06/01/2012

Cisco Kid - "Lucy, Flor Roja y Belle"








Rod Reed (argumento)
José Luís Salinas (desenho)
Colecção Cómics de Prensa
Libros de Papel (Espanha, Dezembro de 2011)
280 x 235 mm, 88 p., pb, brochado
16,50 €


1.       Descobri Cisco Kid na minha adolescência, nuns velhinhos fascículos encadernados da Colecção Audácia, em casa da minha avó.
2.      Casa que, aliás, foi fértil em proporcionar-me descobertas de revistas dos anos 1930 a 1960, deixadas pela minha mãe e tios e que hoje estão na minha “biblioteca”.
3.      Talvez por isso, apesar de depois o ter (re)encontrado com alguma regularidade no Mundo de Aventuras, para mim, as aventuras de Cisco são a preto, branco e uma cor, no caso o vermelho desmaiado com que o vi pela primeira vez.
4.      E foi essa a recordação que me veio de imediato à memória, quando olhei para a capa desta nova incursão de Manuel Caldas pela edição de bandas desenhadas clássicas norte-americanas.
5.      Com a edição, como habitualmente, bem enquadrada por um texto introdutório, conciso mas bastante completo e interessante, da autoria de Manuel Andrés.
6.      Incursão que, como não poderia deixar de ser, foi feita com a minúcia, rigor e competência habituais, o que permite desfrutar das tiras inicias de Cisco Kid como, possivelmente, nunca até hoje tinham sido publicadas.
7.      E, reconheço, é um prazer admirar o traço realista, fino, elegante e dinâmico do argentino José Luís Salinas, nesta edição, em que os pretos – sim, o interior é “apenas” a preto e branco! – têm uma nitidez e um brilho inigualáveis!
8.      E, maior é esse prazer, nas vinhetas e pormenores reproduzidos num formato próximo dos originais de Salinas, sem que o seu traço perca com isso.
9.      Foi com esse (soberbo) extra, que recordei este pouco convencional western, protagonizado por um invulgar cowboy, decidido e bom atirador como todos os heróis, mas igualmente romântico e conquistador, sempre mais preocupado com as – belíssimas – mulheres com que se cruza, do que com os perigos proporcionados por facínoras e peles-vermelhas.
10.  Porque, se a base da trama de cada história – e neste tomo são três – encaixa facilmente nos estereótipos do género, com juízes pouco honestos a criar esquemas duvidosos para se apoderarem de terras, traficantes de armas a tentar provocar guerras entre índios e brancos ou aventureiros em busca de minas de ouro perdidas, elas integram igualmente temáticas bem mais originais.
11.   Por um lado, o tal tom romântico, (por causa dele?) reforçado pelo protagonismo que é dada às personagens femininas – no caso, a Lucy, a Flor Roja e a Belle presentes do título deste volume.
12.   Depois, porque esse protagonismo existe também porque elas são bem mais do que seres frágeis e indefesos a necessitar do abraço protector e acolhedor do herói; Lucy, Flor Roja e Belle são (muito) belas e sensuais, ninguém duvide, mas também activas e inteligentes, interventivas e resolutas, provocando mais a acção do que o próprio Cisco.
13.   Este facto dá um tom de emancipação feminina a este western, temática claramente presente aliás na narrativa inicial - aquela com que Cisco se estreou nos quadradinhos, em tiras diárias, a 15 de Janeiro de 1951, num prolongamento da sua pré-existência como protagonista de um romance de O. Henry e de alguns filmes.
14.  Finalmente, em todas as histórias há também uma nota de humor, que as aligeira, dada por Pancho, mexicano como Cisco, mas em tudo o mais diferente dele: gordo, desajeitado, amante de comida e de dormir e fonte inesgotável de gags.
15.   A talhe de foice ao que atrás ficou escrito, acrescento que o presente volume recolhe, num tamanho apreciável, todas as tiras publicadas pelo King Features Syndicate desde a estreia de Cisco até 13 de Outubro de 1951.
16.   E, esclarecendo quem possa pensar o contrário, não se trata do primeiro volume da reedição integral da obra mais conhecida de J. L. Salinas porque, afirma Manuel Caldas no preâmbulo, não dispõe “de material de reprodução com a qualidade” que os seus critérios editoriais exigem.
17.   O que não tem que ser negativo pois, em alternativa, Caldas propõe-se que - se houver “público para apoiar (ou alguém com ganas de, por puro amor à arte, ajudar)” - este seja o tomo inaugural da colecção Cómics de Prensa, que num futuro que se deseja próximo, incluirá  títulos como Casey Ruggles (já em preparação!), Scorchy Smith, Dickie Dare, Gasoline Alley, Jed Cooper, Drago ou outros.
18.   Por isso, mesmo estando em espanhol, por favor tratem de comprar o livro, que até só chegará às livrarias (do país vizinho…) em Fevereiro, directamente ao editor porque receberão a reprodução de uma tira no formato original em que foi desenhada e, mesmo “só” a preto e branco, esta é mais uma daquelas edições imperdíveis como tantas outras que Caldas (nos) tem proporcionado.

05/01/2012

Cavaleiro Andante nasceu há 60 anos


A 5 de Janeiro de 1952, um sábado, surgia pelas primeiras vez nas bancas portuguesas o “Cavaleiro Andante”, um dos mais importantes títulos do jornalismo infanto-juvenil português.
A nova publicação vinha retomar o “combate” com o Mundo de Aventuras, ocupando o lugar deixado vago pelo Diabrete uma semana antes, por isso, ao contrário do habitual, havia quase uma sucessão pacífica, com títulos e colaboradores a passarem de uma para a outra.
Era o caso de Fernando Bento (1910-2010) que trazia para a nova revista o seu estilo elegante e personalizado, assinando logo no número inaugural as primeiras páginas de Beau Geste, baseado no clássico de Percival C. Wren, uma das suas mais conseguidas criações, e também a capa, com um cavaleiro de armadura montado num fogoso corcel.
Essa mesma capa, que anunciava 20 páginas e 12 aventuras ilustradas pelo preço de 1$80, referia já dois dos aspectos que seriam recorrentes ao longo dos seus 10 anos de existência: separatas para construir (no caso, um jogo de “Oquei em patins” – sic!) e concursos, sendo oferecido aos leitores um rádio Philips por semana!
A revista distinguiu-se também pelas construções de armar e pelos suplementos que acolheu: “Pajem”, para os mais novos, “Andorinha”, para as meninas, “Desportos e “Bip-Bip”. Em paralelo, até 1963, lançou a colecção “Álbum do Cavaleiro Andante”, que teve 107 números publicados com histórias completas, antecipando uma moda que se viria a impor, bem como alguns números especiais e de Natal.
No número inaugural do Cavaleiro Andante, para além de Bento, o destaque ia para dois autores que marcariam a publicação: o italiano Franco Caprioli, autor de algumas das mais belas adaptações de clássicos da literatura, e Hergé com “Tim-Tim no templo do Sol”.
Ao longo dos anos, surgiriam outros nomes grandes das histórias aos quadradinhos europeias e norte-americanas: Macherot (Chlorophille), Jijé (Jerry Spring), Cuvelier (Corentin), Goscinny e Uderzo (Astérix, recuperado do entretanto extinto Foguetão) ou Tufts (Lance, rebaptizado “Flecha”, actualmente reeditado em álbum em Portugal), as estreias de Edgar P. Jacobs (Blake e Mortimer), Morris (Lucky Luke), François Craenhals, Bob de Moor, Jean Graton (com Michel Vaillant, aliás Miguel Gusmão!) ou Tibet, bem acompanhados pelos portugueses José Garcês, Artur Correia ou José Ruy.
Fruto da época que então se vivia e da pressão crescente da censura (e da auto-censura), a maior parte deste material vinha das melhore revistas católicas franco-belgas e italianas, obedecendo “a uma probidade e sensatez absolutas”, como escreve A. Dias de Deus em “Os Comics em Portugal”.
A sua selecção esteva a cargo de Adolfo Simões Müller (1909-1989), anteriormente responsável pelo Papagaio, Diabrete ou Foguetão que, ainda segundo Dias de Deus, soube conciliar “as preferências da juventude” com “os condicionamentos impostos pelas normas de educação dita formativa”.
O Cavaleiro Andante, que também se destacou pelo bom papel e impressão, terminaria no nº 556, a 25 de Agosto de 1962, registando uma mudança de formato no nº 327 e a crescente preferência por histórias completas na fase que corresponde ao seu declínio e fim.


Hoje em dia, uma colecção completa deste título, segundo alguns especialistas, poderá valer entre três e quatro mil euros, dependendo do seu estado e da pressa do comprador. Isto porque, quem tiver tempo e paciência poderá encontrar muitos dos números da revista em leilões online ou em feiras de usados. Como é habitual nestes casos, os números mais raros são os primeiros, mais antigos, os últimos, quando a tiragem era mais baixa, e os que correspondem à mudança de formato, pois nesses a tendência para se deteriorarem era maior. Por isso, não se surpreenda se lhe pedirem até 100 euros pelo Cavaleiro Andante nº 1 ou o dobro daquele valor pelo nº 556.

04/01/2012

Bedeteca de Beja - Janeiro

Exposições
De 25 de Janeiro a 29 de Fevereiro
SÉRGIO GODINHO E AS 40 ILUSTRAÇÕES
Exposição de Ilustração
Com André Carrilho, Cristina Valadas, Henrique Cayatte, João Fazenda, João Maio Pinto, Jorge Colombo, José Brandão, Nuno Saraiva, Pedro Proença, Sara Maia, Susa Monteiro, Teresa Lima e muitos outros…
Local: Rés-do-chão.
Organização: CMB (Bedeteca de Beja) / abysmo
Nota: a exposição inaugura dia 25, às 18h30.

Até 21 de Janeiro
BD NA PLANÍCIE
Exposição de Banda Desenhada
Com Beatriz Caetano, Ágata Lobo, Carlos Apolo Martins, Carlos Páscoa, Inês Freitas, João Laia, João Lam, Leonor Elias, Lobato, Luís Guerreiro, Manuel Monteiro, Maria Barriga, Maria João Careto, Miriam Dinis, Nuno Figueira, Paula Estorninho, Paulo Monteiro, Pedro Ganchinho, Susa Monteiro, Véte, Vítor Cabral, Zé Francisco, Zé Maria e Zé Pedro.
Local: Rés-do-chão e 1º andar.
Organização: CMB (Bedeteca de Beja) / Toupeira – Ateliê de Banda Desenhada.


Ilustração e Banda Desenhada
Dias 19 e 26 de Janeiro, e 2 e 9 de Fevereiro, das 18h30 às 20h00
WORKSHOP DE TÉCNICAS DIGITAIS APLICADAS À ILUSTRAÇÃO E À BANDA DESENHADA
Com NUNO GÓIS
Horário: quintas-feiras, das 18h30 às 20h00.
Local: Bedeteca de Beja, 1º andar, ala esquerda.
Preço: 7,00 euros por sessão (4 sessões).
Organização: CMB (Bedeteca de Beja) / Nuno Góis.


Livro do mês na Bedeteca
BUSCAVIDAS, de Carlos Trillo e Alberto Breccia
Neste livro seguimos as deambulações de um “coleccionador de vidas” sempre atento às pequenas e grandes histórias das pessoas… Uma genial incursão pela alma humana escrita por Carlos Trillo, servida pelo fabuloso desenho a preto e branco de Alberto Breccia.



Clubes

Ao longo de todo o ano
LEMON STUDIO – CLUBE DE MANGÁ
Horário: sextas-feiras, das 16h00 às 18h30.
Local: Bedeteca de Beja, 1º andar, ala esquerda.
Entrada livre.
Organização: CMB (Bedeteca de Beja) / Lemon Studio.


Ateliês

ATELIÊ DE ILUSTRAÇÃO CIENTÍFICA
Com ANA LOPES
Horário: terças e quintas-feiras, das 19h30 às 21h15.
Local: Sala de Desenho, 1º andar, ala direita.
Organização: Associação Pegada no Futuro.
Parceria: CMB (Bedeteca de Beja).

 
OURIÇO-DO-MAR – ATELIÊ DE BANDA DESENHADA
Com PAULO MONTEIRO
Dos 8 aos 12 anos.
Horário: todas as terças-feiras, das 18h30 às 20h00.
Local: Bedeteca de Beja, 1º andar, ala esquerda.
Organização: CMB (Bedeteca de Beja).
 
TOUPEIRA – ATELIÊ DE BANDA DESENHADA
Com PAULO MONTEIRO
A partir dos 13 anos.
Horário: todas as quintas-feiras, das 18h30 às 20h00.
Local: Bedeteca de Beja, 1º andar, ala esquerda.
Organização: CMB (Bedeteca de Beja).
 

Outros Serviços

CEDÊNCIA DE ESPAÇO PARA ATIVIDADES
Apoio e cedência de espaços, a escolas e outras instituições, para a realização de reuniões e eventos na área da banda desenhada ou da ilustração.

APOIO A ALUNOS E PROFESSORES
Apoio a alunos e professores para a realização de exposições ou outros projectos específicos na área da banda desenhada e ilustração.


Contactos e Horários

BEDETECA DE BEJA
Edifício da Casa da Cultura
Rua Luís de Camões
7800 – 508 Beja
Telefone: 284 313 318
Telemóvel: 969 660 234
Horário: de terça a sexta-feira, das 14h00 às 17h30, e das 19h30 às 23h00. Sábados das 14h00 às 20h00.
 

Parceiros

PARCEIROS PARA A PROGRAMAÇÃO
Associação para a Defesa do Património Cultural da Região de Beja / Associação Pegada no Futuro / Lemon Studio / Museu Regional de Beja / NCreatures

PARCEIROS PARA A DIVULGAÇÃO NA NET
AS LEITURAS DO PEDRO, CENTRAL COMICS, KUENTRO, LEITURAS DE BD e NOTAS BEDÉFILAS

(Textos e imagens da responsabilidade da organização)

03/01/2012

Dog Mendonça e PizzaBoy na Dark Horse Presents









Filipe Melo (argumento)
Juan Cavia (desenho)
Santiago Villa (cor)
Martin Tejada (adaptação sequencial)
Dark Horse Presents #4 a #7 (EUA, Setembro a Dezembro de 2011)
170 x 260 mm, 80 p., cor, brochado, mensal
$7,99

02/01/2012

The Walking Dead #2 - Um longo caminho













Volume 2 – Um longo caminho
Robert Kirkman (argumento)
Charlie Adlard (desenho)
Cliff Rathburn (tons cinzentos)
Devir (Portugal, Novembro de 2011)
170 x 255 mm, 136 p., pb, brochado
14,99 € 

01/01/2012

2012

2011 foi um ano bom para mim. A vários níveis. E também no que à banda desenhada diz respeito – com certeza aquilo que mais interessa a quem visita este blog – sem que isso questione outros aspectos e valores, alguns sem dúvida bem mais importantes.
Durante o ano que terminou li mais histórias aos quadradinhos do que alguma vez tinha feito. Algumas centenas de títulos, vários (muitos?) milhares de páginas. Em português, francês, espanhol, brasileiro e inglês. Em revistas, recolhas, compilações, livros, álbuns, integrais, fanzines, webcomics e/ou o que mais lhes queiram chamar.
Dessa forma, pude partilhar neste blog algumas centenas dessas leituras. E algumas dezenas de iniciativas com elas, de alguma forma, relacionadas,
Por isso, a todos que de alguma forma contribuíram - escrevendo, desenhando, colorindo, legendando, editando, organizando, divulgando histórias aos quadradinhos - o meu sincero muito obrigado pelo que fizeram e por o terem feito chegar até mim.
Agora começa 2012. Com (muitas?) nuvens negras que alguns (demasiados?) teimam em colocar no nosso horizonte, para ensombrar o ano que mal se iniciou. Temendo que elas venham a escurecê-lo demasiado, parafraseando uns gauleses célebres, anseio que amanhã não seja a véspera do dia em que tal acontecerá.
Por isso, também por isso, aos leitores destas Leituras do Pedro – renovadas no aspecto, mas continuando com as mesmas bases e princípios que as têm balizado – e a cada um daqueles que cria, edita, divulga histórias aos quadradinhos, desejo que cada amanhã seja melhor do que o hoje, concretizando (também) todas as leituras que cada um quiser.
Quase nada #136 - Fábio Moon e Gabriel Bá

31/12/2011

Melhores Leituras

Dezembro de 2011


A arte de As Aventuras de Tintin (ASA), de Chris Guise

Blankets (Devir), de Craig Thompson

J.Kendall – Aventuras de uma criminóloga #79 – Sangue do meu sangue (Mythos), de Giancarlo Berardi, Maurizio Mantero e Federico Antinori

La teteria del oso malayo (Astiberri), de David Rubin

Níquel Náusea - Um tigre, dois tigres, três tigres

de Brian Lee O’Malley

The Walking Dead #2 - Um longo caminho (Devir),
de Robert Kirkman, Charlie Adlard e Cliff Rathburn

Zits - Dá-lhe gás! (Gradiva), de Jerry Scott e Jim Borgman

30/12/2011

Tif et Tondu

#7 – Enquêtes à travers le monde
Les Intégrales Dupuis
Tillieux (argumento)
Will (desenho)
Dupuis (Bélgica, Setembro de 2007)
218 x 286 mm, 160 p., cor, cartonado, 19,95 €

Resumo
Sétimo tomo dos doze previstos da reedição integral temática de Tif e Tondu, reúne os álbuns “Sorti des Abîmes” (19º da série), “Le Scaphandrier mort” (21º) e “Tif et Tondu à New York” (23º), originalmente publicados na revista “Spirou” entre 1971 e 1974, bem como um dossier sobre os autores.

Desenvolvimento
Sei que recorrentemente tenho referido aqui os volumes integrais em que as editoras francófonas têm apostado fortemente nos últimos tempos e só não me declaro viciado neles porque esse seria um vício caro – não pelo preço em si de cada tomo, altamente tentador, mas pela grande quantidade de títulos actualmente disponíveis.
E a verdade é que, neste formato, com esta roupagem, devidamente enquadradas pelos dossiers que geralmente abrem o livro, até séries, não menores mas de nível médio, como Tif e Tondu, revelam novos focos de interesse.
No presente volume, destaco mais uma vez o dossier inicial que, apesar de relativamente curto em termos de texto (da autoria do conhecedor Didier Pasamonik), é profusamente ilustrado com diversos documentos (fotografias, originais, inéditos, capas de revistas, etc.) e aborda de forma bastante completa e atractiva o método de trabalho e as rotinas de Will e Tillieux, enquadrando o seu trabalho na sua época e no âmbito da banda desenhada francófona, contribuindo assim para traçar mais um capitulo da história das histórias aos quadradinhos franco-belgas.
Tematicamente – é essa a forma que esta colecção adoptou – temos mais três aventuras de Tif e Tondu que se distinguem por os encontramos longe do seu habitat natural – em Londres, numa ilha distante do Pacífico, em Nova Iorque – onde levam a cabo os habituais inquéritos, nos quais mistério, fantástico, acção, humor e ingenuidade se complementam para proporcionar uma leitura leve mas bem disposta a quem nela se embrenhar.
Acompanhados pela bela – mas nem sempre paciente e razoável – condessa Kiki, assumindo cada um na sua vez diferentes graus de protagonismo nas narrativas, vêem-se envolvidos – sempre de forma involuntária - numa caça a um monstro marinho à solta no Tamisa, na descoberta de um segredo – um tesouro? – perdido nas profundezas marinhas e numa caça a mafiosos provocada por uma troca de malas.
Das três aventuras propostas, destaco a primeira, pelo seu tom de mistério e fantástico que mantém o suspense – e o interesse dos leitores – ao longo de mais de metade das suas páginas, criado pela expectativa do que poderá causar o suposto monstro marinho à solta nas nevoentas docas londrinas.

A reter
- O formato em si. Pela estrutura, pela recuperação de clássicos, pela boa relação qualidade/preço.
- A nostalgia provocada pelo tom saudavelmente ingénuo da série.

Menos conseguido
- Sendo uma reedição organizada tematicamente, esta colecção separa álbuns com alguma continuação, o que não faz muito sentido…

29/12/2011

Há 60 anos, o fim de O Diabrete

A 29 de Dezembro de 1951, um sábado, chegava ao fim mais uma das grandes aventuras do jornalismo infanto-juvenil em Portugal: tinha por título “Diabrete” e durante uma década tinha sido “o grande camaradão” da pequenada, como se lia no seu cabeçalho.
O seu primeiro número surgiu à venda por 50 centavos, a 4 de Janeiro de 1941, sendo propriedade da Empresa Nacional de Publicidade e tendo como director Artur Urbano de Castro. Na sua capa, pouco atractiva para os padrões actuais, apenas se destacava o cabeçalho desenhado por Fernando Bento (um dos muitos que fez para a revista).
O desenhador português, que foi um dos grandes pilares da publicação – o principal no que à BD diz respeito - assinava também as aventuras de “Béquinhas, Beiçudo e Barbaças”, história aos quadradinhos cómica que merecia honra de primeira página e seria publicada ininterruptamente até ao nº 255.
No “Diabrete”, Fernando Bento deixaria uma marca indelével, assinando inúmeras adaptações de clássicos de aventuras, com Júlio Verne à cabeça, sendo sem dúvida o grande nome da publicação onde também se distinguiu Vítor Péon e Fernandes Silva com o detective “O Ponto”.
A primeira grande revolução na revista, que marcaria todo o seu percurso posterior, e que contribuiu decisivamente para a saudável rivalidade que alimentou com “O Mosquito” ao longo da sua existência, aconteceu logo no vigésimo número, quando Adolfo Simões Müller assumiu efectivamente a sua direcção e também grande parte da sua produção literária, a par de Maria Amélia Barça. Como era então habitual, o “Diabrete” incluiu separatas e construções de armar, organizou concursos e espectáculos e editou romances destacáveis e alguns mini-álbuns, entre os quais “O Dragão Teimoso”, de Walt Disney.
Ainda no que diz respeito a autores estrangeiros, destaque para os irmãos Jesus, Adriano e Alejandro Blasco, e para as estreias em Portugal de “Tarzan”, de Burne Hogarth, “Rusty Riley”, de Frank Godwin, “Bob e Bobette” de Willy Vandersteen, e “Quick e Flupke” (rebaptizados Trovão e Relâmpago), de Hergé. O “Diabrete” também publicou o “Agente secreto X-9”, de Alex Raymond, e, já na sua fase final, na esteira do encerramento de “O Papagaio”, três aventuras de “Tintin”, a última das quais deixada incompleta com o fim da revista, no número 887, no final de 1951.
Uma semana depois, os leitores reencontravam o célebre repórter e outros dos heróis do “Diabrete” no número inaugural do “Cavaleiro Andante”. Mas isso, foi outra aventura. 

Nota: Àqueles que queiram aprofundar a história desta revista, aconselho a monografia “Diabrete – O grande camaradão de todos os sábados”, da autoria de José Azevedo e Menezes. 

(Versão expandida do texto publicado no Jornal de Notícias de 29 de Dezembro de 2011)
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