26/09/2012

Fun Home

Uma tragicomédia familiar  









Alison Bechdel
Contraponto (Portugal, Setembro de 2012)
150 x 230 mm, 240 p., pb, brochada com badanas
16,60 €
 
 
Resumo
Banda desenhada autobiográfica, Fun Home narra a relação entre a autora, Alison Bechdel, e o seu pai, revista à distância, após a morte (ou suicídio?) daquele.

25/09/2012

Piége Nuptial

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Christian de Metter
Casterman (França, Agosto de 2012)
185 x 260 mm, 128 p., cor, brochado com badanas
18,00 €
 
 
 
Resumo
Nick, um jornalista freelancer norte-americano, em viagem pela Austrália, entre duas reportagens, descura três aspectos fundamentais para sobreviver nas suas imensas planícies:
1)      Não conduzir de noite com os faróis acesos, pois pode-se atropelar um canguru:
2)     Ao recorrer a uma garagem para reparar a viatura, não dar boleia à primeira mulher bonita que aparece e, menos ainda, não ceder aos seus encantos;
3)     Pensar bem, antes de responder a uma pergunta feita durante a noite.
 
 
Desenvolvimento
Por coincidência, os dois livros já apresentados esta semana aqui, em As Leituras do Pedro, são adaptações de obras literárias. Mais, adaptações de obras literárias contemporâneas, fugindo, assim, à habitual apetência pelos clássicos.
Depois de George R. R. Martin, ontem, hoje é a vez de Douglas Kennedy, um norte-americano nascido em 1955, autor de alguns best-sellers, entre os quais “The Dead Heart” (1988), que esteve na origem do presente livro.
Na base da trama, está o facto de Nick ter falhado os três pontos acima enumerados e, em consequência, quando procurava a liberdade e os grandes espaços, dá por si privado da sua autonomia, da sua independência e da possibilidade de circular, sozinho em Wollanup, uma pequena comunidade isolada de estrutura patriarcal e praticamente desconhecida do mundo, para onde a sua “conquista” o arrastou com o propósito de com ele casar – casar com a vítima da sua “armadilha nupcial” de que fala o título francês.
Colocado nesta situação limite e de pesadelo, após uma descida aos infernos em que quase se destruiu, Nick terá primeiro de recuperar a sua autoconfiança, depois encontrar forma de sobreviver no meio de uma comunidade hostil dominada pela força e a violência e, finalmente, agir, contando com uma inesperada ajuda.
Sem adiantar mais, para não estragar o prazer da descoberta, posso adiantar que este é um thriller psicológico que, depois de um arranque que parece banal, facilmente cativa o leitor e o arrasta para a incómoda identificação com Nick.
E que – tal como o relato de ontem – conseguiu encontrar a forma de respirar num suporte narrativo diferente. Só que enquanto “O Cavaleirode Westeros” vivia das cenas de acção e do suporte dos textos de apoio, “Piége Nuptial” assenta em diálogos curtos mas incisivos, em sequências mudas e na transmissão de emoções como o desespero e o abandono e da enorme tensão psicológica que constitui a base da segunda parte da história.
Graficamente, De Metter, tem um excelente trabalho a aguarela, com uma paleta de cores impressionante, com a qual (nos) retrata quer os vastos desertos australianos, imensos, soalheiros, quentes e poeirentos em que nos apetece embrenhar-nos, quer a penumbra dos espaços em que Nick se vê confinado, quer as muitas cenas nocturnas. Tudo com um traço algo impreciso e enquadramentos fechados em que abundam os médios e grandes planos, que reforçam o clima de tensão e de intimidação e a violência psicológica a que Nick está sujeito, sustentado longamente o suspense quanto ao seu desfecho.
 
A reter
- A ideia original de “Piége Nuptial”
- A forma conseguida como De Metter transpôs para a BD este romance de Douglas Kennedy, conseguindo transmitir a tensão e a violência física e psicológica que se avolumam na segunda parte do relato até ao desfecho, de certa forma, libertador.
- O soberbo trabalho gráfico do autor.
 
Menos conseguido
- A página final, pois a visualização da cena de imediato desfaz o efeito pretendido.
 
 

24/09/2012

O Cavaleiro de Westeros

 
 
 


 
 
 
 
Ben Avery (argumento)
Mike S. Miller (desenho)
Mike Crowell (cor)
Saída de Emergência (Portugal, Setembro de 2012)
165 x 240 mm, 196 p., cor, brochada
16,50 €
 
 
Resumo
Baseado no universo de Westeros, onde se desenrolam as Crónicas de Gelo e Fogo, escritas por George R.R. Martin, este livro aborda um período anterior em cerca de 100 anos ao do inicio do primeiro livro das crónicas, no tempo do rei Daeron, com o reino em paz e a dinastia Targaryen no auge do seu poder.
Iniciado com a morte de Sor Arlan, narra a demanda do seu escudeiro Dunk, Sor Duncan, o Alto, para se impor como cavaleiro andante.
 
Desenvolvimento
Esta é uma bela história em ambiente medieval – a sua localização em Westeros, no universo criado por George R. R. Martin não é especialmente determinante para o desenrolar da história contada, pelo menos no que a este primeiro tomo diz respeito – bem construída, e explanada e competentemente recriada no seu novo suporte narrativo, onde apresenta vida própria.
Narrada em ritmo moderado, de certo modo imposto pelo recurso recorrente a texto em off, vai introduzindo ao leitor as questões pertinentes sobre os diversos reinos e dinastias de Westeros, sem que ele quase dê por isso, enquanto aprende a conhecer o protagonista Dunk, aliás Sor Duncan, o Alto, o seu escudeiro Egg e a bela bonecreira Tanselle.
A base da história é simples: um ex-escudeiro, agora cavaleiro andante, procura a honra e a glória (e também a riqueza) nos torneios que frequentemente têm lugar.
Cavaleiro andante, reforce-se a ideia, cuja diferença fundamental, para além de combater apeado, é servir apenas causas justas e estar ao lado dos fracos e oprimidos.
Só que, naquela época, no mundo de Westeros, como nos dias de hoje, no nosso mundo, a honra, a justiça, a verdade e a lealdade nem sempre (raramente?) são os valores mais praticados, como Dunk irá descobrir à sua custa, embora também encontre as virtudes que costumam estar no lado oposto da balança: a amizade, dedicação, entrega e mesmo o amor.
Desenvolvido num crescendo, que culmina numa justa entre dois grupos de sete cavaleiros, cujo resultado determinará o futuro do jovem, falta a essa cena fulcral mais arrojo gráfico – deveria ser mais visual e menos descritiva, possivelmente – para fazer dela um momento mais marcante.
Apesar disso, no geral o traço realista e detalhado de Mike Miller (com várias passagens por alguns dos principais super-heróis da Marvel) mostra-se ajustado ao registo narrativo, não sendo difícil encontrar belos pormenores, a par de uma planificação dinâmica e diversificada que utiliza com frequência planos arrojados que ajudam a ritmar as cenas.
E se é verdade que o final (provisório) é previsível, contem os leitores com diversos desenvolvimentos surpreendentes e alguns volte-faces até ele se concretizar.
 
A reter
- A aposta inteligente da Saída de Emergência numa boa adaptação aos quadradinhos de uma obra de um dos seus autores de referência, que poderá fazer a ponte entre dois universos de leitores: os de George Martin e os de BD.
- Uma boa edição, a que talvez só faltem umas badanas na capa e contracapa para lhe dar um pouco mais de consistência.
- A curiosa inclusão de uma “pré-visualização” do tomo seguinte, “A espada ajuramentada”, em que prossegue a saga de Sor Duncan e de Egg, sinal de que a editora pretende continuar a editar BD.
 
 

22/09/2012

Mônica e Cebola vão dar o nó?

 
 
 
 
 








A notícia chegou há dias: Mônica e Cebolinha (aliás Cebola) vão dar o nó, depois de décadas de planos infalíveis e dolorosas coelhadas.
 
O feliz acontecimento terá lugar no nº 50 da revista Turma da Mônica Jovem, à venda em breve no Brasil (e seis meses depois em Portugal), mas dele apenas se conhece o “Convite de Casamento” da Mônica e do Cebola “para o dia mais feliz” das suas vidas e, até agora, ambos eram apenas adolescentes.

21/09/2012

Un peu de bois et d'acier




 

  
 












Chabouté
Vents d’Ouest (França, 19 de Setembro de 2012)
170 x 245 mm, 336 p., pb, brochado com badanas
30,00 €

20/09/2012

Spirou e Fantásio #50

Nas Origens do Z
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Morvan e Yann (argumento)
Munuera (desenho)
ASA (Portugal, Julho de 2012)
218 x 300 mm, 56 p., cor, cartonado
12,90 €

19/09/2012

Leituras Novas

Setembro de 2012

 

ASA
12 – A Doce
François Schuiten
Léon conhece bem a Doce. Compreende-a melhor do que ninguém e antecipa os seus mínimos desejos.
O que é muito natural, depois de tantos anos passados juntos a devorar quilómetros. Porque a Doce, ou melhor, a 12.004, é uma locomotiva a vapor. Uma rainha da velocidade, com uma mecânica sofisticada, que é o orgulho do seu maquinista.
Mas os tempos mudam, os transportes eléctricos ganham terreno e os dias da Doce estão contados.
Edição disponível com 2 capas diferentes.
É o primeiro livro de BD com realidade aumentada.
 

Astérix entre os Bretões (capa nova)
Goscinny e Uderzo
Decidido a expandir as fronteiras do seu império, Júlio César prepara um exército de legionários altamente treinados para invadir a Bretanha (a actual Grã-Bretanha).
Para ajudar o seu primo bretão Jolitorax na sua luta contra as legiões romanas, Astérix atravessa o Mare Britannicum (Mancha) na companhia de Obélix e de um barril cheio de «mágica poção».
Começa então para os dois amigos um périplo pelo país onde falam ao contrário, bebem cerveja quente, servem javali cozido e jogam râguebi (para grande satisfação de Obélix)!
Será que nossos heróis conseguirão resistir a todos estes desafios? 

 

Contraponto
Alison Bechdel
Vencedor do Eisner Award e do Lambda Book Award
Livro do Ano do New York Times, do Los Angeles Times, do San Francisco Chronicle, da Publishers Weekly, da Salon.com, da Amazon.com, do Guardian e do London Times
Best-seller internacional e obra pioneira, Fun Home descreve a relação frágil que Alison Bechdel manteve com o pai ao longo da sua infância e adolescência. Na sua narrativa, a história íntima e pessoal de uma família transforma-se numa obre cheia de subtileza e poder.
Exigente e distante, Bruce Bechdel era professor de Inglês e dirigia uma casa funerária – a que Alison e a família chamavam, numa pequena piada privada, a «Fun Home». Só quando estava na universidade é que Alison, que recentemente admitira aos pais que era lésbica, descobriu que o pai era gay. Umas semanas depois desta revelação, Bruce morreu, num suposto acidente, deixando à filha um legado de mistério, complexos e solidão.

 

Levoir/Público
Carl Potts e Jim Lee

#11 - “X-Men - Graduação”
Roy Thomas e Neal Adams

#12 - “Guerras Secretas - Heróis vs. Vilões”
Jim Shooter, Mike Zeck e Bob Layton

#13 - “Guerras Secretas - A Batalha Final”
Jim Shooter, Jay Faerber, Mike Zeck e Gregg Schiciel 

 

Saída de Emergência
Ben Avery, Mike S. Miller e Mike Crowell
O continente de Westeros é o cenário onde se desenrola a saga de George R. R. Martin, as Crónicas de Gelo e Fogo.
O Cavaleiro de Westeros decorre cerca de cem anos antes do início do primeiro livro das Crónicas, no tempo do rei Daeron, com o reino em paz e a dinastia Targaryen no auge do seu poder.
Quando a vida de um cavaleiro termina, a sua morte pode ser o começo de uma nova vida para o seu escudeiro. Intitulando-se de “Sor Duncan, o Alto”, o jovem Dunk parte em busca de fama e glória no torneio de Vaufreixo, mas também sonha em prestar juramento como cavaleiro dos Sete Reinos. No caminho, encontra um rapaz misterioso que está determinado em ajudá-lo na sua demanda.
Infelizmente para Dunk, o mundo pode não estar preparado para um cavaleiro que mantém a sua honra. E os seus métodos cavalheirescos podem vir a ser a sua ruína…
Uma história fascinante sobre honra, violência e amizade, pela mão do grande mestre da literatura fantástica: George R. R. Martin.  

 (Os textos, quando existem, são da responsabilidade das editoras)

18/09/2012

La Peau de l’Ours

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 








Zidrou (argumento)
Oriol (desenho)
Dargaud (França, Julho de 2012)
240 x 320 mm, 64 p., cor, cartonado
14,99 €

17/09/2012

The Walking Dead #3 - Segurança na Prisão











Robert Kirkman (argumento)

Charlie Adlard (desenho)
Cliff Rathburn (tons cinzentos)
Devir (Portugal, Agosto de 2012)
170 x 255 mm, 136 p., pb, brochado
14,99 €

16/09/2012

Selos & Quadradinhos (86)

Stamps & Comics / Timbres & BD (86)
 
Tema/subject/sujet: This is Belgium
País/country/pays: Bélgica/Belgium/Belgique
Data de Emissão/Date of issue/date d'émission: 17/09/2012

15/09/2012

Abelha Maia completa 100 anos

 
 
 
 
 
 
 
 
Há 100 anos, num país com pouca cor, nasceu um dia uma abelha. Conhecida pela amizade, a alegria e a bondade, era a pequena Abelha Maia.
 
Muitos recordarão a simpática personagem que encheu os sonhos de uma geração e relembraram nas frases acima o início do genérico da série animada transmitida pela RTP, cuja versão portuguesa, então muito trauteada, foi interpretada por Ágata e ToZé Brito.
A série de animação com as aventuras da Abelha Maia, uma co-produção do Japão, da Áustria e da Alemanha, datada de 1975, foi dirigida por Hiroshi Saito, sendo a definição gráfica das personagens do norte-americano Marty Murphy e a banda sonora, forte e animada, composta por Karel Svoboda.
 
 
Transmitida a partir de 1978 pela então única e todo-poderosa RTP, foi dobrada em português, contando com as vozes de Cármen Santos (que interpretava a protagonista), Canto e Castro (Flip) ou Irene Cruz (Willy).
Composta por 52 episódios, posteriormente editados em cassete-vídeo e, mais recentemente, em DVD, teria uma segunda temporada, datada de 1982, que também passou na RTP.
No entanto, se muitos a viram no ecrã televisivo, poucos saberão que a pequena abelha surgiu pela primeira vez em Setembro de 1912 – há um século, portanto – no livro "A Abelha Maia e as suas aventuras" (“Die Biene Maja und ihre Abenteuer”, no original), escrito para os filhos pelo escritor Waldemar Bonsels (1880-1952).
O único livro infantil deste alemão natural de Ahrensburg, autor de diversos romances e novelas, tem uma evidente conotação política, apresentando a colmeia como exemplo de uma bem organizada sociedade militarizada que se impõe pela força, com alguns traços de nacionalismo e de racismo para com outros insectos “inferiores”.
A protagonista é uma pequena abelha, Maia, que contrariamente às instruções da sua professora Cassandra, decide deixar a colmeia e conhecer mundo, sendo por isso expulsa. Aprisionada pelas vespas, toma conhecimento de um plano para atacar a sua colmeia, ficando dividida entre regressar para avisar as suas irmãs e ser castigada ou ignorar o que sabe. Acabará por tomar a decisão acertada, salvando a sua colmeia e tornando-se uma abelha adulta trabalhadora e responsável, numa analogia que defende o colectivismo em relação à individualidade de cada um.
Desfrutando de grande sucesso, até 1918, final da Primeira Guerra Mundial, o livro vendeu cerca de 90 mil exemplares, originando um filme realizado em 1924 pelo fotógrafo alemão Wolfram Junghans.
Durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), a obra tornou-se famosa entre os soldados alemães na frente de batalha, o que a viria a tornar algo impopular nos anos seguintes devido à sua conotação com a ideologia nazi, o que não impediu que em 1954, dois anos após o falecimento do autor, atingisse a impressionante marca de um milhão de exemplares vendidos.
Aquela situação só seria revertida nos anos 70, com a série animada televisiva, mais ligeira e linear, na qual a protagonista se apresenta mais emancipada e reticente à autoridade, mas também uma abelha corajosa, divertida e curiosa, vivendo inúmeras aventuras em conjunto com Willy, o seu melhor amigo, o gafanhoto Flip, o escaravelho Kurt, a mosca Puca e a vilã de serviço, a aranha Tecla.
Dobrada em mais de 40 línguas, originou uma versão em banda desenhada produzida pelo editor alemão Bastei Verlag, colecções de cromos, livros ilustrados, figuras em pvc e outros artigos de merchandising.
Para assinalar o actual centenário, a televisão pública alemã ZDF está a produzir 78 novos episódios da "Abelha Maia", em animação 3D, que deverão estar prontos em 2013.
 
(Versão revista do texto publicado no Jornal de Notícias de 9 de Setembro de 2012)
 
 

14/09/2012

Murena #6/#7

O Sangue das Feras/Vida dos Fogos
 

 

  

 

 

 

Dufaux (argumento)
Delaby (desenho)
ASA (Portugal, Julho de 2012)
220 x 295 mm, 116 p., cor, cartonado
21,90 €

 
 

Se a banda desenhada, em diversos momentos e em diversos registos (como em Astérix, Alix ou As Águias de Roma, para citar apenas obras de fácil acesso em português) abordou de forma mais ou menos directa a época do império romano, possivelmente nunca o terá feito com o rigor histórico e a qualidade ficcional que Murena ostenta.
Acompanhando o percurso de Nero desde a sua juventude, narrando a sua ascensão ao poder, o seu comportamento despótico e, suponho, a sua (futura e) inevitável queda, Murena é um retrato cru e violento de uma sociedade romana já em decadência, minada desde o seu interior pelas intrigas e a podridão moral.
E Dufaux traça o percurso de Nero, balizando-o através das suas relações com as mulheres que marcaram e influenciaram a sua vida: a tia Domitia, a mãe Agripina, a escrava Acté, a mulher Pompeia…
Esse retrato – de Nero e de Roma – desvenda a vida nos palácios, o treino dos gladiadores, a violência na arena, as ruas esconsas e sórdidas ou as campanhas militares, e mostra o monarca convencido do seu estatuto de semideus, capaz de dar e de se dar, enquanto isso serve os (que pensa serem os) seus interesses, ou de afastar, tantas vezes de forma extremamente violenta (física e/ou emocionalmente) quando os respectivos caminhos deixam de ser comuns.
Se isto é aplicável ao relacionamento (mais ou menos) íntimo que teve com aquelas (e outras) mulheres, é também extensível a todos os que o foram rodeando: amigos, companheiros ou simples interesseiros, conselheiros, bajuladores, criados, escravos… Aos quais se julga superior, embora muitas vezes não passando de um joguete nas mãos dos outros.
Em paralelo, conhecemos também Murena, que até dá o título à série, cujo caminho diversas vezes – raramente pelos melhores motivos para ele – se cruza com o do (futuro) imperador. Murena revela-se mais humano – em oposição ao “deus” – construindo o seu caminho contra a adversidade (e as intrigas) ganhando nesse percurso, pejado de traições e de perdas dolorosas, uma força interior proporcional à perda da inocência e da tal humanidade que de início o distinguem.
Por isso, Murena é uma história de (tentativa de) afirmação pessoal e de vingança (de sucessivas vinganças) que anda a par da expansão do cristianismo (abordada até agora de forma apenas ligeira e secundária), da destruição de Roma (na dupla condição de império e de cidade), de uma forma notável e cativante, quer pela escrita competente e desenvolta de Dufaux que construiu uma história com inúmeras ramificações que se vão entrelaçando, fazendo-a crescer em complexidade e capacidade de apaixonar, quer pelo traço realista de Delaby, servido por uma excelente gama cromática, cuja melhoria de tomo para tomo é notória.
O díptico agora em análise, a parte central do 2º ciclo desta saga, termina com Roma em chamas, embora não devido à loucura (cada vez mais patente) de Nero, mas como parte (involuntária) de uma vingança que os seus inimigos vão orquestrando na sombra. 
Nota final
Volta à questão dos álbuns duplos, que já aflorei no texto sobre Bouncer.
Se aplaudo a ideia de o 1º ciclo de Murena (tomos 1 a 4) ter sido concluído com um volume duplo incluído na colecção “Os Incontornáveis da Banda Desenhada”, distribuída com o jornal Público, questiono qual a lógica de ter editado o tomo #5 sozinho, juntando agora o #6 e o #7, o que deixa isolado o tomo #8 que conclui o segundo arco desta série.
Uma vez que a opção inicial não passou por dividi-lo por dois volumes – o que teria sido o ideal – não faria mais sentido, depois de editado o #5, tê-lo encerrado com um volume triplo…?

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