Brasília, Porto
Horário: de 2ª a sábado, das 10h às 20h: Domingo das 15h às 19h


Amanhã, sábado, abre ao público na galeria Mundo Fantasma a exposição “Seduce and Destroy”, constituída por duas dezenas de ilustrações do portuense Rui Ricardo.
O autor, que estará presente na inauguração, publica desde os 15 anos de idade, dividindo a sua actividade artística entre a ilustração e a banda desenhada. Neste último campo, tem vários livros publicados, destacando-se “Superfuzz #1 – vai sonhando Paiva” (Devir), inicialmente publicado no jornal Blitz, “Sonho sem fim” (ASA), uma biografia de Pedro Couceiro, e obras mais pessoais como “Jogos Humanos” (ASIBDP) e “Canção do bandido” (Polvo).
Concluído o curso de Designer Gráfico da Faculdade de Belas Artes do Porto, Rui Ricardo entrou no mundo da animação através de um convite para participar na criação dos cenários digitais da série televisiva Major Alvega, tendo durante oito anos dividido o seu tempo também pela publicidade e video clip’s.
Regressado ao desenho, como freelancer, adoptou uma linha clara onde é notória a influência da estética manga, que tem aplicado em cartazes, campanhas e ilustração editorial. Hoje, é representado pela agência inglesa Folio, tendo colaboração publicada em jornais e revistas como FHM, Men’s Fitness, The Times, The Telegraph, The Mail on Sunday, GQ, Popular Mehanics ou Marketing Week.
A exposição, que é constituída por ilustrações recentes do autor, ficará patente até 1 de Maio na galeria Mundo Fantasma, no Centro Comercial Brasília, no Porto, é complementada com a edição de um giclé (impressão em papel especial) de tiragem limitada, numerado e assinado por Rui Ricardo.

The three paradoxes

Paul Hornschemeier (argumento e desenho)
Fantagraphics Books (EUA, 2007)
165x216 mm, 80 p., cor, brochado com badanas, 16,99 $USD

Que têm em comum o princípio da inexistência de movimento dos filósofos Zenão e Parménidas, os processos de criação em BD e a autobiografia?
A(s) resposta(s) encontra(m)-se (ou não…) em "The three paradoxes", no qual Paul Honrschemeier começa por reflectir sobre a criação em BD, quando não consegue definir uma sequência para a BD que cria. Abandona-a, por isso, para ir dar um passeio nocturno com o pai, a pretexto de fazer fotos dos seus lugares de infância para uma correspondente online, mas buscando isso sim a companhia (a segurança?) do progenitor.
Só que aqueles lugares trazem memórias, muitas memórias - que Honrschemeier vai narrando, em histórias paralelas, de traço e estilo diferentes, que revelam diferentes influências gráficas até - vincando o carácter autobiográfico do livro.
Nessas recordações aleatórias, ele procura as soluções de que a sua BD precisa, em avanços e recuos que não o convencem. E que mostram também a encruzilhada em que ele se encontra pois vai encontrar - finalmente - a tal correspondente, por quem já se apaixonou (?) numa antevisão optimista do encontro… Se bem que na antevisão em versão pessimista, ela traga uma faca para o matar…
"The three paradoxes" é, assim, uma narrativa sobre os processos da mente e a forma como eles condicionam a nossa percepção da realidade e um exercício no qual o autor joga com a forma e o conteúdo da obra que desenvolve - na sua BD e na realidade… da BD!

(Versão revista do texto publicado no Jornal de Notícias de 12 de Agosto de 2007)

10/03/2011

Cinemax


A pretexto da estreia portuguesa, hoje, do filme “As Múmias de Faraó – As Aventuras de Adèle Blanc-Sec”, de Luc Besson, - que pessoalmente aconselho - baseado na banda desenhada de Jacques Tardi, participei na gravação do programa Cinemax, nas suas duas versões (diferentes), na Antena 1 e na RTPN.
A versão áudio pode ser ouvida hoje, a partir das 23h12, com repetição dia 12, Sábado às 5h00 e às 18h00; quanto à versão televisiva, passa na RTPN, no próximo sábado, dia 12, às 20h30, repetindo dia 14, às 2h10.

Capitão América, 70 anos

Datada de Março de 1941 (embora pareça certo que foi distribuída em Dezembro do ano anterior), a “Captain America Comics” marcou a estreia de um novo super-herói, criado por Joe Simon e Jack Kirby e destinado a auxiliar o seu país na luta contra os nazis na II Guerra Mundial.
Por toda a Europa, onde as forças do Eixo tinham acabado de assinar um pacto, a guerra alastrava; na União Soviética, Trotsky, um dos líderes da Revolução Socialista era assassinado; no Norte de África, nada parecia poder deter as tropas de Mussolini; nos Estados Unidos, os preparativos para a guerra estavam a começar. Por isso, neste contexto, nada mais natural do que criar um herói que servisse de modelo, incentivasse e liderasse os jovens contra os nazis e os seus aliados.
Dessa forma, o Capitão América, sem super-poderes nem artefactos tecnológicos, dependia apenas da inteligência, da força física e da coragem. E, fora do uniforme, era Steve Rogers, numa primeira fase dispensado do exército por inaptidão física e posteriormente utilizado como cobaia de um soro especial, numa experiência que visava criar super-soldados que permitissem aos EUA sair vitoriosos do combate que se avizinhava.
Para apelar ao patrio-tismo, o novo herói, vestia as cores e os símbolos da bandeira dos Estados Unidos (as faixas, as estrelas) e tinha como única arma um escudo, que era triangular na revista de estreia, mas passou a redondo a partir da segunda, para evitar confusões (e um processo judicial) com The Shield, um herói surgido semanas antes.
O sucesso foi imediato e a revista, apesar do tom ingénuo (que hoje reconhecemos nas suas histórias), atingiu rapidamente vendas acima do milhão de exemplares – mais do que a “Times”… -, que se mantiveram mesmo com a saída da dupla de criadores no décimo número.
Ao lado do Capitão América, estava Bucky, um adolescente que por acaso descobriu a sua identidade secreta e Betty Ross, agente do governo e sua grande paixão. Mais tarde surgiriam o Falcão, Nick Fury e os Vingadores, como seus aliados nos combates pela liberdade.
Estes, de início eram contra os espiões que, nos EUA, na sombra, tentavam sabotar o esforço de guerra americano, o que não impediu que o Capitão América logo no segundo tomo, fosse até à Europa desbaratar as forças nazis e socar (literalmente) Hitler e Goering!
O fim da guerra – e a crise que se lhe seguiu – esvaziaram o interesse dos heróis patrióticos, levando ao cancelamento da revista em Fevereiro de 1950, pese embora uma tentativa vã de o transpor para a Guerra da Coreia.
E se hoje em dia morrer e ressuscitar é tão natural como respirar no universo Marvel, o Capitão América foi de certa forma um pioneiro neste aspecto. Desaparecido nas águas geladas do Oceano Ártico, na sequência de uma explosão, no final da II Guerra Mundial, sobreviveu graças ao soro que lhe fora injectado, mantendo-se em animação suspensa, até ser resgatado pelos Vingadores, já nos anos 60, pelas mãos de Stan Lee e, de novo, Kirby, vindo depois a passar pelas mãos talentosas da maior parte dos grandes criadores da Marvel-
Só que os tempos eram outros, o seu protagonismo desvaneceu-se, o seu desencanto com os “novos” EUA foi grande. Combateu então vilões comuns (sempre com o Caveira Vermelha à cabeça) e também políticos corruptos, chegando mesmo a enfrentar o governo americano quando os princípios em que acreditava eram postos em causa.
O início deste século trouxe-lhe novos adversários, os terroristas que atacaram Nova Iorque e Washington e todos aqueles que desafiam o exército americano pelo mundo. Por isso não surpreende vê-lo a servir de modelo e exemplo, nos comics que anualmente a Marvel cria para distribuição gratuita aos soldados americanos no estrangeiro.
Em tempos mais recentes, durante a saga “Guerra Civil”, que opôs super-heróis contra e a favor do registo das suas identidades secretas, os ideais que sempre defendeu fizeram dele o líder por excelência dos que, contra o governo, defendiam o direito à liberdade e à privacidade, o que culminou com a sua prisão e posterior assassinato a tiro à entrada do tribunal onde ia ser julgado. Enterrado com honras militares, o seu lugar seria ocupado por Bucky Barnes (um outro ressuscitado…). De forma temporária, no entanto, porque, pouco tempo depois, o Capitão América original regressou porque o seu legado não pode desaparecer enquanto os EUA tiverem inimigos no mundo.
Apesar do sucesso nos quadradinhos, o Capitão América só chegaria ao pequeno ecrã nos anos 60, como integrante da série animada “The Marvel Super Heroes”. Com excepção de dois filmes televisivos na década seguinte, as restantes aparições do herói, em desenhos animados, nunca foram em séries com o seu nome. Nos anos 90, o cinema dedicou-lhe um filme menor, protagonizado por Matt Salinger, e actualmente está em produção “Capitão América – O Primeiro Vingador”, com estreia prevista para Julho deste ano. Dirigido por Joe Johston, a partir do argumento de Christopher Markus e Stephen Mcfeely (que já trabalham na respectiva sequela), tem como protagonistas Chris Evans (Steve Rogers), Hugo Weaving (Caveira Vermelha), Tommy Lee Jones (General Phillips) e Hayley Atwell (Peggy Carter).

(Versão revista do texto publicado no JN de 5 de Março de 2011)

09/03/2011

Peanuts regressam aos quadradinhos

Charlie Brown, Snoopy, Lucy, Linus e os restantes companheiros vão regressar à banda desenhada já este mês. O anúncio foi feito pela editora norte-americana Kaboom!, confirmando assim os rumores que circulavam no meio dos quadradinhos, desde que os herdeiros de Schulz venderam os direitos da série à Iconix Brand Group Inc. por 175 milhões de dólares (cerca de 131,5 milhões de euros), em Abril do ano passado.
Ao contrário do que muitos pensavam, esta volta à BD não vai ser no tradicional formato de tira diária de jornal, mas sim numa novela gráfica intitulada “Happiness is a Warm Blanket, Charlie Brown” (“A felicidade é um cobertor quente, Charlie Brown”), que adapta o filme animado homónimo que também ficará disponível neste mês de Março e que assinala os 45 anos da estreia dos Peanuts na televisão.
São 80 páginas a cores, baseadas no trabalho de Schulz, com argumento do seu filho Craig Schulz e de Stephen Pastis (criador da tira de imprensa Pérolas a Porcos) e desenhadas por Bob Scott, Vicki Scott e Ron Zorman.
Pelas páginas iniciais da obra, já disponibilizadas pela Kaboom!, até agora mais conhecida pelas adaptações aos quadradinhos de criações da Disney e da Pixar (Donald Duck, The Cars, Nemo), é possível verificar que foi utilizado um estilo gráfico muito próximo do de Schulz e uma planificação dinâmica e variada.
Os Peanuts começaram a ser publicados em Outubro de 1950 e através deles, Schulz traçou um retrato duro e desencantado do mundo dos adultos, visto através de um grupo de crianças, que apresentavam todos os defeitos do ser humano. A última prancha dominical foi publicada a 13 de Fevereiro de 2000, um dia após a morte de Schulz, único responsável pelas 17 897 tiras da sua criação, pelo que esta é a primeira vez que os Peanuts têm uma assinatura diferente.
O sucesso da banda desenhada levaria os heróis de Schulz levá-los-ia a serem adaptados na televisão, em teatro e em musicais, gerando um sem número de artigos derivados, o que faz com que os respectivos direitos gerem um encaixe de cerca de 75 milhões de dólares por ano.


(Texto publicado no Jornal de Notícias de 8 de Março de 2011)

08/03/2011

Tintin

#11 – O Segredo do Licorne
#12 – O Tesouro de Rackham, o terrível
Hergé (argumento e desenho)
Edições ASA (Portugal, Setembro de 2010)
160 x 220 mm, 64 p., cor, cartonado, 8,90 €


Entre as muitas leituras aos quadradinhos que faço, confesso que Tintin tem (continua a ter) um lugar especial. Não por nostalgia de infância porque, se é verdade que o li – parcialmente - em criança, a minha relação – voluntária e consciente - com Tintin surgiu bem mais tarde e tem, por isso, mais contornos de relação estável e duradoura do que de paixão avassaladora mas passageira. Até porque, cada nova leitura, me leva a (re)descobrir novos motivos para admirar a obra-prima de Hergé.
Entre os diversos álbuns com as suas aventuras, “O Segredo do Licorne”, não sendo o meu preferido – esse destaque vai sem dúvida para “Tintin no Tibete” e “As Jóias da Castafiore” – será o que mais memórias me evoca. Curiosamente, em contradição com o que atrás escrevi. Porque o descobri – incompleto – em páginas de velhos exemplares de O Papagaio existentes em casa da minha avó e nelas, muitas vezes, o reli – incompleto, reforço – sem saber se e como Tintin chegaria a encontrar o famoso tesouro de Rackham, o Terrível.
Se este facto é determinante para o peso ”sentimental” que ele tem para mim, a verdade é que este álbum, melhor, o díptico “O Segredo do Licorne”/”O Tesouro de Rackham, o Terrível”, tem tudo para seduzir e conquistar qualquer leitor que a ele chegue sem preconceitos.
Desde logo, porque é, sem dúvida, um dos argumentos mais sólidos de Hergé, baseado na sempre motivadora busca de um tesouro, feita através de um inquérito, longo e recheado de percalços em que humor e mistério se combinam com perfeição.
Depois, porque é nele que se solidifica a relação do repórter com Haddock e é nele que se estreia Girassol. Também porque nele os Dupond/t têm um papel fundamental, não tanto como heróis, mas ainda como co-protagonistas com o papel – mais importante do que por vezes se pensa - de atenuar o clima de mistério, graças aos sucessivos disparates que dizem e fazem. E não deixa de ser curioso analisar como todos eles vieram, de alguma forma, ocupar um espaço que até agora (praticamente só) Milu preenchia, enquanto companhia, elemento de salvação e/ou de introdução de humor.
Voltando à questão do argumento, na construção da (longa) narrativa, veja-se como, em especial no primeiro álbum, ela funciona em blocos, de alguma forma autónomos, mas perfeitamente interligados e contribuintes imprescindíveis para o todo: a Feira da Ladra, a insistência pela caravela, a (fabulosa) recriação da história do Cavaleiro de Hadoque (com os paralelos entre o passado e o empolgado Haddock no presente), o carteirista, o rapto e prisão de Tintin, o confronto com os irmãos Pardal, a sua libertação.
E como, no segundo tomo, a tensão cresce, a expectativa aumenta, a curiosidade do leitor é incontrolável num relato em que, na verdade… se pode mesmo dizer que nada acontece! Porque se há uma busca a decorrer, sucedem-se os equívocos, os falhanços, as desilusões.
Tudo narrado com mestria, com uma técnica gráfica e narrativa inigualável, apurada, de uma enorme legibilidade, atraente e expressiva, aqui com um recurso pouco comum a vinhetas grandes. E com um perfeito controle do desenrolar das cenas, das atitudes das personagens, dos diálogos estabelecidos, com os momentos de tensão, de dúvida, de suspense a multiplicarem-se no final de cada prancha (a isso obrigava a publicação semanal em revista), sem uma quebra, um erro…
Tudo motivos para o leitor chegar ao final da leitura satisfeito, recompensado pelo tempo empregue. Tenha sido a primeira ou a vigésima vez que a fez.
E com a certeza que, depois deste díptico, nada ficou como dantes. Tintin, encontrou uma casa – o Castelo de Moulinsart – e uma família estável – Milu, Haddock, Girassol, os Dupond/t. As bases para o melhor período do herói – menos espontâneo, mais genial… - sobre o qual, possivelmente, virei a escrever (algumas vezes mais) aqui.

07/03/2011

Portugueses na Marvel

Lançados em meados de Fevereiro nos Estados Unidos, chegam no início desta semana, às lojas nacionais especializadas em banda desenhada importada, dois comics de super-heróis com participação portuguesa na sua autoria.
Um deles é o primeiro dos quatro números previstos de “Onslaught Unleashed”, que fica como a primeira mini-série desenhada por um artista português, no caso Filipe Andrade. Esta narrativa de Sean McKeever, um argumentista de primeira linha, que reúne o Capitão América, a Mulher-Aranha e alguns dos X-Men em novo confronto com o vilão Onslaught, conta com outro português na sua ficha técnica, Ricardo Tércio, como responsável pelas cores da publicação. Como é normal em projectos de alguma relevância da Marvel, foram feitas tiragens com capas alternativas, desenhadas por dois grandes autores da Casa das Ideias, Humberto Ramos e Rob Liefeld.
Ao mesmo tempo, chegará também “Marvel Girl #1”, uma história completa de Josh Fialkov, desenhada e colorida por Nuno Plati Alves, que narra como os poderes psíquicos da mutante Jean Grey se manifestaram após o seu namorado falecer num acidente automóvel, sendo necessária a intervenção do professor Xavier, dos X-Men, para a ajudar a controlá-los.
Entretanto, Nuno Plati Alves que, tal como Filipe Andrade, tem multiplicado as suas colaborações com a Marvel, terminou recentemente uma história curta do Homem-Aranha, estando agora a trabalhar num one-shot com o mesmo herói. A BD, de 8 páginas, será incluída na revista “Amazing Spider-Man” #657, em que, na sequência do recente desaparecimento do Tocha Humana e a sua substituição pelo Homem-Aranha, várias personagens evocam episódios que partilharam com aquele membro fundador do Quarteto Fantástico.
A participação de autores portugueses em revistas Marvel, que tem vindo a crescer nos últimos anos, geralmente leva a uma maior procura desses títulos nas lojas portuguesas, como aconteceu na Mundo Fantasma, no Porto, com “Onslaught Unleashed” e Marvel Girl #1, revelou ao JN Vasco Carmo.

(Versão revista do texto publicado no Jornal de Notícias de 27 de Fevereiro de 2011)

06/03/2011

Selos & Quadradinhos (29)

Stamps & Comics / Timbres & BD (29)
Tema/subject/sujet: Henry van de Velde (1863-1957)
País/country/pays: Bélgica/Belgium/Belgique
Autor/author/auteur: François Schuiten
Data de Emissão/Date of issue/date d'émission: 2003

05/03/2011

Bedeteca de Beja - Programação

Março de 2011
Exposições

MECÂNICA POPULAR
Exposição da obra gráfica de José Feitor

De 26 de Março a 30 de Abril
Visita à exposição, com o autor, dia 26 às 18h00.
Galeria Principal – 1º andar.

TINTIN
Uma revista dos 7 aos 77

De 26 de Março a 30 de Abril
Exposição bibliográfica.
Galeria da Ala esquerda – 1º andar.

COR
15 Ilustradores Portugueses

Até 10 de Março
Exposição de serigrafia com André Letria, Alex Gozblau, André Carrilho, Bernardo Carvalho, Daniel Lima, Filipe Abranches, João Fazenda, Miguel Rocha, Maria João Worm, Nuno Saraiva, José Manuel Saraiva, Pedro Burgos, Tiago Albuquerque, Tiago Manuel e Susa Monteiro.
Uma exposição do Ar.Co. e da Casa da Cerca, com o Centro Português de Serigrafia.
Galeria da entrada – R/C.

NO REINO DO TERROR
Até 11Março
Exposição bibliográfica de revistas de terror.
Galeria da Ala esquerda – 1º andar

CARLOS PÁSCOA
Até 19 de Março
Exposição de banda desenhada e ilustração.
Galeria Principal – 1º andar.


Montra de Março
Fanzine Funzip

De 1 a 31 de Março
O Funzip é um fanzine eclético, que junta várias sensibilidades, estilos e influências (dos comics americanos à mangá japonesa). Uma diversidade de estilos e influências que também se reflecte nas temáticas abordadas, que vão da crítica social à ficção científica, ao fantástico ou à aventura pura. É publicado sem interrupção desde 2004. Até ao momento saíram 5 números e uma edição especial. Editado pelo Grupo Entropia, tem como mentores e principais impulsionadores Paulo Marques e Ana Saúde. Pelas suas páginas já passaram autores como Álvaro, Andreia Rechena, André Oliveira, Bruno Silva, Carla Rodrigues, Daniela Varela, Filipe Duarte, Gastão Travado, Guilherme Mendes, J. B. Martins, Joana Lafuente, João Mascarenhas, João Sá-Chaves, Jorge Massuça, J. Veiga, Lara Santos, Melanie Romão, Miguel Martins, Nuno Nobre, Paula Carichas, Pedro Rito, Rui Mourão, Vanessa Nobre e XPeTO (além dos próprios Paulo Marques e Ana Saúde). O projecto foi apresentado em Beja, na última edição do Festival…
Bedeteca – 1º andar.

Cinema e BD
Conversas sobre Cinema e Banda Desenhada, por Véte, com exibição do filme VILÕES DA BANDA DESENHADA, de James Dale Robinson
.
Dia 10, quinta-feira, às 21h30
Bedeteca – 1º andar.
Entrada livre.

Cinema de Animação
Traços do Japão – Sessões de Anime da NCreatures

PADRINHOS DE TÓQUIO, de Satoshi Kon e Shôgo Furuya, apresentado por Paulo Monteiro.
Dia 17, quinta-feira, às 21h30
Bedeteca – 1º andar.
Entrada livre.

Noite de Western
Conversa sobre o célebre Blueberry, de Charlier e Giraud, por Paulo Monteiro, e exibição do filme OS SETE MAGNÍFICOS, de John Sturges, com Yul Brynner e Steve McQueen, apresentado por Hélder Castilho.
Dia 24, quinta-feira, às 21h30
Bedeteca – 1º andar.
Entrada livre.

Apresentações
Apresentação do livro Educação Estética Visual Eco-Necessária na Adolescência (MinervaCoimbra), de Elisabete Silva Oliveira. Diálogo com a autora sobre o tema.

29 de Março, terça-feira, das 17h30 às 19h00
Bedeteca – 1º andar.

Oficinas
Ouriço-do-Mar – Oficina de Banda Desenhada
Todas as terças-feiras, das 19h30 às 20h30
Para autores entre os 8 e os 12…
Bedeteca – 1º andar.
Entrada livre.

Toupeira – Oficina de Banda Desenhada
Todas as quintas-feiras, das 19h30 às 20h30
Para autores a partir dos 13 anos…
Bedeteca – 1º andar.
Entrada livre.

Clubes
Lemon Studio – Clube de Mangá

Todas as quintas-feiras, das 16h00 às 18h30
Bedeteca – 1º andar.
Entrada livre.

Magic The Gatering – Clube de Magic
Todos os Sábados das 15h00 às 20h00
Bedeteca – 1º andar.
Entrada livre.

Livro do Mês
A Trágica Comédia ou a Cómica Tragédia de Mr. Punch (Vitamina BD), de Neil Gaiman (argumento) e Dave McKean (desenho).
Donos de uma obra absolutamente singular, quer do ponto de vista da escrita, quer do ponto de vista da narrativa e do grafismo, Neil Gaiman e Dave McKean são dois dos mais excitantes e surpreendes autores de banda desenhada europeus.
A Trágica Comédia ou a Cómica Tragédia de Mr. Punch, uma obra-prima dos 2 autores britânicos, gira à volta do encontro entre um rapaz e um obscuro bonecreiro de passado misterioso. À medida que o bonecreiro revela as suas histórias, o rapaz confronta-se com terríveis segredos de família, pontuados pela violência, pela traição e pelo abuso. Uma fábula negra e desencantada sobre a inocência da infância e a dor da idade adulta.
Dave McKean esteve em Beja em 2008, por ocasião da exposição realizada com o seu trabalho, durante o IV Festival Internacional de Banda Desenhada de Beja.
A Trágica Comédia ou a Cómica Tragédia de Mr. Punch (104 páginas), foi publicada pela Vitamina BD em 2006 (a Bedeteca também dispõe da versão original, em língua inglesa). Neil Gaiman e Dave McKean são também os autores das obras O Dia em que troquei o meu pai por 2 peixinhos vermelhos e Os Lobos nas Paredes, igualmente disponíveis na Bedeteca.

Notícias
O Festival Internacional de Banda Desenhada de Beja aproxima-se a passo largos… Este mês, entre os estrangeiros, destacamos a presença de Aleksandar Zograf e Melinda Gebbie (a célebre autora de Lost Girls fará uma conferência sobre banda desenhada e censura. Um tema muito actual, por uma autora que tem a sua obra interditada neste momento). Entre os portugueses, que são muitos, destacamos a presença de Fernando Relvas, regressado da Croácia há pouco tempo…
O acervo da Bedeteca inclui muitas centenas de publicações - d’O Mosquito, ao Jornal do Cuto, passando pela revista Tintin… O acervo está praticamente inventariado e em breve todas estas centenas de publicações estarão disponíveis para consulta. Uma bela notícia, para quem gosta de sentir o cheiro do papel das velhas edições…

Nas escolas
Este mês vamos estar em Castro Verde, a fazer uma acção de formação para professores de vários concelhos do Alentejo. Uma acção de formação com uma forte componente prática, já que o que se pretende é que sejam os próprios professores a realizar a sua primeira banda desenhada…

(Texto da responsabilidade da Bedeteca de Beja)
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