17/01/2013

Crève Saucisse









  
Pascal Rabaté (argumento)
Simon Hureau (desenho)
Futuropolis
França (10 de Janeiro de 2013)
195 x 265 mm, 80 p., cor, cartonado
16 €



Resumo
Didier é talhante, fã de banda desenhada e… um marido enganado pelo seu melhor amigo, desde as últimas férias que os dois casais passaram juntos.
Por isso, nada mais natural que arquitectar uma vingança, tendo por inspiração uma das suas bandas desenhadas de referência.

Desenvolvimento
Se há casos em que a ficção (aos quadradinhos) imita a realidade ou que a realidade imita a ficção (aos quadradinhos), a existirem, não devem ser muitos os casos como este em que a ficção (aos quadradinhos) imita (uma outra) ficção aos quadradinhos!
A história parece  enganadoramente banal: o marido descobre a traição, segue a mulher diversas vezes para confirmar, arquitecta um plano para se vingar e recuperar a  companheira, põe-no em prática e… algo corre mal.
Só que, “Crève Saucisse”, desenhado num traço solto e dinâmico por Hureau, que se revela bastante expressivo apesar da sua aparente simplicidade, está escrito de forma consistente e com um humor negro e ácido por Rabaté, o que o transforma em puro divertimento, bem ritmado e até com diversos momentos de suspense o relato da progressiva degradação da relação do casal.
Na sua leitura, enquanto (involuntariamente?) torcemos pelo sucesso do marido enganado, aparentemente um homem pacato e tranquilo que se revelará capaz de grandes horrores, que vai descarregando a sua fúria na carne que retalha, vamos acompanhando a passo e passo a descoberta da traição e a preparação do plano para recuperar a sua mulher, Sandrine, e livrar-se do seu amigo Eric, em novas férias em conjunto, durante as quais porá em prática os mais variados estratagemas para impedir que os dois consigam estar sós.
Mas, para além de teatro de costumes, “Crève saucisse”, é também uma bela homenagem ao magnífico “Gil Jourdan – La voiture immergée”, de Maurice Tilieux, bem como a muita da BD franco-belga, mostrada aqui e ali ao longo do relato. Aquela obra de Tillieux serve de base para Didier arquitectar o seu plano, levando o seu “concorrente” ao local real que a inspirou.
No final, no entanto, como esta BD é apenas um reflexo duma outra ficção (em BD), nem tudo acaba bem para o protagonista, cujo plano não resulta tão bem quanto pensava… denunciado por um insuspeito herói de (outra) BD…
O que, aos seus olhos - os olhos de alguém cuja mente está distorcida pelos quadradinhos que lê! - não se revela tão grave assim, porque com certeza existirá uma outra banda desenhada a imitar na (sua) vida real, para reparar o que a primeira acabou por destruir!

A reter
- O humor negro do relato, divertido e surpreendente.
- A legibilidade do traço de Hureau.
- A bela homenagem a Tillieux, expressa também nas sequências do álbum original redesenhadas e incluídas no actual relato.
- A conseguida ligação entre as duas narrativas desenhadas.


16/01/2013

J. Kendall #89





  

Um mundo de violência
Giancarlo Berardi e Lorenzo Calza (argumento)
Marco Soldi e Luigi Pittaluga (desenho)
Mythos Editora
(Brasil, Abril de 2012)
135 x 178 mm, 132 p., pb, brochado, mensal
R$ 8,90 / 4,00 €


“Reencontro” poderia ser o título desta crónica.
Reencontro com Julia Kendall, depois de meses de ausência devido à decisão da VASP de não distribuir este título da Mythos em Portugal.
Reencontro possível porque mãos (muito) amigas me fizeram chegar um bom lote de números de “J. Kendall – Aventuras de uma criminóloga” e agora o difícil é resistir a lê-los todos de enfiada e voltar a enfrentar (longos) meses de privação.
Em “Um mundo de violência”, após a morte de um atleta no ringue, a pedido do detective Leo Baxter – que desempenhará um papel crucial na história - a Julia envolve-se com o lado mais negro do (baixo) mundo do boxe, dos combates vendidos, dos atletas comprados e explorados e das apostas ilegais.
Retrato duro e incisivo de um submundo que todos fingem não existir, esta é uma nova oportunidade para Berardi e Calza traçarem um retrato assertivo das piores facetas da sociedade de Garden City – da sociedade norte-americana, da nossa sociedade ocidental – em que uns quantos controlam, exploram, violentam, condenam à morte ou descartam quando já não têm mais serventia um grande número de infelizes que da vida não conseguem mais do que sonhar pequenos sonhos, que quem os domina torna inatingíveis.
De forma contrastante com aquele universo violento, as habituais inseguranças e vulnerabilidades de Julia – que fazem dela um caso tão especial nos quadradinhos dos nossos dias – levam-na a expor-se mais do que é vulgar e a quase terminar a sua carreira de forma violenta e definitiva, como mais alguém desfeito pelo mundo do boxe, em mais um relato desenhado, de final trágico em que ainda há tempo para redenção, numa prova de crença no melhor do ser humano.


15/01/2013

Comprimidos azuis












Colecção Biblioteca de Alice
Frederik Peeters
Devir (Portugal, Dezembro de 2012)
170 x 240 mm, 200 p., cartonado com sobrecapa
24,99 €



E, finalmente, com o proverbial atraso, parece que a autobiografia aos quadradinhos encontrou o seu lugar no pequeno mercado nacional de quadradinhos.
Cerca de duas décadas depois de o Salão Internacional de Banda Desenhada do Porto ter dado a conhecer nomes como Seth, Joe Matt, Adrian Tomine, James Kochalka, Roberta Gregory, Julie Doucet, Marjane Satrapi, Étienne Davodeau ou Dupuy e Berbérian, em pouco mais de um ano ficaram disponíveis obras fundamentais – com todas as diferenças que se reconhecem em termos formais e de estilo - como “Blankets”, “Persépolis”, “Fun Home”, “Portugal” e, agora, este “Comprimidos azuis”.
Publicado originalmente em 2001, é um relato tenso e dramático, de grande densidade psicológica, que narra, melhor, expõe a relação do autor, Frederilk Peeters, com Cati e o seu filho, ambos portadores do vírus VIH.
É uma narrativa sincera, de grande sensibilidade, crua no despojamento do autor e no realismo da sua exposição (que algumas sequências oníricas apenas servem para reforçar e tornar mais forte), que mostra como ele foi avançando nessa relação, passando da paixão à descoberta, da dúvida premente (ao tomar conhecimento da doença) às incertezas, do medo à nova descoberta – de que se pode ter uma vida, uma relação (quase) normal com quem tem VIH… - como uma aprendizagem raramente fácil mas indispensável para concretizar o que tinha sonhado.
Um pouco datada – há uma década a SIDA era presença constante no quotidiano noticioso, por isso falta-lhe hoje o reflexo desse impacto mediático – “Comprimidos Azuis” não perdeu, apesar disso nada da sua força narrativa, da sua doçura e do seu lado trágico.
E a sua mensagem central – felizmente válida para tantas outras situações, para todas as situações, até? – continua a fazer sentido: “Contenta-te apenas em apreciar a tempo as coisas que têm um fim…”


14/01/2013

Richard F. Outcault nasceu há 150 anos














A 14 de Janeiro de 1863 nascia Richard Felton Outcault que estava destinado a ser o criador da primeira banda desenhada da história, “The Yellow Kid”.
Não o sabia quando nasceu, nem o soube durante a sua vida, que terminou cedo, aos 55 anos, a 25 de Setembro de 1928.
Na realidade, essa escolha só seria feita bastante mais tarde, em 1988, em Lucca, na Itália, quando um painel de especialistas mundiais em BD – que incluía o português Vasco Granja – fez coincidir a nascença desta arte com a publicação do painel de “The Yellow Kid” de 18 de Outubro de 1896.

Apesar da existência de exemplos anteriores de histórias aos quadradinhos, da autoria de pioneiros como o suíço Rudolphe Toppfer (cujas primeiras obras datam de 1827!) e também do português Raphael Bordallo Pinheiro, foram apontadas três razões principais para aquela decisão: a utilização regular da personagem, a introdução de balões de fala (que eram escritas na larga camisola que o protagonista vestia) e a sua divulgação em larga escala, uma vez que era publicado no jornal “New York World”, de Joseph Pulitzer. A proximidade do (mediático) centenário da data escolhida, também não terá sido indiferente para a decisão tomada.
Nascido em 1895, como série de cartoons intitulados “Hogan’s Alley”, “The Yellow Kid” (nome devido à camisola amarela do rapaz careca que protagonizava a série) duraria até 1898.
O seu autor, que frequentara a MacMicken University de Cincinnati e, após se formar, trabalhara para Thomas Edison, o inventor da lâmpada eléctrica, dedicou grande parte da vida ao desenho, tendo ficado mais famoso no seu tempo pela criação de “Buster Brown”, uma verdadeira banda desenhada, que escreveu e desenhou no “New York Herald” a partir de 1902.
Crónica de tom social, tinha como figura principal um menino rico mimado, autor de grandes partidas e tropelias com o seu buldogue. Após três anos bem-sucedidos, o magnata William Randolph Hearst contratou Outcault, que levou Buster Brown consigo para o “New Yorker Journal”, apesar da BD ter continuado em publicação no jornal de Pulitzer. O sucesso, que se prolongaria até 1921 e levaria mesmo à sua adaptação em cinema mudo, levou Outcault a desenvolver uma linha de merchandising baseada na sua criação que o tornou rico e o levou a abandonar a BD.

(Versão revista do texto que publiquei no Jornal de Notícias de 14 de Janeiro de 2013)



13/01/2013

As Figuras do Pedro – Simpsons no Burger King



Colecção: Simpsons - Figuras de inverno
Nº total de figuras: 6
Figuras: Homer, Bart, Marge, Liza, Marge, Santa’s Little Helper
Material: Plástico; figuras com movimento
Fabricante/Distribuidor: Burger King
Ano: 2012
Altura: entre 6 e 9 cm
Preço: gratuitas;
uma figura na compra de um menu infantil Diver King

Ver mais figuras relacionadas com BD e animação.

11/01/2013

Death Note #3 e #4















#3 – Corrida louca
#4 – Amor
Tsugumi Ohba (argumento)
Takeshi Obata (desenho)
Devir
(Portugal, Outubro/Novembro de 2012)
130 x 190 mm, 200 p., pb, brochado
9,99 €



Se tivesse que escolher apenas um adjectivo para classificar Death Note, entre os vários aplicáveis, seria, possivelmente, viciante.
Tendo pegado no volume #3, para continuar a ler esta densa trama policial de tom fantástico, só consegui parar no final do tomo #4, tendo ficado a salivar por mais.
Na verdade, quando parecia que nos dois livros iniciais tudo já tinha ficado mais ou menos definido em termos de estrutura do relato, nestas 400 páginas (apenas cerca de 17 % da obra integral), as surpresas e volte-faces concretizados ou apenas anunciados são vários.
A abrir, tempos o confronto directo entre L - o detective encarregado de descobrir quem anda a assassinar criminosos e polícias à distância - e Kira – aliás Light Yagami, o assassino, detentor do Death Note, um caderno que confere ao seu detentor o poder de matar todos aqueles cujo nome escrever nele. Autêntico “mind games”, este confronto, tenso e dramático, em que ambos os contendores antecipam e tentam ludibriar o seu adversário, evoca um brilhante jogo de xadrez, e vai-se desenvolvendo, de forma dramática, ao longo destes dois livros
Mas, depois, de surpresa em surpresa, surge um segundo “Kira”, L e Light desenvolvem uma improvável relação de amizade, este último encontra Misa Amane, que se torna a sua surpreendente namorada e ambos terminam presos no final do quarto tomo.
Se graficamente a obra continua a exibir um nível elevado, num tom bastante realista, que numa planificação muito diversificada privilegia os grandes planos, fortes e expressivos, que ajuda a consolidar e a dar credibilidade ao relato, é no argumento que “Death Note” se distingue, pela forma como Ohba estrutura a narrativa.
Ao tom policial e fantástico que a marcam desde o início, acrescenta um contido retrato crítico da sociedade japonesa, explora a importância da televisão no mundo de hoje e explora os sentimentos que se estabelecem entre os principais protagonistas como mais uma via do seu relato.
Tudo isto num crescendo de tensão, apesar do ritmo propositadamente lento que serve para explorar até ao âmago cada uma das situações congeminadas. E conseguindo manter, apesar das sucessivas surpresas para o leitor, a elevada qualidade e o tom de suspense que leva a querer chegar depressa ao fim da série, parecendo parecer displicente o bom ritmo de publicação (4 tomos num ano) que a Devir tem conseguido.


10/01/2013

A arte de... Laurent Bonneau














Douce Pincée de Lèvres en ce Matin d'Eté
Laurent Bonneau
Dargaud
(França, Janeiro de 2013)
222 x 295 mm, 112 p., cor, cartonado
16,45 €

09/01/2013

Batman - Asilo Arkham












Uma séria casa em um sério mundo
Grant Morrison (argumento)
Dave McKean (desenhos)
Panini Comics (Brasil, Novembro de 2012)
170 x 260 mm, 216 p., cor, cartonado




No início dos anos 80, Batman, à imagem do mercado de comics, era uma personagem que parecia gasta e esgotada.
Foi então que três obras (mais o filme de Tim Burton) contribuíram para a sua renovação, em especial pela forma como salientaram o lado mais negro do Homem-Morcego: “O regresso do Cavaleiro das Trevas” (1986), de Frank Miller, “A piada mortal” (1988), de Alan Moore e Brian Bolland, e “Batman – Asilo Arkham” (1989) que, como as anteriores, é bem mais do que uma aventura de Batman, não só pela viagem psicológica pela mente humana e pelos limites da sanidade/loucura, mas também pelo brilhante trabalho experimental do ilustrador Dave McKean.
Como ponto de partida da narrativa, está uma revolta dos criminosos internados no Asilo Arkham, que exigem a presença de Batman, que os prendeu a todos, em troca da vida dos reféns que fizeram, desafio que Batman aceita. Um Batman que nunca se vê, só se vislumbrando esboçado, como sombra ou esbatido em ambientes enevoados.
Este é, aliás, o aspecto geral da obra, já que raramente as imagens são nítidas e bem contrastadas. Excepções há poucas: um cinzeiro de vidro, uma cartão do Teste de Rorschach, uma carta de Tarot…
Ou seja, só não é difuso o que é palpável, os pontos de contacto com a sã (?) normalidade, como também acontece quando Batman se sangra a si próprio para se manter alerta – lúcido – na sua fuga pelo manicómio, acossado pelos vilões.
Um Batman que enfrenta este dilema (onde está a fronteira entre a normalidade e a loucura?) ao longo de todo o livro. Por isso revela “sentir-se em casa” quando entra no asilo ou o receio de estar louco, de se poder equiparar aqueles que combate. Um Batman que parte ferido no seu amor-próprio pelas alusões de homossexualidade que o Joker lhe faz à chegada, que facilmente estropia e mata, ao lutar pela sua sobrevivência (só?) e por manter a sua sanidade, mesmo que isso implique portar-se como um louco aos olhos do leitor. A quem não surpreende, por isso, o tétrico convite que o Joker, líder da rebelião, faz no final a Batman: “quando as coisas correrem mal, há sempre um lugar para ti, aqui dentro”.
A narrativa vai sendo intercalada com a história do próprio asilo - criado por um louco e regido por estranhas noções: “Por vezes é preciso destruir” (a personalidade) “para se reconstruir”, para curar (!?) - imaginado nos anos 70 por Dennis O’Neil, em homenagem à cidade fictícia de Lovecraft, cuja influência, em termos de ambiente de terror, se reconhece nesta obra, mostrando como ambas as histórias se interligam, como o edifício (a instituição?) subverte e influencia quem nele entra.
Mas não só Lovecraft é citado, sendo diversas as referências literárias que Grant Morrison vai deixando para o leitor descobrir, não sendo de todo inocentes as citações de Lewis Carrol, que abrem e fecham esta narrativa, a que só se pode apontar a excessiva linearidade de algumas analogias.
O notável trabalho de Dave McKean, que revela aqui já a multiplicidade de técnicas com que viria a salientar-se como reputado designer, autor de centenas de capas de livros, revistas e discos e de bandas desenhadas como “Cages”, é o primeiro sinal distintivo desta obra, pela forma como McKean combina design, ilustração e colagem, de forma densa e expressiva, complementando o argumento de Morrison e permitindo segundas leituras e sentidos, com os elementos que servem de fundo a muitas das pranchas a poderem encaminhar o leitor para diversas interpretações, todas válidas, todas possíveis.
À medida, talvez, da loucura de cada um…

(Versão revista do texto publicado no Jornal de Notícias de 20 de Fevereiro de 2005, a propósito da edição portuguesa da Devir; com excepção da capa, as imagens que ilustram este texto também foram retiradas dessa edição)



08/01/2013

Vencedores do Passatempo Comics Star Wars



E pronto, está encerrado este primeiro passatempo d’As Leituras do Pedro em colaboração com a editora Planeta DeAgostini.
É tempo de revelar as respostas e de conhecer os vencedores.
Antes, uma curta nota para referir que pensava que a pergunta colocada era mais simples. Nenhum dos participantes deu a resposta completa, sendo vencedores os dois que mais se aproximaram dela.

Assim, dar uma resposta completa à questão "Qual o(o) título(s) das mini-séries Star Wars já lançadas pela Planeta DeAgostini em Portugal?", implicava indicar os cinco títulos seguintes:
Star Wars – O Conselho Jedi (2 volumes)

Star Wars – O Fim Do Infinito  (2 volumes)

Star Wars – StarWars - Qui-Gon & Obi-Wan

Star Wars – JangoFett, Época De Caça (4 volumes)

Star Wars – Episódio II - O Ataque dos Clones (4 volumes)

 Os vencedores do passatempo foram
Optimus Prime (Manuel Ferreira)
que indicou quatro dos cinco títulos
André Azevedo
que indicou três dos cinco títulos

Para atribuir o segundo lugar foi necessário utilizar o critério de desempate previsto, tendo a estimativa de 1000 comentários do André Azevedo ficado mais próxima (por defeito) dos 1977 comentários que realmente foram feitos neste blog até ontem às 15h.

 
Os dois vencedores vão receber em casa o n.º 1 da colecção Comics Star Wars, que é posto à venda em Portugal na próxima quinta-feira, dia 10 de Janeiro.
À Planeta DeAgostini e a todos os que participaram, o meu muito obrigado!


Biogra Fria – O pequeno outro














Topedro
Ar.Ed  (Portugal, Dezembro de 2012)
150 x 230 mm, 100 p., pb, brochado
9,00 €



Hesitei em trazer aqui este livro, porque as primeiras 60 páginas correspondem a “Auto Grafia – O nome do Pai” já aqui referenciado.
No entanto, a leitura atenta convenceu-me. Extensão daquela (auto)biografia (ou uma versão díspar dela…?), destaca-se agora pelo facto de as memórias transcritas para o papel se esfiarem ao ritmo das paixões, namoradas e conquistas (não, não é tudo a mesma coisa…) enquanto que as outras desfilavam sobre as quatro rodas dos carros conduzidos.
Curiosamente – e essa é uma das razões para este regresso de Topedro às minhas leituras, a quem admiro a naturalidade das posições femininas e a sensualidade de muitas – o tom é (enganadoramente?) o mesmo, como se ambas as (suas) referências biográficas – carros e mulheres – fossem apenas âncoras – similares? - das suas memórias…
Que, apesar de memórias, são desfiadas (quase sempre) num tom estranhamente distante e desprovido de emoções, como se fosse narrada a biografia de outrem, sem qualquer interesse.
Ou, noutra perspectiva, carros e mulheres funcionariam como elementos unificadores destes relatos, obviamente complementares, que, no entanto, podem existir independentemente, como o autor prova nas duas partes que compõem o actual volume.
Por tudo o que atrás fica escrito, podendo ser um exercício interessante tentar “montar” a biografia de Topedro a partir dos dois relatos, “combinando” carros e mulheres em cada momento, fico-me pela proposta da análise das primeiras quatro páginas de cada um dos relatos, para descobrirem como o mesmo texto – escrito – embora por ordem diversa, assume tom e significado distinto de acordo com as imagens que o acompanham…
Algo que, no fundo, talvez se possa classificar como manipulação das memórias…


07/01/2013

Passatempo Comics Star Wars


PASSATEMPO TERMINADO

As Leituras do Pedro em colaboração com a editora PlanetaDeAgostini promovem um passatempo relacionado com o lançamento, no próximo dia 10, da colecção Comics Star Wars.
O regulamento deste passatempo é o seguinte:

1. O passatempo terá a duração de 24 horas, desde as 15h30 do dia 7 de Janeiro de 2013 até às 15h29 do dia 8 de Janeiro de 2013.

2. O prémio são dois exemplares do primeiro volume daquela colecção, que a Planeta DeAgostini enviará para a morada dos dois vencedores.

3. Poderão participar todos aqueles que indicarem uma morada válida em Portugal Continental ou nas Regiões Autónomas dos Açores ou da Madeira.

4. Os participantes terão de responder às perguntas seguintes:
4.1. Qual o(o) título(s) das mini-séries Star Wars já lançadas pela Planeta DeAgostini em Portugal?
4.2. Quantos comentários já foram feitos neste blog até às 15h00 do dia 7 de Janeiro de 2013?

5. Os vencedores serão os dois participantes que respondam correctamente à primeira pergunta ou mais se aproximem da resposta certa. A segunda serve apenas como critério de desempate, se necessário. Neste caso, serão vencedores os dois participantes que se aproximem mais, por defeito, do número de comentários. Este será comprovado por um printscreen que fiz e que publicarei amanhã, juntamente com as respostas à primeira pergunta e o nome dos dois vencedores.

6. A resposta à primeira pergunta deverá ser feita por correio electrónico para pedro.cleto64@gmail.com.

7. A segunda resposta, que valida a primeira, deverá ser dada num comentário neste post. Em caso de empate será vencedor quem tiver comentado primeiro.

8. A resposta, certa ou errada, à primeira pergunta, num comentário, implicará a exclusão imediata de quem o fizer.

9. A participação neste passatempo pressupõe a aceitação integral deste regulamento.

Optei por uma questão relativamente simples, para possibilitar a participação do maior número possível de interessados. Agora, toca a responder!
Boa sorte a todos!


O Mistério do Traction 22











As Investigações de Margot #1
Olivier Marin (argumento e desenho)
Emilio Van Der Zuiden (desenho)
NetCom2 Editorial
(Portugal, Dezembro de 2012)
240 x 320 mm, 48 p., cor, cartonado
15,00 €



Resumo
Margot é uma jovem estagiária de uma revista desportiva a quem entregam uma reportagem “impossível”: descobrir o rasto do mítico Citroen Traction 22, um protótipo dos anos 30 que nunca chegou à linha de produção.
Mas, decidida a fazer boa figura, insistente e perspicaz, Margot acaba por chegar bem mais longe do que esperavam os colegas que contavam rir-se à sua custa…

Desenvolvimento
O aparecimento de uma nova editora em Portugal é uma boa notícia. Para mais, porque tem um plano editorial bem definido – decalcado do que é seguido (com sucesso) pela casa mãe espanhola – o que não tem acontecido muitas vezes entre nós.
No caso, o estilo é a linha clara e o modelo aquele que fez a glória da banda desenhada franco-belga. Dirigido, por isso, a um público específico, possivelmente saudosista da revista Tintin, embora não sejam os seus heróis aqueles que vão encontrar (o que não invalida que estas primeiras apostas não encaixassem perfeitamente na sua linha editorial).
“As investigações de Margot”, primeira das duas séries disponibilizadas (a segunda é “Keos”, de sobre a qual conto escrever em breve), para além das características já indicadas atrás, tem como atractivo extra - para um segmento específico, onde se encontram, por exemplo, os fãs de Michel Vaillant – a temática automóvel, neste caso em torno da marca Citroen.
Com os defeitos geralmente associados ao tomo inicial de uma série de autores também em estreia – um desenho aqui e ali inseguro, ainda à procura da sua própria identidade; a falta de familiaridade com as personagens; uma ou outra falha argumental – “O mistério do Traction 22”, ambientado no final da década de 1950, revela-se uma leitura ligeira e despreocupada, com uma construção relativamente consistente, em crescendo, com algumas surpresas pelo meio e próxima do registo policial pelo tom de investigação que assume, da qual ressalta a paixão do argumentista (e desenhador dos cenários e viaturas!) pela história automóvel. De realçar ainda o toque de realismo devido ao facto de o tema central do livro se basear num mistério real, pois o Citroen Traction 22 existiu mesmo, sabendo-se que foram fabricados dele apenas entre 6 e 20 exemplares.
Van Der Zuiden é um pouco vítima da indefinição do tom deste de estreia, onde ressalta um erotismo demasiado púdico e um espírito algo benevolente, mas a clara evolução do seu traço ao longo do álbum e algumas belas vinhetas e páginas nele incluídas deixam vontade de descobrir novos trabalhos deste autor.

A reter
- Uma nova editora de BD é sempre uma boa notícia.
- O toque de credibilidade dado pela base verídica da história.
- A bela Margot que Van Der Zuiden nos mostra a espaços.
- O dossier que encerra o álbum, com a “justificação” de Olivier Marin para a série…
- … e com o Traction 22 e Margot desenhados por outros autores. Que deixa água na boca ao imaginar a série ilustrada por Romain Hugault…!

Menos conseguido
- A parca distribuição deste álbum (disponível apenas online, onde é possível ler as primeiras páginas deste álbum e em lojas seleccionadas) o que lhe retira visibilidade e, consequentemente, vendas(?).
- Alguma indefinição em termos do tom a adoptar, apesar de tudo “desculpáveis” num primeiro álbum.


Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...