05/09/2011

Vieilles canailles

Intégrale
Collection Turbulences
Carlos Trillo (argumento)
Domingo Mandrafina (desenho)
Vents d'Ouest (França, 6 de Julho de 2011)
225 x 298mm, 192 p., pb, cartonado
19.00€

Resumo
James Ricci, argumentista de televisão, tem um sonho escrever um grande romance baseado na história da sua família, os cinco irmãos e irmãs Centobucchi, os famosos Spaghetti Brothers: Amerigo, o gansgter cruel, Frank, o padre torturado e dividido quanto à sua vocação, Tony, o (ex-)polícia inflexível, caído em desgraça por uma cilada, Carmela, a assassina contratada transformada em evangelista, e Caterina, a actriz de filmes de terror…
Trata-se de um (longo) epílogo à série Spaghetti Brothers que Trillo e Mandrafina desenvolveram durante a década de 1990.

Desenvolvimento
Se a descrição das suas actividades já deixou evidente que esta não é de todo uma família normal, não deixa de ser um pálido intróito a uma família de todo disfuncional, em cujas vidas a violência, a traição, as violações e os abusos, os ódios recalcados e os fantasmas do passado (mal) enterrados são uma constante.
Ao remexer nesse passado, distante já de algumas décadas – os Spaghetti Brothers são hoje pouco mais do que velhos sós e esquecidos - para tentar conhecer as (saborosas) histórias que ele guarda, Ricci vai descobrir muitos dos segredos, podres e esqueletos que a família escondeu, mas também (re)descobrir a sua mãe e tios sob uma óptica diferente, ao mesmo tempo que constata que o tempo não conseguiu amaciá-los, humanizá-los nem apagar os ódios e os desejos de vingança latentes entre eles … apesar do retorcido sentido de família que têm como linha condutora na sua vida.
Entrevistando um após outro, vai conhecendo histórias, comparando versões, alinhavando uma linha condutora para o seu romance – ou para o argumento de uma BD, esta BD… - que nunca conhecerá a luz do dia por razões… que deixo ao leitor descobrir.
Como convido o leitor a conhecer esta narrativa de Trillo, dividida em capítulos sequenciais, mas auto-conclusivos, de 8 pranchas, ideais na sua génese para a publicação regular em revista. Relato duro, por vezes boçal, por vezes chocante, por vezes sórdido, sempre violento mas aligeirado com um assinalável humor negro irresistível, “Vieilles Canailes” lê-se de um fôlego, num tom entre a comédia e o drama. Como retrato de uma época passada – os anos 10, 20 e 30 do século passado, nos Estados Unidos - com a chegada e ascensão dos imigrantes italianos e da Máfia, de que ainda se encontram resquícios hoje em dia.
O trabalho gráfico de Mandrafina é competente, caricatural qb no tratamento das personagens para acompanhar o perfil duro mas risível que Trillo lhes atribuiu, quase sempre assente apenas no traço, já que poucas vezes recorre a tramas ou manchas de negro, um traço duro, personalizado e expressivo, com o qual compõe vinhetas intencionais e muito reveladoras.

A reter
- O tom da narrativa, entre o caricatural e o sórdido, irresistível no todo, próximo de um clássico dos anos 80 que os portugueses conhecem melhor, Torpedo 1936, de Abulli e Bernet.
- A sua construção formal, como um grosso romance dividido em capítulos auto-conclusivos que ajudam a saborear melhor cada momento da vida atribulada dos Centobucchi.
- O preto e branco de Mandrafina, perfeitamente ajustado ao relato e dum expressividade assinalável.
- A edição - mais um integral, é verdade…

Menos conseguido
- …a que falta, no entanto, um texto introdutório que ajude a situar a obra na sua génese, no seu contexto e na época em que foi publicada.

04/09/2011

Selos & Quadradinhos (62)

Stamps & Comics / Timbres & BD (62)

Tema/subject/sujet: Hulk
País/country/pays: São Vicente e Granadinas
Data de Emissão/Date of issue/date d'émission: 2003

03/09/2011

As Figuras do Pedro (VII)

Tintin

Figuras: Tintin no Tibet sentado
Fabricante/Distribuidor : Moulinsart
Ano : 2010
Altura : 5 cm
Material: PVC
Preço: 5,99 € (FNAC Espanha)

01/09/2011

Loustal – Livre à colorier

Collection Univers d'auteursJacques de Loustal
Casterman (França, 24 de Agosto de 2011)
211 x 281 mm, 11
2 p, pb, brochado
15,00 €

Os (já) muitos anos que levo a escrever sobre banda desenhada têm-me proporcionado com (agradável) frequência boas surpresas quando o carteiro me toca à porta. Este álbum, recebido sem contar, é mais um desses casos.
Impossível de imaginar no contexto da edição de BD em Portugal – e, francamente, em quase todos os outros países, com raras excepções – constituiu quase um piscar de olhos de um autor cuja carreira e percurso aos quadradinhos tem como uma das principais marcas o (bom) uso da cor.
Passo a explicar: este álbum, um livro de arte, não uma banda desenhada, recolhe cerca de uma centena de desenhos a preto e branco de Jacques de Loustal (um dos convidados do último Festival Internacional de BD de Beja).
Desenhos soltos, de temáticas diversificadas, por onde passam paisagens urbanas, marítimas e campestres, vulgares ou exóticas, e personagens, muitas personagens. Escritores, leitores, pintores e modelos (voluntários ou não…), músicos, desocupados e viajantes, polícias e gangsters, casais e solitários, gente apaixonada, gente junta, gente afastada… Desenhos emotivos, apaixonados, sentidos ou apenas retratos fixados num momento de inspiração. Exemplos diversos e heterogéneos da arte de um autor (re)conhecido que, reconheço, mostram que a (sua) opção pela cor serviu, sem dúvida, para os valorizar – muito, em muitos casos.
Não deixando de ser uma proposta curiosa, especialmente recomendável para os fãs de Loustal, que nelas poderão (re)descobrir os universos e temas que mais lhe são próximos, pode também servir de desafio a aspirantes a coloristas, que se atrevam a comparar as suas opções cromáticas com as que aquele autor francês (tão bem) nos tem proporcionado ao longo da carreira.

31/08/2011

As Melhores leituras de Agosto

12 Septembre (Casterman), vários autores

100 balas – volume 1 de 4 (Planeta de Agostini), de Brian Azzarello e Eduardo Risso

Tex #495, #496 e #497 (Mythos Editora), de Mauro Boselli e Alfonso Font

Vieilles Canailles (Vents d'Ouest), de Trillo e Mandrafina

Pop Rock Português em BD - Trabalhadores do Comércio (JN/DN+Tugaland), de Hugo Jesus, Pedro Pires e André Caetano

30/08/2011

Tex #500

Os demónios da noite
Boselli (argumento)
Ticci (desenho)
Mythos Editora (Brasil, Junho de 2011)
135 x 176 mm, 114 p., cor, brochada, revista mensal
R$ 11,90; 6,00 €


Só quem coleccionou revistas de banda desenhada conhece o sabor, o encanto e a expectativa que provocavam os números especiais. Que podiam ter formato diferente, mais páginas, novos heróis ou páginas a cores (no caso de revistas a preto e branco). Como acontece neste Tex #500.
E que surgiam em datas especiais – aniversário da revista, Natal… - ou em numerações redondas. Como acontece neste Tex #500.
Para quem comprava, lia e coleccionava as revistas, era sempre especial o aproximar da data de publicação do novo número, de que aos poucos se iam conhecendo pormenores quanto ao seu conteúdo, até finalmente o encontrar nas bancas. Mais gordo, maior, como recheio diferente. Geralmente mais caro. Como acontece neste Tex #500. (Aliás, a única excepção a esta regra de que me lembro foi o Falcão #1000, que duplicou as páginas sem alterar o preço, numa verdadeira prenda aos seus leitores…)
Mas deixemos as memórias e passemos adiante, porque o tema desta crónica, afinal, é o Tex #500. Número redondo, sempre assinalável, mais ainda se pensarmos que a revista, ao longo dos anos – foram necessários mais de 41 anos para o atingir! – passou pelo catálogo de várias editoras, que foram dando sempre continuidade à numeração.
Resistindo a tempos, épocas, modas, crises, revoluções, eleições e outras mudanças. Mantendo uma legião de fãs – estável mas renovada – que assegurou – sempre – as vendas necessárias para que o título continuasse mensalmente nas bancas. No Brasil, onde é editada a revista, e em Portugal, onde chega mensalmente.
Como é habitual – em Itália, nas centenas mais recentes também no Brasil – este número prima por ter as páginas coloridas. E com uma vantagem (enorme) em relação à colecção Tex Edição em Cores: tendo sido pensada de origem para a cor, não existem manchas de negro com cor “sobreposta”. Embora, há que escrevê-lo, a cor Bonelli fique uns bons furos abaixo daquilo a que estão habituados os leitores de BD franco-belga ou de comics americanos pelo que, para mim, Tex deve ser fruído a preto e branco, no belo preto e branco com que tantos grandes nomes dos fumetti no-lo têm presenteado…
Para além disso, traz como oferta aos leitores (e coleccionadores) um caderno extra que reproduz, em pequeno formato, ao ritmo de 9 capas por página, todas as capas brasileiras da revista, bem como um editorial do editor brasileiro Dorival Vitor Lopes, e dois artigos de Júlio Schneider, um sobre as capas raras do ranger e outro sobre a sua génese.
Quanto à história – que, na efeméride em causa, quase é secundária – originalmente publicada no Tex #600 italiano, narra uma ida de Tex ao Canadá, mais uma vez em auxílio do seu amigo Jim Brandon, para investigar (e enfrentar) um estranho bando – composto por seres-humanos, animais, a mistura de ambos ou seres sobrenaturais? – que tem como imagem de marca atacar na lua cheia e devorar as suas vítimas humanas… Desenvolvida de forma competente por Boselli, que mantém a dúvida no leitor durante boa parte da narrativa, conta com o traço dinâmico de Ticci, um dos autores veteranos de Tex.

A reter
- 500 números de Tex. É obra.

Curiosidade
- Para fazer a capa desta revista (invulgar no seu conceito, no conjunto do historial da publicação…), Claudio Villa inspirou-se na pose de John Wayne no poster do filme “The Searchers” (que em Portugal recebeu o título de “A Desaparecida”).


Nota pessoal
- Comecei a coleccionar o Mundo de Aventuras no nº 47, exactamente uma semana depois da publicação de um número especial, comemorativo do 25º aniversário da revista (embora a sua capa anunciasse o 26º aniversário!). Tendo descoberto o facto alguns anos depois, durante algum tempo – pelas razões que referi no início deste texto - cheguei a procurá-lo, mas em vão…

29/08/2011

Tintin à L’Ecran

Dominique Maricq La Poste + éditions Moulinsart + Centre Belge de la Bande Dessinée (Bélgica, Agosto de 2011)
64 p, cor, cartonado
77 €


Em complemento da emissão filatélica lançada hoje, atempadamente aqui anunciada, os correios belgas editam também este livro que, em seis capítulos, aborda a trajectória de Tintin no cinema desde "Le crabe aux pinces d’or", estreado a 21 de Dezembro de 1947, até "Le Secret de la Licorne", de Spielberg e Jackson, que estreia em Outubro próximo.
A tiragem está limitada a 5000 exemplares (em francês) + 1400 exemplares (em holandês), todos numerados e incluindo a emisão filatélica alusiva, com um carimbo especial.

28/08/2011

Selos & Quadradinhos (61)


Stamps & Comics / Timbres & BD (61)
Tema/subject/sujet: Hulk thourh the ages
País/country/pays: Madagascar
Data de Emissão/Date of issue/date d'émission: 1999

27/08/2011

As Figuras do Pedro (VI)

Calvin & Hobbes

Figuras: Calvin & Hobbes
Fabricante/Distribuidor : ? (Brasil)
Ano : ?
Altura : 4 e 7 cm
Material: Chumbo
Preço original: ?

26/08/2011

Chevalier Ardent #20

Les Murs qui saignent
François Craenhals (argumento e desenho)
Casterman (França, Setembro de 2001)
48 p., cor, cartonado
8,54 €

Durante muitos anos foram uma instituição dentro da banda desenhada francófona e era impensável fazer uma história sem eles. Falo dos heróis clássicos, os invencíveis, defensores do bem, inimigos do mal, capazes de saírem incólumes das situações mais complicadas, de vencerem os vilões mais retorcidamente maquiavélicos.
Em Portugal, pelo menos duas gerações deram os seus primeiros passos nos quadradinhos na revista Tintin (1968-1982). Nomes como Ric Hochet, Bernard Prince, Tounga, Luc Orient, Bruno Brazil ou Comanche, evocam boas memórias, sustos enormes, alívios imensos, recordações da infância, incontornáveis, inesquecíveis.
Um desses heróis, o Cavaleiro Ardente, atinge agora os 20 álbuns, com "Les Murs qui saignent", no qual François Craenhals, da forma que já conhecemos, desenvolve na Idade Média uma narrativa que combina acção e mistério, na qual conduz Ardent e Gwendoline na descoberta do segredo que envolve a morte da rainha Marmande.
Mas se os heróis e as técnicas narrativas são as mesmas, hoje olhamo-los com outros olhos. Mais críticos, mais realistas, menos capazes de se maravilharem, de se deslumbrarem. Por isso, às vezes os reencontros são penosos. Porque reparámos em personagens desproporcionados, em incongruências temporais, em respostas que ficam por dar, em soluções que deixam a desejar.
Mas quando ultrapassamos isso, quando pomos de lado o olhar crítico da maturidade, da responsabilidade (de alguma idade?) são como velhos amigos que revemos ao fim de anos de separação. Sabemos que não vão trazer nada de novo, que estão exactamente na mesma, que (quase) não mudaram, (quase) não envelheceram, que mantêm os mesmos ideais.
Olhamos para eles com nostalgia, perdoamos (todas?) as fraquezas, as coisas que só podem acontecer numa banda desenhada (e elas também existem para isso), só pela alegria do reencontro. E, por isso, continuam a alimentar os nossos sonhos. Nem que sejam os sonhos mais antigos, do tempo em que eles ainda eram mais fortes do que a realidade que nos envolvia.

(Texto publicado originalmente no Jornal de Notícias de 23 de Outubro de 2001)

25/08/2011

Conan, o bárbaro

Entre a queda da Atlântida e o dealbar da nossa civilização houve uma era de grande violência e de reinos esplendorosos na qual um homem se destacou: Conan, o bárbaro!Natural da Ciméria, forte, musculado, cabelos negros, olhos ferozes, frio, impiedoso, ladrão, pirata, saqueador, assassino, espalhou o medo e o terror com a sua espada, por vezes ao serviço de causas justas, sempre no seu próprio interesse. Juiz e carrasco de monarcas e príncipes, amante de belas mulheres, inimigo de poderosos feiticeiros, chegou mesmo a ser rei.
Tornado famoso pelos quadradinhos nos anos 70, mediatizado pelo cinema uma década depois, quando foi protagonizado por Arnold Schwarzenegger em dois filmes, Conan nasceu muito antes, da inspiração de Robert E. Howard escritor que, com ele, criou o género de “espada e fantasia”, caracterizado por combates violentos e intervenções sobrenaturais.
Natural do Texas, onde nasceu a 22 de Janeiro de 1906, Howard começou a escrever aos 9 anos, profissionalizou-se na escrita aos 15, mas só aos 24 viu o seu primeiro conto publicado, na revista “Weird Tales” - que acolheria a maior parte das suas criações – onde Conan nasceu dois anos depois.
Até se suicidar, em Junho de 1936, a par das aventuras do rei Kull, do aventureiro Salomão Kane ou da guerreira Sonya, escreveu mais de duas dezenas de contos e romances protagonizados pelo bárbaro e passados na Era Hiboriana, num passado pré-cataclísmico, entre o desaparecimento da Atlântida, engolida pelas águas, e a civilização actual que dela não guarda recordações nem vestígios.
Com uma escrita directa e forte, condimentada com violência e sexo, de pura distracção, Howard legou um universo, apesar de tudo credível e bem estruturado no qual a Marvel foi beber nos anos 70, dando uma nova vida e uma nova dimensão a Conan, através de artistas talentosos como Roy Thomas, Gil Kane, Barry Windsor-Smith, John Buscema ou Alfred Alcala que, adaptando as novelas originais ou criando novos relatos, mantiveram altos os níveis de erotismo e violência, o que forçou a sua publicação a preto e branco para contornar o rígido código de censura que regia os quadradinhos americanos.
Em 2004 os direitos de Conan seriam adquiridos pela Dark Horse que continua a publicar as suas aventuras em BD, assinadas por Kurt Busiek e Cary Nord, entre outros.
Conan, aos quadradinhos, estreou-se em Portugal no Mundo de Aventuras, em 1975, tendo algumas das histórias sido depois recuperadas em álbum pela Editorial Futura, tendo passado também pelo catálogo da Devir.
Às bancas nacionais chegaram igualmente diversas revistas brasileiras, a mais recente das quais “Conan, o bárbaro”, da Mythos Editora.
O filme, que hoje estreia, dirigido por Marcus Nispel e protagonizado por Jason Momoa, rachel Nichols, Stephen Lang e Rose McGowan, a julgar pelo que os trailers já mostraram, promete contribuir para cimentar a fama do bárbaro!















(Versão revista e aumentada do texto publicado no Jornal de Notícias de 25 de Agosto de 2011)
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