13/11/2009

BD para ver – Osvaldo Medina na Mundo Fantasma

A galeria Mundo Fantasma inaugura amanhã, sábado, dia 14, às 17h, a exposição “Moscas e Formulas”, composta por originais dos livros "A Fórmula da Felicidade" e "Mucha", ambos editados pela Kingpin Books e desenhados por Osvaldo Medina, natural de Angola mas de nacionalidade cabo-verdiana, um dos valores (seguros) da nova banda desenhada portuguesa.
“Mucha”, lançado no recente Amadora BD 2009, marca o regresso de David Soares à BD, com um conto de terror de atmosfera intimista, no qual as moscas têm um assustador protagonismo que provoca um incómodo sentimento de repulsa. Nele Medina, que contou com a arte-final do seu editor Mário Fretas, apostou num registo a preto e branco expressivo e no qual abundam imagens fortes.
Em “A Fórmula da felicidade”, um dos grandes lançamentos nacionais de 2008, a opção foi por cores lisas e suaves e pela utilização (bem conseguida) de personagens com corpo humano e cabeça de animal, para dar mais consistência ao argumento forte e bem estruturada de Nuno Duarte sobre um marginalizado génio(zinho) matemático, filho de uma prostituta, que descobre uma fórmula cuja leitura proporciona felicidade imediata, passando por isso a ser procurado e adulado, mas não se tornando mais feliz…
Uma boa oportunidade para conhecer pessoalmente Osvaldo Medina, Mário Freitas, Nuno Duarte e David Soares que estarão presentes para uma conversa e sessão de autógrafos na galeria Mundo Fantasma, que fica no Centro Comercial Brasília (na Rotunda da Boavista, no Porto), na loja especializada em BD com o mesmo nome, onde mais de duas dezenas de originais poderão ser vistos até 11 de Dezembro.

(Versão revista do artigo publicado no Jornal de Notícias de 13 de Novembro de 2009)

As Leituras dos Heróis – Joe Dalton

(Segundo Achdé)

Pergunta: Se lesse banda desenhada quais seriam as preferidas de Joe Dalton?


Resposta – Ele não sabe ler! Mas podia ser fã do “Bobo”, de Deliége, que, como ele, passa a vida na prisão, atrás das grades! Mas, francamente, não o vejo a ler com regularidade.

12/11/2009

A Fórmula da felicidade #1 (de 2)

Nuno Duarte (argumento)
Osvaldo Medina (desenho)
Ana Freitas (cores)
Kingpin Books (Portugal, Dezembro de 2008
212 x 297 mm, 48 p., brochado com badanas


O que é a felicidade? Como se alcança? Se Nuno Duarte não dá a estas duas questões as respostas que todos desejam conhecer, coloca uma terceira e curiosa pergunta: E se a felicidade estivesse dependente de uma fórmula matemática?
Para a suportar, assenta a sua história, forte e bem estruturada, nalguns – bem explorados – clichés: o génio(zinho) matemático, filho de uma prostituta e de pai incógnito, por isso marginalizado e humilhado por (quase) todos, que busca nos números o refúgio e o consolo que os humanos não lhe dão. Quando descobre a tal fórmula que, quando lida por ele, produz a felicidade instantânea, passa de desprezado a adulado, o que não significa que tudo mude pois N. Duarte corta o entusiasmo questionando, ao concluir este primeiro tomo, uma das verdadinhas politicamente correctas da nossa sociedade: tornar os outros felizes traz felicidade?
E se pelo que fica escrito, até agora esta parece ser uma obra de argumentista, tal é injusto para o excelente trabalho gráfico de Medina que a suporta, bem servido pelas cores suaves de Ana Freitas. Por um lado, pela extrema legibilidade da sua planificação – algumas sequências, como as páginas iniciais, podiam funcionar até sem o texto (que não é redundante…).
Por outro lado, as suas personagens com cabeças de animais, obviamente inspirados no (recomendável) “Blacksad”, de Guarnido e Canales, escolhidas de acordo com as características de cada um (animal e humano), ajudam a acentuar os pontos fortes da narrativa, enquanto permitem algum (ilusório) distanciamento ao leitor. Ilusório, porque, esta é, sem dúvida, uma fábula sobre os nossos tempos incertos, em que tantos falsos profetas facilmente encontram seguidores.

(Versão revista do texto publicado originalmente a 14 de Março de 2009, na secção de Livros do suplemento In’ da revista NS, distribuída aos sábados com o Jornal de Notícias e o Diário de Notícias)

Mundo dos Super-Heróis #13

Mundo dos Super-Heróis #13
Editora Europa (Brasil, Novembro de 2008)
210 x 280 mm, 84 p., cor, brochada


Após um interregno de alguns meses, mas mantendo a continuidade, está de regresso às bancas portuguesas a revista Mundo dos Super-Heróis que neste décimo terceiro número consagra o seu dossier principal ao Demolidor/Daredevil, considerando as principais fases do herói, galerias de vilões, aliados e namoradas ou as 10 histórias a não perder.
Para além disso, este numero da revista inclui também artigos sobre Neal Adams, Aquaman, Lex Luthor, uma entrevista com Joe Bennett e uma selecção dos 10 principais heróis de western.
Entretanto também já estão disponíveis alguns dos títulos Marvel, DC Comics e Mauricio de Sousa que mensalmente chegam aos quiosques portugueses. Eis a sua lista e respectiva data de distribuição:
09/11/2009 - Mónica nº 29, Cebolinha nº 29, Cascão nº 29, Homem-Aranha nº 88
10/11/2009 - Magali nº 29, Chico Bento nº 29, Colecção Histórica Turma Mónica nº 11, X-Men nº 88
11/11/2009 - Almanaque Mónica nº 15, Almanaque Cebolinha nº 15, Almanaque Cascão nº 15, Novos Vingadores nº 63
12/11/2009 - Ronaldinho Gaúcho nº 29, Turma da Mónica Parque nº 29, Saiba Mais Turma Mónica nº 21, Superman & Batman nº 45, Avante Vingadores nº 27
13/11/2009 – Turma Mónica Jovem nº 11, Batman nº 77, Superman nº 77, Wolverine nº 52
16/11/2009 – Almanaque Historinhas de 1 página Mónica nº 4, Universo Marvel nº 45, Contagem Regressiva nº 11, Liga da Justiça nº 76

11/11/2009

As Leituras dos Heróis – Tex

(segundo Gianfranco Manfredi*)

Pergunta - Se lesse banda desenhada quais seriam as preferidas de Tex? 
Resposta – Não me parece que Tex seja um grande leitor. Nem de livros, nem de banda desenhada. Os homens de acção não se divertem a "olhar as imagens".

* Com a preciosa intermediação de José Carlos Pereira Francisco

10/11/2009

La Genèse

Robert Crumb (adaptação e desenho)
Denoel Graphic (França, Outubro de 2009)
218 x 314 mm, 220 p., p&b, cartonado


Resumo

Um dos livros aos quadradinhos mais aguardados neste final de ano, esta é a adaptação feita para banda desenhada por Robert Crumb, o pai da BD underground norte-ameriana, do Génesis, o primeiro livro da Bíblia – porque, para quem o desconhece, a Bíblia é constituída por um conjunto de 66 livros, escritos por pessoas diferentes ao longo de cerca de 1400 anos e o termo Bíblia significa exactamente isso: “conjunto de livrinhos”.

Desenvolvimento
E o que apetece dizer é que a montanha pariu um rato. Pelo menos para aqueles que esperavam (ob)ter uma polémica considerável com a visão bíblica de Crumb. Para esses, é triste conforto a meia dúzia de vinhetas (bem pudicas por sinal) em que Crumb (mais sugere do que) mostra cenas de nudez ou actos sexuais. Que, claro está, poderão chocar os que (des)conhecem o texto original, considerando-as liberdades profanas e demoníacas de Crumb. Puro erro. E (santa!) ignorância.
Não que alguma vez ou em algum lugar ele tenha prometido/ameaçado fazer uma versão provocatória, mas a verdade é que alguns editores, mesmo com a obra já impressa – e lida, depreende-se… - não deixaram de o anunciar à imprensa, para promoverem o livro e incrementarem as vendas, intuindo (desejando?) ver fonte de polémica nesta ou naquela afirmação do autor. Que nunca a procurou com esta obra concreta e ao qual apenas se podem apontar umas (poucas) liberdades criativas - como a serpente com corpo humano – que se esbatem na sombra de visões tradicionais – como o retrato de Deus.
Excluída, portanto, a hipótese de criação de polémica, o que sobra na visão bíblica de Crumb? Por um lado a utilização do texto original integral, encontrado após estudo e comparação de diversas versões. Por isso, pesado, aqui e ali de difícil leitura ou (quase) até incompreensível, muitas vezes aborrecido, repetitivo. Excessivo para uma banda desenhada, excessivo em muitas das páginas desta banda desenhada. E, claro, disto se ressente a obra, que em algumas sequências, deixa o estatuto de BD – sequência gráfica narrativa – para ser apenas ilustração.
O que nos conduz ao último aspecto a considerar: o desenho. Que está ao nível do muito (de bom) que Crumb fez ao longo de 50 anos de quadradinhos: expressivo, detalhado, não especialmente dinâmico (a obra também não o pedia), de vinhetas cheias e pormenorizadas, num preto e branco cheio, valorizado pela utilização de tracejados e pontilhados para dotar as vinhetas de profundidade e as personagens de volume. Mais realista e clássico até do que o que conhecemos do autor.
Em resumo, se com Crumb a Bíblia, melhor dizendo, o Génesis, se pode tornar mais legível para alguns, desenganem-se os que vão procurar neste livro o espírito libertário, a liberdade de pensamento, a provocação, o tom anárquico, a crítica social e de costumes das grandes obras do autor, que fizeram dele o pai da BD underground norte-americana.
Porque esta é, reforço a ideia, não uma adaptação mas a ilustração, em forma de BD, do texto. Sem aproximações de fé ou distanciamento crítico de quem não a tem, sem interpretações, julgamentos ou vontade de aligeirar ou explicar. Sem o justificar, sem blasfemar dele. Para o bem e para o mal.

A reter
- O traço de um Crumb em plena forma.

Menos conseguido
- A forma abusiva como, apesar do tom inócuo da adaptação, alguns editores usaram o nome do autor para promoverem um produto que não corresponde à sua fama de provocador.
- Algumas reacções de contestação ao livro que mesmo assim surgiram, demonstrando desconhecimento desta BD de Crumb e/ou da própria Bíblia, por parte de alguns que a afirmam como seu livro sagrado.

Curiosidade

- As várias capas usadas para o livro, nos diferentes países em que foi publicado, fogem o mais possível à polémica. Se na francesa (no alto), Eva ainda aparece nua (mas quase assexuada), na americana ela e Adão já estão vestidos e mais inocente que a capa brasileira era impossível.

09/11/2009

O Muro, antes e depois

Sienkiewicz, Schulteiss, Cabanes, Kerac, Tardi, Prado, Boucq, Drager, Zonic, Thomas, Parowski, Polch, Mezieres, Manara, Savitski, Floch, Torres, Gaiman, McKean, Pahek, Mora, Goetzinger, Gibbons, Moebius, Juillard, Bilal
Meribérica/Líber (Portugal, 1991)
220 x 292, 80 p., cor, brochado


A edição recente (em 1991) do álbum “O Muro, antes e depois", vem confirmar mais uma vez o proverbial atraso de que o nosso país sofre. Lançado a propósito da queda do muro de Berlim, por iniciativa de Pierre Christin (argumentista de Bilal e da série “Valérian”) e de Andreas Knigge (director literário das Edições Carlsen, na RFA), este álbum saiu simultaneamente em treze países europeus e nos EUA, há pouco mais de um ano. Ou seja, poucas semanas tinham decorrido sobre o derrube de um dos mais tristemente célebres “monumentos” criados pelo homem. A sua temática era, assim, actual, e a oportunidade do lançamento assinalável a vários níveis. Hoje, “tanto tempo” passado sobre a data, estou (e lamento-o) convicto de que, para muitos, o nome “Berlim” evoca apenas os saborosos pastéis de nata, que há na padaria da esquina…
Apesar de tudo, há que louvar a edição, mesmo apesar do sabor requentado (…) Compilando colaborações de cerca de três dezenas de autores (de um e outro lado do muro) o álbum ressente-se da heterogeneidade dos trabalhos, balançando o seu conteúdo entre o muito bom e o medíocre (para não ser mais severo…). A esta disparidade não será certamente estranho o traquejo as diversas e numerosas oportunidades de que sempre desfrutam os autores ocidentais (alguns dos quais de nomeada) em contraste com a limitações que eram (re)conhecidas aos seus companheiros de Leste, do outro lado do muro. Muro que foi construído para manter essas diferenças; muro que foi derrubado para, teoricamente, as abolir… Teoria que, hoje, quando a evolução das alterações sociais dos ex-países comunistas é conhecida, é questionada e em quase todos os casos, está longe de ser seguida na prática.
E esta +e uma das poucas vantagens que pode ter o atraso da edição lusa: comprovar até que ponto se tornaram realidade as visões pessimistas (ou devia escrever realistas?) de alguns dos artistas. Talvez que, de todos, o mais clarividente tenha sido o alemão Mathias Schulteiss, que nas cinco páginas que constituem a sua banda desenhada pôs na boca dos dois protagonistas muitas das dúvidas (e das críticas) que, a ocidente, se levantaram contra a abolição do muro que, enquanto de pé, apesar de reprovado, fazia já parte do comodismo quotidiano germânico (e não só). As questões que levanta o milionário da história são deveras reais e passaram de certeza pelas mentes de muitos, sendo a visão humanitária (e optimista, quase utópica) da sua companheira, hoje, uma triste e traída esperança.
Pelo mesmo diapasão alinham Mezieres e Manara (que traduz com rara beleza a destruição do sonho). Também com uma visão negativa da destruição do muro, mas esta causada pelo temor (bem oriental) da invasão imperialista ianque, são as BD de Torres e de Dave Gibbons.
Do Leste, onde a 9ª arte se encontra, a julgar pela amostra, bem abaixo do nível ocidental (leia-se francês e espanhol) e bem perto daquilo que (de pior) conhecemos em Portugal (a nível profissional9 o destaque vai para uma interessante obra do jugoslavo Bane Kerak que questiona qual será o futuro dos agora desempregados serviços secretos do Leste… Outra temática comum a mais do que um autor é a interrogação sobre os muros que ficam por derrubar, consumada que foi a queda material da construção de cimento e betão… Moebius, Mora e Goetzinger relembram ou sugerem as diversas barreiras (sociais, políticas, ideológicas) que se levantam a causar separações, quantas vezes mais difíceis de ultrapassar do que o muro que deu origem ao álbum.
Bem mais leves (e ingenuamente?) optimistas são os trabalhos de Sienkiewicz, do jugoslavo Zeljko Pahek e do colectivo leste-alemão Zonic, que anteviam um futuro esperançoso baseado no querer dos povos…
Tardi e Boucq, bem ao seu estilo, são cáusticos e directos.
Para o final, propositadamente, ficaram as três contribuições em que a poesia marca mais forte presença.
André Juillard, com um traço suave e claro, dá-nos a sua visão do novo mundo, se muros de pedra. Ficam os outros…
Prado, com uma breve narrativa ilustrada, plena de sentimentos e emoções, sentida e bem realista, lembra como era possível, cinco dias antes da queda, do lado de lá, perder esperanças e amores, o direito de viver em liberdade e a… vida.
Finalmente, tendo como pano de fundo uma colagem de Dave Mckean, surge-nos um poema do também britânico Neil Gaiman, onde ele conta:
“Quando era pequeno, tive um sonho…
No meu sonho havia uma nota, um tom, um acorde;
e quando surgia esse acorde, caíam todos os muros, em todo o lado. E as pessoas em todo o lado viam…
… O que as pessoas têm por hábito fazer atrás dos muros.
Ninguém mais tinha de se esconder em parte alguma.
Foi nessa altura que acordei. E por isso nunca soube se era bom ou mau não haver muros, algo onde nos possamos esconder e que sejamos livres de ir para todo o lado: sem hipocrisias, sem protecção, sem segredos”.
Há uns meses, um muro, “O” muro caiu. Para que possamos ver. Este álbum foi feito para que possamos relembrar.
Para que não sejamos operários na construção de novos muros.

(Versão revista do texto “O Muro, muito depois”, publicado no jornal O Primeiro de Janeiro, a 7 de Abril de 1991)

As Leituras dos Heróis – Mágico Vento e Poe

(segundo Gianfranco Manfredi*)

Pergunta - Se lesse banda desenhada quais seriam as preferidas de Mágico Vento?
Resposta – Mágico Vento leria bandas desenhadas pré-histórias, isto é, pinturas rupestres.
Pergunta – E Poe?
Resposta - Poe lê de tudo, a começar por Edgar Allan Poe, obviamente. Se pudesse ler uma BD contemporânea, acho que “Jonah Hex” lhe agradaria, mas seguramente não perderia por nada os contos de Poe adaptados em banda desenhada por Battaglia.

* Com a preciosa intermediação de José Carlos Pereira Francisco

06/11/2009

As Leituras dos Heróis – Zagor e Chico

(segundo a humilde opinião de Moreno Burattini *)

Pergunta - Se lesse banda desenhada quais seriam as preferidas de Zagor?

Resposta – Se Zagor lesse BD, obviamente leria “Tarzan” e “Fantasma”.

Pergunta – E Chico?


Resposta - Chico leria o “Pato Donald” e “Mortadelo e Filemão”.

* Com a preciosa intermediação de José Carlos Pereira Francisco

BD para ver – Amadora BD 2009, o fim

O Amadora BD 2009 chega ao fim no próximo domingo, numa altura que já se sabe que a edição de 2010 terá por tema “O Centenário da República”.Para os que deixaram para o fim a oportunidade (a não perder) de uma visita ao Fórum Luís de Camões, fiquem a saber que por lá poderão encontrar autores como Batem (desenhador do Marsupilami), Cristina Dias, David Lloyd, (desenhador de V for Vendetta), David Soares, Filipe Andrade, François Schuiten e Benoit Peeters (só no domingo), Gisela Martins, Hugo Teixeira, Javier Isusi, João Mascarenhas, José Garcês, José Ruy, Manuela Cardoso, Mário Freitas, Matthias Lehmann, Nuno Duarte, Osvaldo Medina, Pedro Leitão, Ricardo Cabral, Rita Marques, Rui Lacas, Zbigniew Kasprzak e Grazyna Kasprzak (dois dos surpreendentes autores polacos cuja obra está exposta no festival).

As Leituras dos Heróis – Pitanga

(Segundo Arlindo Fagundes)

Pergunta - Se lesse banda desenhada quais seriam as preferidas do Pitanga?

Resposta – A longevidade média dos heróis de BD obriga, de facto, a admitir que qualquer deles possa vir a tropeçar no relato de uma das suas aventuras. Mas qualquer inventor de heróis que tenha presente o caso do D. Quixote não deixará de se sentir convidado a evitar esse encontro.
Conhecendo o Pitanga, como conheço, estou certo de que ele iria negar tudo o que corre por aí a seu respeito. E eu gostava de não estar por perto nesse momento. Já me basta ter de ouvir o que dizem os outros. Preferia vê-lo a ler "Patinhas"!
Em todo o caso, aqui te deixo uma inconfidência que me chegou aos ouvidos: parece que na escolha das bêdês, como em tantas coisas da vida, o Pitanga se deixa guiar cegamente pelo seu amigo Armando!

Nota: a vinheta - até hoje inédita - que termina este post pertence a “O Colega de Sevilha", a história que marcará o regresso de Pitanga, depois de “La Chavalita” e “A Rapariga do Poço da Morte”, de que Arlindo Fagundes já desenhou 33 das 52 pranchas previstas.

Sky Hawk

Jirô Taniguchi (argumento e desenho)
Casterman/Sakka (França, Outubro de 2009)
150 x 210 mm, 288 p., cor e pb, brochado
com sobrecapa


Resumo
Dois samurais japoneses – Hikosaburô e Manzô – exilados nos EUA após a restauração de Meij (1868) vivem da caça no território dos índios Crow.
Um dia, um acaso faz com que cruzem o caminho de Running Deer, uma índia que acaba de dar à luz e que é perseguida pelos brancos que a escravizaram.
Após alguns confrontos e uma longa fuga, os dois samurais juntam-se aos guerreiros oglagla, chefiados por Crazy Horse, que admiram as suas peculiares técnicas de combate corpo a corpo – ju-jitsu – e as suas estranhas armas – arco e flechas.
Juntos, irão participar na batalha do Little Big Horn, uma das mais célebres que opôs brancos e índios, e contribuirão para que os peles-vermelhas de Crazy Horse, Sitting Bull e outros grandes chefes, consigam vencer (e matar) o famoso General Custer.

Desenvolvimento
Taniguchi, a quem nos habituámos a ver como talentoso cronista de histórias quotidianas, em meio citadino, humanas e de uma enorme sensibilidade, surge aqui como encenador de um imenso western, em que transpôs (mais uma vez) para os quadradinhos um confronto épico entre brancos e índios (que conforme a sensibilidade de quem conta, alternam os papéis de bons e maus). Com Taniguchi, outra coisa não seria de esperar que serem os índios a lutar pela causa justa, a defesa das suas tradições e dos seus territórios sagrados e seculares, frente ao invasor branco movido pela ganância do ouro.
Um sinal de que esta incursão (surpreendente) por uma temática tão diferente não impediu Tanguchi de salientar princípios e temáticas que lhe são caros: o valor da vida humana, as relações entre eles, a harmonia com a natureza, o que torna Sky Hawk um western envolvente e fascinante, no qual a batalha ocupa apenas umas poucas páginas finais, enquanto que na maioria delas disserta sobre relações humanas e a proximidade do homem com a natureza. E nos mostra como formas de ser aparentemente distantes – o bushido japonês e o código de honra dos índios – podem afinal ter tantos pontos de contacto.
O retrato que Taniguchi traça dos grandes espaços selvagens do Velho Oeste e da forma de vida dos índios é cativante e, por vezes, até entusiasmado, embora perca pela reduzida dimensão da edição

A reter
- A forma como a história evolui, permitindo à ficção acompanhar a realidade histórica.
- O tratamento gráfico dado por Taniguchi à obra, com o seu traço fino, detalhado, vivo, expressivo, que é dinâmico quando a acção o exige, ou mais contemplativo quando a narrativa precisa de respirar.

Menos conseguido
- Se é verdade que o preto e ranço de Taniguchi é excelente, a amostra de aplicação da cor, patente nas 3 primeiras pranchas do livro, permite sonhar como seria belo o livro, se todas tivessem recebido igual tratamento.

Curiosidade
- Segundo Taniguchi, terão sido os japoneses os responsáveis pela introdução do arco e flecha junto dos peles-vermelhas.
- Um western spaghetti aos quadradinhos, narrado por um mangaka japonês é, sem dúvida, mais um sinal da globalização… e possivelmente um exemplo dos caminhos que a BD trilhará – já trilha…? - num futuro não muito distante.

05/11/2009

As Leituras dos Heróis – Jérôme Macherot

(Segundo François Boucq) Pergunta: Se lesse banda desenhada quais seriam as preferidas de Jerôme Macherot?
Resposta –Tarzan, BD de aventura, Blueberry, Gaston Lagaffe, Philémon (de Fred), Mort Cinder (de Breccia)…
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