Um dos aspectos mais marcantes d’Os Túnicas Azuis, é a forma como o argumentista Raoul Cauvin
consegue mostrar o pior das batalhas ao mesmo tempo que explana o seu humor na
sátira à instituição militar.
Rumberley, é até
agora o melhor exemplo.
Abre com o pós-batalha, num cenário devastado, pejado de
mortos – sim, mortos numa série de humor! – e feridos e prossegue com o seu
transporte para barracões onde, sem condições, com sangue por todos os lados,
são tratados – ou não… - como possível.
Ao fim de algumas páginas que chegam a ser incómodas, apesar
de amenizadas pela habitual intervenção da dupla protagonista, o sargento
Chesterfield (um dos feridos) e o cabo Blutch (que mais uma vez escapou ao
combate), o cenário muda para o local onde está (bem) instalado o estado-maior
do exército nortista, ocupado em discussões comezinhas e em repor a carne para
canhão (leia-se encontrar soldados para o seu exército dizimado).
O cenário muda de novo para a cidadezinha próxima de
Rumberley (daí o título deste álbum) onde os feridos serão deixados (leia-se
abandonados em território inimigo) enquanto os oficiais vão até à retaguarda…
Da convivência entre aqueles e os habitantes que sobraram na
cidade, também dizimada pela guerra e pelas necessidades do exército sulista,
vai construir-se o resto do relato.
Denúncia feroz da realidade da guerra, do absurdo da
hierarquia militar e da transformação desumana de seres humanos em números, Rumberley volta a brilhar
no final que aconselho a descobrirem, que encerra com bofetada de luva branca
um relato em que Cauvin a certa altura se deu ao luxo de quase nos fazer
acreditar que até havia uma solução para tudo isto…
Com situações a roçar o ridículo, o habitual humor nascido
do confronto entre a cobardia e o militarismo dos intervenientes, e a sátira
feroz assumida, Rumberley deixa,
apesar do humor, um gosto amargo pelo realismo do retrato que nos fica em
segundo plano.
Rumberley
Os Túnicas Azuis #5
Raoul Cauvin (argumento)
Willy Lambil (desenho)
ASA/Público
Portugal, 7 de Dezembro de 2016
215 x 297 mm, 48 p., cor, capa dura
6,95 €
(pranchas da edição francesa disponibilizadas pela Dupuis; clicar nelas para as aproveitar em toda a sua extensão)
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