Por
detrás das vinhetas desenhadas
A
conhecida expressão “espaço branco [ou vazio] entre as vinhetas”
define de forma extremamente feliz a magia desta arte narrativa que,
na sua essência, vive da forma como o leitor preenche mentalmente
esse espaço para sequenciar a narrativa, ‘adivinhando’ o que
decorre entre cada duas vinhetas.
Tentando
fazer uma transposição do conceito, posso escrever que o livro
Conversas
de Banda Desenhada
tenta preencher o que existe por detrás das vinhetas, ou seja, dar a
conhecer um pouco de quem são os criadores de histórias aos
quadradinhos.
Em
anos recentes, habituei-me a ter em curso de leitura obras com
histórias curtas que servem para preencher espaços de tempo
igualmente curtos, levar a cabo pequenos interlúdios entre tarefas,
aligeirar alguma pressão ou ocupar tempos de espera.
Tento
ir variando de género, estilo, proveniência e temática, por um
lado para diversificar as leituras, por outro para ver formas
diferentes de abordar temas também diferentes.
As
capas mostradas acima, ilustram algumas (dessas) leituras mais
recentes, feitas
ao longo de dias ou semanas, para fugir à inevitável repetição a
que este tipo de colectâneas geralmente não consegue fugir.
Penguin Random House/Top Seller
'Outro' Jayme Cortez...
Outra
vez
Jayme Cortez, depois
de
O Terror Negro,
no volume inicial da colecção que a Polvo achou por bem - e muito
bem! - dedicar-lhe, organizada por Fabio Moares.
Depois
do terror puro, agora é a vez do super-herói Zodiako, já parcialmente publicado entre nós na Riquiqui, da Portugal Press, no longínquo ano de 1979. Ou talvez não
propriamente
super, mas indiscutivelmente herói.
Final
inglório
É
um sinal de tempos mais ou menos recentes, o revisitar
das
origens de heróis da banda desenhada, e
não só para tentar tirar partido da sua popularidade e da sua
pertença ao imaginário colectivo.
Este
tipo de exercício, feliz nalguns
casos, infeliz noutros,
comporta
sempre dois riscos: por um lado, quanto maior é a popularidade da
personagem revisitada, mais arriscado se torna mexer com o que
maravilhou
gerações; por outro lado, se
a
nova obra beneficia sempre
do
conhecimento prévio do original por
parte do leitor, também tem
que se apresentar autónoma
em
si mesma, para seduzir
quem
se aproxima dela virgem do tema.
É
neste último aspecto que falha o volume final deste tríptico de Mister
No,
que
transpõe as suas deambulações para
25 anos depois do tempo em que o
situou o seu criador.
Congo,
1880. Uma expedição portuguesa percorre as selvas inexploradas
daquele país, com o objectivo de cartografar uma das regiões mais
inóspitas e desconhecidas do continente africano. Nomeado pelo
monarca português, Afonso Ferreira, explorador de renome, chefia a
expedição - também com o objectivo secreto de tentar conquistar
algum terreno ao reino da Bélgica - mas nem mesmo ele estava
preparado para o que ia encontrar: cenários dantescos, povoados por
dinossauros, que se transformam na antecâmara de uma experiência de
puro terror.
Continuidade.
Intemporalidade. Competência.
Dois
títulos recém-chegados ao mercado nacional, justificam uma
abordagem, segundo os vectores referidos acima.
Vamos
a ela.