Christian de Metter
Casterman (França, Agosto de 2012)
185 x 260 mm, 128 p., cor, brochado com badanas
18,00 €
Resumo
Nick, um jornalista freelancer norte-americano, em viagem
pela Austrália, entre duas reportagens, descura três aspectos fundamentais para
sobreviver nas suas imensas planícies:
1)
Não conduzir de noite com os faróis acesos, pois
pode-se atropelar um canguru:
2)
Ao recorrer a uma garagem para reparar a viatura,
não dar boleia à primeira mulher bonita que aparece e, menos ainda, não ceder
aos seus encantos;
3)
Pensar bem, antes de responder a uma pergunta
feita durante a noite.
Desenvolvimento
Por coincidência, os dois livros já apresentados esta semana
aqui, em As Leituras do Pedro, são adaptações de obras literárias. Mais,
adaptações de obras literárias contemporâneas, fugindo, assim, à habitual
apetência pelos clássicos.
Depois de George R. R. Martin, ontem, hoje é a vez de
Douglas Kennedy, um norte-americano nascido em 1955, autor de alguns
best-sellers, entre os quais “The Dead Heart” (1988), que esteve na origem do
presente livro.
Na base da trama, está o facto de Nick ter falhado os três
pontos acima enumerados e, em consequência, quando procurava a liberdade e os
grandes espaços, dá por si privado da sua autonomia, da sua independência e da
possibilidade de circular, sozinho em Wollanup, uma pequena comunidade isolada de
estrutura patriarcal e praticamente desconhecida do mundo, para onde a sua “conquista”
o arrastou com o propósito de com ele casar – casar com a vítima da sua “armadilha
nupcial” de que fala o título francês.
Colocado nesta situação limite e de pesadelo, após uma
descida aos infernos em que quase se destruiu, Nick terá primeiro de recuperar
a sua autoconfiança, depois encontrar forma de sobreviver no meio de uma
comunidade hostil dominada pela força e a violência e, finalmente, agir,
contando com uma inesperada ajuda.
Sem adiantar mais, para não estragar o prazer da descoberta,
posso adiantar que este é um thriller psicológico que, depois de um arranque
que parece banal, facilmente cativa o leitor e o arrasta para a incómoda
identificação com Nick.
E que – tal como o relato de ontem – conseguiu encontrar a
forma de respirar num suporte narrativo diferente. Só que enquanto “O Cavaleirode Westeros” vivia das cenas de acção e do suporte dos textos de apoio, “Piége
Nuptial” assenta em diálogos curtos mas incisivos, em sequências mudas e na transmissão
de emoções como o desespero e o abandono e da enorme tensão psicológica que
constitui a base da segunda parte da história.
Graficamente, De Metter, tem um excelente trabalho a
aguarela, com uma paleta de cores impressionante, com a qual (nos) retrata quer
os vastos desertos australianos, imensos, soalheiros, quentes e poeirentos em
que nos apetece embrenhar-nos, quer a penumbra dos espaços em que Nick se vê confinado,
quer as muitas cenas nocturnas. Tudo com um traço algo impreciso e
enquadramentos fechados em que abundam os médios e grandes planos, que reforçam
o clima de tensão e de intimidação e a violência psicológica a que Nick está
sujeito, sustentado longamente o suspense quanto ao seu desfecho.
A reter
- A ideia original de “Piége Nuptial”
- A forma conseguida como De Metter transpôs para a BD este
romance de Douglas Kennedy, conseguindo transmitir a tensão e a violência
física e psicológica que se avolumam na segunda parte do relato até ao desfecho,
de certa forma, libertador.
- O soberbo trabalho gráfico do autor.
Menos conseguido
- A página final, pois a visualização da cena de imediato
desfaz o efeito pretendido.