12/10/2012

AmadoraBD 2012 (II)

Programa actualizado


AmadoraBD 2012 - Autobiografia
26Out-11Nov
23º Festival Internacional de Banda Desenhada da Amadora 2012
Câmara Municipal da Amadora
 

A Festa da BD em Portugal
Entre os dias 26 de Outubro e 11 de Novembro, o Fórum Luís de Camões, na Amadora, é o ponto de encontro internacional da Banda Desenhada.
 

Fórum Luís de Camões
Núcleo Central de Exposições
Destaques

A Autobiografia na Banda Desenhada
Exposição central

Estaremos pois dispostos a entrar nesse jogo,
a perceber o que subjaz à calma aparência da chamada realidade das coisas,
a discernir o que envolve um eu e o seu ensejo auto-biográfico?
Pedro Santos Maia
Da Autobiografia. Em torno de Luigi Pirandello e Manuel Gusmão,
 

(…) depois de ter enviado os seus heróis para Marte
ou ter empregue até ao limite os ingredientes do romance de aventuras para a infância,
a banda desenhada apraz-se, nos nossos dias, a colocar em cena a vida daqueles, e mais raramente, enfim, daquelas que a produzem.
Jan Baetens

 

Autobiografias e bandas desenhadas
Nota do editor: título e edição original,
“Autobiographies et bandes dessinées” in Belphégor, Littérature Populaire et Culture Médiatique, Vol. IV, no. 1,
2004 (disponível online; URL: http://etc.dal.ca/belphegor/vol4_no1/articles/04_01_Baeten_autobd_fr.html). Tradução portuguesa de Pedro Moura, autorizada pelo autor e pelo editor da revista, Vittorio Frigerio.
Os nossos agradecimentos a ambos.
 

O tema central da 23ª edição do AmadoraBD é a Autobiografia.
Este assunto será, devidamente, abordado no catálogo oficial do Festival e objeto de uma exposição comissariada por Pedro Moura, no Fórum Luís de Camões, o núcleo central do evento.
Na exposição serão apresentadas documentos, publicações, pranchas e ilustrações originais dos vários autores que têm trabalhado este tema e que foram gentilmente cedidas
por museus, galerias de arte e coleccionadores particulares.
Por isso um agradecimento especial ao Museu de Banda Desenhada de Angoulême (França), aos Achives Szukalski, Los Angeles (EUA), à Fantagraphics e a Bernard Mahé (França).
 

A Autobiografia
por Pedro Moura
A autobiografia é um género que no modo de expressão da banda desenhada se consolidou por volta dos anos 1960, quer nos Estados Unidos, sobretudo com os autores afectos ao movimento dos underground comix, quer em França com pequenas experiências pelo humor irrisório de Gotlib, Mandryka, Gire ou mesmo Jean Giraud.
Existem exemplos que podem ser colhidos ao longo da história da banda desenhada, e no caso português a menção de Rafael Bordalo Pinheiro não seria, como sempre, descabida. Contudo, enquanto género próprio, ou até possibilidade de criação,
apenas emerge na contemporaneidade. Autores como Justin Green, Robert Crumb, Aline Kominsky, Edmond Baudoin, Carlos Giménez, Keiji Nakazawa e Harvey Pekar
são fundamentais e influentes na abertura dessa possibilidade.
Os anos 1990, mais uma vez nos três pólos principais da produção de banda desenhada global (França, Estados Unidos e Japão) marcariam uma viragem e exposição substancial: aí poderíamos destacar nomes tais como Seth, Chester Brown, David B., Julie Doucet, Jean-Christophe Menu, James Kochalka, Fabrice Neaud, Debbie Drechsler, Howard Cruse, Marjane Satrapi, Craig Thompson, Alison Bechdel,
entre tantas outras possíveis referências num universo muito alargado.
Portugal, por todas as vicissitudes e especificidades da sua história particular da banda desenhada, tem uma presença no campo da autobiografia mais tímida, mas não seria errado pensar nos nomes de Fernando Relvas, Alice Geirinhas e Ana Cortesão nesse balanço. Mais recentemente, autores como Marcos Farrajota e Marco Mendes
exploram esse território de um modo explícito e criativo.
Tendo em conta que a história da banda desenhada, sobretudo no século XX, foi ocupada sobretudo por géneros infanto-juvenis e associados a géneros fantasiosos, escapistas ou delimitados por regras de expectativas mercantis, a autobiografia foi um dos géneros que mais e melhor contribui para uma sua abertura e desenvolvimento cultural.
Quer dizer, a paulatina mas assegurada consolidação da banda desenhada como uma arte ou modo de expressão passível de ser empregue para quaisquer fins, narrativos, artísticos, estilísticos, políticos ou filosóficos, que sejam desejados pelos autores, encontrou nesse género em particular uma das vias de expansão. É aí que encontramos um contributo decisivo para o aparecimento de editoras alternativas dedicadas à produção não apenas de revistas mas de livros (a canadiana Drawn & Quarterly e a francesa L'Association poderão servir de exemplos maiores), e que influenciariam igualmente editoras mais tradicionais, assim como é graças a esses novos autores e essas obras que a banda desenhada ganha um espaço mais digno e crítico na recepção crítica cultural, levando mesmo à sua inclusão em prémios literários prestigiados, bolsas de desenvolvimento artístico, residências, convites aos autores para participarem em encontros transdisciplinares, já para não falar do enorme ímpeto que deram aos estudos académicos de banda desenhada.
A mostra que o AmadoraBD agora leva a cabo tentará fazer um retrato do desenvolvimento deste género, dar conta da sua diversidade interna, revisitar alguns dos seus nomes principais e revelar alguns dos novos artistas. Sendo um dos principais campos da banda desenhada contemporânea, o Festival apresenta assim, a um só tempo, um balanço do que se passou e um relançar das questões para o futuro.
 

Spiderman
O Homem Aranha faz 50 Anos e a capital da Banda Desenhada recebe mais um super-herói
e seus amigos. Uma exposição que não vai querer perder.
Co-produção: Marvel, Fundação Franco Fossati e Museo del Fumetto, dell’illustrazione
e dell’immagine animata, Milão.
 

Paulo Monteiro
AUTOR DA ILUSTRAÇÃO ORIGINAL DO AMADORABD
O autor de O Amor Infinito que te Tenho premiado em 2011 com o troféu Melhor Álbum Português do AmadoraBD foi o convidado do Festival para criar a ilustração original que serve de base à imagem global da edição deste ano.
Paulo Monteiro é assim o autor em destaque do 23º AmadoraBD 2012 com uma exposição sobre a sua obra e sobretudo com álbum vencedor do troféu.
Para que fique a conhecê-lo melhor aqui fica uma breve biografia.
 

BIOGRAFIA
Paulo Monteiro nasceu em Vila Nova de Gaia em 1967. A partir dos 13 anos começou a ilustrar fanzines de poesia, cartazes e murais. Depois de desistir da admissão às Belas-Artes, matriculou-se em Letras, na Universidade de Lisboa, em 1987. Durante esse período estudou Pintura e Cenografia para Teatro. Quando se licenciou, em 1991, foi viver para Beja, onde ainda vive. Tem um filho: Manuel.
Teve (e tem) interesses e actividades muito diferentes: trabalhou nas vindimas, passou filmes de Buster Keaton e Charlot de terra em terra, escreveu para a rádio e para os jornais, trabalhou no Cais Marítimo de Alcântara, compôs músicas, tocou guitarra em lares, foi professor de Geografia e Ciências da Natureza, fez cenários e figurinos para teatro, fez teatro de sombras chinesas e teatro de fantoches, participou em escavações arqueológicas, etc., etc. Também fez a curadoria de dezenas de exposições de escultura, ilustração, pintura antiga e contemporânea, etc.
Escreveu e publicou três fanzines de poesia: Poemas (1988), Poemas a andar de carro (2003) e Poemas Japoneses (2005).
Viaja regularmente pelo Sul de Portugal visitando escolas em pequenas vilas e cidades para falar de banda desenhada.
Desde 2005 que faz a direcção da Bedeteca de Beja e do Festival Internacional de Banda Desenhada de Beja, por onde têm passado alguns dos mais excitantes autores de banda desenhada da actualidade como Craig Thompson, Dave McKean, David B., Gipi, Lorenzo Mattotti ou Miguelanxo Prado, entre muitos outros.
Foi também a partir de 2005 que se começou a dedicar essencialmente à banda desenhada, como autor…
A partir dessa altura publicou várias bandas desenhadas curtas em Portugal, no Brasil, na Colômbia e em Espanha. Realizou e participou em várias exposições de banda desenhada, essencialmente em Portugal, mas também no Brasil, Espanha, França, Itália e Roménia.
O seu primeiro livro, O Amor Infinito que te tenho, publicado pela Polvo em 2010, ganhou o Prémio Melhor Álbum Português Amadora BD 2011, e o Prémio Melhor Publicação Independente Central Comics 2011.
O Amor Infinito que te tenho será publicado em 2013 pela Blank Slate Books, no Reino Unido e na Irlanda, pela Balão Editorial, no Brasil, e pela Timof, na Polónia.
Neste momento encontra-se a trabalhar no segundo livro, que deverá estar concluído no final de 2015.
 

Ricardo Cabral
O livro Newborn 10 Dias no Kosovo,
que conquistou o troféu para Melhor Desenho de Álbum Português, em 2011,
será o ponto de partida para esta exposição que apresenta o processo criativo
deste livro e uma retrospetiva da sua obra.
 

Ana Afonso
Uma nova geração de autores portugueses, com trabalhos publicados em Portugal
e no Estrangeiro, espera por si no Fórum Luís de Camões. Apareça.
 

Cyril Pedrosa
O álbum Portugal deste autor com ascendência portuguesa foi prémio FNAC em França.
O lançamento da obra em português,
com a chancela das Edições ASA/Leya terá lugar no AmadoraBD.
A primeira vez que Pedrosa visitou o país de seus pais foi em 2006 a convite de Luís Beira,
Director do Salão de BD da Sobreda da Caparica.
Mais tarde, e já em fase de produção do álbum “Portugal”,
o autor fez parte importante da sua pesquisa sobre BD portuguesa no CNBDI.
Em França Portugal foi prémio FNAC e no AmadoraBD será lançada a versão portuguesa, com a chancela das Edições ASA.
O autor estará presente nos dias 26 e 27 de Outubro.
 

Victor Mesquita
Eternus 9
Um dos decanos da BD Portuguesa, Victor Mesquita, viu o seu álbum Eternus 9 A Cidade dos Espelhos ser premiado em 2011 com o troféu Melhor Argumento de Álbum Português.
Em exposição estará, naturalmente, este seu último trabalho assim como o anterior
Eternus 9 Um Filho do Cosmos.
Distando 30 anos entre os 2 álbuns,
esta mostra permite ver como se mantém a identidade de uma série
com métodos de trabalho completamente diferentes. 

Ana Afonso
O Lobo Prateado
A Melhor Ilustração de Livro Infantil de Autor Português, foi atribuída a O Lobo Prateado, de Ana Afonso com texto de Ana Maria Magalhães e Isabel Alçada.
Ana Afonso tem um currículo artístico onde se incluem o desenho, a ilustração, a pintura e a gravura e é um pouco de todos estes trabalhos que será possível conhecer nesta exposição.
 

José Carlos Fernandes
Agencia de Viages Lemming
Premiado com o troféu Melhor Álbum de BD de Autor Português Editado no Estrangeiro,
A Agencia de Viages Lemming é um exemplo notável de talento e versatilidade,
uma inspiração nascida em plena silly season.
Feita para alegrar o Verão de um jornal,
libertou-se das amarras do calor e condensou em livro.
As suas portas estão agora abertas a todos os que através dela
quiserem continuar a viajar, pela vida fora.
 

Infante Portugal
Deriva de um fascínio pessoal de José de Matos-Cruz pelas histórias em quadradinhos que, liado ao apelo da escrita acabou por gerar um universo múltiplo e peculiar.
Conjugando fenómenos lúdicos e fantasistas com matrizes heróicas e simbólicas
da qual se evidencia uma alusão crítica e irónica à sociedade vulnerável mas global.
Participam neste projecto um conjunto tão vasto quanto
diverso de ilustradores e desenhadores de BD.
 

ZEP
Titeuf e Happy Sex
É um autor suiço, de seu nome Philippe Chapuis. Como apaixonado que é pela música em geral e o rock em particular, adoptou o seu nome artistico em homenagem à banda Led Zeppelin. No AmadoraBD apresenta-se no com duas das suas obras mais emblemáticas Titeuf, dedicado aos mais jovens e Happy Sex para um público adulto. 
 

Ano Editorial Português
Apresentação de todas as edições de banda desenhada de autores portugueses em 2012

 
AmadoraBD Júnior
Sábados e Domingos de manhã, no Fórum Luís de Camões.
 

Oficinas
Pinturas Faciais
É só escolher a pintura que mais gostas e o resto fica por nossa conta.
Todos os produtos são adequados e anti-alérgicos.
 

Modelagem de Balões
De todos os tamanhos e feitios em forma de flores, espadas, cães, chapéus, corações…
para distribuir às crianças.
 

Cinema de Animação
Vem conhecer e experimentar os jogos ópticos e as técnicas do cinema de animação.
Vais ver como é divertido fazer um filme.

 

Música Digital
Para criar os sons dos filmes de animação.
Com recurso a um computador e aparelhos electrónicos, os mais novos podem compor a música que dará vida aos filmes.
 

Oficina de Origami
A partir de uma folha de papel podes criar as figuras que quiseres.
Vem conhecer o origami, uma arte ancestral japonesa.
 

Fórum Luís de Camões
Núcleo Central de Exposições
 
Rua Luís Vaz de Camões – Brandoa — T (+351) 214 948 642
Coord GPS: LAT 38°45’52.84”N / LONG 9°12’49.60”O

Seg a Qui, Dom e Feriado — 10:00h-20:00
Sex e Sab — 10:00-23:00

Autores Nacionais e Estrangeiros

Sessões de Autógrafos

Exposições

Debates e Colóquios

Feira do Livro

Novidades Editoriais

Espectáculos Musicais

Animação Infantil

 

O Festival pela Cidade
Para além do núcleo central do AmadoraBD, no Fórum Luís de Camões, existem outros espaços expositivos na Amadora e que são de acesso gratuito.
 

— Na Amadora
Maria João Worm
Prémio Nacional de Ilustração 2011
Constelations
Os dez anos da Maison des Auteurs, em Angoulême
Casa Roque Gameiro
Largo 1º de Dezembro 54 — Venteira — T (+351) 214 369 058
Seg a Sab 10:00-12:30 e 14:00-17:30 / Encerrado Dom e Feriados.

 

A Peregrinação de Fernão Mendes Pinto
Centro Nacional de Banda Desenhada e Imagem
Av. do Brasil 52 A — Falagueira — T (+351) 214 369 057
Seg a Sex — 9:30-12:30 e 14:00-18:00 / Sab e Dom — 14:00-19:00
 

A Pintura de Vitor Mesquita
Galeria Municipal Artur Bual
Av. MFA – Edifício dos Paços do Concelho — Mina — T (+351) 214 369 059
Ter a Sex — 10:00-12:30 e 14:00-18:00 / Sab, Dom e Feriados 15:00-18:00
 

Amadora Cartoon
Recreios da Amadora
Av. Santos Matos 2 — Venteira — T (+351) 214 927 315
Ter a Dom — 14:00-17:30 / Encerrado Seg

 

— Em Lisboa
Comic-Transfer
UrbanSketches Till Laßmann e Ricardo Cabral
ORG: Goethe Institute
Campo dos Mártires da Pátria 37 — 1169-016 Lisboa — T (+ 351) 218 824 510
 

BDs Autobiográficas Francesas
Cyril Pedrosa e Mathieu Sapin
Instituto Francês em Portugal
Avenida Luís Bívar 91 — 1050-143 Lisboa — T (+ 351) 213 111 400
 

Intervenções de grafiters e artistas de BD Amadora e Lisboa
Galeria de Arte Urbana da C. M. Lisboa
 

(Texto da responsabilidade da organização)

11/10/2012

Punisher – El Invierno muerto


 

 

 
Greg Rucka (argumento)
Marco Checchetto, Matthew Clark, Mathew Southworth, Michael Lark, Mirko Colak e Max Fiumara (desenho)
Stefano Gaudiano (cor)
Panini Comics (Espanha, Setembro de 2012)
175 x 265 mm, 216 p, cor, brochado com badanas
19,95 €

 

Resumo
Compilação dos comics originais norte-americanos “Punisher” v7, 1-9 e “Spider-Island: I Love New York City”, narra uma espiral de violência na sequência de um massacre ocorrido durante um casamento.
 
Desenvolvimento
Escreve Javier M. Clemente na sua introdução, citando o argumentista Greg Rucka: “[com Punisher] não estamos perante uma personagem complexa (…) mas sim face a um conceito belo na sua formulação básica: o objectivo de Frank Castle é eliminar criminosos e tudo quanto faz tem esse propósito”.
Por isso, em Punisher, mais do que em qualquer outra série da Marvel – e convém recordar que esta foi uma criação apontada aos leitores adultos - a violência é gratuita e imperiosa e está presente em inúmeras sequências.
Por isso, de novo, não surpreende que este tomo abra com uma longa sequência muda – apesar do barulho ensurdecedor dos tiros e dos gritos que ecoam na mente do leitor – que descreve um massacre durante um casamento, com tanto de horrível quanto de inexplicável, que servirá de pretexto ao Punisher para mais uma cruzada vingativa contra o submundo do crime.
Depois, bem, depois o relato segue num crescendo de violência, com Punisher a perseguir e executar os responsáveis pelo crime inicial – apenas parcialmente explicado, o que se revela secundário no desenrolar da trama – e todos aqueles que, de seguida, de alguma forma, lhe estão minimamente ligados, numa orgia de sangue e morte.
A predominância de tons sombrios e carregados – mesmo numa cena passada na neve! - e o traço algo agreste que resiste, sem grandes oscilações, às sucessivas mudanças de desenhador, contribuem também para acentuar o tom duro e violento.
O que acaba por subvalorizar um aspecto que poderia ser interessante, o questionar da actuação de Frank Castle – deve-se fazer justiça pelas próprias mãos? – de alguma forma feito, a dois tempos, pela investigação jornalística de Norah, por um lado, e da policia, por outro, com os dois detectives com opinião diferente sobre este tema.
As tentativas de eliminar Castle e o aparecimento de um outro vingador de identidade desconhecida, são outros elementos que consolidam uma história aconselhável a leitores de que gostem de emoções fortes.
 
A reter
- O conceito – incómodo mas cada vez mais “justificável”? – por detrás de Frank Castle/Punhisher.
- O tom de policial negro, duro e violento, que Rucka imprime à narrativa.
 
Menos conseguido
- As diferenças físicas entre o Abutre do comic – praticamente a única presença relevante do universo de super-heróis neste policial negro – e a sua representação na capa do comic-book #3.
- A ligação - forçada - nas páginas finais, ao arco Spider-Island.

 

 

10/10/2012

Bruce J. Hawker - L'Intégrale #1

 
 
 
 
 

 
 
 
 
William Vance
Le Lombard (França, 28 de Setembro de 2012)
222 x 295 mm, 192 p., cor, cartonado
25,50 €
 
 
Resumo
Este é o primeiro de dois tomos com a reedição integral de Bruce J. Hawker, uma saga marítima criada por William Vance, que decorre no século XIX.
Reúne os álbuns “Cap sur Gibraltar”, “L’Orgie des Damnés" e "Press Gang", bem como 13 pranchas inéditas de “Les entrailles du H.M.S. Thunder” e um dossier repleto de ilustrações que situa esta criação no seu contexto e explica a sua génese.
O primeiro episódio de Bruce J. Hawker foi estreado na revista “Femmes d’Aujourd’hui”, em 1976, tendo depois sido remontado e, no caso de algumas páginas, redesenhado aquando da sua publicação na revista Tintin, nas suas versões belga e francesa, três anos mais tarde.
 
Desenvolvimento
Se hoje em dia William Vance é referenciado sobretudo pelo desenho do best-seller “XIII”, convém não esquecer que antes de atingir esse sucesso, tinha já uma carreira repleta de criações marcantes como Howard Flynn, Rodrigo, Bob Morane, Bruno Brazil ou este Bruce J. Hawker.
Nascido da vontade de Vance de desenhar o mar e passar para o papel a sua paixão pelas embarcações dos séculos XIII e XIX, Bruce J. Hawker é uma narrativa clássica de aventuras, com tudo o que isso implica de bom ou de menos conseguido.
A história dos três tomos agora compilados, resume-se com facilidade: tendo recebido o comando do H.M.S. Thunder, um navio da marinha de sua majestade britânica, o jovem tenente da Royal Navy Bruce J. Hawker é encarregado de uma missão secreta da maior importância: levar peças para uma arma secreta desde Inglaterra até ao Golfo de Cádis.
Atacado por uma numerosa frota espanhola, o H.M.S. Thunder é derrotado e apresado e os seus oficiais detidos. Após uma fuga recheada de peripécias, regressam a Inglaterra, onde Hawker é acusado de traição e destituído do seu posto, sendo renegado pelos pais adoptivos e pela noiva. Como uma tragédia nunca vem só, acabará por se ver recrutado à força para remar nos barcos de sua majestade…
Sinal de outros tempos – e de um modelo que fez sucesso na BD franco-belga - a acção decorre em ritmo elevado, com os acontecimentos a sucederem-se sem dar tempo ao leitor de parar para os considerar ou ao autor para desenvolver de forma consistente algumas das personagens secundárias, que até pareciam marcadas para assumir papel mais relevante, antes de as eliminar de vez. Assim obrigava o modelo (então) rígido das 46 pranchas por álbum, nos quais introdução, queda, encontro com o amor e nova ascensão, marcam uma cadência elevada apenas pausada pela descrição das cenas marítimas de batalha. Uma delas, logo no primeiro tomo, assume maior relevância, por descrever todas as acções dos homens que municiavam e manobravam os canhões, frente a um inimigo sempre oculto dos olhos do leitor, que só será revelado quando a batalha tem o seu desfecho.
Esse é um dos trunfos desta saga, a recriação pormenorizada e empenhada de uma época e de um modo de vida, duros e marcantes.
Na memória, eu tinha uma versão num belo preto e branco constrastante, publicada – não nas melhores condições técnicas – pelo Mundo de Aventuras, em 1982, sob o título “Rumo a Gibraltar”. A descoberta, agora, da sua versão original, com um colorido sóbrio e extremamente realista, foi um deleite. Vance recria com uma qualidade gráfica e um realismo espantosos uma Londres coberta de neve e nevoeiro, o mar revolto ou a coberta e interiores dos navios do século XIX, fazendo desta série um belo documento de época.
Outro sinal distintivo, é a planificação diversificada – e ousada para a época – que frequentemente “explode” o modelo tradicional de 3 ou 4 tiras por prancha, criando vinhetas duplas, triplas ou mesmo de página inteira ou inserindo vinhetas dentro de vinhetas, que para além de belos efeitos, se revelam instrumentos de grande utilidade na marcação do ritmo e na definição dos momentos de maior impacto da narrativa.
 
A reter
- O excelente trabalho gráfico de Vance.
- O prazer de reler um clássico da BD de aventuras franco-belga.
- Mais uma belíssima edição integral franco-belga – já há algum tempo que não trazia nenhuma aqui… – com um dossier muito pormenorizado e completo e uma capa magnífica de que quero destacar a textura.
 
Menos conseguido
- A previsibilidade da história, pese embora uma ou outra surpresa no seu desenrolar, apesar de tudo natural numa criação que é exemplo (bem) acabado de uma certa época e de uma certa forma de narrar em BD.
 
 
 

09/10/2012

12 - A Doce



 

 
 

 

 

 

François Schuiten
ASA (Portugal, Setembro de 2012)
240 x 320 mm, 88 p., pb, cartonado
21,90 €

 

 

1.      Esta é uma história de amor.
2.      Uma história de ternura e paixão.
3.      A história da dedicação de (toda) uma vida a uma relação intensa e única.
4.      Mas é também uma história sobre o avanço inexorável do tempo e do progresso.
5.      Sobre o confronto entre o passado – seguro e vivo nas memórias – e o futuro – obscuro e incerto, entre o vapor e a electricidade.
6.      É a história de Léon Van Bell, maquinista desde sempre (desde a adolescência) da locomotiva 12.004.
7.      Um maquinista dedicado que, próximo da reforma – do seu fim - com os pulmões corroídos pelo fumo do carvão, receia o momento em que também a sua locomotiva – à qual dedicou uma vida (a sua) – seja substituída pelas modernas alternativas eléctricas.
8.      Disposto a tudo para não se separar dela – chega até a roubá-la! – acaba por ser preso.
9.      Uma vez libertado, dispõe-se a ir até ao fim do mundo para a recuperar – a rever.
10. Pelo caminho encontrará a bela e sensual Elya, muda, órfã de maquinistas falecidos…
11.  … e também o misterioso Edgard, que vive uma outra (e também bela) paixão…
12.  Juntos, embora com propósitos diferentes, avançarão, contra tudo e todos, tentando concretizar os seus sonhos.
13.  Tudo isto é narrado por François Schuiten – aprovado com distinção nesta sua primeira experiência como autor completo, juntando à faceta de desenhador também a de argumentista.
14.  E fá-lo da única forma que sabe: com um desenho soberbo, assente num preto e branco de alto contraste, perfeito no rigor das linhas, na exploração das perspectivas, na recriação de elementos arquitectónicos de matriz conhecida, recriados num mundo fantástico.
15.  E, também, igualmente, na representação da figura humana, correcta e proporcionada, viva e real – com alma -, sublimada no corpo escultural da bela Elya.

 

08/10/2012

La dernière femme


 

 

 
 

 

Colecção écritures
Charles Masson
Casterman (França, Agosto de 2012)
170 x 240 mm, 176 p., pb, brochado com badanas
14,00 €

 

Este livro deixou-me uma sensação estranha. Apesar da leitura envolvente e bem disposta, passei o volume todo à espera do golpe de asa, da surpresa, do toque de génio. Que não aconteceu.
Assente num magnífico traço semi-caricatural, vivo e agradável, tingido com manchas de cinzento que definem volumes e ambientes, escrito com desenvoltura, algum humor, um toque erótico e um ritmo quase frenético, La dernière femme leva o leitor à boleia de Albert, na recordação das suas conquistas amorosas e das suas proezas sexuais - dos seus fracassos e separações dolorasas também - mais de duas dezenas de mulheres, mais exactamente, uma para cada letra do alfabeto, de A a Y, de Annie a Yolaine. Mas, apesar de tudo - apesar de todas - continua solteiro, solitário, com tendência para a melancolia e a auto-depreciação.
Uma vida inteira movida pela paixão pelo belo sexo, na procura deste mas também de relações mais ou menos estáveis e numa busca interior de si mesmo, sem nunca conseguir encontrar(-se verdadeiramente e à) sua “cara metade”.
A seu lado (estamos nós e) está Al, um jovem que viaja à boleia, que Albert recolhe como ouvinte privilegiado e confidente inesperado e com quem irá irá descobrir uma identificação quase total e intrigante – ou talvez não como o leitor acabará por (intuir ou) descortinar.
No final, qual sessão de psiquiatria concluída, após virar a última página deste road-movie existencial que questiona o mais interior do ser humano, sobra a tal sensação de copo meio cheio - ou vazio…

06/10/2012

Bem Dita Crise! na Mundo Fantasma

Data: 6 a 28 de Outubro de 2012
Local: Galeria Mundo Fantasma, loja 509/510, Centro Comercial Brasília, Avenida da Boavista, 267, Porto
Horário: de 2ª a sábado, das 10h às 20h: Domingos e feriados, das 15h às 19h

 

 

 

A galeria Mundo Fantasma, no Porto, inaugura hoje, às 17 h, a exposição “Bem Dita Crise!”, com uma selecção dos cartoons de António Jorge Gonçalves publicados no Inimogo Público, suplemento do jornal Público.
O autor estará presente para apresentar e autografar o livro com o mesmo título, recém-editado pela Documenta.
Fica a respectiva nota de imprensa.

 

Quando, em 2003, António Jorge Gonçalves foi desafiado pela equipa do “INIMIGO PÚBLICO” para ser cartoonista editorial no projecto que então nascia, ficou perplexo: pouco no seu percurso como desenhador de ficção o tinha preparado para ser mais um treinador de bancada da imprensa portuguesa.
Num estilo cru, simples e elegante, os cartoons que tem desenhado semanalmente durante os últimos 9 anos versam temas nacionais e internacionais, da política institucional ao comentário de género, e constituem um mosaico do mundo tal como nos é servido pelos media à mesa das nossas consciências.
Alguns destes cartoons foram publicados na revista COURRIER INTERNACIONAL, jornal LE MONDE, e em colectâneas nacionais e internacionais, tendo integrado exposições e festivais em todo o mundo. Foram também premiados diversas vezes no WORLD PRESS CARTOON.
Neste livro, que tem como pano de fundo a crise que atravessamos, os desenhos são complementados por notas do autor sobre a natureza do desenho de imprensa, a proveniência das ideias, ou os excessos da realidade.

 António Jorge Gonçalves nasceu e vive em Lisboa.
O seu trabalho estende-se pela banda desenhada, o cartoon editorial, o teatro e as suas performances de desenho digital ao vivo.
Na banda desenhada destacam-se a premiada série FILIPE SEEMS (com Nuno Artur Silva) - cujo álbum ANA é apontado como um ponto de viragem na BD nacional - e as inovadoras novelas gráficas A ARTE SUPREMA e REI (com Rui Zink). Teve histórias expostas e publicadas em Portugal, Austrália, Coreia do Sul, Espanha, França e Itália.
Criou cenografia para várias peças de teatro, entre as quais O QUE DIZ MOLERO e ARTE (encenações de António Feio), O DONO DO NADA (de Amélia Muge), COMO FAZER COISAS COM PALAVRAS (com Ricardo Araújo Pereira) ou a ópera ANTÍGONO (encenação de Carlos Pimenta).
Nos últimos anos, encontrou no Desenho Digital uma maneira de dar aos seus traços um carácter performativo. Integrou vários espectáculos em  Portugal, França, Alemanha, Japão e EUA  com músicos, actores e bailarinos, entre os quais, Bulllet, Kalaf, Amélia Bentes, Amélia Muge, Micro Audio Waves, Gino Robair, Gustavo Matamoros, Ellen Fullman, Mário Laginha ou Bernardo Sassetti.

05/10/2012

Capitán América - El peso de los sueños


 

 

  

Colecção Marvel Deluxe
Capitán América #6
Ed Brubaker (argumento)
Steve Epting, Butcht Guice e Mike Perkins (desenho)
Frank D’Armata (cor)
Panini Comics (Espanha, Maio de 2012)
175 x 265 mm, 152 p, cor, cartonado
16,00 €

 

Resumo
Compilação dos comics Captain America vol. 5, #31 a #36 da edição original norte-americana, mostra quem substituiu o Capitão América ao mesmo tempo que decorrem as investigações para saber quem esteve por detrás do seu assassinato.
 
Desenvolvimento
Depois de o volume anterior – “Capitán América #5: La muertedel Capitán América” – ter mostrado a morte do maior símbolo da América, no que aos comics diz respeito, e como isso afectou não só os que lhe eram mais próximos mas também, a população em geral, neste novo tomo Brubaker continua a explorar esse conceito, a diversos níveis.
Se é óbvio que a ideia inicial foi desde sempre substituir ou de alguma forma fazer ressuscitar o herói caído – é assim que a morte funciona no universo Marvel – o desenrolar do argumento, consistente e bem estruturado, com uma linha condutora forte e bem definida, leva a adiar esse (inevitável) regresso para bem dos leitores. Na verdade, isto permite que a intriga se desenvolva em diversos locais e em diversos contextos, tornando-a mais densa e estimulante, pois são várias as questões em jogo: recuperar o corpo do herói falecido, encontrar Sharon Stone a sua presumível assassina, acompanhar a evolução de Bucky Barnes como a nova encarnação do justiceiro, seguir a evolução da desesperada situação económica dos EUA e a ascensão política do senador Wright, desvendar até que ponto o dr. Fausto domina muitos dos intervenientes, impedir o seucesso dos planos orquestrados pelo Caveira Vermelha.
Mantendo um tom próximo do registo de espionagem e de policial negro, a narrativa tem neste tomo um significativo acréscimo das cenas de acção, depois do tom mais introspectivo do volume anterior. Assente na indefinição de Bucky Barnes quanto a assumir o (pesado) uniforme do Capitão América, privilegia os diversos confrontos entre ele, o Falcão, a Viúva negra e os operacionais da SHIELD, contra os seguidores do Caveira Vermelha e do dr. Fausto. Este último, assume um papel determinante em toda a trama, que só será entendido em toda a sua magnitude no terceiro e último volume, “El hombre que compró América”.
Bastante positiva é a utilização do suporte televisivo como instrumento narrativo e o facto da estratégia do vilão para ascender ao poder combinar o habitual lado violento com a intriga económica e política, o que reforça o realismo e a credibilidade do argumento, assim mais alicerçado em aspectos do nosso quotidiano.
Como última nota, a quem quiser e puder, sugiro uma comparação entre os níveis de violência apresentados por este novo Capitão América (e pelo relato em geral) com os que se podem ver, por exemplo, no (bem mais ingénuo) volume da colecção Heróis Marvel dedicado ao Capitão América, como reflexo de adequação dos quadradinhos a novos tempos – e à realidade.
 
A reter
- De novo a superior capacidade narrativa de Ed Brubaker…
- … e o trabalho gráfico num registo hiper-realista de Epting…
- … bem como a excelente edição, embora desta vez sem a inclusão de quaisquer extras.
 
Menos conseguido
- Quando se alcança o grau de realismo que Brubaker e Epting imprimiram ao “seu” Capitão América, uma personagem caricatural como o Caveira Vermelha acaba por surgir algo deslocada no conjunto.

  

04/10/2012

O Gato do Rabino #4/#5

Paraíso Terrestre/Jerusalém de África
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 



Joann Sfar
ASA (Portugal, Agosto de 2012)
295 x 220 mm, 136 p., cor, brochado com badanas
21,90 €

03/10/2012

Golias T.1 – Le Roi Perdu



 
  
 
 
 
 
 
Serge Le Tendre (argumento)
Jêrome Lereculey (desenho)
Stambecco (cor)
Le Lombard (Bélgica, 28 de Setembro de 2012)
237 x 310 mm, 48 p., cor, cartonado
14,45 €
 
 
 
Resumo
Para ficar com o trono da ilha de Ankinoë, Polynos envenena o rei Farstal, seu irmão. Para o salvar, será necessário ir em busca de uma flor mágica que apenas floresce numa ilha distante.
A tarefa é assumida por Golias, filho do rei, juntamente com o seu companheiro Konios e o mago Sarhan, que partem deixando o pai a agonizar e a irmã Aeréna em risco devido à lascívia do seu primo Varon.
 
Desenvolvimento
Esta é uma história clássica mil vezes contada; uma história de intrigas e cobiças, conspirações e assassinatos, motivados pelo desejo do poder. Assenta num traço dinâmico, cujo grau de realismo vai crescendo ao longo das páginas, adequando-se melhor ao tom geral do relato, e num agradável trabalho de cor, apesar da opção por um limitado leque cromático.
A diferença é feita por Serge Le Tendre, argumentista exímio que a soube dotar de um cenário sempre sugestivo, a Grécia antiga lendária, de certa forma a fazer lembrar outro díptico de sua autoria, “Tirésias” (edição portuguesa da Vitamina BD), embora o contexto seja distinto.
Para além disso, combinou muita acção e um elevado ritmo narrativo com diversas surpresas e inflexões argumentais, que aguçam a curiosidade do leitor e vão dando consistência ao conjunto, aprofundando o carácter dos intervenientes e desenvolvendo o micro-universo criado.
Dessa forma, entre conspirações palacianas, traições, golpes de asa, situações delicadas e desfechos imprevisíveis, os “heróis” da história acabam por partir em busca do tal tratamento milagroso, sem saberem que deixam para trás uma situação bem mais grave do que são capazes de imaginar.
De tal forma que ao leitor custa a imaginar como Le Tendre conseguirá resolvê-la a contento dos supostos protagonistas, no próximo volume que, devendo ser o encerrar de um díptico, pelo que já foi mostrado poderia bem ser o prometedor início de uma longa série de aventuras.
 
A reter
- A nova roupagem de um tema recorrente.
- O bom tratamento gráfico que lhe foi dado, que contribui para tornar mais agradável uma leitura sem mais ambições do que permitir ao leitor passar um bom bocado. O que é conseguido.
 
Menos conseguido
Golias – como aliás Tirésias – é um daqueles casos em que o leitor se pergunta por que razão a história não é contada num só volume, em vez do (artificial) díptico. A resposta assenta com certeza em dois factores: prazos e razões comerciais. 


02/10/2012

Tintin português: o fim há 30 anos

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Há 30 anos chegava aos quiosques o último número do Tintin português que, ao longo de 15 anos, publicou cerca de 750 números com o melhor da banda desenhada franco-belga.
 
Essa longa aventura editorial começou a 1 de Junho de 1968 e destacou-se desde logo pela sua elevada qualidade gráfica, principal razão para o seu preço elevado – 5$00, o dobro do seu concorrente, mais popular, o Mundo de Aventuras.
Na chefia da redacção distinguiram-se dois nomes que fariam dela uma das mais amadas revistas infanto-juvenis portuguesas: Dinis Machado e Vasco Granja. Os artigos sobre BD (“Tintin por Tintin”) e o correio dos leitores (“Tu escreves… Tintin responde”) eram pontos fortes a par, claro está, de um conteúdo seleccionado entre o melhor que publicavam o seu congénere belga – Tintin, Blake e Mortimer, Clorifila, Red Dust, Bernard Prince… - e a inovadora “Pilote” – Astérix, Lucky Luke, Valérian, Bluberry…
Estes e muitos outros heróis, cujas aventuras eram publicadas ao ritmo de uma ou duas páginas semanais, terminadas com um desafiador (continua), fizeram vibrar e sonhar uma geração, aquela que hoje tem maior poder de compra, o que explica que este seja, actualmente, um dos títulos mais procurados por coleccionadores e antigos leitores. Por isso, o Tintin português, completo, encadernado com as capas originais, pode valer cerca de dois mil euros, em função do seu estado.
A aposta em autores portugueses foi escassa mas ao Tintin coube o mérito de “descobrir” Fernando Relvas, autor do Espião Acácio ou de L123, que continuaria a brilhar depois nas páginas do Se7e, e de ter revelado obras mais adultas como Corto Maltese (de Hugo Pratt), The Spirit (Will Eisner) ou A Sombra do Corvo (Didier Comés).
Os problemas financeiros que então afectaram a Livraria Internacional, detentora do título, apressaram o seu final, não anunciado, com histórias incompletas, num número cuja capa nem sequer apresentava qualquer dos seus heróis, num triste prenúncio do progressivo desaparecimento das revistas de BD em Portugal.
 
Nota final: Para quem quiser fazer uma ideia mais completa do que foi este título, aconselho o exaustivo Inventário da Revista Portuguesa Tintin, da autoria de José Vítor Silva, que enumera todas as histórias, séries, autores e artigos nele publicados.
 
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