Em Maio de
1962, Stan Lee e Jack Kirby apresentavam aquele que viria a ser um dos mais
carismáticos personagens da Marvel: o Incrível Hulk. Versão modernizada do
clássico de Stevenson, “O Estranho caso do Dr. Jeckyll e Mr. Hyde”, estreou-se
em Maio de 1962, em revista própria, que, no entanto, duraria apenas 6 números.
Acreditando
na sua criação, Lee, já ao lado de Steve Dikto, transferiu-o para a revista
“Tales to Astonish”, onde o gigante se firmou e desenvolveu a sua mitologia,
alcançando um tão grande sucesso que a publicação assumiria o seu nome, em
1966.
No episódio
inicial, no contexto de Guerra Fria que então se vivia, era apresentado Bruce
Banner, um brilhante cientista que durante uma experiência científica com novo
armamento, para evitar a morte de um adolescente – Rick Jones, seu futuro
parceiro - foi atingido com uma elevada dose de raios gama o que fez com que, a
partir daí, em circunstâncias especiais, passasse a transformar-se no colérico
e irascível Hulk, um gigante com imensa força bruta e praticamente invulnerável.
Na BD de estreia a transformação ocorria com a passagem do dia para a noite,
mas rapidamente passou a ser o estado de espírito de Banner o responsável pelas
transformações.
A par da
perseguição pelo exército norte-americano, personificado pelo General Ross,
umas vezes para o destruir, outras para o utilizar, a série nos primeiros anos
assentou nas tentativas de Banner para controlar o monstro que vivia dentro de
si e na sua relação com Rick Jones e a bela Betty Ross – filha do general Ross
e sua futura esposa.
Depois de
Stan Lee ter assegurado a escrita das primeiras dezenas de histórias dois
argumentistas viriam a distinguir-se à frente do destino das aventuras de papel
de Hulk: Peter David, que privilegiou o protagonismo do gigante verde, e Bruce
Jones, que optou por destacar o papel de Bruce Banner, levando-o a percorrer o
vasto território dos Estados Unidos, em fuga daqueles que querem controlar o
monstro que existe dentro de si, numa narrativa mais intimista e de tom
conspirativo.
Graficamente,
depois de Kirby, que rapidamente abandonou a série, passaram pelo Hulk nomes
sonantes como John Romita, Steve Ditko, Gil Kane, John Buscema, Todd McFarlane,
Ron Garbey, Paul Jenkins, Richard Corben ou John Romita Jr.
A par das
suas aventuras a solo, Hulk cruzou-se em diversos momentos com os outros
super-heróis da Marvel, com destaque para os Vingadores – cuja formação inicial
integrou mas de quem também foi adversário – sendo míticos os seus confrontos
com o Coisa ou Wolverine.
Inicialmente
divulgado em Portugal através de edições brasileiras, o incrível Hulk
estreou-se entre nós no suplemento Quadradinhos do jornal A Capital, em 1980,
onde foram publicadas tiras diárias assinadas por Larry Lieber, irmão de Stan
Lee. Nesse mesmo ano, a Agência Portuguesa de Revistas lançou uma revista com o
seu nome, que se aguentou 18 números. Três anos depois seria a vez da Distri, numa
colecção que teve apenas 4 números.
Depois, foi
preciso esperar pelo presente século para que a Devir, como sinal de outros
tempos, editasse diversos álbuns – “O Regresso do Monstro”, “Wolverine/Hulk”, “Banner”
– e também uma colecção de 20 comics, esta última em parceria com o Jornal de
Notícias. “Os Clássicos da Banda Desenhada” (que reproduziu a BD de estreia do
Hulk) e “Os Clássicos da Banda Desenhada – Série Ouro” (Devir/Correio da Manhã,
respectivamente em 2004 e 2005), também tiveram tomos dedicados ao Hulk, cuja
bibliografia portuguesa também comporta um álbum de cromos e a adaptação
oficial do filme.
Para lá dos
quadradinhos de papel, Hulk surgiu por diversas vezes na televisão, em
animações de má memória e na bem-sucedida série de que Lou Ferrigno interpretou
nos anos 70/80, que originou diversos telefilmes. No cinema, em 2003 estreou o
filme realizado por Ang Lee e protagonizado por Eric Banna, que foi mal
recebido pela critica e pelo público.
Entretanto,
circular rumores sobre um eventual filme com Mark Ruffalo, a estrear em 2015,
na sequência da boa prestação do monstro verde no filme dos Vingadores,
actualmente em.
Verde ou de
várias cores pois embora seja aquele o tom que geralmente associamos ao Hulk, a
verdade é que quando Lee e Kirby o criaram, a sua pele era cinzenta. No
entanto, problemas da gráfica para acertar com o seu tom, levaram os autores a
optar pelo verde ao fim de apenas três edições.
No entanto,
anos mais tarde, o Hulk voltou a ser cinza durante algum tempo e, recentemente,
uma das suas versões mais violentas exibe uma intensa cor vermelha…
O mesmo se
passa com o seu temperamento e personalidade pois, ao longo deste meio século, de
monstro descontrolado a génio científico, passando por ser com mentalidade
infantil, foi diversificado o espectro comportamental já assumido pelo gigante
da Marvel que inclusive, durante um certo período, viveu separado de Bruce
Banner, e chegou a assumir o trono de um planeta distante.
(Versão revista e aumentada do texto publicado no Jornal de Notícias de 5 de Maio de 2012)