24/11/2017

L123 (seguido de Cevadilha Speed)

Memórias de um Verão



Reler a obra de Relvas, é a melhor forma de homenagear – de lembrar, s+o – um dos maiores criadores de BD deste país.
Nesse sentido, recupero aqui um texto que escrevi no Jornal de Notícias de 3 de Agosto de 1995 aquando do lançamento de L123 (seguido de Cevadilha Speed), pela ASIBDP, um autêntico romance gráfico escrito e desenhado quando o conceito (que praticamente) ainda não existia…

A primeira reacção perante a leitura deste livro pode ser a surpresa.
Surpresa pela frescura do relato, sabendo-se os quase 20 anos [hoje quase 40…] que já têm em cima as duas histórias de Relvas reunidas assim em livro pela Associação do Salão Internacional de Banda Desenhada do Porto (ASIBDP), poir foram inicialmente publicadas na revista Tintin nos já longínquos anos de 1981 e 1982, quando o autor – então com 27 anos – dava os primeiros passos de uma carreira notável, mas quase toda ela ‘perdida’ em páginas de jornais e revistas, de difícil acesso para quem as quiser ler hoje.
Sauda-se, por isso, esta reedição que se segue à de Karlos Starkiller feita há cerca de dois anos pela BaleiAzul e a Bedeteca de Lisboa.
O traço de Fernando Relvas, aqui ainda muito próximo de modelos clássicos, com realce para o bom trabalho a nível dos contrastes que o preto e branco possibilita, com influências visíveis de Hugo Pratt e Milton Caniff, é aprimorado pela redução dos originais, necessária devido à opção pela edição em formato livro, seguindo um modelo cada vez mais usado no mercado franco-belga e já com uma mão cheia de experiências entre nós.
As duas histórias em questão, apesar do tom vagamente policial, são muito mais  crónicas de uma certa marginalidade lisboeta, bem conhecida do autor e retratada com um realismo e um humor exemplares. Escritas ao correr da pena – desde sempre uma das maiores virtudes (pela naturalidade e realismo que imprime à acção) e um dos maiores defeitos (por alguns atropelos à sequência narrativa) do autor – contam as atribulações de Eco e Cevadilha Speed, às voltas com negócios escuros nos bairros populares lisboetas, em L123, ou a caminho da miragem algarvia, com alemães e ‘alemoas’ pelo meio, em Cevadilha Speed.
Com mais acção e violência a primeira, com mais humor e onirismo a segunda, possuem uma série de protagonistas fortes e credíveis, como não há muitos na moderna BD portuguesa, de que estas duas obras são, sem dúvida, pioneiras.

L123 (seguido de Cevadilha Speed)
Fernando Relvas
ASIBDP
Portugal, 1995
144 p., pb, capa mole com badanas
ISBN: 9789729746925

(clicar nas imagens para as aproveitar em toda a sua extensão)

1 comentário:

  1. Sem dúvida momentos altos do trabalho de Fernando Relvas que, na minha opinião, apesar de outros trabalhos de grande realce, nunca mais conseguiu atingir o brilhantismo aí demonstrado. Pena é que a sua obra não seja mais publicada e se encontre perdida por sítios menos permanentes. Um autor que merecia uma colecção com um jornal e uma (re)edição da sua obra completa.

    Letrée

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