A ASA em
parceria com o jornal Público vai começar na próxima semana uma nova colecção
de banda desenhada dedicada a Thorgal. Publicada semanalmente à quarta-feira,
terá no total 16 álbuns de capa dura, todos inéditos em português,
correspondentes aos volumes 14 a 29 da série original.
O primeiro
custará 4,90 €., sendo o preço dos restantes 7,90 €. Os títulos anunciados são
os seguintes:
Aarícia
O Senhor das Montanhas
Loba
A Guardiã das Chaves
A Espada-Sol
A Fortaleza Invisível
A Marca dos Banidos
A Coroa de Ogotaï
Gigantes
A Jaula
Aracnéa
A Peste Azul
O Reino sob a Areia
O Bárbaro
Kriss de Valnor
O Sacrifício
Thorgal, que há poucos dias completou 35 anos, pois a sua estreia deu-se a
22 de Março de 1977, no Tintin belga, é um dos maiores sucessos da banda
desenhada de aventuras francófona, cujos efeitos se fazem sentir até hoje.
Apesar de aparentemente ambientada no tempo dos vickings – recriado de
forma bem credível – em Thorgal há alguns traços distintivos que o afastam dos
cânones tradicionais daquele género.
Desde logo pelo seu tom fantástico. Último sobrevivente de uma antiga
civilização terrestre que um dia partiu para as estrelas, regressando mais
tarde ao nosso planeta, Thorgal Aergisson, nas aventuras iniciais, a par da sua
vida entre os vickings que o acolheram em bebé, encontra os seus compatriotas,
o que confere à série um interessante tom anacrónico.
Depois, há nesta banda desenhada um marcante tom místico, com o
protagonista a visitar mundos estranhos e outras dimensões, incluindo o reino
da morte e o lar dos deuses.
Isto não diminui, pelo contrário, o tom aventuroso, a acção a rodos e a
adrenalina sempre em alta, com desfechos inesperados e acontecimentos muito
marcantes – incluindo a morte de protagonistas e um longo período em que
Thorgal perde a memória e assume uma identidade completamente díspar – que
surpreendem e abalam o leitor.
Por outro lado, em contraste com tudo isto, Thorgal, apesar de ser um
guerreiro extraordinário, prefere uma pacata vida familiar, tentando evitar a
acção e os problemas que constantemente vêm à sua procura. Por isso, ao longo
dos álbuns, casa com Aarícia, envelhece, tem três filhos – Jolan, Louve e Aniel
que, devido à origem extraterrestre do pai têm alguns poderes extraordinários -
que vão assumindo parte do protagonismo, evocando, de alguma forma, com as
muitas diferenças que facilmente se reconhecem, uma outra grande saga dos
quadradinhos, o Príncipe Valente.
Criação de Jean van Hamme, sem dúvida um dos melhores, mais originais e
inventivos argumentistas que a banda desenhada francófona de aventuras
conheceu, as aventuras de Thorgal estão divididas por ciclos que, se não são
estanques, permitem a leitura independente, sem necessidade de conhecer os
restantes.
Graficamente, a evolução de Rosinski é notável. Depois de um início num
registo semi-caricatural, servido por um colorido algo psicadélico,
progressivamente o traço torna-se cada vez mais realista ao mesmo tempo que é
apurado o trabalho de cor, que se torna cada vez mais importante na definição
dos ambientes. A mudança é marcante a partir do quinto álbum, “Au-delà des
ombres”, excedendo-se Rosinski sucessivamente num virtuosismo incomparável, que
terá o seu auge, numa fase posterior, quando passa a realizar os álbuns numa
técnica de cor directa.
Em
Portugal, Thorgal estreou-se na revista Tintin #1301, a 17 de Maio de 1980, com
o episódio “A feiticeira traída”. Regressaria a esta revista perto do final desse
ano com “A ilha dos mares gelados” (#1321), que curiosamente o “Mundo de
Aventuras” #362 publicara a preto e branco um mês antes! “Quase o paraíso”
(#1503), já publicado no Mundo de Aventuras (#387) foi a terceira e última
presença de Thorgal no Tintin, enquanto aquela outra revista apresentou aos
leitores portugueses, sucessivamente, até 1984, diversos episódios curtos e
longos: “Os três velhos do país de Aran” (#430), “A galera negra” (#458), “O drakkar
perdido” (#504), “O Talismã” (#529) e “Para além das sombras” (#540). No que a
publicações periódicas diz respeito, o herói haveria de passar ainda pelas
páginas das Selecções BD (2ª série), em 1999/2000, onde foram publicadas três
histórias curtas: “As lágrimas de Tjahzi” (#6), “A montanha de Odin” (#12) e
“Primeiras neves” (#26).
Em álbum, a
vida deste filho das estrelas em terras portuguesas foi também algo atribulada.
O episódio inaugural, “A feiticeira traída”, foi editado pela Bertrand, em
1983. Seguiu-se a Futura, com “A ilha dos mares gelados” (1988) e “Os três
velhos do país de Aran” (#1989).
Já este
século, a ASA lançou sucessivamente “O filho das estrelas” (2002), “Alinoë”
(2003), “Os arqueiros”(2005) e “O país Qâ” (2006). Os dois primeiros títulos
editados pela ASA seriam reunidos num único volume, em 2008, no número
inaugural da colecção “Grandes autores de BD”, lançada em parceria com o jornal
Público.
Após o
término da colecção agora anunciada, ficarão inéditos em Portugal os tomos #4 (“A
galera negra”, distribuído entre nós na edição brasileira da VHD diffusion, nos
anos 90) a #6 e #11 a #13, sendo que a ASA prevê editar os três últimos até
meados de 2013.
Por editar,
claro está, ficarão também os tomos 30 a 33, escritos por Yves Sente, que
substituiu Van Hamme quando este decidiu abandonar a série, nos quais o
protagonismo é partilhado entre Jolan e Thorgal.
De fora
ficam igualmente as séries derivadas genericamente intituladas “Les Mondes de
Thorgal”, onde já foram publicados dois volumes protagonizados por Kriss de
Valnor, uma das grandes inimigas de Thorgal, da autoria de Yves Sente e Giulio
De Vita, e um com as aventuras de Louve, a filha de Thorgal e Aarícia, por Yann
et Surzhenko.