Por causa do Sérgio
Por (pelo menos) três razões, este é, possivelmente, o álbum
português mais importante deste ano - e um dos mais importantes dos últimos
anos... E, curiosamente, nenhuma dessas razões tem a ver intrinsecamente com a
obra em si.
A primeira destas razões é a sua visibilidade devido à
íntima ligação com uma figura pública (re)conhecida, Sérgio Godinho, que lhe
serve de tema, referência e protagonista.
A segunda, tem a ver com a sua distribuição com o jornal
Público - numa experiência pioneira para obras de autores lusos - pela sua
maior divulgação, pelo maior alcance de uma distribuição alargada e pelo preço
mais favorável que ela permite. A distribuição simultânea em livraria - FNAC e
Kingpin Books - com capa alternativa exclusiva, contribui igualmente para os
dois aspectos agora apontados.
Finalmente - de forma colateral - este livro fez com que
muitos membros de uma - duas? três? - gerações regressassem à(s) música(s) de
Sérgio Godinho, por quem foram marcados. E terá levado outros leitores mais
jovens a descobrirem um dos mais importantes cantautores nacionais.
A presença marcante de Sérgio Godinho ao longo de todo o
álbum é incontornável. A relação do argumentista com ele, no passado pela importância
da obra, no presente pela relação que estabeleceu durante a escrita, é basilar.
Para mais, além do protagonismo, muitas das falas do livro são citações
directas de versos das músicas de Godinho. E temos ainda a oportunidade de
conhecer ‘velhos amigos’: Etelvina, Jeremias… para além da passagem pela obra
de Jorge Palma e Zeca Afonso
A narrativa é, por isso, um belo passeio por momento e memórias,
pela memória colectiva – mas também individual, que cada um vive à sua maneira -
que temos do músico e da sua obra, nas suas variadas vertentes, e o relato de
uma busca tanto externa, por diversos pontos do país, como de descoberta no
interior de si próprio. O resultado - expectável a partir de certo ponto - fecha um círculo e reconduz à banda desenhada em si, revelando-se
o final menos importante que o percurso.
Quanto ao lado gráfico - aquele que marca e leva muitas
vezes à compra (ou não) de obras sem outras referências prévias - a leitura
constata que este não é o trabalho mais brilhante de Osvaldo Medina. Pode ser
uma afirmação com algo de injusto, mas a verdade é que o percurso do autor - e as vezes que já me surpreendeu e agradou (tanto) - colocou alta a fasquia, fazendo com que legitimamente
esperasse mais. Sem se conseguir soltar na representação do protagonista, Medina utilizou um traço por vezes demasiado simplificado e sem os devidos volume e espessura.
As cores de Joel de Souza, demasiado vivas e fortes - que até se revelam indicadas a espaços, mas noutras sequências são desajustadas e até cansativas - não ajudam numa obra que até começa de forma bastante interessante com (um)a conseguida representação gráfica de “O Fugitivo” que encaminha o leitor do tema musical à banda desenhada em si, de forma bastante feliz.
As cores de Joel de Souza, demasiado vivas e fortes - que até se revelam indicadas a espaços, mas noutras sequências são desajustadas e até cansativas - não ajudam numa obra que até começa de forma bastante interessante com (um)a conseguida representação gráfica de “O Fugitivo” que encaminha o leitor do tema musical à banda desenhada em si, de forma bastante feliz.
Uma palavra final para a boa edição da Kingpin Books, em
capa dura, papel consistente, bons acabamentos, legendagem cuidada e que só
pecará pela falta de uma adenda final (mais completa) que identificasse - tanto
para os leitores que as desconhecem como para os que agora as recordaram -
personagens e canções citadas.
O Elixir da Eterna Juventude
Uma dança no mundo de Sérgio Godinho
História de Fernando Dordio
Desenhos de Osvaldo Medina
Kingpin Books/Público
Portugal, 26 de Outubro de 2017
202 x 276 mm, 88 p., cor, capa dura
ISBN: 978-989-8673-40-4
12,99 €
(imagens disponibilizadas pela editora; clicar nelas para as
aproveitar em toda a sua extensão)
Pedro, antes de mais obrigado pelas palavras. Uma das questões que colocámos foi o que deveriamos fazer num final do livro - isto referindo-me ao que dizes no último parágrafo.
ResponderEliminarHavia a ideia de colocarmos uma espécie de companion no final sobre músicas e referências (diria mesmo que podem ser mais que uma centena), mas isso seria uma desconstrução demasiado grande do próprio livro, tirando-lhe as camadas (que tem) e eu pensei numa experiência que tive com um filme que tem algumas semelhanças com este livro.
Em 2000 fui ao cinema ver um filme chamado Magnolia - tinha 3h. Da primeira vez fiquei entusiasmado com tudo mas senti que não percebi tudo. A banda-sonora era fantástica e fui comprá-la - ouvi, ouvi e às tantas fui ver o filme ao cinema novamente. Queria tentar perceber tudo o que o filme me dizia. Andei pela internet a investigar e às tantas fiz a minha teoria e voltei a ver para ver se se confirmava.
O Magnolia é uma obra-prima e foi escrito em redor das músicas de uma cantora americana que posteriormente fui ver 3 vezes ao vivo chamada Aimee Mann. Tem personagenss tiradas de músicas, tem concceitos tirados das músicas e tantas mais coisas.
O ideial seria o livro ter um álbum, mas isso era impossível.
Acho que o Sérgio merecia que houvesse algum maluco que fizesse o mesmo pelo livro que eu fiz pelo Magnolia e a Aimee Mann fosse de desconhecida à minha cantora favorita.
Grande Abraço e se nunca viste o Magnolia, recomendo vivamente.
Fernando