Corbeyran e Guérin (argumento)
Damour, Formosa, Guérineau e Henriet (desenho)
Dargaud (França, 2007)
240 x 320 mm, 52 p., cor, cartonado
O homem desde sempre teve medo. Medo do que o rodeia. Medo do desconhecido. Medo do que o ultrapassava. Medo dos poderosos. Medo da religião - dos religiosos...
Desses (muitos) medos nasceram histórias e lendas que se perpetuaram de geração em geração e passaram a fazer parte do imaginário de cada região, de cada país. Assim nasceram (?) os vampiros, os lobisomens, as bruxas e tantas outras fontes de medo.
Esses medos, evoluem com o tempo, com o próprio homem, assumindo novas formas adaptadas às novas realidades.
"Les véritables Légends Urbaines" (Dargaud), escrito por Corbeyran e Guérin, explora histórias do nosso imaginário, num registo de terror, algumas das quais, provavelmente, já ouvimos contar como tendo acontecido "a alguém conhecido de fulano" ou algo assim. Histórias, com base verídica ou não, nascidas em rumores ou na (fértil) imaginação humana (a quem o medo dá asas…), que estas BDs exploram pelo seu lado mais negro, seja o gang que circula de luzes apagadas e abalroa todos os que lhes fazem sinais de luzes, sejam várias versões de assassinos dentro de casa, ilustradas por Guérineau (que com uma planificação diversificada, com múltiplas vinhetas, consegue imprimir um ritmo e um clima de tensão em crescendo à narrativa), Damour, Henriet e Formosa (cujo traço violentamente caricatural acentua o lado negro da história).
(Texto publicado originalmente no Jornal de Notícias de 11 de Março de 2007)
28/12/2010
27/12/2010
J. Kendall: Requiem para uma criminóloga?
O título deste post refere-se à notícia, revelada no início de Julho, de que a revista mensal brasileira “J. Kendall – Aventuras de uma criminosa”, editada pelo Mythos Editora desde Novembro de 2004 e presença regular neste blog, podia chegar ao fim no nº 67, “devido às baixas vendas e aos altos custos redaccionais e gráficos”. A onda de pesar levantada, levou a editora a fornecer-lhe um curto balão de oxigénio garantindo a sua publicação até ao nº 71, datado de Outubro de 2010.
“Era uma manhã tediosa. Daquelas invadidas por uma subtil inquietação. Uma sensação que eu sabia que ia durar o resto do dia, deixando cinzento até o meu humor.
Há tempos eu já havia aprendido que basta pouco para modificar o próprio comportamento. Um acto de vontade pode impor uma lufada de optimismo capaz de iluminar o horizonte mais sombrio.
Mas eu também sabia que era muito agradável deixar-se embalar por uma pitada de melancolia. É um modo para se colocar à espera. À espera que chegue alguma coisa ou alguém para movimentar a vida.” (In “Júlia #1”, Mythos Editora, Novembro de 2004, página 20. Não, não há engano no título da revista: intitulada “Julia” em Itália, esta série teve o mesmo título no Brasil, mas apenas durante os primeiros quatro números, tendo depois que ser mudado para o actual “J. Kendall – Aventuras de uma criminóloga” para não ser confundida com uma outra publicação homónima, dedicada a romances cor-de-rosa.).
Esta é a primeira vez que o leitor “ouve” os pensamentos de Julia – ou que os lê no seu diário, se preferirem. Acontece logo na edição de estreia, após uma longa (e dupla) sequência muda bastante violenta (um exemplo da dicotomia realidade/sonho, comum ao longo da série) e um entreacto mais ligeiro/cómico. E desta forma, numa vintena de páginas, Giancarlo Berardi lança as bases do que seria – do que é! – Julia, que apesar de estar em perigo (editorial) no Brasil, mesmo sendo muito louvada pela crítica - o anúncio do fim da revista levou à criação de uma série de iniciativas em sites e blogs para tentar obstar ao seu cancelamento e, já neste início de Outubro, a publicação foi distinguida com o Troféu HQMix (o mais importante do género no Brasil) como melhor Publicação de Aventura/Terror/Ficção publicada no Brasil no último ano. - mantém boa saúde em Itália onde neste mês de Outubro a edição original da Sergio Bonelli Editore atinge a edição #145, com a qual começa o seu 13º ano.
Moradora de Garden City, uma cidade relativamente pacata nos arredores de uma grande metrópole, Julia divide o seu tempo entre as aulas de criminologia na universidade e as suas colaborações como consultora junto da procuradoria local. Julia, graficamente (bem) inspirada na bela e frágil Audrey Hepburn, é trintona - A par da série principal, desde 2005 é publicado em Itália (e desde 2006 no Brasil) um especial anual – “Almanacco del Giallo”/”Almanaque Mistério” – que narra as aventuras de Julia quando ainda era estudante da faculdade, com as contradições e hesitações próprias da idade mas já com todas as suas características futuras: a queda para se apaixonar pelo(s) homem(ns) errado(s); a insegurança, embora condimentada com mais ilusões e alguma impetuosidade, próprias da sua juventude; a inteligência e capacidade dedutiva que lhe garantirão o sucesso profissional futuro, embora atenuadas pela sua inexperiência. -, solteira e divide a moradia com a sua pachorrenta gata Toni. Órfã de pai e mãe, falecidos muito cedo, quando Julia tinha apenas três anos, foi educada pela avó, Lillian Osborne, para quem a actriz Jessica Tandy serviu de modelo gráfico, actualmente a viver num lar por opção própria, para dar espaço a Julia para viver a sua vida.
Quase sempre fisicamente ausente, devido à exigente carreira de modelo profissional de sucesso (pesem alguns problemas relacionados com toxicodependência), Norma, a irmã mais nova de Julia, está muitas vezes no seu pensamento e é alvo de grande um cuidado protector por parte da criminologista.
Durante o dia, Julia vê-se também a braços com Emily Jones (“clone” de Whopi Goldberg), uma espécie de governanta, negra, muito enérgica e opinativa, para quem dois princípios são sagrados: os brancos só servem para tramar os pretos e uma mulher – Julia em especial – só pode realizar-se se tiver um homem. Ela é a responsável pela maior parte dos momentos divertidos ou inesperados, geralmente utilizados para quebrar a tensão das narrativas. Casada e divorciada várias vezes, Emily tem vários filhos, um dos quais, Lutero (Spike Lee), é um hacker que por vezes auxilia Julia quando os meios legais não são suficientes ou suficientemente expeditos.
Do ponto de vista profissional, da galeria de personagens fazem parte também o tenente da polícia Alan J. Webb (fisicamente inspirado no actor John Malkovich), que geralmente encabeça os casos que Julia acompanha e que com quem ela partilha uma relação de (quase) amor/ódio, não só pela atracção mútua que sentem mas também pela quase repulsa que as ideias opostas de um e outro provocam em ambos. Enquanto Julia é mais sensível, ponderada e liberal, Webb revela-se mais conservador, inflexível e repentista, o que frequentemente provoca acesas discussões entre os dois. Como mediador surge muitas vezes o “bom” sargento “Big” Ben Irving (cuja base foi o actor John Goodman), amante de boa comida, bonacheirão e bem-disposto, mas também competente na sua tarefa.
Entre as personagens recorrentes, embora menores na sua importância, contam-se o médico-legista James Tait, o Capitão Carter, um afro-americano (inspirado em Morgan Freeman), conciso e equilibrado que surge apenas em casos de maior importância, e o Procurador Michael Robson.
O lote completa-se com Leo Baxter, robusto detective particular que se assemelha a Nick Nolte, decidido e atlético, capaz de usar métodos menos ortodoxos quando necessário e amante de belas negras. E que de certa forma constitui com Julia e Webb os vértices de um inesperado triângulo amoroso, embora, pouco interessado numa relação duradoura, prefira considerar Julia mais como uma irmã do que uma mulher disponível. Situação que Julia, por vezes, parece desejar que fosse diferente.
Série policial realista, esta banda desenhada não tem um “vilão de serviço” como acontece frequentemente a outros níveis. A única adversária recorrente de Julia (se assim a podemos classificar), é a serial killer lésbica Myrna Harrod, atraída e obcecada pela criminóloga, que, depois de protagonizar o tríptico inicial das aventuras de Julia, regressa uma vez por outra a Garden City para espalhar o terror e a morte, sem que até agora tenha havido o confronto decisivo.
Estes são os protagonistas principais da série criada pelo italiano Giancarlo Berardi - que nasceu em Génova, na Itália, a 15 de novembro de 1949. Depois de experiências como autor e actor teatral e guitarrista da banda Gli Scorpioni, virou-se para os quadradinhos onde chegou a escrever histórias de Tarzan, Diabolik ou Mickey. Em 1974, criou Ken Parker com Ivo Milazzo, um western humanista muito saudado pela crítica e que lhe proporcionou uma legião de fãs, mesmo fora do meio habitual dos quadradinhos -, cujo primeiro número viu a luz em Itália em Outubro de 1998, como mais uma integrante do (já de si imenso) universo Bonelli. Contando já no seu currículo com uma série de peso (e de culto) como Ken Parker, Berardi não desapontou os seus muitos seguidores e fãs, impregnando de novo com uma forte componente pessoal e intimista um relato que (apenas) de forma ligeira pode ser classificado como policial. Porque, se o crime (passional, informático, político…), o roubo e/ou o assassinato estão sempre presentes, a verdade é que as histórias têm também (e sempre) uma forte componente humana. Porque Julia, geralmente, mais do que desvendar o mistério ou apanhar os criminosos, pretende compreender as suas razões e motivações. Prefere investigar a fundo o que motivou o criminoso, mais do que (ou tanto como) apanhá-lo. Como ela afirma, “Para a polícia, um assassino é somente um culpado. Já para a criminóloga, também interessa o quanto por sua vez é vítima. A violência é sempre fruto de outra violência” (“Júlia #1”, Mythos Editora, Novembro de 2004, página 94). E a forma como ela analisa cada caso, como encara cada culpado (ou inocente), muitas vezes é-nos revelada pela protagonista no seu diário, um artifício recorrente utilizado por Berardi, através do qual vamos também conhecendo os seus sentimentos, desejos, anseios e frustrações.
A par disto, a heroína – que só se pode definir assim enquanto protago-nista de uma banda desenhada - vai bem para além das duas dimensões do papel em que as suas aventuras são impressas, revelando-se uma mulher com espessura, com vida própria, com vida para além da criminologia. Ou com falta dela pois, Julia revela-se tão decidida e eficaz profissionalmente, quanto insegura e temerosa no que respeita ao seu relacionamento com o outro sexo. O que não significa que relações com alguns dos homens com quem se vai cruzando não tenham lugar – e sejam muitas vezes consumadas sexualmente – embora terminem sempre ao fim de mais ou (geralmente) menos tempo, quer porque Julia receia avançar demais e perder a sua individualidade e auto-suficiência, quer porque os pontos comuns afinal não eram tantos como pareciam e Julia, embora carente, é sem dúvida exigente.
Neste contexto, não surpreende que Julia se envolva algumas vezes com os próprios criminosos quer afectiva (quando entende e de certa forma subscreve as suas motivações) quer mesmo fisicamente.
Ao lado de Berardi, na escrita dos guiões surgem por vezes Giuseppe De Nardo, Maurizio Montero e, principalmente, Lorenzo Calza. Este último, também músico de rap, trouxe para a série uma musicalidade – patente no ritmo das histórias em que participa e na utilização de temas musicais em diversas cenas – até aí pouco presente. Isso não retira, longe disso, a cada história tempo para respirar, para os avanços (e recuos) se fazerem ao ritmo das pausas ou da acção, tempo para os componentes da galeria de personagens ganharem consistência criarem (mais) cumplicidades com os leitores, tempo para os (novos) protagonistas em cada relato serem suficientemente desenvolvidos para ganharem credibilidade e sustentarem a(s suas) história(s). Até porque, em muitas das histórias, mesmo que por vezes o leitor já conheça mais da sua base do que os protagonistas, pois normalmente ela é narrada com o(a)(s) criminoso(a)(s) como protagonista(s) nas primeiras páginas de cada revista, há tempo para os investigadores seguirem pistas erradas ou paralelas, formularem teorias diversas, tal como, aliás, acontece com certeza na vida real.
Através das suas histórias, Berardi vai traçando retratos lúcidos mas não abonatórios da sociedade actual, da decadência de instituições como a família ou a polícia, questionando métodos e objectivos, para dar sempre o primeiro lugar ao ser humano, com as suas dúvidas e contradições.
A nível gráfico, como é normal nas edições Bonelli, Julia passa regularmente pelas mãos de diversos desenhadores - Laura Zuccheri é um dos nomes mais recorrentes, mas pelas suas páginas também já passaram autores como o grande Sergio Toppi (! – no nº11), Steve Boraley ou Giorgio Trevisan, entre diversos outros - , o que obviamente provoca algumas oscilações a nível de traço e acabamento (de uma qualidade média bastante interessante) - aspecto que, que infelizmente, nem sempre é possível aquilatar através das edições da Mythos, no seu habitual pequeno formato (135 x 175 mm), papel fraco e uma impressão (a preto e branco) que muitas vezes deixa a desejar no que às manchas de preto diz respeito. Este é, aliás, um dos motivos (a par da pouca divulgação por parte da editora) que muitos apontam para as fracas vendas da revista no Brasil, onde tem que fazer face a um mercado com uma enorme quantidade de oferta, geralmente com maior qualidade gráfica. A versão original italiana é maior (160 x 210 mm) e tem melhor papel e impressão. Uma nota final para referir que, contrariamente ao que é habitual nas edições Bonelli, cada número da revista conta 132 páginas e não as habituais 100 -, menos notória no que diz respeito à planificação e uso diversificado de planos e pontos de vista, pois aqui os guiões de Berardi devem ter um peso mais específico. Globalmente, pode classificar-se o desenho como realista (ou não sejam tantos os actores utilizados como modelos para os intervenientes), firme, anatomicamente correcto, bem ritmado, de planificação pelo uso e (bom) abuso de pequenos gestos, olhares e da utilização de pormenores aparentemente sem importância mas que, todos juntos, ajudam a definir o ambiente exigido e a conduzir o relato ao ritmo pretendido.
Recorrentemente apontado como um dos melhores títulos disponíveis no Brasil, “J. Kendall – Aventuras de uma criminóloga”, segundo as últimas informações resistirá pelo menos até à edição #79. Em Portugal, este mês de Dezembro, chegou às bancas o #68. Por isso, os leitores portugueses, poderão encontrá-lo ainda durante o próximo ano nos nossos quiosques e bancas. E acreditem que, mesmo que o aspecto da edição não seja convidativo para quem está habituado à cor e qualidade gráfica do franco-belga ou dos comics, vale a pena descobrir Julia e o universo realista que Berardi desenvolveu com mestria ao seu redor.
(Versão revista e retocada do texto publicado originalmente no BDJornal #26 de Outubro de 2010; para facilitar a leitura as notas de rodapé da versão original foram inseridas no texto, numa letra menor.)
(Versão revista e retocada do texto publicado originalmente no BDJornal #26 de Outubro de 2010; para facilitar a leitura as notas de rodapé da versão original foram inseridas no texto, numa letra menor.)
Leituras relacionadas
Bonelli,
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26/12/2010
Selos & Quadradinhos (13)
Stamps & Comics / Timbres & BD (13)
Leituras relacionadas
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Selos e Quadradinhos
25/12/2010
Selos & Quadradinhos (12)
Stamps & Comics / Timbres & BD (12)
Tema/subject/sujet: Christmas - Disney
País/country/pays: Redonda
Data de Emissão/Date of issue/date d'émission: 1981
Estes são alguns dos cerca de 2500 selos com personagens Disney emitidos durante quase duas décadas pelo IGPC, especialmente para coleccionadores, embora sob a égide de serviços postais de algumas dezenas de países.
These are some of the roughly 2500 stamps featuring Disney characters issued for nearly two decades by IGPC, especially for collectors, although under the aegis of postal services in dozens of countries.
Voici quelques-unes des 2500 timbres émis avec les héros Disney pendant près de deux décennies par l’IGPC, surtout pour les collectionneurs, bien que sous l'égide des services postaux de quelques dizaines de pays.
Leituras relacionadas
Disney,
Natal,
Selos e Quadradinhos
24/12/2010
Natal aos Quadradinhos
O Pedro deseja aos seus leitores um Natal com muitos livros e um Ano Novo – melhor do que o de 2010… - com muitas (e boas) leituras.... como a tira Quase Nada, de Fabio Moon e Gabriel Bá, que ilustra este post.
Pedro wishes to their readers a lot of books in Christmas and a Happy New Year - better than 2010 ... - with many (and good) readings... as the weekly strip Quase Nada, from Fabio Moon e Gabriel Bá, showed on this post.
Pedro souhaite à ses lecteurs un grand nombre de livres à Noël et une bonne nouvelle année - mieux que le 2010 ... - avec de nombreuses (et bonnes) lectures... comme les planches hebdomadaires de Quase Nada, de Fábio Moon et Gabriel Bá, qu'ilustre ce post.
Pedro wishes to their readers a lot of books in Christmas and a Happy New Year - better than 2010 ... - with many (and good) readings... as the weekly strip Quase Nada, from Fabio Moon e Gabriel Bá, showed on this post.
Pedro souhaite à ses lecteurs un grand nombre de livres à Noël et une bonne nouvelle année - mieux que le 2010 ... - avec de nombreuses (et bonnes) lectures... comme les planches hebdomadaires de Quase Nada, de Fábio Moon et Gabriel Bá, qu'ilustre ce post.
23/12/2010
L’Assassinat du Pére Nöel
Éric Adam e Didier Convard (argumento)
Paul (desenho)
Glénat (França, Dezembro de 2010)
240 x 320 mm, 72 p., cor, cartonado
Resumo
Mortefond é uma pequena aldeia cuja economia assenta no fabrico artesanal de brinquedos e que se distingue pelo facto de na véspera de Natal todos os habitantes se fantasiarem de personagens de contos infantis, para participarem num baile intitulado “Era uma vez…”, que lhes permite, por uma noite, saírem da realidade.
É o que acontece na noite em que a história começa, em que tudo corria bem, até alguém anunciar que o Pai Natal tinha sido assassinado.
Desenvolvimento
Ou talvez não fosse o Pai Natal – quem o costumava encarnar… - mas sim alguém que se aproveitou do seu disfarce para conseguir outros intentos. Porque, conta uma lenda local, na pequena localidade repousa escondido um tesouro de enorme valor, que muitos procuraram em vão durante decénios, um braço em ouro e pedras preciosas, de que se possui apenas um dedo com um valioso rubi, mostrado uma vez por ano, na tal noite especial. E que, como não podia deixar de ser, desapareceu.
A narrativa, começa com o clímax que culmina com o assassinato do Pai Natal, para depois recuar 15 dias, para um trecho bem mais pausado, que narra a chegada de um “estrangeiro” a Mortefond e prepara o caminho para a tal morte. Que tem lugar numa noite em que a neve isolou a localidade de todo o resto do mundo.
É por isso que o tal “estrangeiro”, Prosper Lepicq, detective/advogado como saberemos mais tarde, cujas razões para a busca de isolamento e fuga do seu meio habitual não nos são reveladas, assume o protagonismo. De forma discreta, privilegiando a observação e a dedução.
História policial de contornos tradicionais – a grande novidade é mesmo a noite do “Era uma vez…” – cujo desenrolar contém algumas revelações até chegar ao habitual final com algumas surpresas, permite-nos acompanhar o inquérito levado a cabo por Lepicq, ouvir as suas indagações, apreciar os indícios que recolhe e que lhe permitirão chegar até ao culpado, encontrando pelo caminho gente apaixonada, outros que não são quem parecem ser, um cura com queda para a bebida e alguns mais, numa galeria bem construída e caracterizada, apropriada a um meio pequeno como Mortefond.
Como curiosidade, desta narrativa bem estruturada, de ritmo pausado para permitir pesar os factos que vão sendo revelados e encaixar as sucessivas peças do puzzle que vão sendo encontradas, fica o facto de o protagonista ser não só detective como também advogado, começando por investigar e descobrir o assassino, para depois o defender no tribunal, onde a história terminará.
Para a forma agradável como a história se desenvolve, captando a atenção do leitor, contribui também a linha clara de Paul, suave e luminosa – fruto da luz reflectida pela neve que tudo cobre…? – com a qual, em belas pranchas – especialmente quando os cenários assumem maior destaque - traça o retrato de Mortefond e dos seus habitantes.
Curiosidade
- Esta é uma adaptação muito livre de um romance de Pierre Véry publicado pela primeira vez em 1934 e levado ao cinema por Christian Jaque em 1941.
Paul (desenho)
Glénat (França, Dezembro de 2010)
240 x 320 mm, 72 p., cor, cartonado
Resumo
Mortefond é uma pequena aldeia cuja economia assenta no fabrico artesanal de brinquedos e que se distingue pelo facto de na véspera de Natal todos os habitantes se fantasiarem de personagens de contos infantis, para participarem num baile intitulado “Era uma vez…”, que lhes permite, por uma noite, saírem da realidade.
É o que acontece na noite em que a história começa, em que tudo corria bem, até alguém anunciar que o Pai Natal tinha sido assassinado.
Desenvolvimento
Ou talvez não fosse o Pai Natal – quem o costumava encarnar… - mas sim alguém que se aproveitou do seu disfarce para conseguir outros intentos. Porque, conta uma lenda local, na pequena localidade repousa escondido um tesouro de enorme valor, que muitos procuraram em vão durante decénios, um braço em ouro e pedras preciosas, de que se possui apenas um dedo com um valioso rubi, mostrado uma vez por ano, na tal noite especial. E que, como não podia deixar de ser, desapareceu.
A narrativa, começa com o clímax que culmina com o assassinato do Pai Natal, para depois recuar 15 dias, para um trecho bem mais pausado, que narra a chegada de um “estrangeiro” a Mortefond e prepara o caminho para a tal morte. Que tem lugar numa noite em que a neve isolou a localidade de todo o resto do mundo.
É por isso que o tal “estrangeiro”, Prosper Lepicq, detective/advogado como saberemos mais tarde, cujas razões para a busca de isolamento e fuga do seu meio habitual não nos são reveladas, assume o protagonismo. De forma discreta, privilegiando a observação e a dedução.
História policial de contornos tradicionais – a grande novidade é mesmo a noite do “Era uma vez…” – cujo desenrolar contém algumas revelações até chegar ao habitual final com algumas surpresas, permite-nos acompanhar o inquérito levado a cabo por Lepicq, ouvir as suas indagações, apreciar os indícios que recolhe e que lhe permitirão chegar até ao culpado, encontrando pelo caminho gente apaixonada, outros que não são quem parecem ser, um cura com queda para a bebida e alguns mais, numa galeria bem construída e caracterizada, apropriada a um meio pequeno como Mortefond.
Como curiosidade, desta narrativa bem estruturada, de ritmo pausado para permitir pesar os factos que vão sendo revelados e encaixar as sucessivas peças do puzzle que vão sendo encontradas, fica o facto de o protagonista ser não só detective como também advogado, começando por investigar e descobrir o assassino, para depois o defender no tribunal, onde a história terminará.
Para a forma agradável como a história se desenvolve, captando a atenção do leitor, contribui também a linha clara de Paul, suave e luminosa – fruto da luz reflectida pela neve que tudo cobre…? – com a qual, em belas pranchas – especialmente quando os cenários assumem maior destaque - traça o retrato de Mortefond e dos seus habitantes.
Curiosidade
- Esta é uma adaptação muito livre de um romance de Pierre Véry publicado pela primeira vez em 1934 e levado ao cinema por Christian Jaque em 1941.
Leituras relacionadas
Adams,
Convard,
Glénat,
Paulo Monteiro
22/12/2010
La semaine des 7 Nöel
Olivier Grojonowski (argumento e desenho)
Casterman (França, Outubro de 1999)
240 x 320 mm, 64 p., cor, cartonado
A história repete-se. Depois de quase 30 anos de crescimento económico no início do novo milénio, um crash bolsista em Outubro de 2029 leva à falência a população francesa, fazendo com que os hotéis passem a ter dois tipos de tabela: para dormir ou para saltar da janela.
O governo, esgotadas as soluções tradicionais, organiza então um referendo que tem uma grande participação e como resposta um “sim” esmagador à pergunta: “Pode o Natal ser decretado sempre que o governo achar necessário?”. A razão é simples: sendo o período natalício o de maior consumo ao longo do ano, multiplicando esses períodos, aumentam-se as vendas, haverá maior produção e a economia, qual Fénix, renasceria das próprias cinzas.
Uma ideia (de uma ironia irresistível) que parecia genial mas que em breve se transforma num pesadelo para os franceses, progressivamente mergulhados numa ditadura natalícia, governados por tiranos Pais Natais, que os obrigam a celebrar o Natal todos os dias, a assistir a ceias de Natal todas as noites, a trocar presentes de Natal todas as meia-noites, a usar apenas e exclusivamente as cores tradicionais do Natal (branco, o predominante vermelho, preto). As mesmas cores que pintam a quase totalidade das pranchas do álbum, conferindo-lhe não um ar alegre e festivo como se poderia pensar, mas um aspecto soturno, opressivo e triste, como soturno, opressivo e triste é este relato concretizado no traço caricatural de Olivier Grojonowski, mais conhecido por O’Groj.
Relato que, apesar de começar com a ironia descrita, progressivamente vai perdendo força e humor, transformando-se numa opressiva descrição kafkiana de uma sociedade que é abalada quando os novos agentes da ordem começam a aparecer assassinados, descalços, obrigando a que se tomem medidas de emergência que apenas revelam que até os opressores estão insatisfeitos.
Mas, felizmente, o Natal não é assim – todos os dias, mesmo quando um homem não quer… - pese embora o cada vez maior consumo a ele associado, em detrimento dos valores mais importantes que o deveriam nortear.
Para todos, um verdadeiro e Feliz Natal… uma vez por ano!
(Versão ligeiramente retocada do texto publicado no Jornal de Notícias de 21 de Dezembro de 1999)
Casterman (França, Outubro de 1999)
240 x 320 mm, 64 p., cor, cartonado
A história repete-se. Depois de quase 30 anos de crescimento económico no início do novo milénio, um crash bolsista em Outubro de 2029 leva à falência a população francesa, fazendo com que os hotéis passem a ter dois tipos de tabela: para dormir ou para saltar da janela.
O governo, esgotadas as soluções tradicionais, organiza então um referendo que tem uma grande participação e como resposta um “sim” esmagador à pergunta: “Pode o Natal ser decretado sempre que o governo achar necessário?”. A razão é simples: sendo o período natalício o de maior consumo ao longo do ano, multiplicando esses períodos, aumentam-se as vendas, haverá maior produção e a economia, qual Fénix, renasceria das próprias cinzas.
Uma ideia (de uma ironia irresistível) que parecia genial mas que em breve se transforma num pesadelo para os franceses, progressivamente mergulhados numa ditadura natalícia, governados por tiranos Pais Natais, que os obrigam a celebrar o Natal todos os dias, a assistir a ceias de Natal todas as noites, a trocar presentes de Natal todas as meia-noites, a usar apenas e exclusivamente as cores tradicionais do Natal (branco, o predominante vermelho, preto). As mesmas cores que pintam a quase totalidade das pranchas do álbum, conferindo-lhe não um ar alegre e festivo como se poderia pensar, mas um aspecto soturno, opressivo e triste, como soturno, opressivo e triste é este relato concretizado no traço caricatural de Olivier Grojonowski, mais conhecido por O’Groj.
Relato que, apesar de começar com a ironia descrita, progressivamente vai perdendo força e humor, transformando-se numa opressiva descrição kafkiana de uma sociedade que é abalada quando os novos agentes da ordem começam a aparecer assassinados, descalços, obrigando a que se tomem medidas de emergência que apenas revelam que até os opressores estão insatisfeitos.
Mas, felizmente, o Natal não é assim – todos os dias, mesmo quando um homem não quer… - pese embora o cada vez maior consumo a ele associado, em detrimento dos valores mais importantes que o deveriam nortear.
Para todos, um verdadeiro e Feliz Natal… uma vez por ano!
(Versão ligeiramente retocada do texto publicado no Jornal de Notícias de 21 de Dezembro de 1999)
Natal 2010 - João Mascarenhas
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O Menino Triste
21/12/2010
Quim e Manecas 1915-1918
Stuart Carvalhais (argumento e desenho)
João Paulo Paiva Boléo (organização, introdução e glossário)
Tinta-da-China (Portugal, Dezembro de 2010)
245x305 mm, 232 p., cor e pb, cartonado
Na sequência da exposição que esteve patente no 21º Amadora BD 2010 e ainda integrada na comemoração dos 100 anos da República em Outubro último, está já disponível nas livrarias a reedição dos melhores episódios da série “Quim e Manecas”.
Trata-se de um volume com cerca de duas centenas de pranchas com as aventuras e traquinices de dois miúdos lisboetas, sem dúvida os primeiros verdadeiros heróis da BD nacional, que foram animados por Stuart Carvalhais entre 1915 e 1918, nas páginas d’O Século Cómico.
Da responsabilidade da Tinta-da-China, esta edição cartonada de grande formato, tem prefácio e coordenação de João Paulo Paiva Boléo, um dos maiores especialistas em BD portuguesa, que apresenta Quim e Manecas como “uma das grandes obras da arte portuguesa do século xx”, considerando-a “uma das matrizes fundadoras da BD”, de uma qualidade “rara ou mesmo única na Europa do seu tempo” graças ao traço fácil e expressivo, à modernidade do ritmo, à harmonia estética e cromática de muitas páginas, ao humor que transparece não só do texto mas das próprias personagens e situações e à ternura das figuras principais”.
(Versão revista e aumentada do texto publicado no Jornal de Notícias de 18 de Dezembro de 2010)
Tinta-da-China (Portugal, Dezembro de 2010)
245x305 mm, 232 p., cor e pb, cartonado
Na sequência da exposição que esteve patente no 21º Amadora BD 2010 e ainda integrada na comemoração dos 100 anos da República em Outubro último, está já disponível nas livrarias a reedição dos melhores episódios da série “Quim e Manecas”.
Trata-se de um volume com cerca de duas centenas de pranchas com as aventuras e traquinices de dois miúdos lisboetas, sem dúvida os primeiros verdadeiros heróis da BD nacional, que foram animados por Stuart Carvalhais entre 1915 e 1918, nas páginas d’O Século Cómico.
Da responsabilidade da Tinta-da-China, esta edição cartonada de grande formato, tem prefácio e coordenação de João Paulo Paiva Boléo, um dos maiores especialistas em BD portuguesa, que apresenta Quim e Manecas como “uma das grandes obras da arte portuguesa do século xx”, considerando-a “uma das matrizes fundadoras da BD”, de uma qualidade “rara ou mesmo única na Europa do seu tempo” graças ao traço fácil e expressivo, à modernidade do ritmo, à harmonia estética e cromática de muitas páginas, ao humor que transparece não só do texto mas das próprias personagens e situações e à ternura das figuras principais”.
(Versão revista e aumentada do texto publicado no Jornal de Notícias de 18 de Dezembro de 2010)
Leituras relacionadas
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Stuart Carvalhais,
Tinta da China
20/12/2010
Rip Kirby, Volume I
Alex Raymond (argumento e desenho)
Bonecos Rebeldes (Portugal, Novembro de 2010)
270 x 348 mm, 56 p., pb, capa brochada com badanas
Aqueles que nas décadas de 50, 60, 70 ou mesmo 80, foram leitores regulares (ou não) especialmente do Mundo de Aventuras ou de outros títulos da Agência Portuguesa de Revistas, de certeza que guardam na memória o nome do detective Rip Kirby. Que muitos até podem ter conhecido sobre o (estranho) nome de Rúben Quirino, na fase em que as revistas infanto-juvenis rebaptizavam os heróis dos quadradinhos para os transformar em heróis lusos.
É especialmente para esses leitores a edição que a Bonecos Rebeldes acaba de colocar nas livrarias, o primeiro volume daquela que pretende ser a reedição integral das tiras de jornal desenhadas por Alex Raymond que criou o detective após ter participado na Segunda Guerra Mundial.
Movendo-se no meio da alta burguesia norte-americana, Rip (aliás Remington) Kirby, de óculos no nariz e cachimbo na boca, apreciador de música clássica e de conhaque, era fleumático, inteligente e ponderado, e privilegiava o raciocínio à acção, embora fosse capaz de recorrer aos punhos ou às armas quando necessário. Ao seu lado estavam sempre o fiel e impassível mordomo Desmond e belas e sensuais mulheres. A sua estreia nos jornais norte-americanos deu-se a 4 de Março de 1946, tendo demorado apenas três anos a chegar a Portugal, como um dos protagonistas do número inaugural do Mundo de Aventuras, com a história “O caso de Medellon Bell”.
Raymond, também criador de Flash Gordon, desenharia o detective durante dez anos, até à sua morte trágica num acidente de automóvel. John Prentice prosseguiria com as suas aventuras, de forma talentosa, até 1999, data em que desenhador e herói se reformaram definitivamente.
A actual edição foi preparada em Portugal, não seguindo a reedição integral (bem mais luxuosa) que a IDW Publishing está a levar a cabo nos Estados Unidos.
(Versão revista e aumentada do texto publicado no Jornal de Notícias 18 de Dezembro de 2010)
Bonecos Rebeldes (Portugal, Novembro de 2010)
270 x 348 mm, 56 p., pb, capa brochada com badanas
Aqueles que nas décadas de 50, 60, 70 ou mesmo 80, foram leitores regulares (ou não) especialmente do Mundo de Aventuras ou de outros títulos da Agência Portuguesa de Revistas, de certeza que guardam na memória o nome do detective Rip Kirby. Que muitos até podem ter conhecido sobre o (estranho) nome de Rúben Quirino, na fase em que as revistas infanto-juvenis rebaptizavam os heróis dos quadradinhos para os transformar em heróis lusos.
É especialmente para esses leitores a edição que a Bonecos Rebeldes acaba de colocar nas livrarias, o primeiro volume daquela que pretende ser a reedição integral das tiras de jornal desenhadas por Alex Raymond que criou o detective após ter participado na Segunda Guerra Mundial.
Movendo-se no meio da alta burguesia norte-americana, Rip (aliás Remington) Kirby, de óculos no nariz e cachimbo na boca, apreciador de música clássica e de conhaque, era fleumático, inteligente e ponderado, e privilegiava o raciocínio à acção, embora fosse capaz de recorrer aos punhos ou às armas quando necessário. Ao seu lado estavam sempre o fiel e impassível mordomo Desmond e belas e sensuais mulheres. A sua estreia nos jornais norte-americanos deu-se a 4 de Março de 1946, tendo demorado apenas três anos a chegar a Portugal, como um dos protagonistas do número inaugural do Mundo de Aventuras, com a história “O caso de Medellon Bell”.
Raymond, também criador de Flash Gordon, desenharia o detective durante dez anos, até à sua morte trágica num acidente de automóvel. John Prentice prosseguiria com as suas aventuras, de forma talentosa, até 1999, data em que desenhador e herói se reformaram definitivamente.
A actual edição foi preparada em Portugal, não seguindo a reedição integral (bem mais luxuosa) que a IDW Publishing está a levar a cabo nos Estados Unidos.
(Versão revista e aumentada do texto publicado no Jornal de Notícias 18 de Dezembro de 2010)
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19/12/2010
Selos & Quadradinhos (11)
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18/12/2010
Selos & Quadradinhos (10)
Stamps & Comics / Timbres & BD (10)
Tema/subject/sujet: Correspondencia Epistolar Escolar. Cómics Juveniles.
País/country/pays: Espanha
Autor/author/auteur: Miguelanxo Prado
Data de Emissão/Date of issue/date d'émission: 2004
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17/12/2010
Mágico Vento #97 a #101
Gianfranco Manfredi (argumento)
Darko Perovic, Pasquale Frisenda, Bruno Ramella, Frederic Volante, Goran Parlov, Stefano Biglia e Giovani Talami(desenho)
Tomislav Tikulin (cor do #100)
Mythos Editora (Brasil, Julho a Novembro de 2010)
135x175 mm, 100 p. (132 p. no #101), pb (cor no #100), brochado, mensal
1. Recorrentemente apercebo-me que em cerca de ano e meio que este blog tem de vida, até hoje ainda não me debrucei nele sobre este ou aquele autor, personagem ou série.
2. Por motivos diferentes, conforme os casos, mas com um resultado comum: o esquecimento de algo que já devia ter divulgado.
3. Mágico Vento, apesar de ser presença regular entre as edições de banca disponíveis mensalmente, é um desses casos.
4. O seu criador é Gianfranco Manfredi, nascido em 1948, em Senigallia, Itália, formado em História da Filosofia e que, para além de argumentista de fumetti, é também cantor e escritor. No universo Bonelli, para além de Mágico Vento, assinou também argumentos para Dylan Dog, Nick Raider ou Tex.
5. Graficamente, como é normal na editora, para assegurar a periodicidade mensal das revistas, têm sido vários os desenhadores que têm passado pela sua série – normalmente escolhidos de forma a adequar o seu estilo ao tema específico de cada episódio, apesar de alguns pontos comuns que garantam uma certa homogeneidade.
6. Entre os nomes recorrentes contam-se José Ortiz, Giuseppe Barbati, Bruno Ramella, Corrado Mastantuono, Pasquale Frisenda, Goran Parlov, Paolo Raffaelli, Sicomoro, Giez, Stefano Biglia, Ivo Milazzo, Luigi Piccatto e Corrado Roi.
7. Quanto à personagem central, seguindo outra “tradição” Bonelli, fisicamente foi baseada no actor Daniel Day-Lewis.
8. Sendo – sem qualquer dúvida – um western, Mágico Vento distingue-se, no entanto, das outras abordagens que os quadradinhos têm feito ao Velho Oeste, por várias razões.
9. Desde logo, porque o seu protagonista é um antigo soldado – de nome Ned Ellis - ferido numa explosão de um comboio que lhe apagou a memória, que ele vai recuperando em fragmentos ao longo da trama, descobrindo quem era e o que fez ao mesmo tempo que o leitor.
10. Salvo por Cavalo Manco, um índio, após ser ferido, Mágico Vento acabaria por se tornar um xamã Sioux, passando a viver com e à maneira dos índios, embora sejam muitas as suas incursões no mundo dito civilizado.
11. Por esse motivo, grande parte da saga é sobre a história, os costumes, as tradições e as crenças dos peles-vermelhas, conferindo-lhe – pelo rigor empregue – um carácter de verdadeira etnologia.
12. Mas em Mágico Vento há também uma forte componente histórica – que reforça o seu tom realista -, encontrando o protagonista nomes míticos e famosos do Oeste como o general Custer, Cavalo Louco ou Nuvem Vermelha entre outros. Por isso, ao longo da saga, há o acompanhamento de momentos marcantes da História dos Estados Unidos.
13. Noutros episódios ainda, prevalece um registo fantástico e mesmo de terror, geralmente baseado na concretização de lendas e crenças indígenas. E um acentuado lado místico, porque o xamã Sioux tem com frequência visões que esclarecem o seu passado ou o deixam vislumbrar o futuro.
14. Em Mágico Vento há ainda uma outra temática, que diz respeito à procura do seu pai – que acabará por encontrar no seu maior inimigo, Howard Hogan, um dos cabecilhas de uma organização secreta com muitas ramificações e também responsável pela explosão que Ned foi ferido.
15. Finalmente, é também possível encontrar na criação de Manfredi, episódios que constituem “werterns puros”, fiéis ao mais tradicional no género.
16. Tudo isto em histórias auto-conclusivas que permitem uma leitura isolada mas que constituem apenas uma pequena parte de um todo bem maior, bem desenvolvido, consistente e credível que cativa e prende o leitor.
17. A par de Mágico Vento, está geralmente o jornalista Willy Richards, mais conhecido como Poe, dada a sua semelhança física com o célebre escritor fantástico, que privilegia a “pena à espada”, espécie de consciência crítica, embora sujeito a tentações como o álcool ou mulheres disponíveis.
18. Pese embora o que escrevi no início, esta abordagem mais alongada a Mágico Vento, tem uma justificação (desnecessária): a chegada às bancas portuguesas este mês da sua revista #97, que inicia uma longa história (mais de 500 pranchas) – ou diversos episódios auto-conclusivos encadeados, se preferirem – durante a qual podemos assistir à célebre batalha do Little Big Horn, em que os índios derrotaram os soldados brancos e na qual o (também) célebre General Custer encontrou a sua morte, e conhecer algumas das versões existentes (verídico) sobre o seu desfecho.
19. Nessa descrição – obviamente ficcionada -, que constitui uma bela súmula dos pontos fortes da saga já atrás descritos, é notável a forma como os movimentos, motivações e questões internas dos dois lados em confronto são apresentados, num relato pausado, desenvolvido num tom crescente que culminará na batalha – a que quase não assistimos embora vejamos as suas consequências ao longo de (pelo menos) mais duas edições.
20. A par disso, há uma correcta e credível caracterização dos diferentes intervenientes, bem diferentes dos “bons” e “maus” habituais nos westerns, antes seres profundamente humanos com (algumas) qualidades e (muitos) defeitos.
21. Esperando ter escrito o suficiente para isso, deixo um conselho final: se nunca leu Mágico Vento, esta é uma boa oportunidade para o descobrir. Sabendo que corre o risco de, depois, querer conhecer toda a restante saga.
22. Como ponto final, em jeito de informação, fica a referência ao facto de o episódio #100 ser a cores – como é habitual nos números centenários Bonelli – e de a partir do #101, a revista aumentar de 100 para 132 páginas, permitindo a Manfredi explorar e explanar melhor os seus argumentos.
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