23/02/2011

L’orfèvre

Collection Les Intégrales
Warnauts (texto e desenho)
Guy Raives (texto, desenho e cor)
Glénat (França, 9 de Fevereiro de 2011)
180 x 243 mm, 240 p., cor, cartonado, 15,00 €


Resumo
L’orfèvre (o ourives), é o apelido de Charles-André Lafleur, um agente ao serviço do estado francês, que encontramos envolvido em inquéritos de contornos políticos, numa qualquer república da América Central, Nova Iorque, Paris ou no Cambodja.
Ambientado nos anos 30, este álbum recolhe os 5 tomos que Lafleur protagonizou – La Mort commme um piment, La maison sur la plage, K.O. sur ordonnace, Le sourire de Bouddha e Les Larmes de la Courtisane, originalmente publicados entre 2000 e 2004.

Desenvolvimento
Comecemos por falar da colecção. Ao contrário da maior parte doutros volumes integrais que aqui tenho referido, geralmente dedicados à recuperação de séries clássicas, a colecção Les Intégrales da Glénat – tal como esta da Dupuis – tem uma orientação diferente. Assim, agrupa num único volume, no formato geralmente designado como de ‘livro’ – seja lá isso o que for… - alguns tomos de uma série (ou toda a série como neste caso), mais ou menos recente e de algum sucesso.
No caso presente, “L’orfèvre” compila os inquéritos de Lafleur, agente ao serviço do estado francês, envolvido em casos com contornos políticos, relacionados com tráfico de influências, contrabando de droga ou de objectos de arte. A apimentar cada um deles encontram-se elementos mais comuns em relatos policiais, como relacionamentos dúbios, racismo, sexo, traição e alguma violência.
Lafleur, cujo passado, algo nebuloso, vai sendo aflorado ao longo dos relatos, ao contrário de muitos dos seus pares detectives, privilegia a dedução, a intriga e a actuação na sombra em detrimento da acção directa, o que se traduz em narrativas de ritmo moderado que os autores aproveitam para definir e aprofundar o carácter dos principais intervenientes, bem como para tornar mais complicados os contornos de cada caso, cujos desfechos nem sempre são os esperados, o que por vezes obriga a uma releitura para que o leitor se aperceba de todos os pormenores disponibilizados (em texto, expressões, cenário…).
E também, importa dizê-lo, porque essa é uma das principais características deste álbum – bem como de outros da dupla Warnauts/Raives – pois esse ritmo pausado (apesar da diversidade da planificação) permite-lhes demorarem-se e aplicarem-se nos (belos) retratos de cada um dos lugares, exóticos (ou não) onde a presença de Lafleur é exigida, enquanto mostram apontamentos de como foram os agitados anos 30 do século passado. E, igualmente, em contraste com o tom algo caricatural usado para os homens, nos belos e chamativos retratos das belas mulheres que são outra constante nas suas obras.

A reter
- As belas mulheres de Warnauts e Raives.
- As soberbas cores que pintam cada prancha.
- A possibilidade de o leitor comprar 5 tomos pelo preço de um só, poupando na carteira - e no espaço de prateleira!

Menos conseguido
- Algum estaticismo das figuras humanas.
- O menor à vontade revelado pelos autores na representação das cenas de maior acção, como a perseguição automóvel das páginas 75 a 77.
- A redução do formato em relação aos tomos originais que, se não prejudica a leitura em si, não permite apreciar da mesma forma a arte de Warnauts e Raives.

22/02/2011

Armazém Central

#3 – Os homens 
Régis Loisel e Jean-Louis Tripp (argumento e desenho)
Edições ASA (Portugal, Janeiro de 2011)
227 x 302 mm, 80 e 72 p., cor, capa cartonada
15,95 €



Resumo Com o regresso dos homens à aldeia, uma vez terminada a campanha de Inverno que os ocupava na floresta, o novo equilíbrio estabelecido na pequena povoação de Notre-Dame-des-Lacs com a chegada de Serge e a abertura do seu restaurante vai ser posto em causa, bem como a presença deste último. É tempo, então, de mulheres e homens assumirem posições, se bem que isso nem sempre seja fácil nem compreensível para uns e outros.

21/02/2011

O Livro do Buraco

Peter Newell (texto e desenho)
Libri Impressi (Portugal, Dezembro de 2010)
172 x 228 mm, 60 p., cor, cartonado, 13,00 €


1. Numa época de buracos – orçamentais, futebolísticos, nas ruas, etc. - da próxima vez que for à livraria, não se assuste se, ao folhear um livro, encontrar nele um buraco. Ou melhor vários buracos, um em cada página do livro, todos perfeitamente alinhados.
2. Buracos, literalmente, no sentido de orifício, de furo, de falta de (um bocadinho de) papel, permitindo espreitar através das páginas.
3. Dirão os mais optimistas, que são pequeninos, apenas uns 5 ou 6 milímetros de diâmetro, mas, mesmo assim, não deixam de ser buracos em páginas de livros. O que não é normal, convenhamos.
4. E não se ponham os mais exaltados a declarar já guerra a ratos, peixinhos de prata ou caruncho - provocando a habitual reacção exacerbada dos amiguinhos dos animais, defendendo o seu direito à alimentação, à livre circulação e, até quem sabe, ao acesso à cultura…
5. Se o livro em questão tem um buraco, é porque o autor o fez.
6. Quer dizer, não foi mesmo o autor - ele até já morreu, em 1924 – o buraco foi da responsabilidade da gráfica – está escrito no livro!
7. Mas não, também não é isso, não interprete mal; não foi acidente, defeito de fabrico ou de produção. Se a gráfica fez um buraco no livro, foi porque o autor quis. Quer dizer, o autor já não quer nada - morreu há 86 anos, mais coisa menos coisa, acho que já o tinha referido - mas quando Peter Newell criou esta obra, imaginou-a com um buraco. Sim, com um buraco – b-u-r-a-c-o - leram bem.
8. Aliás, até acho que deviam ter percebido logo que assim é, já que ela se intitula precisamente "O Livro do Buraco"!
9. (O que não quer dizer que “O Grande Livro dos Dinossauros” tenha criaturas pré-históricas autênticas lá dentro…)
10. Até porque é mais fácil encontrar buracos do que dinossauros… Aliás, se a moda pegar, talvez as Estradas de Portugal pudessem exportar alguns dos muitos que possuem, equilibrando (o buraco das) contas, entregando pás e picaretas a alguns especialistas neles e até para benefício de quem circula…
11. Adiante. Esclarecida (?) a questão do buraco, falemos um pouco de Peter Newell, um norte-americano nascido em 1862, que dá a impressão que embirrava um pouco com os livros – ou pelo menos com o seu conceito tradicional tout-court – pois, para além de os furar (como já vimos), também gostava deles inclinados…
12. …pois também foi ele o autor de “O Livro Inclinado” (da Orfeu Negro), que pode igualmente ser encontrado nas livrarias nacionais, para desespero de quem gosta das obras bem alinhadas nas prateleiras, que narra o que acontece quando uma ama larga inadvertidamente um carrinho com um bebé por uma ladeira abaixo.
13. Para além disso, Newell criou anedotas ilustradas com texto em rima, fez banda desenhada – “The Naps of Polly Sleepyhead” – e ilustrou diversas obras…
14. … para além de ter criado uma mão cheia de livros que se destacaram pelas razões menos convencionais: os dois já citados, “The Rocket Book” que não, não traz um foguetão lá dentro, narra isso sim o que acontece quando um foguete é lançado na cave de um imóvel com 20 andares, que ele atravessa com resultados desastrosos... ou nem tanto!...
15. ... e ainda “Topsys and Turvys” 1 e 2, cujas imagens têm dupla leitura, conforme são vistas na posição normal ou de cabeça para baixo...
16. Abordando agora “O Livro do Buraco” – sem cair no dito cujo… - começo por resumi-lo: tudo começa quando o descuidado Tomás Potts, dispara inadvertidamente uma pistola, levando a poderosa bala a furar a parede de sua casa e, a partir daí, todos os obstáculos que encontra pelo caminho. Com tal força e determinação que, quem sabe, pode até voltar ao local de origem e matar o miúdo, por trás… Ou não, isso só saberá quem ler o livro, porque não basta espreitar pelo (seu) buraco. É mesmo necessário (e aconselhável) voltar página após página; tarefa facilitada, neste caso concreto, pelos já citados buracos, que diminuem o peso de cada uma.
17. E se é verdade que esta não é uma BD, o género que monopoliza aqui as minhas leituras, nem uma anedota ilustrada com texto em rima, não será de todo impossível encontrar nele características de uma e outras: a sequência narrativa, no percurso da bala, a rima em todo o texto do livro e as anedotas em cada página ilustrada do mesmo.
18. O traço de Newell, semi-caricatural, simples, legível e dinâmico, adapta-se na perfeição à narrativa - preenchendo perfeitamente o espaço em volta do furo, dirão os mais maldosos….
19. Da edição, mais uma de Manuel Caldas, só se pode dizer bem, como é habitual. Ou seja, que não furou as expectativas (apesar de furada). Desde a excelente tradução (igualmente em rima) à reprodução dos desenhos, na dimensão exacta em que foram criados, da encadernação ao acabamento. Onde se inclui o buraco. Geometricamente irrepreensível e com funcionalidade (de buraco) nos dois sentidos. Por estranho que possa soar. Mas sobre ele, já escrevi.
20. Claro que de um ponto de vista comercial, de markting, faria mais sentido que o dito orifício atravessasse também as capas, mas do ponto de vista narrativo só pode mesmo trespassar a maior parte das páginas do volume.
21. Posso ainda acrescentar, sem furar o segredo que deve ser inerente a qualquer resenha/crítica, que apesar da sua modernidade e inventividade, o livro tem mais de 100 anos – foi criado em 1908 – sendo o seu humor algo ingénuo, próprio daquela época.
22. Apesar disso – por isso? – confesso que me diverti bastante com a sua leitura – tal como o meu filho de 5 anos, prova de que poderá agradar a todas as gerações e a leitores com as mais variadas exigências – razão pela qual, sem medo de cair nele, aconselho vivamente a compra do livro (com o buraco).
23. E com uma vantagem, que este tomo também exalta: por muito que se esforcem, nenhum e-book conseguirá apresentar o tal buraco. Mesmo eu, nas páginas que aqui mostro, não consegui reproduzi-lo…. Os meus leitores podem sempre utilizar um berbequim ou prego e martelo no ecrã, mas, com franqueza, não me parece o mais aconselhável… Se querem o buraco, comprem mas é o livro!

20/02/2011

Selos & Quadradinhos (26)

Stamps & Comics / Timbres & BD (26)
Tema/subject/sujet: Sunday Funnies Stamp - Beetle Bailey, Calvin and Hobbes, Archie, Garfield, Dennis the Menace
País/country/pays: Estados Unidos da América / United States / États Unis
Data de Emissão/Date of issue/date d'émission: 2010

19/02/2011

Leituras de Banca

Fevereiro 2011
Títulos que já estão ou estarão em breve disponíveis nas bancas portuguesas.

Mythos
Tex #464 – Dinheiro sujo
Tex Colecção #256 – Os rebeldes do Canadá
Tex Edição Histórica #77 – Mescaleros!
Os Grandes Clássicos de Tex #24 - Drama na Pradaria / Rastros no Deserto
Zagor #113 - O Bando do Caolho
Zagor Extra #77 – Tragédia em Silver Town
Zagor Especial #27 – O Último Vicking
J. Kendall – Aventuras de uma criminóloga #70 – O Grande Mar de Relva
Mágico Vento #99 – Custer: Morre Uma Lenda

Panini
Turma da Mónica
Este mês chegam pela primeira vez às bancas portuguesas três novas revistas de periodicidade semestral - Almanaque do Bidu e Mingau, Almanaque do Horácio e Piteco e Almanaque do Papa Capim e Turma da Mata – que permitem conhecer melhor algumas personagens criadas por Maurício de Sousa com aparições esparsas nas revistas regulares.
Almanaque da Magali #22
Almanaque da Tina #8
Almanaque do Bidu e Mingau #1
Almanaque do Chico Bento #22
Almanaque do Horácio e Piteco #1
Almanaque do Papa Capim e Turma da Mata #1
Almanaque sem Palavras #1
Cascão #44
Cebolinha #44
Chico Bento #44
Magali #44
Maurício Apresenta #10 – Turma da Mônica em Todas as Copas do Mundo (parte 2 de 2)
Mônica #44
Ronaldinho Gaúcho e Turma da Mônica #44
Turma da Mônica – Clássicos do Cinema #21 – O Galodiador
Turma da Mônica – Histórias de 3 páginas #5
Turma da Mónica – Saiba mais #35 – Leonardo da Vinci
Turma da Mônica – Uma aventura no parque #44
Turma da Mônica Jovem #26

Marvel
Avante Vingadores #42
Homem-Aranha #103
Os Novos Vingadores #78
Wolverine #67
X-Men #103
Universo Marvel #1
Universo Marvel #2
Está previsto que estas duas últimas revistas sejam distribuídas em Fevereiro, com um intervalo de cerca de 15 dias.

DC Comics
Batman #92
Liga da Justiça #91
Superman #92
Universo DC #2

18/02/2011

True grit

Christian Wildgoose (argumento - baseado no romance homónimo de Charles Portis e no argumento cinematográfico dos irmãos Cohen - e desenho)
Paramount (Fevereiro de 2011)

27 p., pb, digital

Apesar de True Grit já ter estreado nos EUA no final de 2010, só há dias é que a Paramount disponibilizou esta banda desenhada inspirada numa das cenas-chave da película dirigida pelos irmãos Cohen, ou seja, a tempo de o promover na maior parte dos países europeus, asiáticos e sul-americanos onde só agora estreia (como aconteceu ontem em Portugal, onde recbeu o título "Indomável").
Embora seja óbvio (e assumido) o intuito promocional da BD, a verdade é que ela funciona bem autonomamente, introduzindo os leitores no universo do filme, em particular dando a conhecer o Marshall Rooster Cogburn (interpretado por Jeff Bridges).
O seu autor é o britânico Christian Wildgoose, que conta que tudo começou quando editou no seu site um sketch da personagem de Bridges, feito após o visionamento do trailler do filme. De alguma forma a imagem chegou às mãos de um responsável da Paramount que o convidou para fazer desenvolver uma BD, partindo do filme.
Agora, estão disponíveis gratuitamente online duas dúzias de pranchas, apenas a preto e branco (e cinzento para realçar os volumes), nas quais Cogburn narra num tribunal como encontrou duas vítimas dos irmãos Wharton e partiu em sua perseguição. O traço de Wildgoose, duro e agreste, revela-se ideal para o tom duro e violento da trama, não se coibindo de mostrar algumas cenas mais fortes, e para retratar o cenário em que ela decorre, deixando sem dúvida o leitor desejoso de conhecer o resto da história…
Para isso, terá que ir ao cinema… ou esperar que Wildgoose seja convidado a desenhar o restante deste western.
O que não impede que este comic, também disponível em versão francesa, esteja nomeado para os Eagle Awards, nas categorias de “Best British Black and White Comic” e “Bets Letterer” (Jim Campbell).



(Versão revista e aumentada do texto publicado no Jornal de Notícias de 17 de Fevereiro de 2011)

Bedeteca de Beja - Programação

Fevereiro 2011

Exposições
No Reino do Terror
Exposição bibliográfica de revistas de terror, da Tales from the Crypt (anos 50) à Zona Negra

De 11 de Fevereiro a 11 de Março
Galeria de Exposições Temporárias da Ala Esquerda (1º andar).
De 2ª a 6ª feira das 9h00 às 12h30 e das 14h00 às 23h00; Sábados das 14h00 às 20h00.

Cor - 15 Ilustradores Portugueses
Exposição de serigrafia com André Letria, Alex Gozblau, André Carrilho, Bernardo Carvalho, Daniel Lima, Filipe Abranches, João Fazenda, Miguel Rocha, Maria João Worm, Nuno Saraiva, José Manuel Saraiva, Pedro Burgos, Tiago Albuquerque, Tiago Manuel e Susa Monteiro.
Exposição comemo-rativa dos 15 anos da Casa da Cerca, Almada, produzida pelo Centro Português de Serigrafia.
De 14 de Fevereiro a 14 de Março
Cafetaria.
De 2ª a 6ª feira das 9h00 às 12h30 e das 14h00 às 23h00; Sábados das 14h00 às 20h00.

Carlos Páscoa
Exposição de banda desenhada e ilustração

De 19 de Fevereiro a 19 de Março
Inaugu-ração da exposição e conversa com o autor, dia 19 de Fevereiro, às 18h00.
Galeria de Exposições Temporárias Principal (1º andar - Centro).
De 2ª a 6ª feira das 9h00 às 12h30 e das 14h00 às 23h00; Sábados das 14h00 às 20h00.

Montra de Fevereiro
Gambuzine
A montra deste mês debruça-se sobre o fanzine Gambuzine, fundado em 1999. Como nos diz Teresa Câmara Pestana, autora de banda desenhada e editora, o Gambuzine, surgiu da necessidade de “ (…) prolongar o gozo alcançado com os solozines Aqui Babilónia (1995) e Continuamos aqui (1996), versão portuguesa de Hier Babylon, editado em 1995 com grande sucesso no burgo punk de Hannover”. O Gambuzine notabilizou-se por editar em território português, e em primeira mão, grandes nomes da banda desenhada alemã “alternativa”, aos quais se juntaram autores eslovenos, espanhóis, finlandeses, franceses, italianos, neo-zelandeses e portugueses (com destaque para a própria Teresa Câmara Pestana).
Depois de 16 números a atormentar a banda desenhada “bem comportada” o Gambuzine continua a dar especial ênfase à crítica política e social, que são também a sua imagem de marca. No Gambuzine, voltando a citar Teresa Câmara Pestana, só “ (…) não há bd’s racistas, sexistas e fascizóides”.
1 a 28 de Fevereiro
De 3ª a 6ª das 14h00 às 17h30 e das 19h30 às 23h00; Sábados das 14h00 às 20h00.

Conversas
Conversas sobre Cinema e Banda Desenhada, por Véte

Dia 4, sexta-feira, às 21h30
Todas as primeiras sextas-feiras de cada mês a Bedeteca têm a honra e o prazer de receber as conversas de Véte sobre cinema e banda desenhada. A não perder!


O Universo do Terror, por Hélder Castilho
Dia 25, sexta-feira (podia ser dia 13…), às 21h30 Apreciador de cinema e banda desenhada, autor de contos de terror, Hélder Castilho vem falar-nos d’ O Universo do Terror, na Bedeteca. Uma sessão verdadeiramente assustadora!

Cinema de Animação
Traços do Japão – Sessões de Anime, da NCreatures
Todas as terceiras sextas-feiras do mês passamos um filme de anime, aqui na Bedeteca, com a parceria da NCreatures. Em breve anunciaremos o título deste mês… O filme será apresentado por Paulo Monteiro
Dia 18, sexta-feira, às 21h30

Oficinas
Ouriço-do-Mar – Oficina de Banda Desenhada
Todas as terças-feiras, das 19h30 às 20h30
Para autores entre os 8 e os 12… A entrada é livre.

Toupeira – Oficina de Banda Desenhada
Todas as quintas-feiras, das 19h30 às 20h30
Para autores a partir dos 13 anos… A entrada é livre.

Clubes
Lemon Studio – Clube de Mangá
Todas as quintas-feiras, das 16h00 às 18h30
Magic The Gatering – Clube de Magic
Todos os Sábados das 15h00 às 20h00

Sugestão da Bedeteca para Fevereiro
Livro do mês
La Ascensión del Gran Mal (Edição em castelhano) de David B.

Conhecida por “Grande Mal”, a epilepsia é uma doença que provoca alterações temporárias graves a nível motor, sensorial, psíquico e neurovegetativo. O francês David B. relata nesta obra em 6 volumes a sua relação com o irmão, minado pelo “Grande Mal”, e a forma como lidou com o fantasma da doença ao longo dos anos. La Ascensión del Gran Mal (edição em castelhano, traduzida do francês) é uma obra intimista, por vezes dolorosa, mas também um enorme exercício de coragem por parte do autor, que expõe a público todos os seus medos e obsessões com a enfermidade do irmão. David B., que esteve em Beja em 2007, por ocasião da exposição realizada com o seu trabalho, durante o III Festival Internacional de Banda Desenhada de Beja, é considerado como um dos mais importantes autores de banda desenhada da actualidade. La Ascensión del Gran (6 volumes) foi publicado pelas Ediciones Sinsentido, entre 2001 e 2007.

Notícias
- Este mês criámos o Conselho Consultivo da Bedeteca de Beja, do qual farão parte vários críticos, estudiosos, divulgadores, autores e leitores de banda desenhada. O objectivo do Conselho é constituir um “núcleo duro” que possa dar pistas sobre vários assuntos, reunindo, ao mesmo tempo, sensibilidades muito diferentes.
- O fanzine Venham + 5 n.º 6 (2009), da Bedeteca de Beja, foi nomeado pelos VIII Troféus Central Comics na categoria de Melhor Fanzine. A história “O Infeliz Destino de Sebastião Salvador”, de Susa Monteiro, publicada no mesmo fanzine, foi nomeada na categoria de Melhor Curta. Para conhecer os outros nomeados, prazos para a votação, local da entrega dos prémios, etc., basta consultar o portal Central Comics...
- Este ano o Festival Internacional de Banda Desenhada de Beja realizar-se-á entre 28 de Maio e 12 de Junho. A organização avança a bom ritmo e os autores presentes estão praticamente todos confirmados… Alberto Varanda e Loustal são dois dos muitos autores com exposições patentes.

Nas Escolas
O mês passado, e apesar do frio, estivemos na Escola Mário Beirão, em Beja. Este mês vamos estar na Escola D. Manuel I e no Liceu Diogo de Gouveia, também em Beja. E ainda daremos um “pulinho”ao Externato António Sérgio, em Beringel. Para falar de banda desenhada, claro… Estamos também a elaborar um projecto, na área da reciclagem, com o Instituto Politécnico de Beja.

(Textos da responsabilidade da Bedeteca de Beja)

17/02/2011

Fantasma

O espírito que caminha há 75 anos
Passam hoje 75 anos sobre a estreia, no New Yorker American Journal, das tiras diárias de The Phantom, popularizado em Portugal como Fantasma. Seria no entanto necessário aguardar uma semana para conhecer o primeiro herói dos quadradinhos com identidade secreta, que ocultava com uma máscara negra, um fato justo (de cor roxa – ou outras, consoante os países em que é publicado) e as cuecas por fora, que deixavam á vista apenas a boca, o nariz e as mãos.
Apesar disso, o Fantasma não tinha super-poderes, que entrariam na BD apenas um par de anos mais tarde com o Superman, servindo-se das duas pistolas que usava à cintura, da força, da agilidade física e do seu aspecto amedrontador para derrotar gangsters e tiranos, que marcava indelevelmente com uma caveira socando-os com o anel com uma que usava na mão direita (o da mão esquerda, com dois sabres cruzados, significava protecção para quem ostentasse a sua marca). E ainda da lenda que o afirmava imortal, contando mais de 400 anos, sendo por isso conhecido entre os pigmeus com quem vive como “o espírito que caminha” ou “o homem que nunca morre”.
Na verdade, este Fantasma inicial era apenas o 21º de uma longa linha sucessória, iniciada em 1526 por um jovem aristocrata inglês que, naufragado na costa africana na sequência de um ataque de piratas Singh, jurou consagrar a sua vida e a dos seus descendentes a combatê-los, passando essa missão ao seu filho e por aí em diante. Esta base permitiu ao seu argumentista, Lee Falk (1911-1999), que dois anos antes criara outro herói de sucesso, o mágico Mandrake, variar a época e a temática das histórias que foi narrando até à sua morte.
O Fantasma inicialmente foi desenhado por Ray Moore (1905-1982), sucedendo-lhe Wilson McCoy (1902-1961) e Sy Barry (1928-). À tira diária juntar-se-ia uma prancha dominical colorida, em Maio de 1939, ano em que também se estreou em revista autónoma, por onde passariam nomes como Wallace Wood, Al Williamson, Steve Dikto ou Jim Aparo e, nas capas, Albert Breccia ou Frank Frazzeta. Actualmente o Fantasma continua a ser publicado diariamente nos jornais norte-americanos, em histórias escritas por DePaul e desenhadas por Paul Ryan.
Na sua primeira aparição o Fantasma salvava de apuros a bela Diana Palmer, por quem se apaixonou e que seria a sua noiva durante mais de meio século, até finalmente casarem, em 1977, nascendo um ano depois os gémeos Kit e Heloise. Guran, chefe dos pigmeu Bandar que servem o Fantasma, Rex, o seu protegido, Diabo, o seu cão-lobo, Herói, o belo cavalo branco e a Patrulha da Selva (que ele comanda secretamente), são outras personagens recorrentes desta banda desenhada. Do seu refúgio, na Caverna da Caveira, na fictícia selva de Bengala, onde estão os arquivos que narram as aventuras de todos os Fantasmas e onde existe um imenso tesouro em pedras preciosas, o Fantasma parte para os mais exóticos destinos para combater o crime e a opressão, tendo mesmo participado na II Guerra Mundial, quando os seus domínios foram invadidos pelos japoneses.
Do universo da série faz parte igualmente a paradisíaca Ilha do Éden, onde todos os animais vivem em harmonia e onde o Fantasma por vezes recupera as suas forças.
O sucesso da BD, especialmente notório na Suécia (onde a Egmont edita Fantomen, uma revista com produção local, ininterruptamente desde 1950) e na Austrália (onde a revista The Phantom, iniciada em 1948, atingiu já as 1500 edições) fez com que fosse adaptada ao cinema em 1943, em 15 capítulos protagonizados por Tom Tyler, e, mais recentemente, em 1996, num filme de má memória com Billy Zane. Curiosamente, na televisão a estreia deu-se apenas em 1986, numa série animada, em que um Fantasma do futuro integrou os Defensores da Terra, juntamente com Flash Gordon, Mandrake e e os respectivos filhos (!). Na mesma linha, surgiria em 1994 The Phantom 2040. No ano passado, uma mini-série em dois episódios, interpretada por Ryan Carnes, narrou a iniciação do 22º Fantasma.
Em Portugal, a estreia do herói deu-se em 1952, no Condor Mensal #18 (ver correcção nos comentários no final deste texto), tendo depois passado por inúmeras revistas (Mundo de Aventuras, Audácia, Ciclone, Chico Zumba, Jornal do Cuto…) e até por títulos próprios e álbuns.

Nos Estados Unidos, a Hermes Press tem em curso a reedição cronológica das tiras diárias do Fantasma, em luxuosos volumes que abarcam cerca de dois anos e contam quase três centenas de páginas cada um. Até ao momento foram lançados três tomos, com introdução de Ron Goulart.
A título de curiosidade, refira-se uma breve passagem do herói pelo traço do português Eliseu Gouveia (Zeu), nos números #20 e #26 da edição da Moonstone Books, em 2007/08.

16/02/2011

Tintin – O Caranguejo das Tenazes de Ouro

Hergé (argumento e desenho)
Edições ASA (Portugal, Setembro de 2010)
160 x 220 mm, 62 p., cor, cartonado, 8,90 €


5 + 1 razões (entre muitas outras!) para ler este álbum:

1. Porque é nele que aparece pela primeira vez – tendo já um papel fundamental - o Capitão Haddock, futuro pilar do universo de Tintin…
2. … e, consequentemente, é nele que ouvimos pela primeira vez um chorrilho dos seus deliciosos insultos: “Canalhas!... Trastes!... Pés-descalços!... Trogloditas!... “Tchuk-tchuk-nougat”!”
3. Pela magnífica sequência da travessia do deserto feita por Tintin e Haddock ao longo de 6 (longas) páginas, com especial destaque para a cena final do pesadelo do repórter.
4. Aliás, aquela é uma das características desta história, a forma como Hergé prolonga e explora bem cada situação.
5. Porque é uma história bem construída e desenvolvida, com as diversas pistas soltas a encaixarem-se todas no final, com o ritmo, a acção, o suspense e o humor bem doseados.

+ 1. Porque… bem, vocês já sabem, é sempre um prazer (re)ler Tintin!

15/02/2011

José Mendes Cabeçadas Júnior

Um Espírito Indomável
José Carlos Fernandes (argumento)
Roberto Gomes (desenho)
Câmara Municipal de Loulé (Portugal, Setembro de 2010)
175x240 mm, 40 p., cor, brochada com badanas


Resumo
Este álbum traça a biografia de José Mendes Cabeçadas Júnior, um louletano que foi Presidente da República e que teve papel fundamental em alguns momentos-chave da História de Portugal, como a implantação da República, o levantamento de 28 de Maio ou a campanha de Humberto Delgado para as eleições presidenciais de 1958.

Desenvolvimento
Projecto institucional, “obrigado” a condensar uma vida (muito) cheia em apenas três dezenas de pranchas, apresenta algumas das qualidades e defeitos que são (quase) inevitáveis neste tipo de obras.
Por um lado, foi impossível a José Carlos Fernandes (JCF) fugir ao rigor de datas e acontecimentos, mais a mais face a uma personalidade como José Mendes Cabeçadas Júnior, que de militar a político, de revoltoso a preso, teve uma vida cheia de acontecimentos relevantes que importava conhecer (e pena é que a dimensão da obra não permita aprofundar mais alguns; ficará como ponto de partida para outras leituras).
Por outro, aqui e ali JCF consegue libertar-se daquele espartilho, com pequenos apontamentos (momentos, gestos…), geralmente nas pranchas(/vinhetas com menos texto que mostram e apelam para o lado menos conhecido da personagem pública, mas que lhe conferem uma dimensão mais humana.
Do equilíbrio entre uns e outros, conseguiu uma obra sem paixão, é verdade, mas legível e que cumpre os seus objectivos: divulgar a vida e feitos de um nome marcante da história lusa da primeira metade do século XX.
Quanto a Roberto Gomes, se consegue diversificar bastante a planificação, conseguindo mesmo alguns efeitos interessantes ao utilizar um desenho único, dividido ao alto, como se de várias vinhetas se tratasse, para dinamizar a narrativa (nas páginas 21 e 27, por exemplo), a nível da figura humana apresenta rostos inexpressivos e que só ganhariam se fossem um pouco mais realistas. Em contrapartida, o envelhecimento do protagonista está bem conseguido, merecendo ainda especial destaque a coloração das pranchas, em que predominam os tons ocre e violeta.

A reter
- A excelente edição – design, impressão, papel, acabamento – de fazer inveja a algumas edições “profissionais”.
- A boa selecção de cores.
- A presteza com que a C. M. de Loulé satisfez o pedido de um exemplar.

Menos conseguido
- Numa altura em que José Carlos Fernandes é publicado (e apreciado) em Espanha e França, e expõe em Angoulême e no Centro Belga de BD, é lamentável que no seu país só possa ser lido numa obra de carácter institucional (sem que isto signifique menosprezo por esta edição) e esteja prestes a deixar – ou tenha mesmo já deixado? – a BD.
- Se é louvável esta iniciativa da C. M. Loulé, custa vê-la subaproveitada, por não ser suficientemente divulgada (ou até posta à venda, num espaço como a FNAC, por exemplo). O que seria a melhor forma de atingir os propósitos da edição.

Curiosidade
- Esta não é a primeira vez que José Carlos Fernandes emprega o seu talento em projectos institucionais; já o tinha feito, com argumento de João Miguel Lameiras e João Ramalho Santos, em “A Revolução Interior – À procura do 25 de Abril”, e como autor completo, em “Um passeio ao outro lado da noite”, “Francisco e o rei de Simesmo” (editados pelo Centro Regional de Alcoologia do Centro) e “Os pesadelos fiscais de Porfírio Zap” (Direcção-Geral de Impostos).
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