George Walden nunca teve uma ideia de jeito na
vida. Resolveu, por isso, fazer um pacto com o diabo para ter todas
as ideias que quisesse. Esqueceu, no entanto, que ao negociar com o
demónio é necessário ler com atenção as letras pequeninas até
ao fim.
Ultrapassado
há muito o número de histórias criadas por Edgar P. Jacobs, por
aqueles que lhe têm sucedido, para novos leitores as origens da
fleumática dupla britânica foi já diluída pela quantidade de
títulos posteriores. Para
leitores como eu, que descobriram e vibraram com A
Marca Amarela ou
O
Mistério da Grande Pirâmide (estes
dois em especial) na tal altura certa que tenho recorrentemente
citado, torna-se difícil pôr de lado as fortíssimas marcas do
original e encarar cada novo título por si só - tanto quanto isto é
possível numa série - e como elemento de uma cadeia mais vasta do
que a formada pelos soberbos volumes originais. Tendo
abordado desta forma Oito
horas em Berlim, sou
forçado a reconhecer que a leitura foi mais fácil - e mais
estimulante - do que na maioria dos outros álbuns pós-Jacobs.
"...É uma loucura, com o desaparecimento do mundo moderno está a voltar em força o pior do antigo e cheira a ranço..."
In Bug - Livro 3
Numa
história futurista, escrita ao longo dos dias que correm - que
correram há pouco... - neste
terceiro livro de Bug
continuam
notórias as preocupações de Bilal com o que está a acontecer no
nosso mundo (real) com o recrudescer dos
extremismos políticos, das ideologias ditatoriais e dos excessos em
nome da política, da religião, do desporto…
Por
mais que prometa a mim mesmo não o fazer, volta e meia ‘caio na
armadilha’ das super-sagas Marvel e dou por mim mergulhado em mais
um evento
que promete mudar tudo, para no fim tudo ficar igual. Talvez seja
essa a essência da magia dos super-heróis: a certeza de
que,
aconteça
o que acontecer,
são imutáveis e eternos.
Depois de Giant
(Ala dos Livros, 2021), em que nos mostrou o (elevado) ponto de vista
dos trabalhadores que construíram os imponentes arranha-céus
nova-iorquinos, Mikaël leva-nos de novo até à Grande Maçã para
nos mergulhar no mundo dos Bootblack,
os engraxadores adolescentes.
Nos conturbados anos 1920 e 30, entre a invasão de emigrantes
italianos, irlandeses, polacos… e a Grande Depressão provocada
pelo
crash da
bolsa, o autor traça um retrato
desiludido e negro - como a graxa que os miúdos aplicam nos sapatos
dos ricos - de uma terra sonhada que rapidamente se transforma em
pesadelo.
Da
primeira leitura que fiz do Bestiário
da Isa
- ainda na versão parcial, em edição de autor(a) - ficou-me na
memória o ritmo vivo e o bom encadeamento desenho/texto. Agora,
a leitura completa, confirmou o perfeito funcionamento como banda
desenhada de uma história, simples, divertida e... fantástica!