Criados há meio século os X-Men surgiram como uma reflexão
sobre a solidão adolescente, o racismo ou o direito à diferença, mas demoraram
a tornar-se um dos títulos mais populares de super-heróis da Marvel.
No início da década de 1960, quando Stan Lee criava as bases
do futuro universo Marvel, a criação dos X-Men mostrava um grupo de
super-heróis diferentes daqueles tinham sido criados até então. Enquanto o
Homem-Aranha, o Quarteto Fantástico ou o Hulk – todos imaginados por Lee - tinham
adquirido os seus poderes na sequência de acidentes ou experiências científicas
mal sucedidas, as capacidades extraordinárias dos X-Men deviam-se a uma mutação
genética no seu ADN. Isso fazia deles, segundo alguns, um passo em frente na
evolução do ser humano, e, segundo outros, uma ameaça a abater.
Entre os novos mutantes – termo utilizado pela primeira vez
em 1953, pelo escritor Wilmar Shiras, no livro Children of the Atom - havia também duas posições antagónicas:
enquanto o seu líder, professor Xavier, um poderoso telepata confinado a uma cadeira
de rodas, defendia o convívio com os humanos e a utilização dos super-poderes
para os ajudar, uma facção liderada por Magneto pretendia subjugar e escravizar
a raça humana.
O primeiro confronto, inevitável, teve lugar logo na
primeira história, em que a formação original dos X-Men incluía o Homem de
Gelo, capaz de congelar tudo ao seu redor, Jean Grey, que movia objectos com o
poder da mente, o Anjo, que possuía asas nas costas, Ciclope, capaz de
transformar energia solar em rajadas disparadas pelos olhos, e Fera, um génio
científico com força, agilidade e reflexos sobre-humanos.
Apesar da autoria de Lee e de Jack Kirby (1917-1994), as
vendas da revista demoravam a arrancar, pelo que, a partir do número 19, coube
a Roy Thomas e a Neal Adams tentar inverter a situação, sem sucesso, apesar da
criação de novos mutantes.
Na entrada da década de 1970, Len Wein e Dave Cockrum surgiam
como nova equipa criativa, mas os X-Men só começaram a conquistar a
popularidade que hoje lhes é reconhecida quando o britânico Chris Claremont
assumiu a escrita dos argumentos, em 1975. Durante 17 anos, no início com uma
bem-sucedida parceria com o também britânico John Byrne, Claremont escreveu
histórias em que reformulou a equipa original, internacionalizando-a com a entrada
da africana Tempestade, o russo Colossus, o alemão Nocturno e o regresso do
canadiano Wolverine, que viria a assumir cada vez mais protagonismo.
A morte de Jean Grey, uma das que maior impacto teve nos
quadradinhos de super-heróis, seria o prenúncio de muitas outras que se viriam
a suceder, provocando sucessivos picos de interesse, a que se juntou a
exploração das características mais humanas dos diversos mutantes, originando desentendimentos
e confrontos entre eles, a par da exploração dos preconceitos crescentes dos
seres humanos em relação aos mutantes.
Nos anos 90, a introdução de múltiplas personagens originou histórias
cada vez mais complexas e com múltiplas ramificações, tornando-os quase um
universo à parte no seio da Marvel, que continua em expansão nos quadradinhos
até aos nossos dias e com adaptações bem-sucedidas no cinema.
Este último aspecto fez com que, na entrada do corrente
século, os quadradinhos se aproximassem da versão cinematográfica com os
Ultimate X-Men, para tentarem cativar os que descobriram os mutantes no grande
ecrã.
Novo filme a caminho
Apesar da 20th Century Fox ter adquirido os direitos dos mutantes
em meados dos anos 90, só em 2000 é que X-Men,
dirigido por Bryan Singer, e com Patrick Stewart, Ian McKellen, James Marsden,
Hale Berry e Hugh Jackman no elenco, chegou aos ecrãs, sendo co-responsável pelo
número crescente de películas de super-heróis produzidas desde então.
Seguiram-se X-Men 2 (2003),
X-Men: Confronto Final (2006), Wolverine: Origens, X-Men: Primeira Classe (2011) e Wolverine
(2013)
Para Julho do próximo ano está já anunciado X-Men: Dias de um futuro esquecido, de
novo dirigido por Singer, baseado numa BD de Claremont e Byrne, que reúne mutantes
provenientes de épocas distintas.
(Versão revista do texto publicado no Jornal de Notícias de
13 de Novembro de 2013)