18/07/2011

O Western na BD portuguesa

Fernando Bento - O cavaleiro misterioso
Há 70 anos, era publicado no Pim-Pam-Pum, “O cavaleiro Misterioso”, que alguns consideram o primeiro autêntico western português, pelo tom realista da sua narrativa, apesar do traço ainda semi-caricatural do seu autor, Fernando Bento.Não que antes, não tivesse havido outras incursões neste género, mas eram todas de carácter humorístico. Entre elas, João Paiva Boléo, estudioso da BD portuguesa, destaca “A grande fita americana” (ABC, 1920, de Cottinelli Telmo), “As estupendas façanhas do Cow-boy façanhudo” (ABC-zinho, 1926, de António Cristino) ou “Aventuras de Tom Migas e do seu cavalo Caralinda” (Senhor Doutor, 1934, de Oskar Pinto Lobo). A estes, Jorge Magalhães, possivelmente o maior especialista do género em Portugal, acrescenta “Aventuras do Cow-Boy Jim Boy” (ABC-zinho, 1927, de Carlos Botelho) e, já mais tarde, “Arrepiado e Freitas cow-boys” (Papagaio, 1942), uma das muitas incursões na BD do mestre Júlio Resende.
Júlio Resende - Arrepiado e Freitas cow-boys
O género teve grande importância entre nós nas décadas de 40 e 50 – acompanhando a relevância que também teve no cinema – para depois, aos poucos ir perdendo popularidade. Não surpreende por isso que os grandes títulos do jornalismo infanto-juvenil português – Papagaio, Mosquito, Diabrete, Camarada, Cavaleiro Andante, Mundo de Aventuras – e os grandes autores da época tenham dado (pelo menos) uma voltinha… a cavalo! Mesmo quando este género não tem “uma incidência muito grande no conjunto de bonecos que tenho feito”, como reconhece José Ruy.
Por isso, dessa época, ficaram títulos que fizeram sonhar gerações de leitores: “Falsa Acusação”, “O Juramento de Dick Storm”, “Três balas”, “A vingança do jaguar” (todos de Vítor Péon), “O rei da Campina” (António Barata), “Falcão Negro, o filho de Jim West”, “Lobo Cinzento”, “O Grande Rifle Branco” (de E.T. Coelho), “O Vale da Morte” (Jayme Cortez), “O segredo das águas do rio” (José Garcês) ou “Os Cavaleiros do Vale Negro” (José Ruy).
ET Coelho
Falcão Negro: Tempestade no Forte Benton
Dos autores citados, dois – Coelho e Péon - destacaram-se pela qualidade e quantidade da sua produção, sendo também responsáveis pelos dois maiores heróis regulares que os westerns portugueses nos legaram. Coelho desenhou Falcão Negro, protagonista de quatro aventuras, publicado também em Espanha e no Brasil.
Vítor Péon
Tomahawk Tom - O Aventureiro
Péon, deu vida a Tomahawk Tom, que viveu treze histórias, depois de saltar (literalmente) da prancha de Péon, em 1950, no Mundo de Aventuras. Com um visual marcante assente no poncho franjado, faca à cintura e mocassins índios nos pés, teve versão francesa com o nome invertido (Tom Tomahawk) e uma tentativa frustrada de venda ao King Features Syndicate, distribuidor das principais bandas desenhadas norte-americanas.
Augusto Trigo - A sombra do Gavião
Péon, depois de longo período emigrado em França e Inglaterra, após o 25 de Abril regressou a Portugal, tendo auto-editado um álbum – “O regresso de Tomahawk Tom” – e 3 números do “Vítor Péon Magazine”. Nessa mesma década de 70, o seu herói seria recuperado pelo Jornal do Cuto e o Mundo de Aventuras, sendo justamente consagrado em 2004 numa emissão filatélica dos CTT, dedicada aos “Heróis Portugueses da BD”.
José Pires - Will Shanon
Mais tarde, os anos 70 e 80 assistiram ao recrudescer do género, destacando-se então Augusto Trigo, com “A sombra do gavião” e “Wakantanka”, centrado na vida e crenças dos índios, e José Pires, com “Homens do Oeste”, “Will Shanon” ou “Irigo”, este último com sete aventuras publicadas no Tintin belga e holandês mas inéditas em português.
Nesta evocação do western, duas obras aos quadradinhos merecem uma referência à parte, uma vez que a sua acção se situa em Portugal.
Pedro Massano - Mataram-no duas vezes
A primeira é “A lei do trabuco e do punhal - Mataram-no duas vezes”, de Luís Avelar e Pedro Massano, primeiro (e único) tomo de uma biografia (incompleta) de João Brandão, uma espécie de Zé do Telhado que viveu nas Beiras, que Paiva Boléo considera “um western bem português”.
João Amaral - O fim da linha
O segundo, publicado originalmente na revista Selecções BD, é “O Fim da Linha”, “uma homenagem a O Comboio Apitou Três Vezes, de Fred Zinneman”, revela João Amaral, o seu autor, que acrescenta “que a acção se passa numa aldeia portuguesa, no último dia do ano 2000, mas em tudo é um western, apesar da época ser a actual”.
Agora, tantos anos depois de “O cavaleiro Misterioso”, se muitos cowboys “portugueses” ficaram por relembrar neste texto, a quem com eles viveu grandes aventuras em pradarias ensolaradas, desertos tórridos ou canyons profundos, defendendo belas mulheres, perseguindo bandidos ou fugindo dos índios, aconselha-se a (re)leitura dos quadradinhos que há décadas os fizeram sonhar, se bem que a maior parte deles não seja fácil de encontrar…
Nota: sendo esta abordagem obrigatoriamente breve - e por essa razão nela só foram referidos os desenhadores, sendo esta uma injustiça para os argumentistas que reconheço - a quem quiser aprofundar o tema aconselha-se a leitura de “O Western na BD portuguesa” e “Vítor Péon e o Western” (ambos editados pela Câmara Municipal de Moura, no âmbito do Salão de BD local, integrados no esforço louvável que esta autarquia tem feito no sentido de recuperar algum do património português aos quadradinhos), dois estudos profusamente ilustrados e da autoria de Jorge Magalhãdes, possivelmente o maior especialista português no género. E de onde foram retiradas, aliás, com a devida vénia, muitas das imagens que acompanham o presente texto.

Sobre o mesmo tema ler também:
- O Western da BD portuguesa: depoimentos de Jorge Magalhães e João Paulo Paiva Boléo
- O Western da BD portuguesa: depoimentos de José Ruy e João Amaral (dia 20 de Julho)

Galeria
António Barata - O Rei da Campina

António Ruivo - Shannon

Augusto Trigo
Wakantanka: O bisonte negro

Augusto Trigo
Wakantanka: O povo serpente


Caelos Botelho - aventuras do Cow-boy Jim Boy


ET Coelho - O Grande Rifle Branco

ET Coelho - Falcão Negro

Jayme Cortez - O vale da morte

José Garcês - O segredo das águas do rio

José Ruy - os Cavaleiros do Vale Negro

José Pires - Homens do Oeste

José Pires - Irigo

José Pires - Will Shanon

Oskar Lobo
Aventuras de "Tom Migas" e do seu cavalo "Caralinda"

Pedro Massano - Mataram-no duas vezes

Vítor Péon - A Vingança do Jaguar

Vítor Péon - A Vingança do Jaguar

Vítor Péon - O juramento de Dick Storm


Vítor Péon - Três balas

Vítor Péon - Jerry Colt: o bando da cidade perdida

Vítor Péon - Tomahawk Tom

Vítor Péon - esboço de Tomahawk Tom


(Versão revista do texto publicado no Jornal de Notícias de 17 de Julho de 2011)

17/07/2011

Harry Potter aos quadradinhos

Com a saga cinematográfica de Harry Potter a chegar ao fim – o último filme estreou na passada quinta-feira – está a fazer grande sucesso na internet uma outra adaptação, esta em banda desenhada.Da autoria de Lucy Knisley, uma norte-americana natural de Chicago, onde nasceu há 26 anos e onde se formou em 2007 na School of the Art Institute, surpreende por resumir cada um dos livros numa única página de BD (com excepção do último, dividido a meio, tal como no cinema), como pode ser apreciado no blog da autora.
Desenhadas em estilo cómico – o que não impede que todos os protagonistas sejam facilmente reconhecíveis – as histórias assim recriadas, em tom monocromático, revelam muito humor e um grande poder de síntese por parte da autora, que reproduziu as cenas mais importantes de cada um deles.
Knisley, que já tinha feito uma outra banda desenhada sobre a saga Crepúsculo, compilou igualmente todas as suas pranchas numa única página gigante de BD, que intitulou “The SummHarry”.
Entretanto, aproveitando a estreia do filme, nos Estados Unidos, na semana passada, foi posto à venda um número especial da revista MAD na qual “os idotas do costume”, com a habitual ironia e nonsense, parodiam Harry Potter e o universo desenvolvido por J. K. Rowling.
E se na internet se encontram facilmente outros exemplos de sátiras a Harry Potter, quase sempre na forma de cartoon ou tiras, o caso mais sério relacionado com a obra de Rowling na área do humor, é uma série de quatro volumes intitulada “Harry Cover”. Publicada no mercado francófono pela Delcourt, entre 2005 e 2010, tem argumentos de Pierre Veys e desenho de Baka (no primeiro tomo) e Esdras (nos restantes). A sua acção decorre na escola de feitiçaria de Poudrozieu, onde Harry Cover com os seus amigos Pron e Hormonne têm de enfrentar o repugnante Boldemorve…




(Texto publicado no Jornal de Notícias de 14 de Junho de 2011)

16/07/2011

Voyager na Mundo Fantasma

Data: 16 de Julho a 7 de Agosto de 2011
Local: Galeria Mundo Fantasma, loja 509/510, Centro Comercial Brasília, Avenida da Boavista, 267, Porto
Horário: de 2ª a sábado, das 10h às 20h: Domingos e feriados, das 15h às 19h

A galeria Mundo Fantasma inaugura hoje pelas 17h a exposição Voyager Viagem Virtual, baseada na obra homónima lançada recentemente, estando na altura presentes alguns dos seus criadores.
Fruto do trabalho de um colectivo de jovens autores portugueses, Voyager nasceu como um webcomic em 2008, tendo sido publicados diversos episódios online durante cerca de três anos. O álbum agora lançado, cujos originais estarão expostos na Mundo Fantasma até 7 de Agosto, compila esses 13 episódios de uma página, vários extras que descrevem o processo criativo e um episódio longo, inédito, que revela a origem da personagem que dá título à obra. Trata-se de um viajante compulsivo, que tem a capacidade de saltar de local em local, desde lugares por todos (re)conhecidos como a Grande Muralha da China, Amsterdão ou a Torre Eiffel, até aos mais fantásticos e remotos mundos como a sexta lua de Bellahn-Dor.
Escritas, desenhadas e coloridas por uma equipa espalhada pelo pais e até pelo estrangeiro, composta por Rui Ramos, Diogo Carvalho, Luís Belerique, Diogo Campos, Luís Maiorgas, Nelson “Cokas” Nunes, Phermad, Salvador Pombo e Ricardo Reis, Voyager é um relato fantástico, aqui e ali com um toque de humor, que já teve prolongamentos no Twitter – onde durante dois anos foi possível acompanhar “em directo” as suas aventuras, naquela que foi uma das primeiras experiências do género que tiveram lugar em Portugal – e no Facebook.
Edição da responsabilidade do colectivo R’Lyeh Dreams, que em 2008 tinha já publicado Os Murmúrios das Profundezas, baseado no universo de terror desenvolvido por H. P. Lovercraft, Voyager, como muitas outras edições independentes em que os autores portugueses apostam cada vez mais para verem publicados os seus trabalhos, não terá para já distribuição comercial, estando à venda apenas em lojas especializadas ou através do seu blog.








(Versão revista do texto publicado no Jornal de Notícias de 16 de Julho de 2011)

15/07/2011

Outras Leituras (II)

As Incríveis Aventuras do Pequeno Parker
Uma fabulosa (re)visão da origem do Homem-Aranha e da sua galeria de personagens assente no imaginário e na ternura infantis. Uma criação de Vitor Cafaggi, cujo único senão é já ter terminado…

Em memória de Alain Voss
I. Biografia
II. Imagens
III. Os Zensetos
Jorge Machado Dias no Kuentro

Schtroumpfs, os protagonistas do Verão
Didier Pasaminik no Actua BD

A edição de BD em Espanha em 2010
I. Números
II. Formatos
III. Procedência
IV. Editoras
Álvaro Pons em La Cárcel de Papel

14/07/2011

J. Kendall #74

#74 – Entre quatro paredes





Giancarlo Berardi, Lorenzo Calza e Alberto Ghé (argumento)
Valerio Piccioni (desenho)
Mythos Editora (Brasil, Janeiro de 2011)
135 x 178 mm, 132 p., pb, brochado, mensal
4,00 €

Resumo
O aparecimento do industrial Norwell Standford morto, no seu escritório, fechado por dentro, e com um tiro na têmpora é o mote para mais uma investigação da criminóloga Julia Kendall.

13/07/2011

Rotas e Percursos

O Público e a ASA apresentam a partir de hoje, em exclusivo, uma colecção de 7 Guias de Viagem, cada um ao preço de 8,90 €, com diversos percursos alternativos, ilustrados por grandes mestres da BD e escritos por autores de grande reputação na literatura de viagens. Descubra os locais secretos e desconhecidos de cada cidade, fugindo aos tradicionais percursos turísticos e fique a saber mais sobre a cultura das suas cidades preferidas: Veneza, Roma, Nova Iorque, Florença, Marraquexe, Praga e Bruxelas.
Com recurso ao Kuentro, aqui fica a lista completa desta colecção:

13 de Julho
Veneza - Percursos com Corto Maltese
Hugo Pratt – Guido Fuga – Lele Vianello

20 de Julho
Roma - Percursos com Alix
Jacques Martin – Gilles Chaillet - Enrico Sallustio - Thérèse de Cherisey

27 de Julho
Nova Iorque – Percursos
Miles Hyman - Vincent Réa

3 de Agosto
Florença – Percursos
Nicolas de Crecy – Élodie Lepage

10 de Agosto
Marraquexe – Percursos
Jacques Fernandez - Olivier Cirendini

17 de Agosto
Praga – Percursos
Guillaume Sorel – Christine Coste

24 de Agosto
Bruxelas – Percursos
François Schuiten – Christine Coste

12/07/2011

Leituras de Banca

Julho 2011
Títulos que já estão ou estarão em breve disponíveis nas bancas portuguesas.

Panini
Marvel
Avante Vingadores #45

Homem-Aranha #107

Os Novos Vingadores #82

Wolverine #71

X-Men #105

Universo Marvel #5

DC Comics
Batman #97

Liga da Justiça #97

Superman #97

Universo DC #6


Turma da Mónica
Almanaque da Mônica #25

Almanaque do Cascão #25

Almanaque do Cebolinha #25

Almanaque da Turma do Astronauta #9

Cascão #49

Cebolinha #49

Chico Bento #49

Grande Almanaque da Turma da Mônica #9

Magali #49

Mônica #49

Ronaldinho Gaúcho e Turma da Mônica #49

Turma da Mônica – Uma aventura no parque #49

Turma da Mónica – Saiba mais #40 – Nutrição

Turma da Mônica Jovem #31

Turma da Mônica – Colecção Histórica #21

Mythos
TEX 469 - A Volta do Soldado
Texto: Claudio Nizzi – Desenhos: Miguel Angel Repetto

TEX COLEÇÃO 261 - A Mansão Sinistra
Texto: G. L. Bonelli – Desenhos: Aurelio Galleppini

ALMANAQUE TEX 37 - Batismo de Fogo
Texto: Claudio Nizzi – Desenhos: Manfred Sommer e Leomacs

TEX EDIÇÃO EM CORES 7 - A Mão Vermelha
Texto: G. L. Bonelli – Desenhos: Aurelio Galleppini

TEX OURO 44 - O Estripador
Texto: Michele Medda – Desenhos: G. Lettèri

ZAGOR 118 - O Retorno do Mutante
Texto: Moreno Burattini – Desenhos: Marco Verdi

ZAGOR EXTRA 82 - A Noite do Massacre
Texto: Marcello Toninelli – Desenhos: F. Gamba

MÁGICO VENTO 103 - Encontro em Providence
Texto: Gianfranco Manfredi – Desenhos: Barbati & Volante

AVENTURAS DE UMA CRIMINÓLOGA 74 - Entre Quatro Paredes
Texto: Giancarlo Berardi & L. Calza – Desenhos: Valerio Piccioni

11/07/2011

Le Perroquet des Batignolles

#1 – L’Énigmatique Monsieur Schmutz
Michel Boujut e Jacques Tardi (argumento)
Stanislas (adaptação e desenho)
Dargaud (França, 17 de Junho de 2011)
240 x 320 mm, 56 p., cor, cartonado
13,95 €


Resumo
Criado como folhetim radiofónico de sucesso, escrito por Michel Boujut, crítico de cinema recentemente falecido, e Jacques Tardi, autor de Adèle Blanc-Sec, e difundido entre 1997 e 1998 na rádio France Inter, este é um policial denso e rocambolesco em torno do mundo da rádio e da arte, semeado de referências, da literatura à música, do cinema clássico à banda desenhada, em especial a Hergé.



Desenvolvimento
Tudo começa com a morte de uma famosa cantora de ópera, Christina Volgesang, seguida da tentativa de assassinato de Edith, apresentadora do boletim meteorológico na rádio e companheira de Oscar Moulinet, técnico de som, que será o protagonista da história, no papel de detective amador. A uni-las há dois exemplares de uma pequena caixa de música com a forma de um pato dourado. No interior de cada um, como se há-de vir a descobrir, existe um fragmento de uma fita magnética, com uma mensagem gravada. As duas caixas de música – a par de diversas outras – foram enviadas a diversas pessoas por um conhecido falsário de arte, entretanto falecido.

Oscar, acompanhado de alguns amigos e de conhecimentos que vai fazendo, parte à procura de outros exemplares existentes, para tentar completar a mensagem neles escondida enquanto tenta descobrir o responsável pelo assassinato – e por outros que se seguirão.
Se este resumo soa vagamente familiar, a razão é a proximidade deste ideia aquela que serve de base a “Tintin e o Segredo da Licorne”, onde a pista para o tesouro do pirata Rackham o terrível, se encontra no interior de três miniaturas da caravela Licorne. Não um plágio, mas uma homenagem sincera a Hergé e à sua obra, alvo de múltiplas referências ao longo deste primeiro tomo, de que a poupa de Oscar é apenas mais um exemplo, deixando ao leitor o prazer de descobrir outras. Mas não só Hergé e a BD – Jacobs, Tillieux… - são citados em “Le Perroquet des Batignoles, já que o mundo da arte e da falsificação – tal como em “Tintin e a Arte-Alfa” – a rádio, o cinema clássico e a literatura são alvo de múltiplas referências nesta obra entre a nostalgia e a modernidade.

A história em si – apenas no começo pois são 5 os tomos previstos – é densa e bem trabalhada, aqui e ali rocambolesca, avança a um ritmo moderado – embora por vezes se torna trepidante quando a acção acelera - para dar tempo ao leitor de apreender tudo o que vai ser transmitido, mas prende e cativa, resultando bem e suscitando a curiosidade de ouvir como funcionou na sua versão radiofónica.
Como aspecto menos positivo poder-se-á apontar algum excesso de balões de texto, que sobrecarregam as pranchas e não permitem desfrutar tão bem da arte de Stanislas (um dos co-fundadores de L’Association), que – não por caso, acredito – foi o desenhador de “As Aventuras de Hergé”, uma biografia não autorizada do pai de Tintin, que teve edição portuguesa da MaisBD. Dono de uma linha clara, algo estilizada, muito legível e agradável, Stanislas mostra-se à vontade quer no tratamento da figura humana, quer nos cenários urbanos de Paris do final do século XX, quer no retrato da Bretanha onde a natureza impera.

No final deste tomo, Oscar e os seus amigos, após inúmeras peripécias, atentados e investigações, apesar de já terem reunido alguns dos patos dourados existentes, pouco parecem ter avançado na investigação (e na história…), até porque a pista aparentemente mais evidente, possivelmente será falsa como mandam as regras que norteiam qualquer bom policial. Resta esperar pelos próximos volumes – Stanislas promete o próximo para daqui a… um ano e meio - para confirmar – ou não - as suas (e as nossas) suspeitas.

A reter
- A trama densa e bem delineada.
- A presença constante de Hergé e da sua obra, numa bela homenagem ao pai de Tintin.
- O traço de Stanislas, mais um cultor de linha clara a que não consigo resistir.

Menos conseguido
- Algum excesso de texto, embora perceba que seria difícil transmitir toda a informação necessária sem o utilizar, já que a única alternativa, possivelmente inviável do ponto de vista comercial (e criativo?) seria estender a obra por alguns volumes mais…
- Alguma falta de consistência no tratamento de Oscar, o protagonista, bem menos interessante do que alguns dos secundários, como a sua companheira Edith ou Patafoin, a sua filha.

10/07/2011

Selos & Quadradinhos (55)

Stamps & Comics / Timbres & BD (55)
Tema/subject/sujet: Fête du Timbre – Boule et Bill
País/country/pays: França / France
Data de Emissão/Date of issue/date d'émission: 2002

09/07/2011

Selos & Quadradinhos (54)

Stamps & Comics / Timbres & BD (54)
Tema/subject/sujet: Fête du Timbre – Gaston Lagaffe
País/country/pays: França / France
Data de Emissão/Date of issue/date d'émission: 2001


08/07/2011

Outras Leituras

Em tempos de férias (dos miúdos e da minha esposa), ao contrário da maior parte dos mortais, o meu tempo reduz-se, pois passo a ter em casa dois filhos que querem (e merecem) (mais) atenção.Por isso – mas a troca é proveitosa – a leitura (de banda desenhada), em geral, e este blog, em particular, vão sofrer com isso. Espero que as actualizações continuem a ser diárias, mas possivelmente a reciclagem de textos vai ser maior…
A ocasião serve, no entanto, para estrear esta nova secção, que deverá surgir todas as sextas-feiras, onde partilharei Outras Leituras, maioritariamente online, que (mesmo assim) vou fazendo!
Boas férias, para quem e quando for caso disso e aproveitem o que realmente vale a pena.


Fernando Relvas, o regresso do filho pródigo
João Miguel Lameiras em Por um Punhado de Imagens

Conversa com Joe Sacco
Marcus Ramone no Universo HQ

Color Tex: A nova colecção a cores de Tex
José Carlos Francisco no Tex Willer Blog

Super-heróis americanos desenhados por Moebius
O'Dan no Quadro a Quadro

Holly Terror: o regresso (finalmente) de Frank Miller
Érico Assis no Omelete

My Best Toys
O blog de Nuno Mata, indispensável para quem junta ao gosto pela banda desenhada o gosto pelo coleccionismo. Todos nós, não é verdade?

07/07/2011

Leituras Novas

Julho de 2011
Lance #3 (de #4)
Warren Tufts (argumento e desenho)
Libri Impressi
Sobre Lance #2

Wolverine – Inimigo do Estado #1
Mark Millar (argumento) e John Romita Jr. (desenho)
Devir

JuveBêDê #48
Associação Juvemedia
Foto-reportagem sobre a exposição Tinta nos Nervos, uma entrevista com Art Spiegelman e recensão de edições nacionais e franco-belgas

Voyager #1
Diogo Campos (argumentista), Diogo Carvalho (argumentista e desenhador), Luís Belerique (argumentista e artista, capa), Luís Maiorgas (artista), Nelson Nunes AKA Cocas (artista), Phermad (artista), Ricardo Reis (argumentista), Rui Ramos (argumentista, artista, editor, ideia original, capa, design do livro) e Salvador Pombo (artista)
R’Lyeh Dreams




06/07/2011

Fernando Pessoa e outros Pessoas

Davi Fazzolari (argumento)
Eloar Guazzelli (desenho)
Editora Saraiva (Brasil, Abril de 2011)
180 x 270 mm, 80 p., cor, brochada
R$ 34,90

Este álbum, publicado há poucas semanas no Brasil, adapta em banda desenhada alguns poemas do mais famoso poeta português e dos seus heterónimos, tendo o intuito de “conduzir o jovem leitor à obra intrincada e complexa desse escritor maior da língua portuguesa”. Por isso, o livro é apresentado como um pretexto para “novas viagens para novos viajantes ou para velhos marinheiros saudosos dos atracadouros do Tejo, sedentos por revisitar Lisboa”.
Por isso, também, ao longo das 80 páginas da edição e das bandas desenhadas que as preenchem – Interlúdio Lisboeta I, A Tabacaria Fora de Mim, Interlúdio Lisboeta II, O Desassossego de Bernardo, Interlúdio Lisboeta III, O Pastor de Almas, Interlúdio Lisboeta IV - é a capital portuguesa que surge como personagem principal da obra, dotada da sua luminosidade própria, enquanto a sua marginal, as suas avenidas, ruas e becos são percorridos em tom de passeio e descoberta, ao “som” dos versos de Fernando Pessoa, Álvaro de Campos, Alberto Caeiro e Bernardo Soares.
Aliás, apesar de os versos originais serem integralmente transcritos, as pranchas são leves, o traço respira à vontade, o próprio texto escrito é, nalguns casos, apenas mais um elemento gráfico que contribui para a leitura e a fruição do todo. Guazzelli tem neste aspecto uma responsabilidade decisiva graças ao seu traço depurado, servido por cores luminosas, lisas e claras – apenas cinzentos quando a narrativa assim o pede – que recriam e reproduzem o ambiente, a atmosfera e a luz lisboeta.
Este álbum, da responsabilidade da Editora Saraiva, é o primeiro de uma nova colecção, dedicada a adaptações aos quadradinhos de obras literárias, um género muito em voga actualmente no Brasil, com muitos destes títulos a serem incluídos na listagem governamental de incentivo à leitura junto das gerações mais jovens.
Os seus autores são Davi Fazzolari, professor de língua portuguesa e mestre em Literatura pela Universidade de São Paulo, responsável pelo argumento, e o desenhador Eloar Guazzelli, que anteriormente já adaptara obras como “O pagador de promessas”, de Dias Gomes, “A Escrava Isaura”, de Bernardo Guimarães, e “Demônios em quadrinhos”, de Aluísio Azevedo.

(Versão revista e aumentada do texto publicado no Jornal de Notícias de 1 de Maio de 2011)
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...