05/01/2010
J. Kendall #56
04/01/2010
Portugal aos quadradinhos
Foi em “Salade Portugaise” (Dupuis), lançado há pouco mais de um mês, que a jovem estoniana, que trabalha como intérprete no Parlamento Europeu, e às ordens da CIA, sob o nome de código Lady S., chegou a Portugal para seguir uma pista que a podia levar a reencontrar o pai, que julgava morto há uma dúzia de anos, ao mesmo tempo que contribuía para desmantelar um atentado terrorista da Al Qaeda. Escrita por Jean Van Hamme e desenhada por Philippe Aymond, tem na capa a protagonista em trajos menores, tendo por fundo uma boa perspectiva da cidade e do castelo de S. Jorge, e no interior uma atribulada refeição à sombra da ponte 25 de Abril, uma animada perseguição pelas ruas lisboetas com um eléctrico envolvido e um vistoso acidente automóvel nos arredores de Sesimbra.
Pelas mesmas (?) ruas de Lisboa, pelo Bairro Alto em especial, pass(e)ou também Michel Vaillant em 1984, em “O Homem de Lisboa”, em que Jean Graton combina uma história de espionagem com a participação de Steve Warson e Julie Wood no Rali de Portugal, a que as estradas nacionais – e os pouco cívicos espectadores - servem de pano de fundo. As primeiras pranchas mostram um passeio turístico do par enamorado por locais como a Praça do Comércio, o Elevador de Santa Justa ou a Torre de Belém. E, mais uma vez, os típicos eléctricos lisboetas. E tal como em Lady S., os protagonistas utilizam um avião da TAP.
13 anos antes em “5 filles dans la course”, traduzido como “Rali em Portugal”, Michel e Steve já tinham corrido nas estradas portuguesas, com este último a fazer equipa com a lusa Cândida Maria de Jesus. Um outro português, o campeão Pedro Lamy, defrontou os Vaillant em “A Febre de Bercy” (1998).
Portugueses, também, são Oliveira de Figueira, o vendedor (de banha da cobra) com quem o Tintin de Hergé se cruzou algumas vezes, o António Alfacinha da Turma da Mônica, de Maurício de Sousa, bem como alguns escravos (!) com aparição fugidia em dois álbuns de Astérix, de Goscinny e Uderzo.
Foi ainda a Portugal, mais concretamente aos Açores, que Jacobs enviou Blake e Mortimer em “O Enigma da Atlântida”, para os dois aventureiros descobrirem no subsolo da ilha de S. Miguel os descendentes daquele continente mítico.
Também Monsieur Jean, o trintão celibatário imaginado por Dupuy e Berbérian, fez uma atribulada visita a Lisboa em busca de inspiração para escrever um romance, no segundo tomo das suas histórias, nunca editado na nossa língua.
E em “O segredo de Coimbra”, a cidade dos estudantes do século XVIII foi escolhida pelo belga Étienne Schréder como local de acção para uma narrativa sobre a construção de uma ponte sobre o rio Mondego, tendo por base anamorfoses.
Mas se podemos considerar de certa forma normal que heróis europeus nos visitem de vez em quando, será mais surpreendente saber que Hellboy, o demónio saído dos infernos que combate nazis, fantasmas e monstros, esteve em território nacional em 1992, como conta Mike Mignola “In The Chapel of Moloch" (Dark Horse, 2008), que tem inicio nas ruas estreitas de Tavira, mas que ainda está inédita em português.
No mesmo registo de terror, Dampyr, um caçador de vampiros, esteve em Trás-os-Montes, “na localidade de Riba Preta”, lê-se numa vinheta de “Lo Sposo della Vampira” (Sergio Bonelli Editore), que surgiu inspirada em diversas aldeias reais, visitadas pelo argumentista Mauro Boselli. Desenhada por Alessandro Bocci, permite acompanhar a investigação da lenda do Castelo de Monforte da Estrela, supostamente assombrado por uma vampira, no final da qual o protagonista é salvo in extremis por um pastor luso, Vitorino Rocha.
Mais natural, é o aparecimento da cidade do Porto nas páginas do diário ilustrado de James Kochalka, cultor da autobiografia em BD, a propósito da sua passagem pelo Salão de BD local, em 1999, em BD publicada na "Quadrado".
Para finalizar, referência a três livros sobre Lisboa, ilustrados por autores de banda desenhada: “Lisbonne, voyage imaginaire” (Casterman), em que o traço de De Crécy ilustra uma composição de textos (Camões, Voltaire, Alberto Caeiro ou Almada Negreiros) feita por Raphael Meltz, “Lisboa – cadernos” (Bedeteca de Lisboa), fruto de uma permanência de alguns dias na capital, em 2000, de Dupuy e Berbérian, e “Carta de Lisboa” (Meribérica/Líber), no qual belíssimas aquarelas de Miguelanxo Prado ilustram um texto de Eric Sarner.
O país na BD moderna portuguesa
Para além das óbvias utilizações de Portugal como cenário, em bandas desenhadas de temática histórica ou sobre cidades e vilas nacionais, geralmente de encomenda autárquica, são várias as criações da moderna BD portuguesa que têm revisitado, de forma inspirada, o nosso país. Eis alguns (bons) exemplos:
As aventuras de Filipe Seems
Nuno Artur Silva e António Jorge Gonçalves
ASA
Recentemente reeditadas numa caixa com os três álbuns, as aventuras de Filipe Seems, investigador privado num futuro indefinido, decorrem numa Lisboa retro futurista, semi-submersa e percorrida por gôndolas, que evoca múltiplos imaginários.
BRK, tomo 1
Filipe Andrade e Filipe Pina
ASA
História urbana de procura do seu lugar por um adolescente que acaba envolvido com uma organização terrorista, BRK, que se passa maioritariamente em Almada, fica marcado pelos atentados contra o McDonalds da Praça da Liberdade, no Porto, e o Cristo-Rei.
O Menino Triste – A Essência
João Mascarenhas
Qual Albatroz
Embora maioritariamente ambientada na “sereníssima” Veneza, é na sua Coimbra (natal?) que o Menino Triste inicia este percurso iniciático que se cruza com amizades, sociedades secretas, dúvidas existenciais e… muita(s) Arte(s).
Obrigada, Patrão
Rui Lacas
ASA
Com a paisagem serena da Zambujeira como fundo, esta é a história opressiva de um drama rural, que versa sobre as prepotências dos senhores das terras e a destruição dos sonhos de infância.
(Versão revista e aumentada do artigo publicado no Jornal de Notícias de 28 de Dezembro de 2009)
Adenda
O artigo publicado no Jornal de Notícias não pretendeu ser exaustivo, longe disso, mas apenas referir alguns casos, dentro de alguma diversidade.
Como entretanto o Manuel Caldas (quem mais?) e o João Mascarenhas e tiveram a gentileza de me fazer chegar mais dois exemplos, bem díspares e que encaixam na perfeição na tal diversidade citada, aqui ficam eles também referenciados: o medieval Príncipe Valente, de Hal Foster, aportou na nossa costa, como a imagem documenta e, em 2004, o Europeu de Futebol serviu de pretexto para uma história em que os heróis Disney nos visitaram que tem ainda a curiosidade de ter sido concebida de raiz em Portugal.
As Melhores Leituras de Dezembro
Blake e Mortimer #19 – A maldição dos trinta denários (ASA), de Jean Van Hamme (argumento), René Sterne e Chantal De Spiegeleer
J. Kendall Especial 04 - Almanaque Mistério 2008 (Mythos Editora), de Berardi, Calza e Zaghi
Tibet (1931-2010)
Resolução para 2010
Acredito que, se vou lamentar por vezes, abrirei horizontes, descobrirei grandes obras e autores e experimentarei novas sensações. Que espero continuar a compartilhar aqui.
31/12/2009
2009, um balanço
Curiosamente, se contasse só o final de 2009, o panorama seria bem diferente pois O gato do Simon (Objectiva), de S. Tofeld, Tarzan dos Macacos, de Foster, o imperdível Krazy + Ignatz + Pupp - Uma Kolecção de Pranchas a Kores Kompletamente Restauradas (os dois últimos fruto do notável trabalho de restauro de obras-primas dos quadradinhos por Manuel Caldas na Libri Impressi, que importa conhecer), a magnífica edição de Marvels (BDMania), que narra o aparecimento dos primeiros super-heróis, visto pelos olhos de um fotógrafo, e o quinto volume de Peanuts – Obra completa – 1959/1960 (Afrontamento), são obras obrigatórios em qualquer (boa) biblioteca. E não só de banda desenhada.
Constata-se também que 2009 ainda não foi o ano do manga em português, limitado a meia dúzia de títulos (secundários) e ao aparecimento nas bancas de títulos pouco significativos de origem brasileira, obrigando os (muitos) fãs do género a esperar por melhores dias. Que alguns rumores indicam que poderão ser já em 2010.
A edição de criadores lusos fica marcada pela reedição do clássico Eternus 9 (Gradiva), de Victor Mesquita, por BRK (ASA), das revelações Filipe Pina e Filipe Andrade, uma feliz conjugação de influências e estilos numa BD jovem e actual, ambientada no Porto e em Lisboa, e pela magnifica adaptação do Romance da Raposa (Bertrand), de Aquilino, por Artur Correia. Realce ainda para o dinamismo da edição dita independente, que vai (re)descobrindo e publicando algumas das propostas mais estimulantes da produção nacional – Mocifão (da El Pep), Mucha (Kingpin Books), Venham +5 (Bedeteca de Beja), O Filme da Minha Vida (AoNorte) – e para a multiplicação de edições patrocinadas por autarquias, que na maior parte dos casos, infelizmente, não chegam às livrarias, onde se destacam Salúquia – A lenda de Moura em BD ou O crime de Arronches.
Finalmente, uma referência para as edições de banca ou quiosque, quase todas provenientes do Brasil, através da Panini (Marvel, DC Comics, Turma da Mónica) ou Mythos (Bonelli), que apesar de alguns problemas de distribuição e visibilidade parece ter finalmente entrado em velocidade de cruzeiro.
(Versão revista e aumentada do artigo publicado originalmente a 26 de Dezembro de 2009, na secção de Livros do suplemento In’ da revista NS, distribuída aos sábados com o Jornal de Notícias e o Diário de Notícias)
30/12/2009
29/12/2009
Entrevista com Regina Pessoa
Foto:Júlio Moreira
No dia 19 de Dezembro, sábado, esteve na Galeria Mundo Fantasma, no Shopping Center Brasília, para inaugurar uma exposição de originais (que está patente até 24 de Janeiro),
o que foi pretexto para uma conversa sobre a génese de “RubyDum e TawnyDee in NiePOoRTland”. Trata-se de um projecto que nasceu “na sequência de um convite da família Niepoort”, que tinha por objectivo “explicar o processo do Vinho do Porto e a diferença entre o Ruby e o Tawny, que quase ninguém conhece”.
Após algumas visitas “às caves, ao Douro, às vinhas, comecei a ficar interessada na história e imediatamente associei o que me tinham contado à história da Alice no País das Maravilhas, de que sou fã!”. Começou a associar “cada pessoa que ia conhecendo a personagens da Alice” e, claro está, “o Douro ao País das Maravilhas.
Foto: Júlio Moreira
Uma vez apresentada a maqueta do livro, o projecto foi estendido também aos rótulos das garrafas pois a companhia “tem uma política muito engraçada: em cada país para, convida um desenhador local para fazer o rótulo do vinho de mesa; nos Estados Unidos, foi Bill Plympton”, mestre da animação.
Embora goste bastante de BD, que compra para consumo próprio, alternativa, como “a editada pela francesa Frémok, a minha editora de eleição”, ou de autores como “Mattotti, Stefano Ricci ou Eric Lambert”, nunca tinha feito banda desenhada. Por isso os originais expostos têm surpreendido todos os que os vêem, pela sua pequena dimensão, e por as vinhetas serem todas independentes. A explicação é dada pela autora: “Como eu não tinha experiência, trabalhei esta história como faço nos filmes; foi essa a abordagem”.
O resultado, tem sido unanimemente elogiado e a melhor prova é que a tiragem inicialmente prevista de 1500 exemplares, que foi aumentada para 3500 exemplares logo no dia em que os primeiros foram impressos, já está praticamente esgotada.
Foto: Júlio Moreira
Virada a página, Regina Pessoa está de regresso às imagens animadas, arte onde chegou “por acaso…” E explica: “Quando estava nas Belas-Artes, no Porto, em pintura, comecei à procura de um part-time para pagar os estudos e alguém que trabalhava com o Abi Feijó viu os meus desenhos, disse que estavam a precisar de alguém e sugeriu-me que passasse pelo estúdio… Fui lá, o Abi gostou dos meus desenhos e comecei no dia seguinte”.
Agora, trabalha em “Kali, o pequeno vampiro”, que “com os dois filmes anteriores irá formar uma trilogia dedicada à infância, aos medos, ao escuro”. Novamente uma co-produção entre Portugal, Canadá e França, deverá “estar pronto no final de 2010, se tudo correr bem”.
(Versão revista e aumentada do artigo publicado no Jornal de Noticias de 22 de Dezembro de 2009)
27/12/2009
Feliz Natal - DC Comics (2003)
Feliz Natal - Esgar Acelerado
The Simpsons, 20 anos – Curiosidades (II)
Já conquistaram 23 Emmy, 22 Annie, um Peabody e uma estrela na Calçada da Fama em Hollywood.
Em 1998, a Times considerou-os a melhor série televisiva do século XX.
No genérico da série, quando Maggie passa na caixa registadora do supermercado, o preço exibido é 847,63 dólares.
A cena do sofá que abre cada episódio já variou entre os 5 e os 46 segundos.
Matt Groening escolheu o nome de Springfield para lar dos Simpsons porque nos EUA existem 121 cidades com essa denominação em 36 estados.
Para baptizar os Simpsons, Matt Groening recorreu aos nomes do pai (Homer), mãe (Marge) e sobrinhas (Lisa e Maggie).
Os Simpsons são amarelos por opção do colorista Gyorgi Peluci, porque Bart, Lisa e Maggie não tinham uma linha que separasse o cabelo da testa, e com um tom de pele realista iria parecer que tinham feito uma lobotomia!
Uma cronologia oficiosa dá 39 anos a Homer, 37 a Marge, 10 a Bart, 8 a Lisa e 2 a Maggie. No entanto, as datas de nascimento e casamento apresentam variações entre episódios.
As vozes de quase todas as personagens dos Simpsons são feitas por apenas seis pessoas.
A voz de Bart pertence a uma mulher e na versão dobrada em português do filme, foi também uma, Carla de Sá, quem lhe emprestou a voz.
A célebre interjeição de Homer – “d’oh” – foi proferida 377 vezes nas primeiras 15 temporadas e está registada no The Oxford English Dictionary.
Homer já teve 46 profissões diferentes. E já morreu várias vezes, quase sempre nos sangrentos episódios especiais “Treehouse of Horror”.
Na versão árabe, Home bebe soda e não cerveja e os seus cachorros quentes são feitos com salsichas egípcias, não de carne de porco.
O Q. I. de Lisa é de 159 pontos.
Os Simpsons moram no 742 de Evergreen Terrace (nome da rua onde Groening morou em criança), mas o número da porta também já foi 59, 94, 723 e 1094.
Pelos Simpsons já passaram mais de duas centenas de figuras reais da política, desporto, artes ou economia. Os primeiros foram os Aerosmith, em 1991.
No tempo de The Tracey Ullman Show, cada filme demorava quatro semanas para ficar pronto. Hoje, cada episódio tem cerca de 24 mil desenhos, 8 meses de trabalho e um custo que ronda um milhão de dólares.
Ao longo dos episódios, já ocorreram 31 mortes de personagens, a mais marcante das quais a de Maude Flanders, esposa do beato Ned, empurrada involuntariamente por Homer do topo de um estádio, porque a actriz que lhe dava voz exigia um aumento salarial. Desta forma, foi despedida.
Os Simpsons já foram capa de revistas como a Rolling Stones, Maxim, Playboy ou Super-Interessant e protagonizaram publicidade da Renault, uma colecção de moda de Linda Evangelista ou campanhas pelo consumo de leite ou segurança no trabalho.
Quando os Simpsons andam de carro, Homer é o único que não usa o cinto de segurança.
Um concurso recente para a criação de uma nova personagem para os Simpsons teve mais de 25 000 participantes. A vencedora foi Peggy Sue, que propôs Richard Bomb, um mulherengo sul-americano.
(Artigo publicado originalmente na versão online do Jornal de Notícias de 17 de Dezembro e parcialmente na edição impressa do mesmo dia)