Depois
da apoteose...
Pode
um livro valer mais por si mesmo do que pelo seu conteúdo
intrínseco?
A
responder que sim, este seria um exemplo.
Marcas
a longo
prazo
Diz-se que os homens não se medem aos palmos e,
numa adaptação livre, pode dizer-se que os livros não se medem
pelo número de páginas.
Curto nas suas quarenta e poucas pranchas, A
Cicatriz, obra dos italianos Renato
Chiocca e Andrea Ferraris, que acaba de ter edição nacional pela
Escorpião Azul, mergulha-nos numa situação incómoda,
geograficamente afastada, mas que a televisão e o cinema tornaram de
alguma forma próxima.
Montanha-russa
Confessei
aqui alguma desilusão pela forma como Seuls
se foi desenvolvendo. Com um ponto de partida desafiante - o
desaparecimento de todos os adultos de uma cidade, Fortville - foi
aos poucos assumindo contornos (ainda) mais fantásticos.
Essa
desilusão - que na altura classifiquei de parcial - fez com que o
regresso à série demorasse mais do que inicialmente previra, mas em
boa altura o fiz porque, iludidas as expectativas iniciais, avancei
de espírito aberto para ler mais quatro álbuns de uma das mais
desafiantes e intrigantes narrativas aos quadradinhos a que me
dediquei nos últimos anos.
Enciclopédia...
Adolfo
Simões Müller foi, possivelmente o mais importante director de
publicações infanto-juvenis que este país teve e a comprová-lo
estão títulos como o Papagaio,
Diabrete, Cavaleiro Andante, Foguetão ou Zorro que,
durante décadas, proporcionaram o melhor da banda desenhada (com
predominância da franco-belga) aos leitores portugueses.
Depois
das obras monográficas dedicadas às duas primeiras revistas
referidas, José Azevedo e Menezes
reuniu neste volume reúne as outras a que Müller se dedicou.
O viajante de uma vida
Em determinada altura, a banda desenhada
habituou-nos a relacionar implicitamente biografias aos quadradinhos
com leituras maçudas e pesadas devido a o excesso de informação e ao exagerado tom didáctico, mas felizmente isso é passado como o prova a colecção
Descobridores da Gradiva.
Depois de Darwin,
Magalhães ou Tenzing,
Marco Polo
é o mais recente exemplo - e possivelmente aquele em que
BD e tom biográfico atingem uma simbiose
mais conseguida.
...como
se conta
Com
todas as histórias já contadas 1001 vezes (ou mais...), o
importante cada vez mais não é o que se conta, mas sim a forma como
se conta.
Se
todos sabemos a trama por detrás da tragédia que William
Shakespeare baptizou como Romeu
e Julieta, Gianni
de Luca consegue apresentar essa história de amor e morte de forma
completamente nova e original.
'Famous
last words...'
'...ou
surpreendentes penúltimas vinhetas'.
De
cada vez que volto a Ken Parker
-
ou a Julia... -
mesmo quando, como desta vez, deixei
passar demasiado tempo, recordo sempre, uma e outra vez, porque
admiro tanto Giancarlo Berardi enquanto argumentista.
Mesmo
quando, como nos dois relatos incluídos neste volume, a diferença
surge apenas nas últimas vinhetas.
Ou
talvez por isso.