30/08/2012

O Hobbit

 
 
 
 
 
 
 
  
Baseado na obra homónima de J. R. R. Tolkien
Charles Dixon e Sean Deming (argumento)
David Wenzel (desenho)
Devir (Portugal, Agosto de 2012)
195 x 285 mm, 140 p., cor, cartonado
24,99 €
 
 
A propósito da recente reedição por parte da Devir da adaptação em banda desenhada de “O Hobbit”, recordo o texto que escrevi no Jornal de Notícias, a propósito da primeira edição portuguesa desta obra, em 2002, intitulado “Adaptações(1)”. 
 
Uma adaptação, para ser conseguida, tem, a meu ver, que cumprir dois requisitos: ser fiel ao original e funcionar de forma autónoma, consistente e credível na nova forma narrativa à qual foi adaptada. Isto porque cada género narrativo – literatura, banda desenhada, cinema de animação, cinema – tem características e regras próprias que importa seguir.
Na maior parte dos casos, as adaptações originam obras inferiores às originais, podendo surgir excepções quando a adaptação, mais do que seguir ao detalhe o seu modelo, se mantém fiel ao seu espírito, mas recria-o totalmente de acordo com as características inerentes à nova forma narrativa adoptada. Foi isto que foi ignorado durante muitos anos, nas transposições da literatura para a banda desenhada (as mais comuns), resultando daí romances (mal) ilustrados, nalguns casos com a transposição integral do texto original sob as ilustrações, numa prática que demonstra claramente ignorância acerca da forma narrativa escolhida.
 
Toda esta introdução vem a propósito do recente lançamento de “Bilbo, o Hobbit” (Devir) que se baseia na obra homónima de J. R. R. Tolkien, que serve de prelúdio à trilogia “O senhor dos anéis”.
Contando mais de 60 anos, mantém uma frescura invejável, graças à coerência e à riqueza do mundo imaginado por Tolkien, e conta como o pequeno Bilbo é convencido pelo feiticeiro Gandalf a acompanhar um bando de anões na busca de um mítico tesouro, o que o levará a ter de enfrentar um terrível dragão. E mais do que um tesouro, o hobbit que protagoniza a história acaba por se descobrir a si mesmo, após uma busca iniciática em que descobre facetas e capacidades que ignorava possuir.
A adaptação, assinada por Charles Dixon, atinge bons momentos quando se consegue libertar do texto original e funcionar como uma verdadeira banda desenhada. Quando isso não acontece, se a trama ganha em densidade, perde em ritmo narrativo e afasta-se das características próprias de uma BD.
Os desenhos, num estilo realista que combina técnicas clássicas de desenho e aguarela, são de David Wenzel e devem ter servido de referência a Peter Jackson para a recente adaptação cinematográfica de “O senhor dos anéis”, dada a semelhança entre os personagens comuns às duas obras.
 
(Texto publicado originalmente no Jornal de Notícias de 12 de Junho de 2002)

29/08/2012

Leituras Novas

Agosto de 2012
 
ASA
Os Piratas do Deserto
Fernando Santos Costa
Nos fins do século XIX, o coronel Flatters realizou uma expedição ao norte de África para fazer estudos dos caminhos de ferro, tendo esta sido dizimada pelos bandidos do deserto. Desconhecendo-se o que terá acontecido ao coronel, o Marquês de Sartena, um corso de temperamento aventureiro, vai organizar uma caravana com o fim de descobrir o seu paradeiro. Para concretizar o seu objectivo terá de atravessar o deserto do Sara e passar por muitas peripécias recheadas de combates extraordinários, tempestades de areia e muitas outras aventuras empolgantes, onde também não faltam traições e paixões...
 
O Paraíso Terrestre/Jerusalém de África
Joann Sfar
O Paraíso Terrestre
Durante uma viagem a Oran, o gato acompanha o Malka dos Leões na sua marcha pelo deserto. Nesta viagem, participam também o velho leão que acompanha o Malka há já trinta anos. Ao gato e ao leão junta-se ainda uma serpente que com eles conversa sobre a vida, a religião, a velhice e sobre os atributos do Malka como sedutor e contador de histórias…
Jerusalém de África
O gato percebe que a sua dona Zlabya não é feliz com o marido que dedica mais tempo aos livros do que a ela. Quando recebe uma encomenda vinda da Rússia, descobre que entre os livros está também um homem morto. São chamados rabinos, alunos, curiosos, mas ninguém sabe o que fazer. Tudo isto enquanto o gato tenta explicar-lhes, sem sucesso,
que aquele homem afinal esta vivo… 
 
Devir
The Walking Dead
#3 - Segurança na prisão
Robert Kirkman, Charlie Adlard e Cliff Rathburn
O mundo tal como o conhecíamos desapareceu.
O mundo do comércio e das necessidades frívolas foi substituído por um mundo de sobrevivência e de responsabilidade.
Uma epidemia de proporções apocalípticas varreu o globo, fazendo com que os mortos se animem e se comecem a alimentar dos vivos.
Num mundo governado pelos mortos, somos forçados a finalmente começar a viver.
 
O Zen de Steve Jobs
Caleb Melby e Jess3
Zen de Steve Jobs conta a história da relação de Jobs com Kobun Chino Otogawa.
Kobun era um monge Zen Budista que emigrou do Japão para aos EUA no início dos anos 70 a 2011. Era um inovador, sentia pouca simpatia por regras e tinha uma paixão por arte e design. Kobun era para o Budismo o que Jobs era para o mundo do negócio de computadores: um dissidente e um espírito independente. Não demorou muito a ficarem amigos, e mantiveram uma relação cheia de encontros e desencontros.
Esta novela gráfica é um reimaginar dessa amizade. A história anda para a frente e para trás no tempo, dos anos 1970 a 2011, mas está centrada no período após o exílio de Jobs da Apple em 1985, quando se dedicou a estudar intensivamente com Kobun. O seu tempo juntos foi um componente subjacente aos enormes saltos que a Apple deu mais tarde no design dos seus produtos e na sua estratégia de negócio.
Narrado através do uso de diálogos depurados e imagens inspiradas pela caligrafia,
O Zen de Steve Jobs explora como Jobs poderia ter afinado a sua estética de design através do estudo da religião oriental, mas no final ele apenas retiraria do Zen o que precisava e deixaria o resto para trás. Ilumina aspectos da vida de Jobs pouco focados na biografia de Jakobson, sendo uma leitura estimulante para amantes do empreendorismo empresarial, criativos e fãs da Apple em geral.
 
O Hobbit
Charles Dixon, Sean Deming e David Wenzel
Publicado pela primeira vez no Reino Unido há mais de setenta anos, O HOBBIT de J. R. R. TOLKIEN tornou-se num dos mais populares livros de todos os tempos.
A sua adaptação gráfica acabou por se transformar também num clássico da banda desenhada, agora com novas digitalizações que apresentam os tons das aguarelas originais em todo o seu esplendor.
O HOBBIT, a prequela de O Senhor dos Anéis, conta a história de Bilbo Baggins, um hobbit pacífico e amante dos confortos do lar, cuja vida é virada de pernas para o ar pela aparição de um feiticeiro, Gandalf, e de um grupo de anões, que o arrastam para uma arriscada aventura, em busca de um tesouro fabuloso.
Excelente livro para cativar crianças e jovens com a leitura, e para os leitores mais velhos com preguiça de reler o Hobbit ou com vontade de partilhar um gosto de juventude com os seus filhos. 
 
Lemon
Os Voos da Águia Vitória
A Glória Europeia
Nuno Manalvo
 
 
Levoir/Público
Heróis Marvel
Stan Lee, Gerry Conway, Lee Weeks, John Romita e Gil Kane
 
#6 “Vingadores - Confiança Mundial”
Geoff Johns, Kieron Dwyer e Ivan Reis
 
#7 “Vingadores - Zona Vermelha”
Geoff Johns, Gary Frank, Ivan Reis e Olivier Coipel
 
#8 “Hulk - Tempest Fugit”
Peter David, Lee Weeks e Jae Lee
 
#9 “Wolverine - Madripoor”
Chris Claremont e John Buscema (desenho)
 
(Os textos, quando existem, são da responsabilidade das editoras)

28/08/2012

Heróis Marvel #6

Vingadores – Confiança Mundial










Geoff Johns (argumento)
Kieron Dwyer e Ivan Reis (desenho)
Levoir+Público (Portugal, 9 de Agosto de 2012)
170 x 260 mm, 200 p., cor, cartonado
8,90 €



Resumo
Este volume compila as revistas “The Avengers” vol. 3, #57 a #60 e a mini-série “The Avengers Icons: The Vision” #1 a #4.
Na primeira história, “Confiança Mundial”, o surpreendente desaparecimento das principais capitais mundiais leva a ONU a entregar o governo do planeta aos Vingadores e, na segunda, “Visão”, é contada a origem deste vingador.

Nota Prévia
Sejamos claros: a diversidade e riqueza do universo Marvel permitem-no à saciedade – tornam mesmo quase inevitável – que para cada volume desta colecção Heróis Marvel – ou de qualquer outra colecção similar – haja sempre vozes a questionar os critérios editoriais que levaram à selecção das histórias nela incluídas. Que muitas vezes são tão simples como utilizar o único material disponível. E que, não custa relembrá-lo, foi feita muito a montante da actual colecção em distribuição em Portugal.

Desenvolvimento
Dito isto, avancemos então… questionando o porquê da inclusão da mini-série sobre o Visão neste volume e não do segundo arco da BD dos Vingadores – que, refira-se a propósito, foi o prato forte do tomo seguinte desta colecção, “Vingadores – Ameaça Vermelha”- porque, os únicos pontos comuns a ambas as histórias são o argumentista Geoff Johns e a presença do Visão.

O que custa a perceber - mesmo tendo em conta a sua extensão - para além da óbvia estratégia comercial, pois os Vingadores são no actual momento, com certeza, um bom chamariz e o final em aberto convida a ler o tomo seguinte (embora falha a inexistência de uma referência a essa possibilidade no final de “Confiança Mundial”).
Tudo isto, não invalida a qualidade desta história – que (re)conta a origem deste vingador – muito bem estruturada, combinando de forma coerente e credível em diversos flashbacks o momento da sua criação no tempo da II Guerra Mundial com o momento presente, explorando de forma interessante a dualidade homem/máquina inerente à personagem e equilibrando as cenas de acção com outras menos vivas mas talvez mais importantes para a definição do carácter e dos propósitos dos diferentes intervenientes. A tudo isto, há que acrescentar o excelente traço realista do brasileiro Ivan Reis, actualmente um dos nomes grandes da DC Comics.
Quanto a “Confiança Mundial”, que abre o volume, embora menos espectacular do ponto de vista gráfico, pese embora o competente trabalho de Kieron Dwyer e a sua planificação variada com um bom recurso a vinhetas de página inteira ou mesmo de página dupla, apresenta as principais características das histórias dos Vingadores.
Por um lado, mostra a razão pela qual foram criados: resolver em conjunto problemas que nenhum super-herói conseguiria resolver sozinho. O desaparecimento das capitais com o consequente estado de crise e a entrega do poder mundial a este grupo de super-heróis encaixa às mil maravilhas naquele pressuposto (embora eu gostasse de ter visto melhor exploradas as questões burocráticas inerentes a qualquer governo, apenas afloradas no relato).
Depois, a existência de tantos protagonistas – Capitão América, Homem de Ferro, Thor, Feiticeira Escarlate, Mulher Hulk, Vespa, Pantera Negra… - ajuda a variar temática e graficamente a história, conferindo-lhe uma outra dimensão e torna (ainda mais) espectaculares muitas das cenas de acção.
Como aspecto menos interessante, surge a dispersão provocada por tantos heróis, pois a participação de cada um deles acaba por ser algo reduzida e limitada e fica a sensação que há diversos momentos que mereciam ter sido melhor explorados e/ou desenvolvidos.

A reter
- Mais uma vez há que evidenciar nesta colecção a boa edição, mais a mais se considerada numa perspectiva de relação qualidade/preço.
- As melhorias evidentes, em relação a tomos anteriores, ao nível da tradução e da revisão.
- A forma exemplar como “Confiança Mundial” exemplifica as razões da criação dos Vingadores.
- A mini-série do Visão, no seu todo, embora com destaque para o trabalho gráfico de Ivan Reis…

Menos conseguido
- … embora se possa questionar a sua inclusão num tomo que devia ter como protagonistas os Vingadores e não apenas um dos seus componentes.
- Os problemas de distribuição que continuam a manifestar-se.


27/08/2012

Thor: um deus há 50 anos entre super-heróis














No universo Marvel, povoado de seres fantásticos (e quantas vezes inacreditáveis) alguns há que mesmo assim se distinguem pelos seus poderes ou origem. É o caso do poderoso Thor, que fez a sua estreia há 50 anos, na revista “Journey into Mistery2 #83, de Agosto de 1962.

Filho do todo-poderoso Odin, o rei dos deuses nórdicos, o jovem Thor, seu herdeiro natural, devido à sua impulsividade e teimosia quase provocou uma guerra entre os deuses de Asgard e os gigantes de Jotunheim. Como castigo, o seu pai baniu-o para a Terra, com a memória apagada e aprisionado no corpo de Donald Blake, um médico deficiente físico, para o jovem aprender a lutar contra a adversidade, a ser humilde, perseverante e a ajudar os outros.
Mais tarde, convencido que Thor estava mudado, Odin induziu-o a viajar até uma caverna na Noruega, onde reencontrou o seu martelo místico Mjolnir, símbolo do poder do deus do trovão. Para além de arma de ataque, o martelo serve também para Thor alternar entre a forma divina e a humana.
Só que os deuses também são falíveis e Odin nunca imaginara que o tempo que Thor passara na terra o levasse a querer permanecer aqui, para ajudar os seus habitantes, encontrando-se para sempre dividido entre dois mundos.
Os criadores de Thor, foram Stan Lee e Jack Kirby, quando o universo Marvel explodia em todos os sentidos e formava as bases que o sustêm até hoje. A inclusão de um ser sobre-humano, permitiu uma abordagem diferente, em grande parte assente na mitologia nórdica. Na sua cronologia não faltam, por isso, confrontos com Loki, o seu meio-irmão maligno que aspira ao seu trono, combates épicos com outros seres sobrenaturais, a par de façanhas mais terrestres, inclusive como membros dos Vingadores que integrou desde a sua formação.
Com o passar dos anos, como é habitual, a sua história tornou-se cada vez mais complexa, com relações amorosas, outras identidades secretas, substituição temporária por clones e outros seres e inimagináveis combates que culminariam com a sua morte, já no actual século.
Mas, como os deuses – tal como os super-heróis Marvel – são imortais, Thor voltaria poucos anos depois, para retomar o seu lugar no panteão da casa das ideias, a tempo de aproveitar o impacto do filme de 2011, que teve Chris Hemsworth como protagonista, que veio trazer novo folego à sua existência.

26/08/2012

Corto Maltese: Viagem à Aventura

Fórum Eugénio de Almeida
Rua Vasco da Gama, nº 13 - Évora
25 de Julho a 2 de Dezembro de 2012









Esta exposição dá a conhecer a enorme poética do ilustrador veneziano Hugo Pratt, através das viagens e histórias do seu personagem mais emblemático: Corto Maltese, uma das principais figuras da Banda Desenhada mundial e referência na literatura do século XX.
Corto Maltese é um viajante incansável sempre à procura de novos lugares longínquos, um anti-herói romântico e fiel aos seus ideais que cruza momentos da história como sua testemunha.
As 51 obras da exposição - aguarelas, tinta-da-china e guache - retratam uma das muitas aventuras do errante capitão maltês: de Veneza, passando por África, de Samarcanda à Polinésia, do Caribe à ilha de Escondida. 

Comissários: Stefano Cecchetto e Cristina Taverna
Entrada: 1,00 €
Horário: diariamente, das 09h30 às 19h00
Mais informações: 266 748 350 

(Texto da responsabilidade da organização)

25/08/2012

Pelezinho convocado para o Mundial de 2014















Pelezinho, a versão aos quadradinhos do rei de futebol que Maurício de Sousa criou em 1976, está de volta com as aventuras que combinam futebol e o humor característico do criador da Turma da Mônica. Inspiradas na infância do goleador, têm como co-protagonistas os seus amigos Cana Braba, Frangão, Teófilo, Samira, Neusinha, Bonga ou o cão Rex.
O anúncio foi feito na recente Bienal do Livro de São Paulo, onde o antigo futebolista e o desenhador compareceram juntos para uma conversa com os fãs e uma concorrida sessão de autógrafos.
 “Pelezinho Colecção Histórica”, que reeditará cronologicamente todas as histórias publicadas na revista “Pelezinho” original, entre Agosto de 1977 e Maio de 1982, “As Tiras Clássicas do Pelezinho”, que reúne as histórias publicadas nos jornais, e “As Melhores Aventuras do Pelezinho” são os três títulos agora anunciados.
A estes juntar-se-ão outras três publicações de características mais didácticas: “Pelezinho para colorir”, “Pelezinho Passatempos Divertidos” e “Pelezinho Magazine”, bem como diversos artigos de merchandising, estando igualmente prevista uma versão animada. Estas publicações já começaram a circular no Brasil, devendo chegar no início de 2013 a Portugal, onde as revistas de Maurício de Sousa são mensalmente distribuídas.
Para o Mundial de 2014, que como se sabe terá lugar no Rio de Janeiro – e para o qual Pelezinho chegou a ser proposto como mascote - a equipa de Maurício de Sousa recebe assim um reforço de peso, que se junta a Ronaldinho Gaúcho, protagonista de uma revista mensal, e Neymarzinho, cuja versão adolescente deverá estrear em breve.

(Versão revista do texto publicado no Jornal de Notícias de 19 de Agosto de 2012)

24/08/2012

Zé Carioca: 70 anos de preguiça





  
 

Há 70 anos, a antestreia no Rio de Janeiro de “Saludos Amigos”, permitia descobrir um novo herói do universo Disney: um papagaio antropomórfico chamado Zé Carioca.

No filme, que estrearia no ano seguinte nos Estados Unidos, o Pato Donald, de visita por alguns países latinos, integrado no esforço dos Estados Unidos para granjear aliados para a sua participação na II Guerra Mundial, teve como cicerones Panchito, no México, Gauchinho Voador, na Argentina e José Carioca, no Brasil, que o apresentou ao samba e… à cachaça!
Segundo se sabe, foi o próprio Walt Disney que o esboçou no Copacabana Palace Hotel, durante uma visita que fez ao Rio de Janeiro, de que gostou tanto que quis deixar uma lembrança para os seus anfitriões.
Criou-o como um estereótipo dos brasileiros: alérgico ao trabalho e amante de samba e futebol (que pratica com mais presunção que arte). Mais tarde, revelar-se-ia também preguiçoso, caloteiro e capaz de desenvolver os mais estranhos esquemas para fugir a qualquer responsabilidade. Geralmente as suas histórias decorrem na Vila Xurupita, no Morro do Papagaio, onde mora, facilmente identificável como uma favela do Rio de janeiro, embora paredes meias com o bairro rico onde mora a sua namorada Rosinha.
Desenvolvido em tira diária de jornal por Paul Murry ainda em 1942, antes portanto da estreia do filme nos EUA, o Zé Carioca conheceu aí a sua namorada Rosinha e o pai dela Rocha Vaz, o seu amigo Nestor e o rival Luís Carlos, que posteriormente seria substituído por Zé Galo, em histórias centradas no Rio de Janeiro mas que o levariam também até à Amazónia.
O papagaio mais malandro da banda desenhada regressaria dois anos depois em novo filme, “The Three Caballeros”, uma vez mais destinado à América Latina, no qual o segmento brasileiro mostrava a Baía, numa combinação de animação com actores reais, entre eles Aurora Miranda, irmã da célebre Carmen Miranda.
Com participação limitada nas bandas desenhadas produzidas nos Estados Unidos, o Zé Carioca, de forma compreensível, conheceu um grande sucesso nos Brasil, onde se estreou na revista “O Globo Juvenil”, em meados da década de 1940.
Co-protagonizaria a capa do primeiro número brasileiro do Pato Donald, em 1950 – o mesmo ano em que as revistas Disney do Brasil começaram a chegar a Portugal - e passaria a ter uma revista com o seu nome em 1961. Seria nos quadradinhos brasileiros que a sua personalidade seria aprofundada e desenvolvida, sendo introduzido o gosto por pratos tipicamente locais, como a feijoada e a jaca, a praia, o samba e o futebol.
Como a certa altura não existiam histórias suficientes para alimentar a revista do Zé Carioca, um dos esquemas utilizados foi o decalque de histórias originalmente protagonizadas pelo Pato Donald ou Mickey, o que o levou muitas vezes a Patópolis, provocou mudanças constantes na sua personalidade, o fez interagir com personagens de outros universos e à criação dos seus sobrinhos Zico e Zeca (em substituição de Huguinho, Zezinho e Luisinho).
A partir de 1972, a editora Abril criaria um estúdio próprio para produção de histórias, entre as quais as do Zé Carioca, que passou a ter novos amigos, entre os quais Pedrão e Afonsinho, destacando-se Renato Canini entre os vários autores que o fizeram viver histórias tipicamente brasileiras e o dotaram de um elevado número de primos – também brasileiros - de nome e características definidas em função da zona do Brasil de onde provinham: Zé Paulista, Zé Pampeiro, Zé Queijinho, Zé Baiano, etc.
Graficamente, o Zé Carioca foi evoluindo ao longo dos anos, passando da versão original com casaco, chapéu de palha e charuto (vício que seria abolido mais tarde) para uma indumentária mais tropical e moderna com camisa estampada e boné. Os seus confrontos com a ANACOZECA (Associação Nacional dos Cobradores do Zé Carioca) e as suas aparições como Morcego Verde, um super-herói trapalhão, foram outras das temáticas exploradas nas suas aventuras.
A queda das vendas das publicações Disney, nos finais da década de 1990, levaria também ao encerramento das revistas que o papagaio protagonizava, apesar de ainda existirem histórias inéditas da personagem nos arquivos da editora. A última história original brasileira foi publicada em Dezembro de 2001 intitulada "Só com Magia", do roteirista Rafles Ramos.

(Versão revista do texto publicado no Jornal de Notícias de 24 de Agosto de 2012)

23/08/2012

J. Kendall #86

A sangue quente








Giancarlo Berardi e Murizio Mantero (argumento)
Laura Zuccheri (desenho)
Mythos Editora (Brasil, Janeiro de 2012)
135 x 178 mm, 132 p., pb, brochado, mensal
4,00 €

  

1.       Se é normal na banda desenhada – nos comics de super-heróis e na maior parte das séries franco-belgas a existência de um “vilão de serviço” recorrente, sempre pronto a opor-se aos desígnios dos heróis, de forma algo surpreendente isso é pouco habitual nos heróis Bonelli, pese todo o potencial para que tal acontecesse.

2.      E se surgem alguns inimigos que se destacam – Mefisto em Tex, Hellinger em Zagor, de forma mais evidente, Hogan em Mágico Vento – na maior parte dos casos as suas aparições são quase residuais se considerado o elevado número de histórias de cada um daqueles heróis.

3.      Por maioria de razões – desde logo pelo realismo do relato e pelo evidente privilegiar das componentes emocionais e psicológicas – isso também não acontece em Julia Kendall.

4.      O que - apesar da evidente contradição – não impede que “A sangue quente” apresente o terceiro confronto entre a criminóloga de Garden City e a serial killer Myrna, que foi, recorde-se, o centro da sua primeira investigação nos três números iniciais desta colecção.

5.      Fugida da cadeia, há longo tempo desaparecida, Myrna “ressuscita” aqui para se vingar como não podia deixar de ser, mais engenhosa e inteligente, também mais perigosa e, sem dúvida, mais desequilibrada, demonstrando uma obsessiva – e até quase incómoda para o leitor – relação de amor/ódio por Julia, na qual paixão e vingança se confundem (e atrapalham?), numa espiral de sexo e sangue apresentada num crescendo ao longo deste tomo - onde a violência e a sensualidade atingem níveis invulgares no contexto da série - mesmo que o(re)encontro final entre ambas se revele breve e defraude mesmo – mas apenas sob certo ponto de vista - as perspectivas criadas ao longo de uma centena de pranchas repletas de grande tensão emocional.

6.      Embora – por isso – deixe em aberto nova confrontação, num futuro que se adivinha mais ou menos distante, que se espera tenha (pelo menos) a mesma qualidade, força e emoção deste.

7.      Este regresso de Myrna, se evoca duas das mais fortes narrativas de Berardi nesta série – que mais uma vez confirma a elevada qualidade da sua escrita pela forma como desenvolve o relato aproximando pouco a pouco Julia e Myrna - evidencia também as mudanças que a “sósia” de Audrey Hepburn sofreu ao longo destes mais de sete anos de investigações.

8.     Porque Julia tem mudado. Mudou. Como qualquer leitor atento facilmente percebeu. Sem perder a sua feminilidade e a sua fragilidade, tem agora uma maior auto-confiança, uma forma diferente de se abrir, de se relacionar (e de se dar), uma outra capacidade de enfrentar as situações limites que as suas escolhas tantas vezes provocam, a exemplo do que acontece neste número quando – finalmente – se vê de novo frente a frente com Myrna.






22/08/2012

Sergio Toppi (1932-2012)















O desenhador italiano Sergio Toppi faleceu ontem.
Natural de Milão, onde nasceu a 11 de Outubro de 1932 dedicou-se desde muito cedo à ilustração e ao cinema de animação.
Em 1966 publicou a sua primeira banda desenhada, no “Il Corrière dei Picolli”, iniciando um longo percurso por títulos como “Linus”, “Sgt. Kirk”, “Corto Maltese” ou “Comic Art”, especialmente dedicado a temas históricos, biografias e adaptações.
Entre elas está a participação nas colecções “Um homem, uma aventura” e “À Descoberta do Mundo”, esta última originalmente editada pela Larousse e traduzida em Portugal pelas Publicações Dom Quixote, nos anos 80, que inclui três episódios desenhados por ele. Nada disto obstou à participação noutro tipo de projectos como, por exemplo, edições de J. Kendall ou Nick Raider para a Sergio Bonelli Editore, ou o desenvolvimento de obras mais pessoais.
Distinguido com o Yellow Kid para Melhor Ilustrador, pelo Festival de Lucca, em 1992, Sergio Toppi, um dos grandes desenhadores clássicos transalpinos, possuía um desenho realista, original e de grande sentido estético, assente no uso de linhas finas e de um subtil equilíbrio entre o branco e o negro.

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