13/11/2010

O Sonho do João: A Visita de D. Manuel I a Castro Verde - Lançamento

Miguel Rego e Joaquim Rosa (argumento)
Joaquim Rosa, Sara Paulino e Rafael Afonso (desenho e cor)
Câmara Municipal de Castro Verde (Portugal, Outubro de 2010)
230 x 315 mm, 28 p., cor, agrafado

Notícia

O livro de banda desenhada “O Sonho do João, editado pela Câmara Municipal de Castro Verde, no âmbito das Comemorações dos 500 anos da Doação dos Forais a Castro Verde e Casével pelo rei D. Manuel I, vai ser apresentado hoje no Centro de Convívio de S. Marcos da Ataboeira. No mesmo local está patente uma exposição relacionada com esta obra.
Este é um projecto elaborado em colaboração com a Escola Secundária local, tendo argumento de Miguel Rego e ilustrações de Joaquim Rosa, Sara Paulino e Rafael Afonso, respectivamente docente e alunos daquele estabelecimento de ensino.

Resumo
A história, ficcionada, conta as aventuras do João e dos seus amigos Salomão e Ahmed, aquando dos preparativos da festa de entrega dos forais de Castro Verde e Casével, documentos que são roubados por um grupo de malfeitores que eles têm que descobrir para os recuperar.

Desenvolvimento
Mais um projecto apoiado por uma autarquia, este O Sonho do João, apesar de algumas limitações devidas ao “amadorismo” dos autores – e não interpretem mal o termo, que apenas indica falta de prática na prática (!) da banda desenhada – consegue surpreender.
Por um lado, porque está bem escrito, sem o habitual (noutros casos similares) recurso excessivo a textos de apoio, com a narrativa, embora simples e linear, a desenvolver-se de forma cadenciada e sem quebras.
Graficamente, é verdade que o traço utilizado, embora sendo equilibrado quanto à representação da figura humana e com algum dinamismo, revela várias insuficiências e alguma inconstância qualitativa – perfeitamente aceitáveis e compreensíveis face à tal falta de experiência. Mas que de certa forma é compensada por um agradável trabalho de colorização e de aplicação de sombras e pela planificação diversificada, o que também é devido à utilização de pontos de vista diversificados, alguns dos quais bem conseguidos, como é o caso do picado aqui reproduzido.

12/11/2010

Eternus 9 – A Cidade dos Espelhos – Lançamento e venda de originais

Amanhã, sábado, a partir das 15 horas, tem lugar na livraria Artes & Letras, no Largo Trindade Coelho, 3, ao Chiado, em Lisboa, o lançamento do álbum Eternus 9 – A Cidade dos Espelhos (Gradiva), com a presença do autor Victor Mesquita.
Na ocasião, para além da apresentação da obra e de uma sessão de autógrafos, haverá também oportunidade para adquirir os originais do álbum, que têm “preços acessíveis a todas as bolsas e oferecem um leque que vai desde os 40 aos 400 Euros, com algumas excepções de valor mais elevado. É imensa a variedade, uma vez que as páginas na sua maioria foram executadas em desenhos separados. Como muitos deles estão parcialmente finalizados, dado que lhes falta o trabalho de computador, não deixa de ser curioso para o leitor/comprador compará-los à finalização patente no álbum impresso”, explicou o autor.
No final de 2008, Victor Mesquita anunciava que em “A Cidade dos Espelhos, um portal caleidoscópico atravessará um mundo cujo coração nuclear será Lisboa, sempre Lisboa, no caso de Eternus Olissipólis. Uma Lisboa ainda reconhecível depois da Guerra Nuclear que avassaladoramente transfigurou a face do planeta. A placa tectónica deslocada por efeito de subdecução ao longo do rio Tejo, fragmentaria a Lisboa de hoje até quase não se poder reconhecê-la. Mas estão lá as referências que a distinguem, o espírito de lugar que a possui”. E acrescen-tava: “Esta era uma conti-nuação do Eternus prevista desde que ele nasceu. Sempre vi o primeiro álbum como o ovo a partir do qual nasceria uma sequela de nove títulos, os quais se encontram já traçados em termos de título e contexto. Não previa era que este segundo evoluísse como evoluiu, a história, que me surpreende a cada passo. Ela já está concebida mas está sempre a mexer. Tornou-se um organismo com vida própria. Eu diria que seria a matéria do contexto, as premissas implícitas no ovo, que me conduziram ao longo dos anos para o trabalho actual. Chego a pensar que, de certo modo, esta espera tinha de ser como foi, longa e dolorosa, com dificuldades e súbitas ausências. Até a esperança ter desaparecido. Temos de acreditar que o Destino no fundo somos nós que o fazemos, para o bem e para o mal, e para isso é necessário insistir, resistir, escalar. Deixar de ter esperança, como dizia Alberto Camus. Não podemos estar dependentes de agentes exteriores que nos ofereçam as coisas de bandeja”.
E agora, dois anos passados, Victor Mesquita afirma não estar ainda “suficientemente distanciado para poder falar sobre o álbum” finalizado. Além disso, também não quer “influenciar os leitores, prefiro antes, nesta fase de renascimento e regresso ao mercado, que sejam eles a dizer o que pensam. Dentro em breve poderão manifestar-se através do correio electrónico mencionado na contra-capa do álbum (super9galaxia@gmail.com) e também consultar o site referido (www.victormesquita.com).
De qualquer forma, avança que “ao longo da construção de A cidade (a sua parteno-génese, prefiro antes dizer), se foi impondo a resultante que aí temos. Previa-se que o álbum não ultrapassasse o número de páginas acordado em contrato, 58, e como vemos atingiu as 97 por imposição do seu próprio renascimento. Com o acordo da editora, claro está. Penso que de algum modo a coisa responde por si”.
Sobre “Eternus 9 – Cidadela 6”, anunciado na contracapa deste volume, o desenhador adianta que “enquanto os dois primeiros volumes respiram de uma certa serenidade contextual, dado tratarem ainda aspectos seminais, na Cidadela 6 encontramos, pelo que me segredou Vick Meskal, um universo de grande violência e denúncia dos aspectos mais crus que se vivem nas sociedades de hoje. A Cidadela 6 ajuda a definir o que leva o homem a tomar posições extremas entre si, as monstruosidades que secretamente o poder esconde, o que produz tanto ódio e afasta o ser da unidade original. A Cidadela 6 fecha o primeiro ciclo de Eternus 9 de uma forma surpreendente. Onde se constata que até os santos são humanos e como tal muitas vezes saem dos limites da santidade. Será um álbum muito agitado e do cariz filosófico do primeiro. Com uma nova linguagem em termos estéticos. Uma bomba, disse-me Vick Meskal ao ouvido. Talvez o fim da própria série. A sua ren9vação dependerá dos leitores. Eternus é seu, pai, mãe, irmão, amigo, parteira. Sem o leitor Eternus não existia. Se o seu amor não for correspondido pela família de leitores, afastar-se-á definitivamente para longe. Talvez dessa vez se perca para sempre no vazio do Universo”.
E quando o poderemos ler? “Depende da editora. Até agora ainda não assinámos contrato. Não quero criar falsas expectativas nos leitores. Habituei-me a saber esperar. Trinta anos dão algum calo, não é? Se lerem Lao Tsé compreenderão por que o digo. Mas penso que tudo irá correr bem. Não vejo razões para contrariar a ideia de que a “A Cidadela 6” não esteja presente pelo menos na Feira do Livro de 2012, dado que começa a ser tarde para acreditar no seu lançamento pelo Natal de 2011”.


(Nota: obrigado ao Bongop pelo empréstimo involuntário da fotografia de Victor Mesquita, "pirateada" no seu blog, Leituras de BD)

11/11/2010

Tintin #4 – Os Charutos do Faraó

Hergé (argumento e desenho)
Edições ASA (Portugal, Setembro de 2010)
160 x 220 mm, 142 p., cor, cartonado


4 (ou talvez mais...) +1 Razões para ler este álbum

1. A longa sequência inicial (até à página 32!), plena de movimento, acção, perseguições, mistério, suspense e humor! A mestria de Hergé no seu melhor no que à legibilidade e sequência narrativa diz respeito.

2. Duas sequências notáveis que fazem parte do melhor que Hergé fez em Tintin:
2a. O percurso no túmulo do faraó Kih-Oskh (pp.7-9), no qual Tintin descobre o seu próprio sarcófago e tem uma horrível alucinação provocada pela droga que o fazem inalar. Uma (curta e inesperada) mas autêntica sequência de terror!
2b. A bem construída cena da reunião da sociedade secreta (pp. 53-56) pelo elevado suspense criado e pela forma simples mas brilhante como é resolvida.

3. Pelas três cenas invulgares e de todo inesperadas no Tintin (sóbrio e mais adulto) que (mais tarde) nos habituámos a (re)conhecer (e a admirar):
3a. Tintin a “falar” com os elefantes (pp. 34-37);
3b. O artificio utilizado pelo herói para saltar o muro do hospício (p. 46);
3c. A forma como o repórter domina o tigre que ataca o marajá de Rawhajpoutalah (p. 51).

4. Porque, apesar de algumas derivações, esta é a primeira aventura de Tintin que segue uma linha condutora sólida e bem desenvolvida, desde o início até ao final.

+1. Já o escrevi aqui: qualquer razão é válida e boa para ler um álbum de Tintin.

10/11/2010

Off Road

Sean Murphy (argumento e desenho)
Kingpin Books (Portugal, Outubro de 2010)
155 x 225 mm, 124 p., pb, brochado com badanas


Resumo
Greg, Trent e Brad, três amigos de sempre, decidem ir experimentar o jipe novinho em folha do primeiro, num percurso todo-o-terreno.
Contrastando com a boa disposição de Greg, cujo pai acabou de lhe oferecer o veículo, Trent está mais uma vez em baixo devido a questões amorosas (como é habitual), pois acabou de saber que (mais uma vez) era traído pela sua namorada, e Brad não está melhor, pois continua a braços com uma (muito) complicada relação com o pai.

Desenvolvimento
O passeio no jipe amarelo (que falta faz a cor neste particular, para acentuar o contraste do berrante veículo com as trapalhadas em que os seus ocupantes se vão meter) surge assim como uma espécie de catarse para os três amigos (que apesar disso têm algumas questões por resolver entre si) , apesar das reticências iniciais de Greg.
A história – autobiográfica… - apresenta-se assim como o relato de um episódio de adolescência (tardia…) ou de início de idade adulta (retardada…), funcionando, dessa forma, como um retrato algo exagerado mas bastante realista de uma realidade incontornável dos nossos dias. A da falta de valores, princípios, objectivos, saídas para os que estão na fase da vida atrás citada.
O relato é divertido e dinâmico, com as peripécias e as confusões a avolumarem-se e a situação a piorar quase página a página. Porque, o passeio todo-o-terreno pela mata local para espairecer, acaba com o jipe atolado enquanto grassa um incêndio, depois de aparentemente os três amigos terem esgotado todas as hipóteses disponíveis para se safarem daquela alhada, desde os “profissionais” até aqueles que menos pareciam vocacionados para isso, como o pai de Brad ou a paixão-de-infância/adolescência/idade-adulta-de-Greg-que-nunca-passou-do-platonismo-e-mesmo-assim-está-o-mais-mal-resolvida-que-se-possa-imaginar!
Por isso, também, durante o relato as tensões entre os três amigos vão subindo, levando-os a dizer e a fazer coisas que normalmente controlariam em situações quotidianas.
Ou seja, se por um lado este é um relato leve e divertido – e politicamente incorrecto por nos rirmos da desgraça (e da inépcia) dos outros – é também, de forma contrastante, uma bela narrativa sobre relações humanas e amizade. Que, tem a vantagem acrescida de estar bem escrito e planificado, o que lhe confere um bom ritmo de leitura, dinâmico mesmo nas situações de aparente impasse. Graficamente, se o traço, algo duro e agreste, não é propriamente atraente, revela-se bem expressivo e eficaz e assenta numa planificação diversificada e numa ampla gama de movimentos de câmara no retratar das cenas.

A reter
- O bom humor da história.
- O bom ritmo a que ela decorre.
- A eficácia do traço de Murphy.
- A estratégia - nem sequer vou escrever inteligente, tão normal devia ser - da Kingpin de convidar os autores que edita para estarem presentes no Amadora BD, potenciando assim a venda das obras. Porque é que as outras editoras não o fazem?

Menos conseguido
- A tiragem, de apenas 200 exemplares. Corram, para garantirem um
- O preço (17,99 €) alto, em consequência da tal tiragem baixa… Não pode ser inferior, porque a tiragem é baixa; a tiragem não é maior porque não vende mais; não vende mais porque é caro… A tradicional pescadinha de rabo na boca. Mesmo assim custa a acreditar que só 200 portugueses possam estar interessados nesta obra… Ela justifica plenamente a leitura. E, já agora, o investimento.
- Alguns lapsos na versão portuguesa, nomeadamente no uso recorrente de uma construção frásica errada: “deves te sentar” (página 22, 2ª vinheta) em vez de “deves sentar-te”; “quero te mostrar” (p.27, v.5) em vez de “quero mostrar-te”; “queria te ver” (p.34, v.5), em vez de “queria ver-te”.

09/11/2010

Iron Man – Titanium #1

Marvel Comics (EUA, Outubro de 2010)
170 x 259 mm, 64 p., cor, comic-book

Railguns, power and Titanium Men
Adam Warren (argumento)
Salva Espin (desenho)
Rachelle Rosenberg (cor)

Killer Commute
Mark Haven Britt (argumento)
Nuno Plati (desenho e cor)

Heavy Rain
Matteo Casali (argumento)
Steve Kurth (desenho)
Allen Martinez (arte-final)
Sunny Gho (cor)

Hack
Tim Fish (argumento)
Filipe Andrade (desenho)
Rick Ketcham (arte-final)
Andres Mossa (cor)


Resumo
Este é um formato pouco usual no mercado norte-americano, uma colectânea de histórias curtas, no caso protagonizadas – directa ou indirectamente – por Tony Stark e/ou o Homem de Ferro
Com a curiosidade, para nós portugueses, de duas delas terem assinatura nacional no que ao desenho diz respeito: Nuno Plati e Filipe Andrade

Desenvolvimento
Não é por acaso que os comics raramente têm marcado presença neste espaço – estão longe de ser o meu género de BD preferido – e também não foi esta edição que me converteu, longe disso. As quatro histórias são pouco interessantes, com as suas temáticas em torno de conspirações e atentados, e quase todas demasiado palavrosas para relatos em que a acção prevalece.
A mais curiosa acaba por ser “Killer Commute”, a que foi desenhada por Nuno Plati, dada a quase total ausência do habitual protagonista, substituído pela bela Pepper Pots, num relato que, não sendo original, não deixa de ter um certo humor.
E na verdade, sem que haja aqui qualquer sombra de patriotismo exacerbado ou doentio, os principais motivos de interesse acabam por ser, graficamente, as narrativas desenhadas por Plati e Andrade, já que as outras duas, também neste aspecto, não ultrapassam a mediania.
A de Nuno Plati destaca-se pelo traço fino – e invulgarmente sensual para o meio – utilizado pelo desenhador para retratar uma esbelta e interessante Pepper Pots, cujas peripécias obrigarão a deixar o ar frágil para se “transformar” numa heroína dura e decidida, sem perder a sua sensualidade. Mudança também acentuada pelo contraste entre as cores quentes das primeiras e última prancha e o tom mais sombrio das páginas de acção, que são outro trunfo utilizado por Plati, aqui num estilo diverso do que utilizara em “X-23” ou “Marvel Fairy Tales”, outros trabalhos que executou para a Marvel.
Quanto à história desenhada por Filipe Andrade, surpreende pelo traço personalizado do desenhador, aqui e ali a lembrar o que utilizou em “BRK”, muito dinâmico e mais “europeu” do que “super-heróico” (e isto é um elogio!), parecendo-me que teria resultado ainda melhor se Andrade tivesse feito também a arte-final.

Entrevista
Este “Iron Man – Hack” foi a primeira banda desenhada executada por ele para a Casa das Ideias. “Tudo aconteceu”, conta o desenhador, “há cerca de um ano, depois do C. B. Cebulski”, um caça-talentos da Marvel, “ter estado em Portugal e ter visto o meu portfólio. Duas semanas depois recebia um e-mail de um outro editor, Michael Horwitz, propondo-me este primeiro trabalho na Marvel”.
Como desde sempre seguiu as histórias de super-heróis “mais pelos autores que as desenhavam do que pelos heróis em si”, Andrade não sentiu “nada de especial” por desenhar uma personagem da dimensão do Homem de Ferro, mas sim uma “enorme responsabilidade pois o primeiro trabalho é sempre importante para chamar a atenção”.
E tão bem funcionou esta estreia que, depois dela, Filipe Andrade já desenhou “uma nova BD do Homem de Ferro, outra com os Vingadores, um one-shot da X-23”, já editado, e “uma mini-história do Homem-Formiga que sairá agora em Novembro”.
Para além disso, está “a finalizar um conjunto de 7 historias curtas de Nomad”, em publicação na revista “Captain America” (do #608 ao #614), que possivelmente serão depois compiladas em livro”.
Por tudo isto, tem “tido pouco tempo para trabalhos mais pessoais”, como é o caso de “BRK” (ASA), cujo primeiro tomo lhe valeu este ano no Amadora BD o Prémio Nacional de BD para Melhor Desenho de Autor Português. O restante deste tríptico “já está escrito e todas as páginas do segundo livro estão planificadas, estando 10 páginas desenhadas…”

Curiosidade
Mas a grande novidade, que a Marvel acaba de revelar, é que durante a New York Comic Con que teve lugar no início de Outubro, Filipe Andrade assinou contrato para desenhar os 5 números da mini-série “Onslaught Unleashed”, que começará a sair em Fevereiro de 2011. Escrita por Sean McKeever, que já trabalhou com super-heróis da Marvel e da DC Comics, reunirá o Capitão América e alguns dos X-Men , marcará a volta do vilão Massacre e terá capas de dois nomes grandes dos comics de super-heróis: Humberto Ramos e Rob Liefeld.

(Versão muito expandida do texto publicado no Jornal de Notícias de 1 de Novembro de 2010)

08/11/2010

Dot & Dash













Cliff Sterrett
(argumento e desenho)
Libri Impressi

(Portugal, Outubro de 2010)
300 x 213 mm, 64 p., cor, brochado

Resumo
Dot & Dash (literalmente ponto e traço, a letra ‘a’ no Código Morse) foram publicados originalmente entre 1926 e 1928 para os jornais americanos, como topo da mais famosa criação de Sterrett, “Polly and Her Pals”, na qual fizeram algumas breves aparições. Primeiro como uma tira, depois como tira dupla com vinheta inicial de título.
Esta é uma edição integral da série, completamente restaurada com a habitual competência e paixão por Manuel Caldas, o que possibilita descobri-la no esplendor do seu deslumbrante colorido original.
A edição, trilingue (português, inglês e espanhol, no que diz respeito à introdução, já que a banda desenhada é muda) abre com uma completa apresentação da série por Domingos Isabelinho.

Desenvolvimento
Coisas simples.
Eis o que eu poderia ter escrito no resumo acima: coisas simples.
A isso (a essa coisa tão complicada...) se resume Dot & Dash: à observação, quase sempre simples, quase sempre surpresa, quase sempre descoberta, dos pequenos nadas do dia-a-dia, aqueles pelos quais todos passamos mas dos quais raramente nos apercebemos. Uma poça gelada, um pássaro a cantar, um esquilo a saltar, a sombra que nos acompanha, as pegadas que deixamos impressas no solo, os pingos de chuva, um gato, um cão, um coelho, uma rã ou um caracol.
Dot & Dash são peritos em vê-los, pasmam de surpresa, surpreendem-se com facilidade, assustam-se com mais facilidade ainda, fingem coragem quando o medo facilmente os domina, fogem quase sempre, aborrecem-se, adormecem mesmo, às vezes. Mais ricos, porque viram, tocaram, sentiram, cheiraram, olharam, desco-briram (mesmo que muitas vezes o que viram-tocaram-sentiram-cheiraram-olharam-descobriram não corresponda à realidade “real” mas apenas à que eles “realizaram”).
Se Sterrett se revela perito em mostrar-nos o que Dot & Dash vêem, salientando o pormenor, descobrindo-nos o banal, deslumbrando-nos com a cor, divertindo de forma ingénua e simpática, a par disso, aqui e ali, diverte-se também a alienar a tal realidade “real”, transformando sombras ou valetas em buracos ou poças de tinta, enganando o leitor e também as suas personagens, aumentando nesses casos o efeito cómico.
Personagens que são duas – o nome evidencia-o – dois cães – eram um cão e um gato nos primeiros meses da tira – pequenos e curiosos, irrequietos e que gostam de andar, conhecer, mexer e descobrir.
E que a nós, meros leitores, agarrados a cadeiras, mesas de trabalho, sofás televisivos, importa também descobrir, talvez para abrir a porta – nem que seja só uma fresta – a um outro eu, mais curioso, menos conformista, mais disposto a ver, tocar, sentir, cheirar, olhar, descobrir…

A reter
- A simpli-cidade aparente e desar-mante, mas (também por isso) genial da estrutura narrativa da série.
- A cor, deslumbrante.
- O ritmo, a um tempo contemplativo e dinâmico.
- A edição em si, claro está. Não podia ser de outra forma com Manuel Caldas como responsável…
- Se encomendar o livro directamente ao editor (Manuel Caldas), recebê-lo-á antes de ele chegar às livrarias e com ele receberá um poster de tiragem limitada reproduzindo uma enorme página de jornal de 1928 com “Dot & Dash” e “Polly and Her Pals”. Para além disso isso permitirá que o editor recupere mais depressa (e sem perder a margem que normalmente entrega à distribuidora) o dinheiro investido na edição, contribuindo para que novo livro (quem sabe se o também genial “Polly and Her Pals”) seja editado mais rapidamente!

07/11/2010

Amadora BD 2010 (IV) - Um balanço

Encerra hoje no Fórum Luís de Camões, na Brandoa, o 21º Amadora BD, que foi uma edição de contrastes. Por um lado, pela fraca afluência de público nos dois primeiros fins-de-semana, por outro, pela qualidade de algumas exposições que mereciam bem mais visitantes.
De qualquer forma a organização terá que tirar ilações de alguns erros cometidos. À cabeça, a divulgação tardia do evento – e a falta de informação sobre o mesmo durante o seu decurso – e a quase total ausência de nomes sonantes, os tais que são capazes de chamar visitantes - Schuiten e Peeters foram as excepções. A par disto, a menor aposta na cenografia das exposições e a ausência de surpresas nas mesmas (como acontecera em 2009, por exemplo, com os belos originais dos autores polacos) também tornaram o evento menos chamativo para o grande público. Finalmente, porque o manga e os comics americanos, géneros preferidos pelos mais novos, continuam a primar pela quase total ausência. Compare-se a afluência do Japan Weekend ou do IberAnimé com a do Amadora Bd no primeiro fim-de-semana para perceber o que pretendo dizer.
Aspectos menores – mas lamentáveis – eram a ausência de textos de apoio e de letreiros em alguns dos stands comerciais, no segundo sábado do festival, ou seja 9 dias depois de este se ter iniciado.
É verdade que este ano, tendo por tema aglutinador o Centenário da República, a organização assumidamente quis apostar nos autores portugueses, mas, por muito que isto custe, eles não são, só por si, suficientes para garantir o público.
Isto não invalida que o Amadora BD, não tenha grandes exposições: as dedicadas à República e ao centenário de Fernando Bento (embora esta esteja “escondida num canto” do piso inferior), pela sua diversidade e pela qualidade dos documentos expostos, merecem os maiores encómios. A não perder são também a magnífica instalação dedicada “Às Cidades Obscuras”, de Schuiten e Peeters, o making of do álbum (que será editado quando?) "É de noite que te faço as perguntas" e as mostras de Sean Murphy, Cristina Sampaio ou Korky Paul, capazes de surpreender os visitantes.
Uma referência final para a melhor disposição dos diversos espaços no Fórum Luís de Camões, embora o piso superior esteja algo labiríntico, com especial relevo para o espaço comercial, mais amplo e arejado, apesar de algumas lojas terem pouca visibilidade, e para o bom número de lançamentos de títulos de autores portugueses, resultado da aposta que o festival tem feito na produção nacional.
Neste fim-de-semana, para lá de muitos autores portugueses, o festival contará com a presença do britânico Korky Paul, autor de “A Bruxa Mimi”, Jô Oliveira (Brasil), Lindomar Sousa (Angola), Zorito e Machado da Graça (Moçambique). Quem? Fica mais explícito agora o que escrevi atrás...?

(Versão expandida do texto publicado no Jornal de Notícias de 7 de Novembro de 2010)

06/11/2010

Leituras em português

Fruto de uma aposta continuada e consistente na promoção da banda desenhada portuguesa, o Festival da Amadora – e consequentemente a época de Outubro/Novembro – tem-se revelado o local ideal para o lançamento de novidades lusas aos quadradinhos.
O que é compreensível porque, no Amadora BD há exposições dos originais e estão presentes os autores o que potencia a sua divulgação junto dos seus potenciais leitores. E esta é uma realidade quer para as editoras de maior dimensão, quer para os pequenos editores independentes, cuja distribuição se limita depois a lojas especializadas e a uma ou outra cadeia nacional de livrarias. Este ano não foi excepção, tendo sido lançados quase uma dezena de novos títulos, sendo de destacar a sua diversidade temática e gráfica.


O de maior impacto talvez seja “A cidade dos espelhos”, que marca o regresso de Eternus 9, nascido nas páginas da mítica revista Visão, que, animada pela revolução de Abril, agitou as águas da BD nacional no verão quente de 1975. “Eternus 9 – Um filho do cosmos”, era um complexo relato de ficção-científica e filosófico, que seria suspenso ao fim de 6 números, surgindo em 1979 em forma de álbum (reeditado em 2009).
Agora, 35 anos depois, a sequela que Victor Mesquita há muita anunciara, está finalmente disponível, e nela “um portal caleidoscópico atravessará um mundo cujo coração será Lisboa, depois da Guerra Nuclear que transfigurou a face do planeta. A placa tectónica deslocada por efeito de subducção ao longo do rio Tejo, fragmentou a Lisboa de hoje até quase não se poder reconhecê-la, mas onde continuam as referências que a distinguem, o espírito de lugar que a possui”. E Mesquita avançou já ao JN com um resumo do tomo seguinte, “Cidadela 6”, no qual, depois de “dois primeiros volumes que respiram de uma certa serenidade contextual”, encontraremos “um universo de grande violência e denúncia dos aspectos mais crus que se vivem nas sociedades de hoje, onde se constatará que até os santos são humanos e como tal muitas vezes saem dos limites da santidade”.


Por outro lado, aquele que tem maior potencial fora do círculo habitual de leitores de BD é “NewBorn – 10 dias no Kosovo” (ASA), de Ricardo Cabral, uma espécia de foto-reportagem desenhada que surge na sequência de “Israel – Sketchbook”. Numa fronteira ténue entre a sequência narrativa e a ilustração, é fruto de uma estadia do autor no Kosovo e traça um retrato mais humano – e, por isso, mais real – do país, para lá dos estereótipos tantas vezes veiculados pelos meios de comunicação social

.
Também de fundo político é “Agentes do C.A.O.S. – A conspiração Ivanov” (Kingpin Comics), de Fernando Dordio, Filipe Teixeira e Mário Freitas, que compila em livro – como nova cor e páginas extras - os 3 comics editados em 2006/2007. Com a acção situada em 1981, e a acção das FP 25 de Abril como pano de fundo, é uma movimentada história de acção, vingança e espionagem, condimentada como muitos tiros, violência e perseguições automóveis, que abarca um período de 12 anos e envolve operacionais da polícia portuguesa e mafiosos russos.


Bem mais intimista é a proposta de Paulo Monteiro em “O amor infinito que te tenho e outras histórias”, colectânea de bandas desenhadas curtas, algumas das quais inéditas, de cariz autobiográfico, onde o traço fino e os tons cinzentos salientam os sentimentos.


Projecto colectivo que tem como “objectivo principal o desenvolvimento e divulgação
da banda desenhada e ilustração em Portugal”, a Zona, apresentou na Amadora o seu sexto tomo em ano e meio, “Zona Negra 2”, que tem o terror como tema aglutinador, daí a aposta no preto e branco, para fortalecer “o ambiente obscuro do seu conteúdo”.


Também colectiva, da autoria de Álvaro Áspera e Marta Portela (argumento) e António Brandão, João Martins, Pedro Alves, Pedro Colaço, Pedro Serpa e Ricardo Cabrita (desenhos), mas de carácter institucional é “Sete histórias em busca de uma alternativa”, uma edição do Grupo de para a Resolução Alternativa de Litígios (GRAL) do Ministério da Justiça, que reúne uma série de histórias em torno dos serviços públicos de resolução alternativa de litígios, ao mesmo tempo que homenageia personagens e autores da banda desenhada portuguesa, como o Corvo, de Luís Louro,oue A Pior Banda do Mundo, de José Carlos Fernandes.


Diferente, no propósito e na forma, é o “BDJornal” #26 (pedranocharco), uma publicação semestral que alia à publicação de BD, artigos de crítica e análise, que neste número destacam Dinis Conefrey e Fernando Relvas.


Apresentados no festival, onde têm exposição, mas ainda não disponíveis emboram as suas edições estejam anunciadas para este mês, estão dois outros títulos.

O primeiro é “É de noite que faço as perguntas” (Gradiva), uma narrativa ficcionada dos acontecimentos que levaram à implantação da República, escrita por David Soares e desenhada por Richard Câmara, Jorge Coelho, João Maio Pinto, André Coelho e Daniel Silvestre Silva.

Finalmente, temos “O Menino Triste – Punk Redux” (Qual Albatroz), um passeio semi-autobiográfico pelas origens, valores e ideias por detrás do movimento Punk, em Londres, em 1976.
São, sem dúvida, um lote de propostas diversificadas que mostram que a BD portuguesa existe e está à procura do seu público.

(Versão revista e expandida do texto publicado no Jornal de Notícias de 3 de Novembro de 2010)


05/11/2010

Leituras diversas

Libri Impressi

Dot & Dash
Cliff Sterrett (argumento e desenho)
À espécie quase extinta dos que ainda compram livros de papel e ao número ainda mais reduzido dos que ainda gostam de banda desenhada, Manuel Caldas tem o prazer de comunicar que já está impressa e acabada a sua última edição: “Dot & Dash”, de Cliff Sterrett.
Criada em 1926-1928 para os jornais americanos, trata-se da obra-prima absoluta do celebrado autor de “Polly and Her Pals”. Esta edição apresenta-a na sua integralidade, completamente restaurada e com o seu deslumbrante colorido original. Ainda que menos conhecido pelo público em geral, Cliff Sterrett foi um génio ao nível de George Herriman e Winsor McCay.
O livro tem o tamanho de 30x21,3cm, 64 páginas a cores e um preço de 16,50 Euros. Aparecerá em breve nas livrarias, mas se o pedir directamente ao editor (sem pagar despesas de correio, claro), receberá um poster de tiragem limitada reproduzindo uma enorme página de jornal de 1928 com “Dot & Dash” e “Polly and Her Pals”.
Caso esteja interessado na edição e em contribuir para a sobrevivência de um editor que continua a não se render, faça de imediato o seu pedido, de um ou mais exemplares (para poder oferecê-los).



Devir

The Walking Dead - Dias passados
Robert Kirkman (argumento
Charlie Adlard, Cliff Rathburn e Tony Moore ( desenho)

"Num mundo governado pelos mortos, somos obrigados a começar a viver." Em conjunto com o lançamento mundial da série na Fox a Devir disponibiliza o primeiro volume da série inteiramente em Português!
Desde o seu lançamento em Outubro de 2003, The Walking Dead de Robert Kirkman transformou-se num dos campeões de vendas da Image Comics nos Estados Unidos. Agora a Fox em conjunto com a AMC apostam na serie e a Devir lança o primeiro volume totalmente em Português.
Com argumento de Robert Kirkman e arte de Charlie Adlard, Cliff Rathburn e Tony Moore, este primeiro volume é uma história de 144 páginas vencedora de um prémio Harvey e um Eisner como a melhor série contínua.


Sin City – Valores familiares
Frank Miller (argumento e desenho)
Dwight McCarthy e Miho estão atrás de alguns assassinos que cometeram um crime que seria considerado hediondo, se o mesmo não tivesse ocorrido nas ruas sujas de sangue e pecado de Sin City. Quem são esses criminosos e o que fizeram eles de tão grave será revelado numa aventura cheia de traição, balas... e vingança!




Kingpin Comics

Off Road
Sean Murphy (argumento e desenho)

Greg está a ter um dia em cheio! O pai ofereceu-lhe um jipe amarelo, novinho em folha, e Trent, um dos seus amigos mais antigos, acaba de voltar da faculdade para uma breve visita. Trent, por sua vez, anda mal de amores e desanimado. Está novamente sozinho, depois de traído e abandonado por mais uma namorada. O amigo comum, Brad, também já viu melhores dias. Anda em guerra aberta com o pai – e por guerra aberta, entenda-se andarem literalmente ao soco.
Brad e Greg estão convencidos que uma festa é a solução ideal para se abstraírem dos seus males. Mas Trent tem outra coisa em mente - partir numa aventura, mato adentro, com o novo todo-o-terreno de Greg! Mas será que os três amigos estão realmente preparados para o que os espera para lá do asfalto? Nem por sombras!
Publicado originalmente em 2005 pela Oni Press, Off Road foi o álbum de estreia de Sean Gordon Murphy, que ilustrou entretanto, para a DC Comics, Batman: Scarecrow – Year One, John Constantine: Hellblazer e Joe, The Barbarian, este último escrito pela super-estrela escocesa, Grant Morrison.


Booksmile

Scott Pilgrim na boa vida (vol. 1)
Scott Pilgrim contra o mundo (vol. 2)
Bryan Lee O'Malley (argumento e desenho)

Chama-se Scott Pilgrim, tem 23 anos e está feliz com a vida pacífica que leva. Divide os dias entre o ócio do desemprego voluntário e os ensaios da banda de rock, os Sex Bob-Omb.
No entanto, a rotina diária dividida entre videojogos, a banda e o tempo dedicado à preguiça, vai sofrer um abalo sísmico. A culpada é Ramona Flowers, uma norte-americana recém-chegada ao Canadá, a única estafeta da empresa Amazon na região.
Esta é apenas uma introdução à inacreditável história de Scott Pilgrim. Um universo caracterizado pela mistura elementos de videojogos, manga, filmes de kung fu, música e cinema e que se une às questões do amor jovem e do início da vida adulta.
Uma BD de culto criada por Bryan Lee O'Malley.




Como Desenhar Manga Passo a Passo



A influência da cultura japonesa tem vindo a crescer nos útimos anos em Portugal, muito por culpa do interesse que o anime e manga têm despertado entre miúdos e graúdos.
Manga (ou Mangá) é a palavra usada para designar a banda desenhada feita no estilo japonês. É, muitas vezes, considerada uma forma artística de contar histórias, pois as suas criações têm características únicas no que respeita à cor e dinâmica das ilustrações.
A nova colecção já lançada pela Booksmile, Como Desenhar Manga Passo a Passo - à venda desde 21 de Outubro - está concebida para dois públicos distintos: amadores com interesse por este estilo de animação e com desejo de aprender mais sobre o tema, e profissionais que pretendam alimentar o seu gosto e aprofundar conhecimentos.
Explicam de forma fácil e intuitiva todos os passos que são necessários para desenhar Manga, desde a concepção do esboço, passando pela utilização da palete de cores até à criação de sombreados e outros recursos de estilo. Contêm dezenas de personagens diferentes para recriar nos estilos Chibi e Lolita Gótica, os mais conhecidos e reproduzidos no universo Manga.

Lolitas Góticas
As Lolitas Góticas são uma subcultura nascida no Japão há pouco mais de uma década, caracterizada pela combinação invulgar de elementos da moda ocidentais.
Mas o que as define? Que peças e acessórios costumam utilizar? Como se representam? Este livro ensina, passo a passo, a desenhar manga nos principais tipos de Lolitas Góticas.


Chibis
Chibi é a palavra japonesa utilizada no mundo da manga e anime para descrever versões disformes, infantis e humorísticas de personagens famosas. Este livro é um guia detalhado que o ensina a desenhar manga na forma de monstros chibis ou seres “superdeformados”. Inclui as técnicas e truques essenciais para desproporcionar uma pessoa ou animal sem alterar a sua personalidade.

Vitamina BD

Bernard Prince – Ameaça sobre o rio
Yves H. (argumento)
Hermann (desenho)

Bernard Prince e os seus amigos Jordan e Djinn regressam nesta aventura que começa com a chegada do Cormoran a Quirtos, um porto de rio na América Latina. Aguarda-os um encontro com um homem chamado Ramirez, um velho conhecido regressado ao país em circunstãncias misteriosas.
Mas há mais alguém muito interessado nos três heróis e o seu objectivo é… vingança!
Com Djinn refém a bordo, o Cormoranparte rumo a um destino desconhecido que levará Prince e Jordan a uma intensa perseguição pela selva amazónica e a um dramático final.

Jeremiah – O gatinho morreu
Hermann (argumento e desenho)
A VitaminaBD tem mais um álbum de “Jeremiah” pronto para satisfazer os coleccionares da série e fãs de Hermann. Sob o inocente título “O gatinho morreu”, Hermann apresenta um álbum carregado de tensões e dúvidas que poderão abalar a relação entre os protagonistas da série, Kurt e Jeremiah.

(resumos da responsabilidade das respectivas editoras)

04/11/2010

Attila – L'Intégrale

Maurice Rosy e Kornblum (argumento)
Derib (desenho)
Dupuis (Bélgica, Outubro de 2010)
218 x 230 mm, 240 p., cor, cartonado


Resumo
Attila é um cão que, por ter sido objecto de experiências científicas adquiriu a capacidade de falar e de andar erecto. Transformado em agente dos serviços secretos suíços, haveria de viver cinco aventuras longas e duas curtas.
Os quatro primeiros álbuns – “Un métier de chien”, “Attila au chateau”, “Le mystère Z14” e “La merveilleuse surprise d’Odée” – publicados entre 1967 e 1973, e as duas histórias curtas, datadas de 1969 e 1970, estão incluídas no presente volume. Ou seja, todas as desenhadas por Derib. De fora ficou apenas “Bak et Flak étonnent Attila”, desenhado por Didgé, muito mais tarde, em 1987.

Desenvolvimento
Série menor – pode dizer-se, pela duração e pela importância - dos anos de ouro da revista Spirou, “Attila” tem mesmo assim motivos de sobra que justifiquem a sua leitura, ainda para mais numa bela edição como esta.
Correspondendo à imagem gráfica que geralmente se associa à revista – o traço semi-realista de Derib só surgiria anos depois – com personagens simpáticas, agradáveis e de narizes grandes, privilegia o relato misto de aventura e humor (maioritariamente baseado nas situações causadas pela dupla condição de Attila: cão/quase humano e pelas trapalhadas de Bourrilon), com bastante acção e sem momentos mortos. O seu tom inicial, aconselha-o maioritariamente para um público infanto-juvenil (de quem fez as delícias na altura da sua publicação), pela forma como consegue apelar ao seu imaginário rico e diversificado, mas a consistência das histórias e o bom ritmo narrativo possibilitam um bom par de horas de leitura leve e descontraída a qualquer apreciador de BD.
Na história inicial, de apresentação do herói e de alguns dos seus companheiros e adversários habituais, Attila surge na peugada de espiões que pretendem roubar documentos secretos da Suíça. No entanto, rapidamente a sua indisciplina e a sua capacidade de iniciativa levam-no para outro tipo de confusões e para aventuras mais quotidianas, em especial protegendo o pequeno Odée, que conhece por acidente, herdeiro de um castelo que desperta muitos interesses.
Ao lado de Attila, actua normalmente o trapalhão Bourrilon, que teoricamente lhe deve servir de cobertura, tendo o protagonista várias vezes à ajuda e cobertura de um coronel do exército suíço; mais tarde – anunciando o declínio da série e a derrapagem para o tom de ficção-científica – aparecerá Z14, outro cão falante e o responsável por esse facto, o inventor e cientista Professor Comant. Todos juntos terão que fazer frente a Grismouron, o interesseiro tutor de Odée, e a Labouf e Lerazé, os seus pouco dotados cúmplices.
Curioso é notar como os quatro álbuns (e, mais tarde, também o quinto), publicados com meses ou anos de intervalo, funcionam como um todo, com cada nova aventura a começar exactamente no mesmo momento e no local onde a anterior terminara, o que permite lê-las como se de um todo se tratasse, o que é reforçado pelo (re)aparecimento constante daqueles que pareciam protagonistas menores.

A reter
- Mais uma vez a qualidade desta edição integral: o papel, o preço, o dossier inicial que conta a história e o percurso do herói e dos seus autores.
- O humor e a simplicidade do relato – apesar disso bem escrito e desenvolvido – reflexo de um outro tempo e de outra maneira de fazer BD.

Menos conseguido
- A forma como o tom dos relatos vai mudando ao longo do volume, afastando-se progressivamente das “histórias de fadas” que Odée tanto aprecia e transformando-se (quase) em pura ficção-científica, com laboratórios secretos, engenhos voadores e improváveis viagens à Lua, desenquadrados do traço utilizado por Derib. Não admira que este tenha decidido abandonar a série após o quarto álbum.
- Sei que editorialmente estes volumes – talvez por razões funcionais ou práticas – costumam ser limitados a 240 (suculentas) páginas, mas foi pena que o 5º tomo das aventuras de Attila não tenha sido incluído na edição, mesmo tendo sido desenhado 14 anos depois por outro autor e sem conhecimento dos argumentistas (!), uma vez que a história existia desde o final do tomo 4 e surge na sequência das anteriores.

Curiosidades
- Este é um trabalho dos primórdios da carreira do grande Derib – saído do estúdio de Peyo onde trabalhava nos Schtroumpfs (!) – bem longe ainda do estilo e da temática western que o faria notado com “Buddy Longway”, “Celui qui est né deux fois” ou “Red Road”.
- A primeira história de Attila foi publicada em Portugal, no suplemento Quadradinhos, do jornal A Capital, na sua segunda série, entre 1972 e 1974. Foi em bicromia e sob o título “Ofício de cão”, como mostra a prancha aqui reproduzida.
- “Attila no castelo”, foi um dos títulos que integrou a revista Spirou (2ª série), em 1979.
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