19/09/2012

Leituras Novas

Setembro de 2012

 

ASA
12 – A Doce
François Schuiten
Léon conhece bem a Doce. Compreende-a melhor do que ninguém e antecipa os seus mínimos desejos.
O que é muito natural, depois de tantos anos passados juntos a devorar quilómetros. Porque a Doce, ou melhor, a 12.004, é uma locomotiva a vapor. Uma rainha da velocidade, com uma mecânica sofisticada, que é o orgulho do seu maquinista.
Mas os tempos mudam, os transportes eléctricos ganham terreno e os dias da Doce estão contados.
Edição disponível com 2 capas diferentes.
É o primeiro livro de BD com realidade aumentada.
 

Astérix entre os Bretões (capa nova)
Goscinny e Uderzo
Decidido a expandir as fronteiras do seu império, Júlio César prepara um exército de legionários altamente treinados para invadir a Bretanha (a actual Grã-Bretanha).
Para ajudar o seu primo bretão Jolitorax na sua luta contra as legiões romanas, Astérix atravessa o Mare Britannicum (Mancha) na companhia de Obélix e de um barril cheio de «mágica poção».
Começa então para os dois amigos um périplo pelo país onde falam ao contrário, bebem cerveja quente, servem javali cozido e jogam râguebi (para grande satisfação de Obélix)!
Será que nossos heróis conseguirão resistir a todos estes desafios? 

 

Contraponto
Alison Bechdel
Vencedor do Eisner Award e do Lambda Book Award
Livro do Ano do New York Times, do Los Angeles Times, do San Francisco Chronicle, da Publishers Weekly, da Salon.com, da Amazon.com, do Guardian e do London Times
Best-seller internacional e obra pioneira, Fun Home descreve a relação frágil que Alison Bechdel manteve com o pai ao longo da sua infância e adolescência. Na sua narrativa, a história íntima e pessoal de uma família transforma-se numa obre cheia de subtileza e poder.
Exigente e distante, Bruce Bechdel era professor de Inglês e dirigia uma casa funerária – a que Alison e a família chamavam, numa pequena piada privada, a «Fun Home». Só quando estava na universidade é que Alison, que recentemente admitira aos pais que era lésbica, descobriu que o pai era gay. Umas semanas depois desta revelação, Bruce morreu, num suposto acidente, deixando à filha um legado de mistério, complexos e solidão.

 

Levoir/Público
Carl Potts e Jim Lee

#11 - “X-Men - Graduação”
Roy Thomas e Neal Adams

#12 - “Guerras Secretas - Heróis vs. Vilões”
Jim Shooter, Mike Zeck e Bob Layton

#13 - “Guerras Secretas - A Batalha Final”
Jim Shooter, Jay Faerber, Mike Zeck e Gregg Schiciel 

 

Saída de Emergência
Ben Avery, Mike S. Miller e Mike Crowell
O continente de Westeros é o cenário onde se desenrola a saga de George R. R. Martin, as Crónicas de Gelo e Fogo.
O Cavaleiro de Westeros decorre cerca de cem anos antes do início do primeiro livro das Crónicas, no tempo do rei Daeron, com o reino em paz e a dinastia Targaryen no auge do seu poder.
Quando a vida de um cavaleiro termina, a sua morte pode ser o começo de uma nova vida para o seu escudeiro. Intitulando-se de “Sor Duncan, o Alto”, o jovem Dunk parte em busca de fama e glória no torneio de Vaufreixo, mas também sonha em prestar juramento como cavaleiro dos Sete Reinos. No caminho, encontra um rapaz misterioso que está determinado em ajudá-lo na sua demanda.
Infelizmente para Dunk, o mundo pode não estar preparado para um cavaleiro que mantém a sua honra. E os seus métodos cavalheirescos podem vir a ser a sua ruína…
Uma história fascinante sobre honra, violência e amizade, pela mão do grande mestre da literatura fantástica: George R. R. Martin.  

 (Os textos, quando existem, são da responsabilidade das editoras)

18/09/2012

La Peau de l’Ours

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 








Zidrou (argumento)
Oriol (desenho)
Dargaud (França, Julho de 2012)
240 x 320 mm, 64 p., cor, cartonado
14,99 €

17/09/2012

The Walking Dead #3 - Segurança na Prisão











Robert Kirkman (argumento)

Charlie Adlard (desenho)
Cliff Rathburn (tons cinzentos)
Devir (Portugal, Agosto de 2012)
170 x 255 mm, 136 p., pb, brochado
14,99 €

16/09/2012

Selos & Quadradinhos (86)

Stamps & Comics / Timbres & BD (86)
 
Tema/subject/sujet: This is Belgium
País/country/pays: Bélgica/Belgium/Belgique
Data de Emissão/Date of issue/date d'émission: 17/09/2012

15/09/2012

Abelha Maia completa 100 anos

 
 
 
 
 
 
 
 
Há 100 anos, num país com pouca cor, nasceu um dia uma abelha. Conhecida pela amizade, a alegria e a bondade, era a pequena Abelha Maia.
 
Muitos recordarão a simpática personagem que encheu os sonhos de uma geração e relembraram nas frases acima o início do genérico da série animada transmitida pela RTP, cuja versão portuguesa, então muito trauteada, foi interpretada por Ágata e ToZé Brito.
A série de animação com as aventuras da Abelha Maia, uma co-produção do Japão, da Áustria e da Alemanha, datada de 1975, foi dirigida por Hiroshi Saito, sendo a definição gráfica das personagens do norte-americano Marty Murphy e a banda sonora, forte e animada, composta por Karel Svoboda.
 
 
Transmitida a partir de 1978 pela então única e todo-poderosa RTP, foi dobrada em português, contando com as vozes de Cármen Santos (que interpretava a protagonista), Canto e Castro (Flip) ou Irene Cruz (Willy).
Composta por 52 episódios, posteriormente editados em cassete-vídeo e, mais recentemente, em DVD, teria uma segunda temporada, datada de 1982, que também passou na RTP.
No entanto, se muitos a viram no ecrã televisivo, poucos saberão que a pequena abelha surgiu pela primeira vez em Setembro de 1912 – há um século, portanto – no livro "A Abelha Maia e as suas aventuras" (“Die Biene Maja und ihre Abenteuer”, no original), escrito para os filhos pelo escritor Waldemar Bonsels (1880-1952).
O único livro infantil deste alemão natural de Ahrensburg, autor de diversos romances e novelas, tem uma evidente conotação política, apresentando a colmeia como exemplo de uma bem organizada sociedade militarizada que se impõe pela força, com alguns traços de nacionalismo e de racismo para com outros insectos “inferiores”.
A protagonista é uma pequena abelha, Maia, que contrariamente às instruções da sua professora Cassandra, decide deixar a colmeia e conhecer mundo, sendo por isso expulsa. Aprisionada pelas vespas, toma conhecimento de um plano para atacar a sua colmeia, ficando dividida entre regressar para avisar as suas irmãs e ser castigada ou ignorar o que sabe. Acabará por tomar a decisão acertada, salvando a sua colmeia e tornando-se uma abelha adulta trabalhadora e responsável, numa analogia que defende o colectivismo em relação à individualidade de cada um.
Desfrutando de grande sucesso, até 1918, final da Primeira Guerra Mundial, o livro vendeu cerca de 90 mil exemplares, originando um filme realizado em 1924 pelo fotógrafo alemão Wolfram Junghans.
Durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), a obra tornou-se famosa entre os soldados alemães na frente de batalha, o que a viria a tornar algo impopular nos anos seguintes devido à sua conotação com a ideologia nazi, o que não impediu que em 1954, dois anos após o falecimento do autor, atingisse a impressionante marca de um milhão de exemplares vendidos.
Aquela situação só seria revertida nos anos 70, com a série animada televisiva, mais ligeira e linear, na qual a protagonista se apresenta mais emancipada e reticente à autoridade, mas também uma abelha corajosa, divertida e curiosa, vivendo inúmeras aventuras em conjunto com Willy, o seu melhor amigo, o gafanhoto Flip, o escaravelho Kurt, a mosca Puca e a vilã de serviço, a aranha Tecla.
Dobrada em mais de 40 línguas, originou uma versão em banda desenhada produzida pelo editor alemão Bastei Verlag, colecções de cromos, livros ilustrados, figuras em pvc e outros artigos de merchandising.
Para assinalar o actual centenário, a televisão pública alemã ZDF está a produzir 78 novos episódios da "Abelha Maia", em animação 3D, que deverão estar prontos em 2013.
 
(Versão revista do texto publicado no Jornal de Notícias de 9 de Setembro de 2012)
 
 

14/09/2012

Murena #6/#7

O Sangue das Feras/Vida dos Fogos
 

 

  

 

 

 

Dufaux (argumento)
Delaby (desenho)
ASA (Portugal, Julho de 2012)
220 x 295 mm, 116 p., cor, cartonado
21,90 €

 
 

Se a banda desenhada, em diversos momentos e em diversos registos (como em Astérix, Alix ou As Águias de Roma, para citar apenas obras de fácil acesso em português) abordou de forma mais ou menos directa a época do império romano, possivelmente nunca o terá feito com o rigor histórico e a qualidade ficcional que Murena ostenta.
Acompanhando o percurso de Nero desde a sua juventude, narrando a sua ascensão ao poder, o seu comportamento despótico e, suponho, a sua (futura e) inevitável queda, Murena é um retrato cru e violento de uma sociedade romana já em decadência, minada desde o seu interior pelas intrigas e a podridão moral.
E Dufaux traça o percurso de Nero, balizando-o através das suas relações com as mulheres que marcaram e influenciaram a sua vida: a tia Domitia, a mãe Agripina, a escrava Acté, a mulher Pompeia…
Esse retrato – de Nero e de Roma – desvenda a vida nos palácios, o treino dos gladiadores, a violência na arena, as ruas esconsas e sórdidas ou as campanhas militares, e mostra o monarca convencido do seu estatuto de semideus, capaz de dar e de se dar, enquanto isso serve os (que pensa serem os) seus interesses, ou de afastar, tantas vezes de forma extremamente violenta (física e/ou emocionalmente) quando os respectivos caminhos deixam de ser comuns.
Se isto é aplicável ao relacionamento (mais ou menos) íntimo que teve com aquelas (e outras) mulheres, é também extensível a todos os que o foram rodeando: amigos, companheiros ou simples interesseiros, conselheiros, bajuladores, criados, escravos… Aos quais se julga superior, embora muitas vezes não passando de um joguete nas mãos dos outros.
Em paralelo, conhecemos também Murena, que até dá o título à série, cujo caminho diversas vezes – raramente pelos melhores motivos para ele – se cruza com o do (futuro) imperador. Murena revela-se mais humano – em oposição ao “deus” – construindo o seu caminho contra a adversidade (e as intrigas) ganhando nesse percurso, pejado de traições e de perdas dolorosas, uma força interior proporcional à perda da inocência e da tal humanidade que de início o distinguem.
Por isso, Murena é uma história de (tentativa de) afirmação pessoal e de vingança (de sucessivas vinganças) que anda a par da expansão do cristianismo (abordada até agora de forma apenas ligeira e secundária), da destruição de Roma (na dupla condição de império e de cidade), de uma forma notável e cativante, quer pela escrita competente e desenvolta de Dufaux que construiu uma história com inúmeras ramificações que se vão entrelaçando, fazendo-a crescer em complexidade e capacidade de apaixonar, quer pelo traço realista de Delaby, servido por uma excelente gama cromática, cuja melhoria de tomo para tomo é notória.
O díptico agora em análise, a parte central do 2º ciclo desta saga, termina com Roma em chamas, embora não devido à loucura (cada vez mais patente) de Nero, mas como parte (involuntária) de uma vingança que os seus inimigos vão orquestrando na sombra. 
Nota final
Volta à questão dos álbuns duplos, que já aflorei no texto sobre Bouncer.
Se aplaudo a ideia de o 1º ciclo de Murena (tomos 1 a 4) ter sido concluído com um volume duplo incluído na colecção “Os Incontornáveis da Banda Desenhada”, distribuída com o jornal Público, questiono qual a lógica de ter editado o tomo #5 sozinho, juntando agora o #6 e o #7, o que deixa isolado o tomo #8 que conclui o segundo arco desta série.
Uma vez que a opção inicial não passou por dividi-lo por dois volumes – o que teria sido o ideal – não faria mais sentido, depois de editado o #5, tê-lo encerrado com um volume triplo…?

13/09/2012

Leituras de Banca

Setembro 2012

Revistas periódicas de banda desenhada este mês disponíveis nas bancas portuguesas.
 
Turma da Mónica (Panini Comics)
Almanaque da Mônica #32
Almanaque do Cascão #32
Almanaque do Cebolinha #32
Almanaque do Louco #3
Almanaque temático #21 – Magali - Bruxas
Cascão #63
Cebolinha #63
Chico Bento #63
Magali #63
Mônica #63
Mônica Joven #43
Mônica Teen #3
Mónica y su Pandilla - Turma da Mónica em Espanhol #12
Monica’s Gang - Turma da Mónica em Inglês #12
Ronaldinho Gaúcho e Turma da Mônica #63
Turma da Mônica - Colecção Histórica #28
Turma da Mónica – Saiba mais #54 – Semana de Arte Moderna 1922
Turma da Mônica – Uma aventura no parque #63
Turma da Mônica Jovem #45
 
DC Comics (Panini Comics)
Batman #111
Liga da Justiça #110
Superman #111
Universo DC #20
 
Marvel (Panini Comics)
Avante Vingadores #52
Homem-Aranha #121
Os Vingadores #96
Wolverine #85
Universo Marvel #19
X-Men #121
 
Mythos
A editora Mythos retomará a distribuição dos títulos de Tex nas bancas e quiosques portugueses em Outubro. http://asleiturasdopedro.blogspot.pt/2012/07/tex-regressa-em-outubro.html

 

12/09/2012

Heróis Marvel #10

Justiceiro - Diário de Guerra



 

 

 
 

 

Carl Potts (argumento)
Jim Lee (desenho)
Levoir+Público (Portugal, 06 de Setembro de 2012)
170 x 260 mm, 208 p., cor, cartonado
8,90 €

 
 

Resumo
Este volume compila as revistas “Punisher War Journal 1-8”, originalmente publicadas em 1989, nas quais há a destacar três narrativas principais: a evocação da morte da família de Frank Castle às mãos de traficantes de droga; o seu confronto com um ex-companheiro do Vietname, apostado em matar todos os sobreviventes da sua companhia e uma inusitada ida a África para combater caçadores furtivos que procuram os últimos dinossauros e que inclui um confronto com Wolverine. 
Desenvolvimento
Confesso que este era um dos volumes da colecção Heróis Marvel que mais curiosidade me despertava, não só pelo pouco que conhecia do Justiceiro, mas também porque tenho alguma empatia com relatos protagonizados por vigilantes, embora descarte completamente a sua existência na vida real.
E a verdade é que as minhas expectativas foram satisfeitas, e com um bónus: o facto de estas histórias, publicadas numa revista editada em simultâneo com o título do herói, vocacionadas para uma faixa etária superior à dos habituais consumidores de comics, evocarem o seu passado – explicando a origem da sua cruzada contra os traficantes de droga em particular e a sua experiência (traumática) no Vietname - em paralelo com as histórias narradas na “actualidade”.
Para isso, nos dois primeiros números, Potts construiu uma narrativa a dois tempos, com a evocação do assassinato da família de Frankl Castle (vítimas colaterais por se encontrarem no sítio errado, à hora errada) narrada num registo gráfico e cromático diferente, a decorrer na última tira de cada prancha, em simultâneo com a narrativa principal.
Pessoalmente, dispensava, é verdade, os comics #6 e #7, em que o Justiceiro se vê a braços com Wolverine e dinossauros (!) numa selva africana (!), cuja história, auto-conclusiva, surge deslocada do registo original do herói, pela localização da acção e pela temática. E descartaria também a última narrativa – em que as pontas soltas são mais do que as respostas dadas, numa clara ilustração do motivo porque os comics de super-heróis nunca tiveram a minha preferência: o interminável encadeamento de histórias e o distorcer até ao exagero de realidades que pareciam outras, com os simples merceiros da rua onde Castle tem um dos seus esconderijos a transformarem-se em agentes não sei bem de quê, com ramificações com uma qualquer seita oriental...
Apesar disto, os dois relatos iniciais (correspondentes aos comics #1 a #5), compensaram largamente o investimento, pois  revelaram-me o Justiceiro que eu esperava: duro, violento, acima da lei e dos trâmites legais, não invencível (mas quase), assentando a sua acção na colaboração tecnológica de Microchip e nas armas que ele vai desenvolvendo. O segundo arco, em que o seu passado no Vietname é evocado, está especialmente bem escrito, combinando o habitual registo híper-violento com a cobertura pela imprensa e o suspense quanto às motivações e identidade do assassino dos seus companheiros de pelotão, com uma crítica dura e implícita (já presente no relato inicial) quanto aos métodos e às relações dos EUA com impérios assentes no dinheiro da droga.
Este volume tem ainda o atractivo de mostrar o primeiro trabalho de fôlego para a Marvel de um tal Jim Lee, futura estrela da Casa das Ideias, num registo de traço duro e agressivo – que quase página a página - que acentua o lado violento (e de certa forma adulto) do Justiceiro.
A reter
- A evocação da origem e motivações de Frank Castle para se transformar no Justiceiro, o que permite fruir integralmente da leitura deste tomo mesmo por quem nunca ouviu falar desta personagem Marvel.
- A qualidade dos primeiros dois arcos.
- A estreia “a sério” de Jim Lee.
- A edição, cartonado, com bom papel e impressão, por um preço acessível. 
Menos conseguido
- Os exageros registados a partir do comics #6, com a inclusão de Wolverine, dinossauros e seitas orientais…

 

11/09/2012

Crematorium

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Eric Borg (argumento)
P-H Gomont (desenho)
Casterman/KSTR (França, Agosto de 2012)
190 x 277 mm, 128 p., cor, cartonado
16 €
 
 
 
Resumo
Concretizando um reencontro há muito marcado, algures numa vilazinha perdida na França profunda, Théo e Clara evocam recordações e preparam uma vingança que esperou muitos anos.
 
Desenvolvimento
Théo e Clara são as personagens centrais deste romance negro desenhado. Claramente desequilibrados, marcados pela vida e disfuncionais, desde o início deixam o leitor em dúvida sobre os laços que os unem.
O reencontro, após a saída de Théo da prisão, é atípico, parecendo mais forte o seu objectivo do que propriamente o reatar da relação.
Com uma introdução (relativamente) longa e alguns saltos ao passado que nos ajudam a compreender – ou pelo menos a aceitar – os comportamentos errantes e anti-sociais de Théo e Clara e porque regressam a uma terra marcada pelo abandono, que os esqueceu – ou quis esquecer? – a história, apesar de um certo tom depressivo,  acaba por prender o leitor, pelas dúvidas quanto à forma como vai evoluir.
Aos poucos – também com a entrada em cena de um gang local que não hesita em utilizar meios extremos para se impor - o ritmo vai crescendo, os acontecimentos precipitam-se e a violência explode, de forma amoral, explícita mas nem sempre justificada, conduzindo o leitor para um final inesperado, cru e chocante, que obriga a uma segunda leitura à luz das revelações entretanto feitas, mas que não esconde algumas insuficiências no argumento que deixa algumas pontas por atar.
Sem deslumbrar, o traço anguloso e propositadamente pouco preciso de Gomont revela-se de uma grande agilidade e bastante expressivo, o que ajuda a dar consistência ao todo.
 
A reter
- A paleta cromática utilizada, voluntariamente limitada tons frios – mesmo quando impera o vermelho do sangue – que define o tom das cenas.
- A eficácia narrativa do traço de Gomont apesar de algumas limitações.
- O desfecho surpresa e o retrato convincente do casal que protagoniza Crematorium.
 
Menos conseguido
- Algumas oscilações de ritmo e algumas indefinições na narrativa, que complicam um pouco a vida ao leitor.
 
 

10/09/2012

Lance #4

Volume 4 (de 4)






Warren Tufts (argumento e desenho)
Libri Impressi (Portugal, Julho de 2012)
235 x 335 mm, 88 p., cor e pb, brochado com badanas
26,50 €


1.       Confesso que a leitura deste tomo me provocou sentimentos contraditórios. Daí, também o atraso na publicação deste texto.
2.      Que, de qualquer forma, recebe o destaque que merece, pois marca o regresso de As Leituras do Pedro ao seu ritmo normal, com predominância das recensões sobre as notícias e os fait-divers, ritmo esse que afrouxou durante o período de férias.
3.      (Por isso, esta semana – e possivelmente também na próxima – conto mostrar por aqui muitas e boas páginas de edições de BD que vale a pena ler).
4.      A primeira reacção, foi positiva, pois este volume encerra a publicação integral de Lance, iniciada por Manuel Caldas há meia dúzia de anos.
5.      Se o facto já merecia realce em Portugal, onde tal raramente tem acontecido, merece destaque maior sabendo-se as condições artesanais (mas apaixonadas) em que Manuel Caldas trabalha.
6.      Pois demorou apenas cerca de meia dúzia de anos para (em simultâneo com outros projectos) restaurar a pureza do traço original, o seu fabuloso colorido, o seu brilho e a capacidade de deslumbramento de quase três centenas de pranchas, reunidas numa edição que desse ponto de vista merece todos os encómios.
7.      (E cuja qualidade e excelência valeram a venda desta “sua” edição de Lance a editores alemães e noruegueses, estando em estudo a sua edição também nos Estados Unidos).
8.     Edição que é também uma bofetada de luva branca em todos aqueles – e são (sempre) demasiados – que até agora não compraram Lance temendo que a edição ficasse a meio.
9.      É a esses (e alguns mais) que se deve a minha primeira decepção com este livro, pois possivelmente trata-se do último que Caldas editará em português, dado o exíguo número de exemplares que vende no país.
10.  Que, como habitualmente, deverá preferencialmente ser pedido directamente ao editor Manuel Caldas , porque ainda não foi distribuído, porque lhe permite recuperar mais do seu investimento em cada volume (e quem sabe repensar novas edições em português) e ainda terá direito a alguns “brindes”.
11.   Posto isto, entremos então na obra em si, notoriamente crepúsculo de um western de contornos clássicos, embora marcado por um forte humanismo e uma invulgar predominância dos sentimentos sobre a acção (ou como influenciadores da acção).
12.  Nele, é visível algum cansaço de Tufts (possivelmente já com outros projectos em mente) na mudança da estrutura das pranchas, até agora com três tiras, que passam a ser quatro, aproximando-as de um esquema próximo da “montagem” de tiras diárias em detrimento dos imensos painéis em que as vinhetas, muitas vezes, atingiam proporções assinaláveis.
13.  Com isso, há uma evidente perda de pormenorização do desenho e, embora o traço pareça surgir mais conciso, perde-se o esplendor dos grandes planos e a imensidão que tantas vezes caracterizava os cenários naturais do velho oeste.
14.  Em termos de narrativa, cuja análise hoje será breve, pois já a detalhei aquando da leitura dos tomos #2 e #3, na qual contornos ficcionais e base histórica continuam a ombrear, esbate-se um pouco a noção de saga que (também) marcava significativamente a diferença, devido ao facto de os episódios se tornarem mais curtos, auto-conclusivos e praticamente independentes entre si.
15.   Apesar dessa quebra na uniformidade que a narrativa até então apresentava, o protagonista, que continua envolvido nas questões políticas e activas decorrentes do confronto (mais diplomático do que bélico) entre os Estados Unidos e o México pela posse do Texas, não perde as suas características, continuando impetuoso, justo, determinado e (involuntário) Don Juan.
16.  As personagens mulheres continuam a marcar forte presença o que, a par do seu tom dramático e da tensão emocional que perpasse por muitas das suas páginas, tornam este western distinto, mantendo-o afastado dos estereótipos do género e uma leitura altamente recomendável.
17.   Nesta edição integral portuguesa. 

Nota final
Este quarto tomo de Lance fecha (praticamente) com uma explicação de Manuel Caldas para a sua paixão pela obra e sobre o trabalho de restauro que ela exigiu.
Um retrato breve (não restaurado!) da imensa paixão do editor pelos quadradinhos – por alguns quadradinhos, por estes quadradinhos.
Um retrato de leitura obrigatória para perceber como se perdem – se ganham, o que ganhamos nós! – 20 horas de trabalho aturado por prancha.
A única forma de ter em mãos, com esta qualidade, estas 261 pranchas (5200 horas, mais de 200 dias…) hoje. Hoje, como  momento em que Tufts as desenhou, com a qualidade (melhorada pelas técnicas de edição actuais) com que chegaram às mãos dos que primeiro as descobriram nas páginas de jornais.
Por isso, também por isso, muito obrigado Manuel Caldas.
Com a certeza de que, terminada esta tarefa hercúlea, de certeza que outra de qualidade similar, para nova proposta de leitura estimulante, já foi iniciada.
Há-de ter eco aqui.
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