23/06/2011

Ele foi mau para ela

Sem palavras – sem música
Milt Gross (argumento e desenho)
Libri Impressi (Portugal/Espanha, Abril de 2011)
155 x 170 mm, 272 p., pb, cartonado
16 € (14 € se pedido ao editor)

Resumo
Esta é a história de um grande amor entre um caçador e uma cantora de saloon, separados pelos métodos pouco honestos de um vilão sem escrúpulos, numa sociedade movida pelo dinheiro, a avareza e a ganância.
História contada em banda desenhada, num longo romance gráfico, sem palavras, que data de… 1930!

Desenvolvimento
Esta é uma história banal, pode dizer-se sem medo de errar. A história do caçador que socorre a cantora do saloon e se apaixona por ela. Parte depois, em busca de riqueza, aliciado por um sócio ardiloso, que explora o seu trabalho e foge com os lucros. Dizendo-o morto à noiva, casa com ela e partem para a grande cidade. Em sua perseguição, o caçador ultrapassa mil e um perigos até o desenlace final.
Uma história que, com maiores ou menores variações, já foi contada, na literatura e no cinema, em folhetins radiofónicos e até na própria banda desenhada.
Mas, possivelmente, nunca como desta vez, por Milt Gross. Em sequência gráfica narrativa sem palavras. E sem música! O que é mais surpreendente se atendermos a que se trata de uma obra de 1930, quando quase todos os “grandes” quadradinhos davam ou estavam para dar ainda os primeiros passos.
E, atente-se, esta obra, 80 anos depois, é de uma frescura imensa, inovadora na forma e divertida no conteúdo.
Traçada com um desenho nervoso, mais próxima do cartoon do que do estilo realista que em breve imperaria nos EUA, assenta também num registo humorístico que surge variadas vezes ao longo da trama, numa aproximação à comédia muda cinematográfica – “herdeira do cinema de Chaplin”, escreve Nuno Franco na introdução da obra – e do desenho animado iconoclasta que (na sua maior parte) estava para vir. O que não quer dizer que, pontualmente e de forma surpreendente no contexto, Gross não demonstre outras capacidades gráficas nalgumas vinhetas de traço mais realista.
O humor - sempre patente ao longo das pranchas – tem alguns apontamentos geniais, mesmo que por vezes contraste como o momento imediatamente anterior ou posterior.
É o que acontece logo na cena inicial do assédio dos lenhadores à cantora, interrompido com violência por uma faca que crava um braço na parede, que depois desemboca num combate divertido, que estabelece desde logo o tom de comédia do registo e que coloca o protagonista ao nível de um outro herói dos quadradinhos, o marinheiro Popeye, com quem tem diversos pontos de contacto: a grande força, a simplicidade, a ingenuidade, a disponibilidade para ser útil aos outros… Atributos que cativam o leitor e o colocam a torcer por ele.
Outro momento semelhante ao citado, surge quando o vilão declara o caçador morto e leva a cantora à suposta tumba onde ele se encontra (pp. 37-41), vendo o leitor, numa visão mais afastada de conjunto uma cena algo diferente. Na mesma linha, a antecipar um desfecho bastante cruel, depois da sucessiva repetição de uma cena, qual bailado imparável, é o pedido de emprego da cantora na grande firma (pp. 128-153).
De puro génio são também a cena no alfaiate (pp. 89-95), a perseguição no carvão (pp. 123-126), a chegada do herói ao hospital (pp. 189-196) ou o reencontro do vilão com a sua última conquista (pp. 210-219).
A utilização – quase sempre – de uma única imagem por página, inferior à página, em posições diferentes na página – foi a forma encontrada por Gross para marcar o ritmo que mais lhe convinha – quase sempre elevado, diga-se em abono da verdade, o que acentua a proximidade à comédia muda – embora seja plenamente capaz de, em momentos específicos, trocar essa opção por páginas com várias vinhetas que quebram o ritmo e obrigam o leitor a pausar a leitura para apreender tudo o que é transmitido. É dessa forma – simples sem dúvida, mas eficaz – que mostra o estado de espírito da cantora quando a sua paixão parte com o novo sócio na bela página 27 em que predomina o negro.
Aliás, o domínio que Gross demonstra da técnica narrativa é surpreendente, quer ao nível geral da planificação e da utilização de diferentes enquadramentos e pontos de vista, alguns bem arrojados, quer ao nível do pormenor gráfico, como quando recorre a pegadas no chão para mostrar o elevado número de pessoas presentes no saloon onde a cantora actua, logo na prancha inicial, ou quando enche de imagens um balão “musical”, para demonstrar a qualidade das suas capacidades canoras.
Do ponto de vista narrativo realce ainda para a forma como Gross gere a sua história – que poderia ter tido um final antecipado logo na página 86 ou, mais tarde, na página 200 – não fosse o acaso interpor-se em ambos os casos, prendendo o leitor, deixando-o suspenso do momento em que – finalmente – os dois apaixonados se reúnem para sempre.
Á par do “grande romance americano” que narra com mestria, Gross aproveita para traçar um retrato da sociedade norte-americana do início do século passado, onde os grandes espaços (de certa forma ainda) conviviam com a chegada (acelerada) da civilização e da indústria, uma sociedade onde o dinheiro, o lucro, a ganância (já) imperavam, onde um cancro como o vício do jogo já ditava as suas leis e onde muitos – como o vilão da história – rapidamente ascendiam à fama (social) para mais depressa ainda caírem ainda mais fundo do que estavam antes. Mas onde, também, o trabalho era recompensado tal como as boas acções, o esforço permitia subir na vida, os bons (ainda…) ganhavam sempre…

 A reter
- A obra em si. Pela concepção, pelo ritmo, pela forma como está narrada, pelas soluções encontradas, pela forma como transmite emoções, pelo humor… Integralmente.
- A forma como a história prende, obrigando a ler o livro compulsivamente, de um só fôlego. Eu tive o “azar” de o começar a folhear um dia, à 1h43 da madrugada, com as consequências que se adivinham…
- O respeito de Manuel Caldas pela obra original – leia-se a introdução na página VI – em termos de paginação do livro, respeitando as opções de leitura e de ritmo que o criador – conscientemente ou não – fez.
- A qualidade da edição da Libri Impressi. Mais uma vez.

22/06/2011

O amor é um inferno

Matt Groening (argumento e desenho)
Gradiva (Portugal, Julho de 2006)
225 x 225 mm, 48 p., pb, brochado, 9,00 €

Como se escrevia há sensivelmente uma década na revista "Quadrado" #2 (2ª série), quando os Simpsons foram as vedetas do Salão Internacional de Banda Desenhada do Porto, "para muitos, o nome de Matt Groening é apenas o terceiro a aparecer na ficha técnica da série de animação "The Simpsons", juntamente com Sam Simon e com o conhecido James L. Brooks".
Mas na realidade, se este norte-americano, nascido a 15 de Fevereiro de 1954, em Portland, no Oregon, se iria tornar mundialmente célebre com aquela série animada televisiva, a verdade é que o seu humor corrosivo e sem tabus já se tinha mostrado em "Life in Hell", um cartoon que ele criou em 1977 em páginas fotocopiadas e que começou a vender para jornais em 1980, graças à notoriedade que alcançou, apesar de se mover na cena alternativa.
Foi a partir dele, aliás, que os Simpsons nasceram, diz a anedota, no quarto de hora que Groening esperou para ser recebido na Fox, original-mente com o objectivo de transformar em desenhos animados os protagonistas de "Life in Hell". Mas com medo de perder os direitos sobre as suas criações, Matt Groening remodelou-os graficamente, transformando-os naquela que é hoje, possivelmente, a mais conhecida família da TV.
Inspirado na sua experiência de vida em Los Angeles, cidade que o autor detestava, "Life in Hell" chega agora [em Julho de 2006] às livrarias portuguesas, através do seu primeiro volume - "O amor é um inferno" - no qual Matt Groening, utiliza quer cartoons, (muito) verborreicos ou completamente mudos, quer bandas desenhadas (que podem chegar às 16 vinhetas), igualmente com ou sem texto.
Através deles vai dissecando especial-mente o amor e a vida amorosa, sempre numa perspec-tiva de nos demons-trar que qualquer que seja o caminho para lá chegar, qualquer que seja o momento de lá chegar, qualquer que seja o tempo que lá se esteja, o amor - e todo o tipo de relações a ele associadas - conduz sempre, inexoravelmente, a uma vida de frustrações que se revela um autêntico inferno, do qual não há salvação possível.
Com o evoluir da série, Matt Groening vai-se soltando - quer gráfica, quer tematicamente - utilizando Sheba ou Binky, o casal de coelhos antropomórficos que protagoniza quase todo o livro, a que se juntam, por vezes, entre outros, Bongo, o filho ilegítimo de Binky, ou o próprio Groening, como um coelho com barba, para explorar diversos outros aspectos da vida dos comuns mortais: o sexo, o trabalho, as férias, as crianças, os (malditos) críticos ou a inevitabilidade da morte. Ou seja, tudo aquilo que contribui sobremaneira para infernizar a vida.
O humor desenvolvido em "The Simpsons" está já aqui, são estas as suas origens, embora talvez um pouco mais cru, menos refinado, mas já iconoclasta e irreverente, não convidando ao riso desbocado, mas obrigando a sorrir, mesmo quando o riso pode ser incómodo, por tocar nos nossos pontos sensíveis, quando nos reconhecemos na pele de Sheba ou Binky.
Graficamente, o traço de Matt Groening é rápido, simples e pouco pormenorizado - fundamentalmente ao serviço das ideias que pretende expor - mas especialmente expressivo, e os protagonistas lembram bastante os "futuros" Simpsons, nomeadamente pelos olhos arregalados e salientes e o seu aspecto "feio", quase se podendo escrever que lhes falta apenas a cor amarela para serem seus parentes afastados.

(texto publicado originalmente no Jornal de Notícias de 27 de Agosto de 2006)

21/06/2011

Le Photographe – Tomes 1 e 2


Collection Aire Libre
Emmanuel Guibert (argumento e desenho)
Didier Lefèvre (fotografias)
Frédéric Lemercier (montagem e cor)
Dupuis (Bélgica, Outubro de 2003)
240 x 320 mm, 80 p., cor, cartonado
15,95 €

20/06/2011

As Tiras Clássicas da Turma da Mônica Vol.6

Maurício de Sousa (argumento e desenho)
Panini Comics (Brasil, Dezembro de 2010)
203 x 203 mm, 130 p., pb, capa brochada
8,00 €

Depois de uma espera longa – cerca de um ano – estão de volta às bancas portuguesas As Tiras Clássicas da Turma da Mônica, com o sexto volume que compila histórias publicadas originalmente a partir de meados de 1970.
Digo-o por inferência da actualidade referida nalgumas das tiras e não porque o volume tenha indicação da data – e já agora do local – original de publicação, o que constitui um dos pontos mais negativos da edição. Essas informações – que possivelmente nem seriam assim tão difíceis de obter – seriam uma mais-valia para a edição e ajudariam a contextualizar melhor os primeiros passos nos quadradinhos de Maurício de Sousa e da sua obra na época em que foi criada.
Curiosamente, este tomo abre com uma banda desenhada premonitória, na qual Mônica exige ao criador que dê o seu nome à tira, então ainda intitulada “Cebolinha”…
Premonitórias, também – embora Maurício de Sousa e os seus leitores estivessem longe de o imaginar! - são as 2ª e 3ª tiras da página 26, relativamente ao grande acontecimento relacionado com a Turma nos últimos tempos - o namoro do Cebola e da Mônica - como pode ser comprovado no final deste texto.
Quanto ao restante conteúdo, é o humor típico de Maurício de Sousa, franco, despretensioso, acessível e divertido, brincando com as palavras, o quotidiano, as características das personagens e as situações próprias da Turma da Mônica, a actualidade e as próprias regras da banda desenhada, em que se descobrem os originais de algumas piadas muitas vezes exploradas e reinventadas e as bases de um sucesso hoje por todos reconhecido, que então dava os primeiros passos.
E onde se aprende também quão perigosos eram aqueles tempos, tantas vezes choviam cofres, tantas vezes havia choques... de personagens com árvores! Embora, reconheça-se, o desfecho seja sempre diferente.
O que, curiosamente, já não acontece noutros casos: 3ª tira da página 19/1ª tira da página 25; 1ª tira da página 31/2ª tira da página 120; 3ª tira da página 45/2º tira da página 79, em que apenas o cenário envolvente muda, sendo a situação e a piada exactamente a mesma… Reflexo, sem dúvida, da pressão exercida pela necessidade da publicação diária.
Graficamente – e até comparando com os volumes anteriores – veja-se como o Cebolinha, a Mônica e o Cascão vão evoluindo, a caminho da imagem que hoje lhes (re)conhecemos, e, também, como Maurício (já) geria bem o espaço, reduzindo ao mínimo os pormenores de cenário ou os adereços, para evitar distrair o leitor do essencial, aprimorando a legibilidade imediata das imagens e a eficácia dos gags, muitas vezes mudos.

19/06/2011

CBD 2011 (I)

1ªs Conferências de Banda Desenhada
Direcção: Pedro Vieira de Moura
Organização: Wake Up!
Local: Instituto Francês em Portugal
Data: 22 e 23 de Setembro de 2011
Patrocínio Institucional: Instituto Francês em Portugal
Apoio: ESAP-Guimarães, IPCA, Bedeteca de Lisboa/Rede Municipal de Bibliotecas de Lisboa, Bedeteca de Beja, CNDBI/Câmara Municipal da Amadora, Ar.Co

A CBD, procurando responder aos desafios cada vez mais prementes de uma investigação consolidada em torno da banda desenhada e de outras áreas que lhe estão intrinsecamente associadas (a ilustração, a caricatura, o cartoon editorial, etc.), que se nota de forma mais ou menos descentrada em vários centros de investigação no país, vem constituir-se como fórum de encontro e troca de perspectivas sobre essa mesma área.
O seu objectivo é reunir, numa série de apresentações organizadas e públicas, quer os vários investigadores que têm dedicado tempo útil a estas áreas quer novos intervenientes que possam contribuir com novas perspectivas e atitudes sobre as mesmas. A banda desenhada, a ilustração, a caricatura, são modos de expressão e formas de arte tão dignas como todas as outras socialmente reconhecidas, e merecem uma abordagem e reflexão de contornos académicos, intelectuais, de profunda e acertada pertinência. A CBD pretende abrir um espaço em que se torne realidade esse ponto, a um só tempo, de encontro e de partida.
Estão abertas as inscrições a todos aqueles que desejem apresentar uma comunicação em torno destes objectos artísticos. Não há quaisquer restrições de tipo académico, sendo possível a qualquer pessoa, independentemente do seu grau académico, apresentar a sua proposta, assim como de qualquer área (história, sociologia, estética, estudos literários e/ou artísticos, estudos culturais, feministas, semióticos, pós-coloniais, etc.). Os temas são totalmente livres, não se fazendo qualquer restrição, ainda que seja desejável procurar uma maior incidência em matérias relacionadas com a produção portuguesa ou de expressão portuguesa. As regras específicas da participação encontram-se mais adiante.
Todas as propostas serão lidas por uma Comissão de Apreciação, cuja constituição se indica abaixo.
A Comissão reserva-se ao direito de declinar propostas, no caso de estas não cumprirem regras mínimas de clareza, pertinência e metodologia na abordagem dos temas propostos, à semelhança do procedimento habitual na selecção de comunicações para qualquer congresso ou conferência. No caso das propostas aceites, os autores deverão fazer a sua inscrição completa, preenchendo uma ficha própria electrónica (a providenciar após selecção).

Regras de participação
1. As propostas devem ser apresentadas num documento Word (extensão .doc ou equivalentes), de uma página, com um breve resumo do tema e/ou investigação a apresentar (num máximo de 1000 palavras), assim como da bibliografia, quer primária quer secundária.
2. Todas as propostas deverão ser enviadas até 1 de Julho de 2011 para o seguinte endereço electrónico: bd@wakeup.com.pt. O processo de selecção será feito no espaço de duas semanas.
3. Após o processo de apreciação e publicitação dos resultados (com aviso aos participantes), as comunicações aprovadas deverão ser enviadas numa versão completa e publicável (para publicação das Actas), até dia 1 de Setembro de 2011. Atenção: a não-entrega destes textos poderá implicar a eliminação do painel de apresentações públicas.
4. Todas as comunicações devem ser elaboradas num quadro de apresentação pública de 15 a 20 minutos, não sendo necessário que a apresentação se cinja à leitura da comunicação escrita. As versões escritas podem conter anexos textuais e/ou de imagem adicionais à apresentação pública, devendo os participantes comunicar à organização quaisquer necessidades técnicas especiais com antecedência (contemplar-se-á equipamento para projecção de imagens, PowerPoints, DVDs, ficheiros sonoros, entre outros).
5. As sessões de apresentação e discussão públicas terão lugar durante a CBD 2011, no Instituto França em Portugal, nos dias 22 e 23 de Setembro. Outros pormenores da sua organização serão divulgados atempadamente.
6. Após as sessões de apresentação e discussão públicas, os autores terão até dia 28 de Outubro de 2011 para proceder a quaisquer alterações que desejem nas suas versões a publicar no livro de actas (caso contrário, será publicada a versão entregue anteriormente).
7. Prevê-se a edição de todas as comunicações nas Actas da CBDP até início de 2012 (pormenores em relação a esta edição serão divulgados atempadamente).

Comissão de Apreciação
Professora Doutora Maria Cristina Álvares, docente na Universidade do Minho, nvestigadora de Literatura Francesa.
Dr. João Paiva Boléo, Director da Biblioteca do Centro de Estudos Fiscais, investigador da história da banda desenhada portuguesa e editor e comissário de variadíssimos projectos em Portugal relacionados com a banda desenhada .
Pintor Fernando Brito, artista plástico e autor de banda desenhada.
Mestre Sara Figueiredo Costa, de Estudos Filológicos, crítica literária e de banda desenhada, e investigadora de banda desenhada e ilustração.
Mestre Alexandra Dias, Doutoranda em Literaturas e culturas românicas - variante de estética literária, com uma tese de Mestrado sobre a transposição intersemiótica em banda desenhada, e docente na Universidade do Porto.
Mestre Pedro Vieira de Moura, candidato a Doutoramento em Literatura Comparada, crítico, professor e investigador de banda desenhada, com vários projectos em torno dessa arte.

(Texto da responsabilidade da organização)

18/06/2011

Canivete Esquisito na Mundo Fantasma

Data: 18 de Junho a 10 de Julho de 2011Local: Galeria Mundo Fantasma, loja 510, Centro Comercial Brasília, Porto
Horário: de 2ª a sábado, das 10h às 20h: Domingos e feriados, das 15h às 19h

Abre hoje ao público, pelas 17H00, a exposição CANIVETE ESQUISITO no extraordinário equilíbrio dos Finalistas do Curso de Licencuiatura em Artes/Banda Desenhada/Ilustração da Escola Superior Artística do Porto – Guimarães, com a presença dos autores.
Mariana Teixeira (Porto, 1988), Rui Teixeira (Vila Nova de Gaia, 1987), Adriano Silva (Paços de Ferreira, 1990)
Pedro Costa, (Vila Nova de Gaia, 1983), David Dias (Paços de Ferreira, 1990), Fábio Moura (Paços de Ferreira, 1989)
Hugo Silva (Póvoa de Varzim, 1990), Vânia de Magalhães (Lisboa, 1989), Cláudia Loureiro (Aveiro, 1989)
Pedro Barros (Coimbra, 1988), Diana Carvalho (Porto, 1990)
Cada um de nós, autores dos trabalhos aqui expostos, é uma peça de um canivete que se decidiu chamar esquisito para melhor ilustrar o todo heterogéneo que se compôs das nossas singularidades.
A forte convivência durante os três anos do curso aproximou-nos e muitas foram as descobertas que fizemos em conjunto, mas chegados a este ponto, sentimos que está na altura de seguirmos a nossa própria direcção.
Assim como apenas do conhecimento e exploração de cada peça por si mesma se faz justiça ao canivete.
A individualidade pode fazer de nós autores, mas é em colectivo que atingimos um perfeito equilíbrio.

Mudar de Pele
É sempre curioso ver uma exposição de finalistas, seja de que curso for. É um pouco como encontrar uma pele de cobra na estrada, quando se é criança, ou se habita na cidade. A estranheza do achado leva-nos a permanecer ali um bom bocado, de cócoras, pensativos. Depois erguemo-nos e mais pensativos ainda olhamos em redor, imaginando o paradeiro da cobra e a sua nova pele. Como será ela? Terá novas cores, certamente…
Lembro-me de ficar extremamente ansioso enquanto estudante, quando pensava no meu futuro. Matriculei-me em Design de Comunicação (artes gráficas) e cedo percebi que não me interessava muito trabalhar nessa área, fugindo todo o meu interesse para aquilo que na altura seria mais um vício do que uma actividade séria ou viável, a banda desenhada. Ora se as oportunidades de trabalho para um designer na altura já não eram famosas, quanto mais para um autor de bd, ainda por cima medíocre, pensava eu.
Acabei o curso e a solução mais lógica, simples, racional, inclusivamente aconselhada por familiares e amigos, foi a que tomei, a de ir dar aulas para o ensino básico. Um emprego que me permitia ter algum tempo para me dedicar ao meu “vício”, pois que era disso que se tratava. Vivi durante dois anos no Ribatejo profundo, num isolamento quase total, em que as únicas pessoas que via durante a semana eram os alunos na escola, e alguns colegas menos furtivos com quem por vezes me cruzava, nos corredores. Nestas condições naturalmente intensifiquei o meu fascínio pela banda desenhada, que funcionava como um escape para uma realidade tremendamente monótona (e até repressiva, sob vários aspectos que não importa agora referir). Passava o tempo nas aulas desejoso de regressar a casa e desenhar. Praticamente todos os fins-de-semana ia a Lisboa com o exclusivo propósito de comprar mais livros. Assim gastava parte substancial do meu ordenado, só para me sentir vivo.
Ao fim desses dois anos despedi-me, voltei ao Porto e envolvi-me com o máximo de pessoas que partilhavam do meu interesse pelo médium, e com as quais me identificava em vários níveis. Voltei a viver de forma algo precária, fazendo biscates para poder estar junto das pessoas com quem queria trabalhar, em inúmeros projectos artísticos\editoriais. Como é óbvio nenhum deles deu algum dinheiro, mas recebia sempre uma enorme satisfação pessoal, e aos poucos sentia que ia evoluindo enquanto autor, tornando-me mais versátil, experiente, descobrindo a minha voz…
Ao mesmo tempo as pessoas em geral iam reparando na insistência com que nós apresentávamos trabalho, na nossa perseverança. Quanto mais não fosse, só por causa disso começámos a ficar mais conhecidos, no meio e não só, o que abriu imensas portas, alimentando o nosso entusiasmo...
Conclusão: Hoje sei que não vale a pena dar conselhos a ninguém, nem tão pouco fazer grandes planos. E também sei que ninguém foge por muito tempo à sua natureza. Sorte é o que vos desejo a todos.
Um grande abraço, (e não voltem a chamar-me professor!)
Marco Mendes

(Texto da responsabilidade da organização)

17/06/2011

Dragon Ball

#9 - Baba, a vidente
#10 - O 22º Grande Torneio
Akira Toriyama (argumento e desenho)
ASA (Portugal, Maio de 2011)
120 x 180 mm, 192 p., pb, brochado
9,60 €

1. Dez livros depois, volto a Dragon Ball.
2. Se não convertido, pelo menos esclarecido e convencido.
3. E, por que não dizê-lo, também divertido.
4. Esclarecido quanto às qualidades que fizeram de Dragon Ball um êxito:
5. Um ritmo alucinante, reforçado pela planificação diversificada e dinâmica, pelo uso recorrente de linhas de movimento e pela constante mudança de pontos de vista;
6. Um desenho simples, mas extremamente eficaz, simpático, agradável e divertido;
7. Um argumento que, se bem que sempre assente nos mesmos dois vectores – a procura das bolas de dragão para concretizar um desejo, cuja segunda “saga” conclui no tomo #10, e constantes combates, sendo que naquele tomo se inicia mais um grande torneio – consegue ir inovando a constante repetição de situações, ao mesmo tempo que combina de forma equilibrada a componente acção, com as componentes surpresa e humor;
8. Um herói simpático – Son Goku – a um tempo simples e ingénuo – quase um pouco parolo até – mas também decidido, bom, de coração puro e movido apenas pela amizade e o desejo de ajudar os seus amigos, conseguindo assim grandes feitos.
9. Convencido, depois, pela forma como esta “receita” continua a funcionar mais de 1500 pranchas depois, sem cansaço evidente.
10. E, por tudo o que atrás fica escrito, divertido. Porque, é dessa forma, que tenho terminado a leitura de cada volume.
11. Sem deixar de esclarecer que Dragon Ball não é uma daquelas obras-primas incontornáveis na história da BD, não me custa nada reconhecer que é uma obra muito eficaz, com tudo para agradar a quem procura uma leitura que disponha bem, independentemente da idade…
12. … e com mais ainda para funcionar junto das camadas etárias mais novas.
13. Uma palavra final para assinalar o cumprimento da periodicidade mensal por parte da ASA o que, podendo parecer menor a alguns, é algo que não tem acontecido muitas vezes na edição da BD em Portugal.
14. E que, acredito, será um factor fundamental para transformar Dragon Ball no êxito comercial que a editora com certeza espera. A obra tem tudo para isso.

16/06/2011

Leituras Novas

Junho 2011

ASA
Tintin na América
(Edição Fac-similada)
Hergé (argumento e desenho)
Tintin parte para a América durante o período da lei seca. Em Chicago é raptado por gangsters, cujo chefe é Al Capone, que o consideram perigoso. Após escapar e ser de novo perseguido, acaba por encontrar os peles-vermelhas…

As Águias de Roma - Livro 2
Marini (argumento e desenho)
Marco Valério Falco e Ermanamer tiverem o mesmo treino e foram submetidos a uma disciplina de ferro. Ao longo das provas, os dois jovens começam por defrontar-se e acabam por se tornar amigos. Descobrem a embriaguez das armas e o prazer dos sentidos, acabando por misturar os seus sangues para selar um pacto de fraternidade eterna.

Corto Maltese - Longínquas Ilhas do Vento
Hugo Pratt (argumento e desenho)
Corto Maltese está nas Caraíbas, navegando de ilha em ilha, ao sabor do vento e dos seus caprichos. Mas tal como um sonho que se transforma em pesadelo, este cruzeiro paradisíaco na companhia do professor Steiner vai complicar-se extraordinariamente. Assim, o nosso marinheiro cruzar-se-á com uma perigosa aventureira, uma jovem acusada da prática de vodu e índios encolhedores de cabeças. E Corto, como sempre, no local errado e à hora errada, terá dificuldades em salvar a sua pele e a dos seus amigos.

Corto Maltese – Sob a Bandeira dos Piratas
Hugo Pratt (argumento e desenho)
Corto Maltese, um pirata? Chamemos-lhe antes o último cavalheiro da fortuna, com todas as características do salteador de estradas e do marinheiro romântico. Mas Corto é também e, sobretudo, um aventureiro sem medo nem escrúpulos. Vive numa liberdade frágil e absoluta, na busca impossível de tesouros que se eclipsam uma vez alcançados. Tal como o ouro de Santo. Tal como a mulher dos seus sonhos. Tal como um punhado de areia na água.

Os Campistas
Swinnen e Dugomie e Maltaite
Com «Os Campistas», relembrem as alegrias da comunhão com a natureza, da tenda que levanta voo à mínima rajada de vento e a promiscuidade depois do aperitivo… Resumindo, é a vossa vez de rir a bom rir!
Quer sejam adeptos da clássica canadiana, da caravana toda equipada ou da auto-caravana de difícil manobra, nada poderá diminuir o entusiasmo desses nómadas modernos - nem mesmo os sanitários colectivos de se torcer o nariz; o que conta é trabalhar para o bronze à beira da piscina ou rebolar-se no baile com umas estrangeiras de perder a cabeça (ou ir mais longe, se a coisa se proporcionar).
Se, mal surgem uns dias de calor, os seus pés não conseguem resistir às havaianas, se acha que convívio rima com veraneantes bronzeados ou se quando o seu cão ladra, a caravana passa, então, não procure mais: leia «Os Campistas» e terá verão todos os dias!

Os Funcionários
Bloz e Béka
Uma grande vaga de entradas na reforma desabou sobre a nossa administração. Os futuros reformados nunca andaram tão atarefados! Com efeito, organizar uma festa de despedida não é tão simples como pensam! Nem mesmo o nosso sindicalista sabe a quantas anda. Poder de compra, crise, serviço mínimo, aumento do preço da bica… as razões para haver manifestações, multiplicam-se enquanto se esgotam os cartazes! Acompanhem os nossos funcionários nestes gags cheios de humor! Um álbum de que o público não se deve privar!

Dragon Ball #10 - = 22º Grande Torneio
Akira Toriyama (argumento e desenho)
Graças à ajuda de Baba, a vidente, Son Goku sabe agora onde se encontra a última bola de cristal: está em poder de alguém que ele conhece muito bem… Depois de algumas peripécias mais cómicas do que perigosas, Son Goku vai finalmente conseguir dar vida ao pai de Upa. Os meses passam e um novo torneio vai começar!

YU-GI-OH!5 – O Terror do “Blue Eyes”!
Kasuki Takahashi (argumento e desenho)
Quando Yugi derrotou o seu colega Seto Kaiba no jogo de cartas coleccionáveis “Duelo de Monstros”, não sabia até onde Kaiba iria para se conseguir vingar! Este super-génio louco gastou $85 milhões para construir um Parque de Diversões da Morte com o intuito de torturar Yugi e os seus amigos, desenvolvendo armadilhas mortais e contratando assassinos com motosserras como adversários de jogo!
Yugi, Jonouchi e Anzu chegaram praticamente ao fim do jogo – mas o seu amigo Honda, preso na “Sala dos blocos que caem do Céu”, não teve tanta sorte...

Lucky Luke #57 - Subindo o Mississípi
Goscinny (argumento) e Morris (desenho)
Num altura em que os negócios são difíceis, os capitães Barrows e Lowriver disputam o monopólio da circulação no rio Mississípi. Decidem efectuar uma corrida e apostam que ficará com o negócio quem conseguir chegar primeiro. Barrows, que teme sabotagens, pede a Lucky Luke que o acompanhe a bordo do “Daisy Belle”, mas os trapaceiros contratados por Lowriver também estão a bordo…


Gradiva
Zits - Não te Ponhas Com Essa Cara!
Jerry Scott (argumento) e Jim Borgman (desenho)
As personagens dispensam apresentações. As peripécias e o humor também. Mais um álbum
da famosa série Zits, dos autores que conhecem como ninguém os meandros da cultura dos adolescentes e das conturbadas relações entre os pais e os filhos «naquela idade».
Gargalhadas garantidas.
Zits de Jerry Scott e Jim Borgman já foram publicados em mais de 1500 jornais internacionais e estão agora disponíveis em livros traduzidos em várias línguas. O humor subtil e, tantas vezes, corrosivo dos autores retrata bem o conflito de gerações entre pais, que viveram numa outra conjuntura histórica, e filhos que vivem na conjuntura da Globalização das novas tecnologias e do consumo desenfreado. A forma sarcástica como o protagonista, Jeremy, é representado faz-nos, muitas vezes, compreender com boa disposição as angústias e as indecisões de muitos adolescentes e os constantes conflitos com os seus pais. A falta de comunicação é-nos apresentada como um dos problemas que subjaz a estas situações de corrente conflitualidade parental.

Planeta Júnior
Geronimo Stilton - A Grande Era Glacial
Geronimo Stilton é o director do Eco dos Roedores, o jornal mais famoso da Ilha dos Ratos.
Nos seus tempos livres adora contar histórias alegres e divertidas.
Numa tentativa de impedir que os Gatos Piratas mudem o rumo da história, Geronimo vai encontrar-se numa terra rodeada de gelo por todos os lados, entre enormes mamutes, ferozes tigres-dentes-de-sabre e curiosos povos primitivos.
Conseguirá sobreviver à grande era glacial?

(Textos da responsabilidade das editoras)

15/06/2011

Zagor, 50 anos

Há exactamente 50 anos, era publicado em Itália o primeiro número de Zagor, uma criação de Guido Nolitta, aliás Sergio Bonelli, que adoptou aquele pseudónimo para se distinguir do seu pai Giovanni Luigi Bonelli, o “inventor” dos quadradinhos populares italianos.
Ao seu lado, no desenho, estava Gallieno Ferri que escolheu o actor Robert Taylor como modelo, definiu o grafismo da série e foi também responsável pelas capas da revista durante vários anos, para além de ter desenhado mais de 200 histórias da personagem. Depois deles, como é normal na Sergio Bonelli Editore, Zagor já passou pelas mãos de diversos outros criadores entre os quais Giovanni Luigi Bonelli, Mauro Boselli, Alfredo Castelli, Decio Canzio, Tiziani Sclavi, Marcello Tonitelli, Ade Capone ou Moreno Burattini (nos argumentos) e Franco Donatelli, Francesco Gamba, Franco Bignotti, Pini Segna ou Marco Torricelli.
Zagor – que esteve para se chamar Ajax, não fosse esse já o nome de um detergente! - era mais um western que se vinha juntar ao catálogo da editora Bonelli, embora de características diversas de Tex a sua série de referência. O protagonista é Za-gor-te-nay (o que em dialecto algonquino significa “o espírito da machadinha”, nome que recebeu por utilizar como principal arma um pequeno machado. Branco, jovem, ágil e com extraordinário reflexos, bem sucedido junto do belo sexo, vive na zona pantanosa de Darkwood, situada na região dos Grandes Lagos no nordeste dos Estados Unidos e é considerado imortal e invencível pelos índios. Zagor luta pela justiça e pela verdade sempre ao lado dos mais fracos, em aventuras movimentadas recheadas de acção e com um toque de humor dado pelo seu companheiro habitual, o mexicano Chico, gordo, desajeitado e trapalhão, embora pontualmente, a ficção-científica, o mistério e o horror também marquem presença.
Entre os seus principais inimigos contam-se Hellingen, Kandrax ou Mortimer.
Originalmente publicado em Itália no formato conhecido como “livro de cheques”, com apenas uma tira por página, rapidamente passou ao formato padrão (160x210 mm, a preto e branco e com preço acessível) da Bonelli, tendo, na sua época áurea, os anos 1970, vendido mais de 220 mil exemplares mensalmente. Actualmente as suas vendas rondam os 40 000 exemplares.
Em Itália, este primeiro meio século de vida fica assinalado por diversas edições especiais: o primeiro Zagor gigante (Zagorone), de Moreno Burattini e Marco Torricelli, em Maio último, a publicação a cores do Zagor #551 e de um livro-entrevista com Sergio Bonelli, assinado por Moreno Burattini e Graziano Romani, publicado pela Coniglio Editore, ambos este mês de Junho, e "Os Muros de Jericó" (Cartoon Club), um volume sobre o trajecto de Zagor, da autoria de Moreno Burattini, a ser lançado em Julho, mês em que no título regular se inicia uma longa saga que durará cerca de dois anos e meio e que levará Zagor até à América do Sul.
Estão igualmente previstas diversas exposições comemorativas da efeméride em Godega (3 a 5 Junho), Parma (11 e 12 Junho), Zagabria (16 a 18 Junho), Raiano (9 e 10 Julho), Rimini Comix, (22 a 24 Julho) e Città di Castello (24 Setembro).
No Brasil, Zagor estreou-se em 1978 com o selo da Vecchi,no formato que ainda hoje a Mythos utiliza. Depois italiano e sempre com histórias completas, tendo depois passado pela Rio Gráfica, a Globo e a Record,nesta última no formato italiano e com histórias completas, antes de o título ser assumido pela Mythos Editora, que anunciou para Agosto o lançamento do Zagor gigante #1 e tem agendada para 2012 a publicação do Zagor colorido e da saga com a viagem à América do Sul.
No nosso país, Zagor estreou-se em 1978 numa edição da Portugal Press não autorizada pela casa mãe Bonelli, que duraria apenas 16 números.


Depois, em meados da década de 1980, Zagor tornou-se presença regular nas bancas e quiosques através das edições que mensalmente chegam do Brasil. Actualmente a Mythos disponibiliza três títulos com as suas aventuras: Zagor, Zagor Extra e Zagor Especial.
A título de curiosidade refira-se que para além de Itália e do Brasil, Zagor é também publicado na Turquia (por duas editoras diferentes!), Macedónia, Eslovénia, Sérvia, Croácia e Bósnia-Herzegovina.


(Este texto, escrito com a preciosa e inestimável colaboração de José Carlos Pereira Francisco, responsável pelo Tex Willer Blog, é uma versão revista e aumentada da versão publicada no Jornal de Notícias de 15 de Junho de 2011)

14/06/2011

John Carter: A Princess of Mars

A nova mini-série de Filipe Andrade para a Marvel
O português Filipe Andrade assinou contrato com a Marvel, para desenhar uma nova mini-série, desta vez uma adaptação das aventuras de John Carter de Marte, um herói criado há um século por Edgar Rice Burroughs (1875-1950), também criador de Tarzan.
Intitulada “John Carter: A Princesse of Mars” terá cinco números, o primeiro dos quais está previsto para o próximo mês de Setembro. A adaptação do romance de Burroughs está a cargo de Roger Langridge, sendo as capas da autoria de Skottie Young. Filipe Andrade, para além do desenho fará também capas variantes.
Recorde-se que depois de alguns trabalhos soltos, Andrade foi o primeiro português a desenhar uma mini-série para a Marvel, no caso “Onslaught Unleashed”, protagonizado, entre outros, pelo Capitão América, e cujo quarto e último número acaba de chegar às livrarias especializadas nacionais.
Um trabalho cujo número de vendas parece ser bom uma vez que até vai sair compilado em capa dura já em Julho” revelou o autor ao Jornal de Notícias. E acrescenta “Quando estive em Miami (na Wizard Comiccon) e em Londres (Kapow) o feedback foi muito bom, houve muito boas reacções”. No entanto, leu “também que havia muita gente a não gostar do meu estilo mais angular e até tive uma critica em formato video no Youtube. As reacções negativas sinceramente não me surpreenderam porque o meu desenho não se enquadrava nas formas dos anteriores Onslaughts. De qualquer forma fiquei espantado com o numero de vendas e criticas positivas”.
Relativamente a esta nova mini-série, implica a saída do género de super-heróis, algo que Andrade não procurou mas que reconhece que “veio em boa hora. Fazer o Onslaught foi um processo muito desgastante a todos os níveis. Eu e o Ricardo Tércio, o colorista, andávamos sempre a mil e o facto de não ser o meu género de ambientes mais cansativo se tornou. Esta história tem um universo completamente diferente e ainda mais desafiante, onde acho que posso evoluir muito como artista”.
John Carter de Marte nasceu em 1911 no romance “A Princess of Mars” e protagonizaria onze aventuras, sendo uma personagem que Andrade desconhecia: “Do E. R. Burroughs só conhecia o Tarzan, mas assim que fiz uma pesquisa rápida percebi no que me estava a meter. Facto comprovado também em conversa com os meus amigos. A história ainda não está finalizada e só li o primeiro rascunho, portanto ainda não posso adiantar mais nada”. Graficamente, o desenhador teve que fazer “designs que tiveram de ser aprovados. O ambiente extraterrestre é algo que nunca explorei ainda para mais tendo em conta que foi criado no inicio do século XX onde estes eram super exagerados. Mas acho que saiu bem pois foi tudo aprovado, pela Disney, pela ERB Foundation e pela Marvel”.
Ex-soldado da Guerra Civil norte-americana, John Carter, ao fugir de um grupo de índios, entra numa caverna onde desmaia, acordando mais tarde no planeta Marte, onde descobre que a baixa gravidade lhe proporciona uma enorme agilidade e força. Aí encontra estranhos habitantes, como os tharks, gigantes verdes com dois pares de braços, ou a bela princesa Dejah Thoris com quem acabará por casar.
As aventuras de John Carter foram por diversas vezes adaptadas em BD desde 1939, sendo que uma versão de 1972, da autoria de Murphy Anderson, foi publicada em português, primeiro no “Mundo de Aventuras” e, mais tarde, em álbum, pela Agência Portuguesa de Revistas.
Esta nova versão, de alguma forma vem preparar caminho para o filme realizado por Andrew Stanton que a Disney/Pixar tem anunciado para 2012, protagonizado por Taylor Kitsch, Bryan Cranston, Williem Dafoe e Lynn Collins. Apesar disso, Filipe Andrade afirma ter “total liberdade criativa em termos de visual e isso é um bónus a juntar a todo este projecto já de si maravilhoso”.





(Versão revista e aumentada do texto publicado no Jornal de Notícias de 13 de Junho de 2011)
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