06/12/2012

Pequenos Prazeres# 2





  



Arthur de Pins e Maïa Mazurette (argumento)
Arthur de Pins (desenho)
Contraponto
(Portugal, 2 de Novembro de 2012)
150 x 235 mm, 192 p., cor, 
brochado com badanas
16,60 €


Resumo
Depois de encontros e desencontros, desavenças e reconciliações ocorridos em Pequenos Prazeres, Clara e Arthur querem cortar de vez e seguir, livres, as suas vidas. Só que, o anúncio do casamento próximo de Paul e Cassandra leva-os a repensar prioridades e opções e a partir numa fuga para a frente, tentando manter a independência enquanto sentem a necessidade de encontrar a sua alma gémea.

Desenvolvimento
Reflexão bem-humorada, feita à luz do sexo, sobre a passagem do estado de solteiros a casados e de como isso afecta amigos e conhecidos, esta segunda dose de Pequenos Prazeres (constituída pelos volumes 3 e 4 da edição original francófona), tem como principal defeito ter perdido o carácter de novidade que caracterizou o primeiro tomo.

Dessa forma, a Parte I – Gajas ao Ataque!, que poderia resultar melhor numa publicação regular em revista (uma vez que a narrativa está dividida em pequenos episódios, quase sempre de duas páginas), revela-se de leitura pouco estimulante, principalmente pela repetição da situação base – Clara tenta a toda a força arranjar companhia – e do respectivo desfecho, isto mesmo tendo em conta a lufada de ar fresco que é a apresentação da situação do ponto de vista feminino, a que não será estranha a participação de Maïa Mazurette nos argumentos.
No entanto, na passagem para a Parte II – O Casamento Tem Costas Largas, tudo muda. O anúncio do casamento eminente provoca o clique que reacende a chama entre Arthur e Clara e os leva a apostar a manutenção da respectiva castidade até que a união dos seus amigos se consume.

Com esses novos motes, o relato ganha novo fôlego, ritmo e sabor, solta-se e consegue cumprir competentemente o seu principal objectivo: divertir e dispor bem, em especial devido ao final, em crescendo, à medida de uma boa comédia de costumes
Para mais, sem pretensões moralistas – longe disso! – este livro faz também lembrar como tantas vezes procuramos longe aquele/aquilo que está mesmo à nossa frente…


05/12/2012

Revistas Disney regressam a Portugal













Chega hoje aos quiosques nacionais (ou, segundo parece, já anda mesmo por aí!) a revista “Comix” #1, que assinala o regresso da banda desenhada Disney ao nosso país. Pato Donald, Mickey, Pateta, Tio Patinhas e muitos mais assinalam assim da melhor maneira o 111.º aniversário do nascimento de Walt Disney (1901-1966).
A “Comix”, de periodicidade semanal, terá 132 páginas a cores e um preço de capa de 1,90 €, embora este número inaugural, com uma tiragem de 75 mil exemplares, tenha o preço de lançamento de apenas 1 euro. A capa é da autoria do italiano Andrea Freccero, que a chegou a divulgar no seu blog pessoal há poucas semanas, embora depois a tenha retirado.
O objectivo da editora Goody, responsável pela “Comix”, é editar uma publicação “intergeracional… dos 8 aos 88 anos” que suscite “o interesse dos jovens bem como dos pais que assim relembrarão as suas antigas leituras”, pelo que “o lançamento será acompanhado por uma campanha de televisão nos canais generalistas, no Disney Channel e na Sport TV, um forte apoio em termos de destaque em ponto de venda quer na distribuição tradicional quer na distribuição moderna e ainda internet”.
A Goody anuncia também uma outra revista de BD, a Hiper, mensal, com 320 páginas, por 3,90 €, que traz na capa a data de Janeiro de 2013, embora na Comix #1 seja anunciado o seu lançamento durante este mês de Dezembro.
Embora a maioria dos antigos leitores associem os quadradinhos Disney às edições brasileiras distribuídas pela Editora Abril em Portugal desde o início dos anos 1950, a verdade é que os heróis Disney se estrearam em Portugal logo em 1935, na revista Mickey, que haveria de durar 58 números.
Revistas como O Faísca ou o jornal O Primeiro de Janeiro (este durante décadas) publicaram também esses heróis e outras criações Disney que, depois de “Rato Mickey”, uma tentativa pouco duradoura da Agência Portuguesa de Revistas em 1955, só voltariam a falar português já nos anos 1980, através de edições da Editora Abril/Morumbi. Primeiro acompanhando as edições brasileiras, depois de forma autónoma, os títulos da editora – “Mickey”, “Pato Donald”, “Tio Patinhas”, “Pateta”, “Disney Especial”, “Hiper Disney”, etc. - sucederam-se até 2006, quando foi publicada a última revista, o Tio patinhas #250.
Entre publicações especiais e números comemorativos, algumas no formato álbum, termino com uma referência para a edição especial Euro 2004, na qual Patinhas, Donald e os seus sobrinhos vêm ao nosso país para descobrir quem roubou a taça destinada à equipa vencedora do Campeonato Europeu de Futebol que cá se realizava, numa história escrita pelo português Paulo Ferreira.

(Versão revista do texto publicado no Jornal de Notícias de 5 de Dezembro de 2012)



04/12/2012

As Figuras do Pedro (XXVI) - Astérix na FNAC









Quem gosta de banda desenhada, de Astérix e de objectos derivados, não pode deixar de ter no sapatinho as estatuetas que a FNAC, numa parceria com a ASA, está a oferecer pela compra de cada livro (são oito no total) da colecção “Astérix – Tudo sobre…”.
No total são 11 figuras de excelente qualidade (as imagens mostradas no anúncio do catálogo da livraria não correspondem às figuras disponíveis e estão longe de lhes fazer justiça), em resina, que medem entre 10 e 20 centímetros e reproduzem a três dimensões Astérix (com o caldeirão de sestércios), Obélix (com Ideaifix), o druida Panoramix, o chefe Matasétix, o bardo Cacofonix, o Ferreiro Éautomatix, o Peixeiro Ordemalfabetix, Decanonix, Falbala, Júlio Cesar e o chefe pirata Barba Vermelha.
Estas peças correspondem às entregas iniciais da colecção francesa “Astérix: la grande galerie des personages”, que em França foi vendida ao preço de 15,89 € cada, juntamente com um pequeno livro sobre a personagem retratada.
Como, com esta promoção, cada figura fica por apenas 12,00 € (correspondentes ao preço do livro), quanto a mim, faria mais sentido que a publicidade anunciasse: “compre uma estátua e receba grátis um livro da colecção “Astérix – tudo sobre…”!



03/12/2012

Tio Patinhas: 65 anos a juntar dinheiro












Scrooge McDuck, aliás o Tio Patinhas, fez a sua estreia nos quadradinhos em Dezembro de 1947, como criação de Carl Barks. Antipático e pouco sociável, já era “o pato mais rico do mundo”.

Essa primeira aventura, intitulada “Christmas on Bear Mountain” (Natal nas Montanhas do Urso), integrou a revista Four Colour Comics #178, publicada pela Dell Comics. Com 20 páginas, tinha sido escrita e desenhada por Barks em Julho desse ano, estando o mais célebre “desenhador dos patos” longe de imaginar o sucesso da nova personagem.
Se em termos de temperamento – egoísta, amargo, desagradável, solitário – Patinhas já estava próximo do que lhe conhecemos, em termos físicos apresentava algumas diferenças, nomeadamente óculos com aros e barba em vez das (agora) tradicionais patilhas.
Nessa BD, tudo começa quando o Pato Donald e os seus sobrinhos recebem um convite de um tio rico – que aparentemente desconheciam – para passarem o Natal com ele nas montanhas. Aceitam de imediato, desconhecendo que ele pretende disfarçar-se de urso e divertir-se às suas custas, o que dará origem a algumas peripécias divertidas com peles de urso e ursos de verdade.
Apesar de avarento, o Tio Patinhas, inspirado no Ebenezer Scrooge de Um Conto de Natal de Charles Dickens, fez sucesso e tornou-se personagem recorrente das aventuras dos patos Disney.
“A Saga do Tio Patinhas”, uma espécie de biografia oficial, escrita e desenhada pelo norte-americano Don Rosa a partir das várias histórias de Barks, localiza o seu nascimento em 1867, em Glasgow (que o fez cidadão honorário em 2007), na Escócia (daí a sua avareza). Nela, conta o percurso de Patinhas desde um pequeno engraxador até se tornar o multimilionário homem de negócios mundialmente famoso, depois de ter sido barqueiro, vaqueiro, pesquisador de ouro, mineiro em África, caçador de tesouros e muito mais.
Tendo enriquecido à custa do seu trabalho, tornou-se dono de grande parte da cidade de Patópolis, possui uma enorme caixa-forte cheia de dinheiro, no qual adora mergulhar e nadar, e explora ao máximo os que o rodeiam, especialmente Donald. Como não podia deixar de ser, a sua enorme fortuna atrai muitos indesejáveis, com os terríveis irmãos Metralha (igualmente criados por Barks, quatro anos mais tarde) à cabeça. Outra ameaça recorrente é a Maga Patalógica, que pretende transformar num amuleto a famosa moedinha n.º 1, a primeira que Patinhas ganhou a trabalhar e que desde sempre guarda. Entre os seus ódios de estimação contam-se os também milionários Patacôncio e MacMonei.
Se é verdade que Don Rosa apontou 1967 como data da morte do Tio Patinhas (ao completar o seu centenário, felizmente, para os seus fãs e admiradores o Tio Patinhas (já com 145 anos!) continua a viver nas páginas dos quadradinhos e também nas aventuras animadas.

Apesar dessas evidências, a revista norte-americana Forbes que anualmente elabora uma lista com as personagens de ficção mais ricas, em 2012, excluíu o Tio Patinhas que a liderava no ano anterior com uma fortuna avaliada em 44,1 biliões de dólares, supostamente por já ter “falecido”.
Se assim fosse, o pato daria voltas na tumba ao ver um dos seus rivais, o pérfido MacMonei, na 2.ª posição, com uma fortuna superior à sua (51,9 biliões de dólares), conseguida à custa de esquemas pouco honestos e exploração de minas. A liderança da lista apresentada este ano cabe ao dragão Smaug, de O Hobbit, com 62 biliões de dólares, enquanto o vampiro Cullen, da saga Crepúsculo completa o pódio com 36,9 biliões.
Na lista figuram igualmente Tony Stark (o Homem de Ferro da Marvel), Bruce Wayne (identidade secreta de Batman), a hacker Lisbeth da saga Millenium, Mr. Monopoly (do jogo homónimo) e Mr. Burns, dos Simpsons.

(Versão revista do texto publicado no Jornal de Notícias de 2 de Dezembro de 2012)


02/12/2012

As Figuras do Pedro (XXV) - Figuras Marvel de Colecção











Nem tudo são más notícias para quem gosta de BD neste tempo que agora se vive em Portugal e a Planeta DeAgostini acaba de anunciar o prolongamento da colecção Figuras Marvel de Colecção, que inicialmente previa 60 figuras, a última das quais, o Super Skrull, chega este mês aos quiosques.
Uma segunda série, com mais 60 figuras, vai ser iniciada já em Janeiro de 2013, com a estátua dedicada ao The Vulture (Abutre), seguindo-se depois, a um ritmo quinzenal, Dormammu, Carnage, Sabertooth e Black Widow. Mais para a frente será possível encontrar a Spiderwoman, Psylocke, Falcão, Bishop, Winter Soldier ou J.J. Jameson. Uma listagem completa da colecção pode ser consultada no site da editora.
As novas figuras manterão o preço de 12,11 €, estando anunciadas duas figuras especiais, Colossus e Juggernaut, disponíveis apenas para quem assinar ou subscrever a colecção.



01/12/2012

Camarada surgiu há 65 anos














Em 1947, estreava-se o Camarada, “O único jornal infantil para rapazes”, uma revista infanto-juvenil lançada a 1 de Dezembro, então ainda feriado (e ninguém de bom senso imaginava que alguma vez pudesse ser de outra forma) pois era dia da Restauração da Independência e também da Mocidade Portuguesa, que a patrocinava.

O Camarada fez parte do lote dos “quadradinhos do regime”, como os classifica Dias de Deus na obra “Os Comics em Portugal”, revistas para os mais novos nas quais “a doutrinação política estava subjacente”. Por isso ou porque as bandas desenhadas importadas pelo Mosquito, o Diabrete e, mais tarde, o Mundo de Aventuras eram mais apelativas, a nova publicação nunca se conseguiu impor verdadeiramente.
De formato ligeiramente inferior ao A4 e preço de 1$20, tinha como director Baltazar Rebelo de Sousa (pai do comentador televisivo) e, a par dos habituais contos, passatempos e curiosidades, apostou apenas em histórias aos quadradinhos de autores portugueses, destacando-se Júlio Gil, Carlos Alberto Santos (hoje pintor), José Garcês e José Ruy (ainda em actividade) ou Vítor Péon.
Ao fim de quatro anos, em 1951, suspendia a publicação quinzenal com 133 números editados. No ano seguinte promoveu Antes, em 1952 inaugurou a 1.ª Exposição Portuguesa de Histórias aos Quadradinhos, no Palácio da Independência, evento pioneiro, antecipado apenas pela primeira exposição mundial do género realizada em São Paulo um ano antes.
A 20 de Dezembro de 1957, o Camarada ressurgiria numa segunda série, mais infantil e colorida (um luxo para a época), com Marcello de Morais como editor e autores como Artur Correia e Ricardo Neto, que fariam carreira no cinema animado, ou Carlos Roque, futuro colaborador da revista belga Spirou. Embora a aposta se mantivesse nos autores lusos, após um ano de publicação abriria as suas portas a dois gigantes da BD europeia, Franquin e Macherot, estreando em Portugal os seus heróis, Spirou e Clorifila.
Ambos estariam presentes na colecção cartonada Álbuns do Camarada, o primeiro em “O feiticeiro de Vila Nova de Milfungos” (com capa original desenhada para o efeito por Franquin) e Clorofila em “Os Quebra-Ossos”, hoje em dia uma das edições mais raras da BD nacional. “O Cruzeiro do Caranguejo”, de Carlos Roque, “Brés, a ilha afortunada”, de Júlio Gil, e “Uma aventura em Paris/O Signo do Centauro”, de Marcello de Morais foram os restantes títulos editados.
Em Maio de 1965, após quase oito anos e 193 números, o Camarada dizia definitivamente adeus aos seus leitores.

(Versão revista do texto publicado no Jornal de Notícias de 1 de Dezembro de 2012)

30/11/2012

Melhores Leituras


Novembro 2012

Heróis Marvel #9 - Wolverine Madripoor (Levoir/Público)
Chris Claremont e John Buscema (desenho)

O Cabra (Papel 2)
Flávio Luiz e Artur Fujita

O baile (Kingpin Books)
Nuno Duarte e Joana Santos

Heróis Marvel II - #3 - Homem de Ferro: Extremis (Levoir/Público) 
Warren Ellis, Adam Warren, Mark Haven Britt, Matteo Casali, Tim Fish, Adi Granov, Salva Espin, Nuno Plati, Steve Kurth e Filipe Andrade

Heróis Marvel II - #4 - Surfista Prateado: Parábola (Levoir/Público) 
Stan Lee, Moebius e John Buscema

Jours de destruction, jours de révolte (Futuropolis) 
Chris Hedges e Joe Sacco

Heróis Marvel II - #5 - Wolverine: Velho Logan (Levoir/Público) 
Mark Millar, Steve McNiven e Dexter Vines

Chlorophylle - Intégrale #1 (Le Lombard) 
Raymond Macherot

El Rescate Emocional de un Clásico: 'Prince Valiant', La Obra Cumbre de Hal Foster (Libri Impressi)
Eduardo Martínez-Pinna

29/11/2012

El Rescate Emocional de un Clásico


‘Príncipe Valiente’, la obra cumbre de
Hal Foster










Eduardo Martínez-Pinna
Libri Impressi
(Espanha, Novembro de 2012)
240 x 320 mm, 64 p., pb e cor, brochado com badanas
18,50 €




- Mais um livro sobre Foster e o seu Príncipe Valente? – perguntarão alguns.
- Sim, porque “Prince Valiant – In The Days of King Arthur é uma obra de maturidade realizada por um autor na sua plenitude artística…” – fundamenta(-se) o autor, em jeito de introdução.
Para além disso, acrescenta, esta banda desenhada é “…uma obra imortal que consegue vencer o inefável Cronos, o deus do tempo, que torna velha qualquer manifestação artística” e representa “… a maturação de um estilo, o final de um caminho e, em definitivo, uma forma de entender os comics”.
E justifica-se ainda pela “técnica impecável” de Foster, por ser “um dos grandes clássicos”, “um dos comics mais imitados de todos os tempos” e por estar carregada “ de valores éticos universais”.

O autor, Martínez-Pinna, inicia o seu livro com uma introdução biográfica sobre o Foster “pré-Príncipe Valente” ajudando-nos a situar a sua obra nas suas origens, nos seus princípios, no seu percurso pessoal, profissional e artístico, no seu tempo e no contexto dos quadradinhos (e das outras artes) de então.
Depois, há um mergulho – saboroso e profundo – na obra-prima de Foster, analisando as temáticas, o estilo, a evolução, o peso das personagens secundárias – muitas vezes protagonistas por umas quantas páginas –, apontando inspirações, homenagens e referências a diversos níveis, indicando incongruências históricas (justificadas pelas necessidades ficcionais de um relato aventuroso e humano), destacando a qualidade do traço de Foster, os seus cavalos e o seu imenso respeito pela natureza, sublinhando a multiplicidade de soluções narrativas, o peso e o protagonismo (incomum) das personagens femininas, comentando a importância da religião e da magia na saga…
E, analogamente, como a obra de Foster foi continuada – como, quando e por quem – e, numa óptica mais formal, outros formatos de publicação, as adaptações literárias e cinematográficas, as melhores e piores reproduções que dela foram feitas.
Tudo isto - e não é tudo - justifica “mais um livro sobre Foster e o seu Príncipe Valente” e pede ao leitor a disponibilidade mental para uma leitura ponderada e reflexiva, pois se o autor não cria nada de novo ou original, nalguns casos ilumina a obra de Foster de modo diferente, fazendo-a brilhar sob uma nova luz.
Para isso contribui também, decisivamente, a presença tutelar da arte do autor nas páginas desta edição em que quase todas as imagens utilizadas - restauradas com a paixão e o talento que se reconhecem a Manuel Caldas - reproduzem vinhetas do Príncipe Valente no seu tamanho original (ou seja, sensivelmente o tamanho das páginas do livro!). O que facilmente provoca no leitor o delírio de imaginar uma (utópica) edição do Príncipe Valente no (gigantesco) tamanho das pranchas que Foster nos legou.
E a que a leitura deste livro indubitavelmente faz desejar voltar, para recordar/descobrir/desfrutar tudo aquilo que ele evocou.


28/11/2012

Des Oiseaux, des Mers










Collection Contrebande
Ville Tietäväinen
Delcourt 
(França, Março de 2005)
240 x 320 mm, 120 p., cor, cartonado
17,50 €



Este é mais um (curioso) exemplo destes tempos de globalização (mesmo que sejam cada vez mais as vozes que a questionam): BD de autor finlandês, de traço oriental, editada em França (após a publicação na Finlândia), cuja acção decorre em Hong Kong e esboça um retrato cruel (porque realista) da vida na China, em meados da década de 1990 (o que não significa que hoje tudo seja diferente).
A partir de uma bela história de amor entre os (muito) jovens Katie e Simon, o autor revela como a tradição ainda tem um enorme peso na China, como a última palavra sobre o amor, o casamento, os descendentes ou o trabalho (em muitos casos) ainda pertence à família, como o peso da idade, do dinheiro, da posição social ainda continuam a fazer lei, dá um vislumbre do submundo do jogo, da droga, do sexo, do tráfico de órgão humanos (obtidos em refugiados – no caso – vietnamitas)…
Cruzamento de dois percursos – que embatem violentamente a meio do relato, pondo um fim abrupto à história - Des Oiseaux, des Mers está narrado de modo contido e pausado, proporcionando-lhe tempo para respirar e para caracterizar consistentemente os intervenientes.
Dividido em três capítulos, apresentados fora da sua ordem cronológica – o que a certo momento pode baralhar o leitor – este é um retrato cruel – escrevi atrás – porque a história de amor, bonita e doce, que o leitor inconscientemente deseja, acaba por ser atropelada pela crueldade imparável da vida.


27/11/2012

Lucky Luke – Todos por conta própria









As aventuras de Lucky Luke segundo Morris
Daniel Pennac & Tonino Benacquista (argumento)
Achdé (desenho)
ASA
(Portugal, 2 de Novembro de 2012)
228 x 297 mm, 48 p., cor, cartonada
11,90 €


Resumo
Fartos das ordens e dos planos de Joe que os conduzem sempre à cadeia, os restantes irmãos Dalton decidem rebelar-se.
Surge então uma inovadora proposta: o primeiro a conseguir juntar um milhão de dólares, será o novo líder do bando.

Desenvolvimento
Contrariando as vozes mais agourentas (ou realistas?), a retoma de Lucky Luke por Achdé (e argumentistas) após o falecimento de Morris, não foi o desastre que se esperava.
E isso não acontece só porque o declínio da série – após a morte de Goscinny – já era muito acentuado (logo seria difícil fazer pior).
Cinco álbuns depois, Achdé e os seus parceiros ocasionais de cavalgada, num ritmo de cruzeiro controlado, sem terem dado origem a nenhum título ao nível dos incontornáveis da série (todos assinados por Goscinny…), já fizeram o suficiente para conquistar o respeito dos leitores do herói mais rápido do oeste, com histórias originais e divertidas, desenvolvidas de forma consistente e equilibrada, que fazem jus ao espírito e ao passado de Lucky Luke. Conseguiram-no através de bases argumentais originais e da incorporação de momentos e personagens recorrentes nas aventuras, como a exploração do duo Lucky Luke/Jolly Jumper, ou a relação de amor/ódio (por assim dizer) com os irmãos Dalton.
O mesmo acontece neste Todos por Conta Própria que a ASA, mais uma vez, editou em simultâneo com a edição original lusófona (e distribuiu dias depois com o jornal Público).
No entanto, ao contrário dos anteriores, o ritmo narrativo ressente-se da estrutura adoptada – embora, diga-se em boa verdade, possivelmente não haveria outra alternativa – devido ao acompanhamento de forma simultânea mas (necessariamente) intermitente dos progressos de cada um dos quatro irmãos Dalton, nas suas novas vidas a solo, explorando os assaltos, a vida política, os jogos de azar ou a culinária, surpreendentemente com mais sucesso do que se poderia pensar.
E se o final – como sempre e inevitavelmente – é o esperado, com os Dalton de regresso à penitenciária e Lucky Luke solitário em direcção ao sol poente, até o atingir há gags e peripécias bem imaginados em número suficiente para justificar a leitura de um livro simultaneamente com sabor a nostalgia e a novidade.

A reter
- A ideia base do álbum.
- O trabalho gráfico de Achdé.

Menos conseguido
- As quebras que o acompanhamento “personalizado” e constante de cada irmão Dalton inevitavelmente provocam no ritmo narrativo.


26/11/2012

Combates Navais


Heróis do Mar, Contra os Canhões…
LUTAR… LUTAR


Fazer o levantamento – embora tal se apresente como tarefa árdua, pela forma como muitas delas “desaparecem” (ou não chegam a aparecer) e nunca cheguem realmente a circular – de todas as edições de BD feitas e/ou apoiadas por câmaras, institutos e instituições, privadas e públicas, em Portugal, ao longo dos últimos anos, daria com certeza origem a algumas descobertas surpreendentes.
Desde logo pelo elevado número de títulos que, acredito, seria encontrado (constituindo alguns deles a (única?) fonte de rendimentos dos seus autores) mas também pelo desconhecimento (natural…) do meio narrativo e da realidade editorial nacional por parte de quem as editou – mas, se assim não fosse, dirão alguns, quantas destas edições chegariam a ver a luz do dia…?
Desconhecimentos visíveis, por exemplo, em prefácios e notas introdutórias descabidas ou em tiragens mirabolantes, que podem chegar aos 5 ou 10 mil exemplares!
E tiragens (mirabolantes) essas que se destinam – tantas vezes! – a ser distribuídas (com que critério…?) por estabelecimentos de ensino, instituições e/ou bibliotecas (ou a ficarem esquecidas em armazéns), sem que qualquer parcela seja direccionada para os seus leitores naturais.
Não obedecendo implicitamente a (tudo) o que atrás fica escrito, segue-se o registo de duas destas edições, que recebi recentemente.













A. Vassalo
Edições Culturais da Marinha (Portugal, 2011)
210 x 297 mm, 24 p., pb, capa fina



Com uma invulgar tiragem de 10.000 exemplares, esta edição de algum modo “responde” ao quesito que estabeleci a propósito do álbum Cinzas daRevolta, sobre a falta de abordagens à Guerra Colonial na BD portuguesa.
O seu autor é A. Vassalo (que também já assinou Vassalo de Miranda), já com currículo razoável no género (incluindo corajosa glorificação dos comandos nacionais em África logo após o 25 de Abril) que, mais uma vez, opta por exaltar os feitos guerreiros (apesar de tudo) recentes dos soldados portugueses, em 1961. (O que só soa estranho pelo seu lado de contemporaneidade, pois o mesmo se faz há muito tempo em relação a figuras como D. Afonso Henriques, Nuno Álvares Pereira ou Mouzinho de Albuquerque…)
Agora, para além da época, muda o local da acção – Diu, na costa ocidental da Índia – e os protagonistas – a guarnição portuguesa local… Desenhada de forma clássica, em traço fino, perde pela falta de profundidade devida à ausência de sombreado ou de manchas negras, e também pelo uso de legendagem mecânica pouco agradável.
Tendo como ponto de partida uma homenagem actual da marinha indiana a “heróis” portugueses, entra depois num longo flashback que evoca o confronto entre uma lancha portuguesa e forças aeronavais indianas. Assumindo um tom documental e didáctico, abusa dos textos de apoio, mesmo quando predominam os combates, mas tem o mérito de evocar um episódio pouco conhecido de um período da nossa História que muitos ainda têm dificuldade em revisitar.

Operação Mar Verde














A. Vassalo
Caminhos Romanos (Portugal, 2012)
210 x 297 mm, 32 p., pb, brochada
5,00 €




Apesar de ter editora, esta é outra edição que dificilmente se encontrará em livrarias.
Com o mesmo autor de Combates Navais…, e de tom semelhante, graficamente apresenta maior cuidado devido ao uso de sombras e de contrastes branco/negro.
O cenário da acção muda de Diu para a Guiné e apresenta como protagonista Alpoim Calvão, com a curiosidade de o autor (que também foi comando) surgir numa das suas páginas, o que reforça a veracidade do relato, que recorda uma operação “secreta”, “não autorizada”, durante anos “ignorada” pelo poder português, levada a cabo por um comando nacional no território da Guiné Conacri para libertar um piloto português e provocar um golpe nas forças “terroristas” do PAIGC.
E tal como o livro anterior, tem o mérito de trazer à luz do dia outro episódio pouco conhecido da generalidade dos portugueses.

25/11/2012

Blake e Mortimer - O Juramento dos Cinco Lordes













O Juramento dos Cinco Lordes, 21.º álbum das aventuras de Blake e Mortimer chegou às livrarias nacionais no passado dia 16 de Novembro, numa edição da ASA lançada em simultâneo com a francófona, tendo como grande novidade a interacção dos heróis criados por Edgar P. Jacobs com uma personagem real, o aventureiro Lawrence da Arábia.
Parte da tiragem da edição portuguesa tem uma capa variante criada especialmente para o nosso país, para venda exclusiva nas lojas FNAC.
Nono álbum após a morte de Jacobs e quinto assinado por Yves Sente e Andre Juillard, apresenta como curiosidade a ausência de Olrik, o grande adversário da fleumática dupla britânica, e a sua acção situa-se entre A Marca Amarela e O Caso do Colar, marcando o regresso dos heróis a Inglaterra, depois de nas últimas aventuras terem percorrido boa parte do globo. Nele é também desvendada parte da juventude de Francis Blake, como chegou a capitão dos serviços secretos ingleses e o papel decisivo que teve no desaparecimento de Lawrence da Arábia, cuja morte num acidente de mota, em 1935, ficou envolta em mistério.
No mercado francófono, este é um dos lançamentos mais aguardados do ano e será com certeza um dos best-sellers de 2012, tendo uma tiragem inicial de 450 mil exemplares, bem como uma segunda edição no formato de tiras. A importância deste lançamento pode ser também aferida pelo facto de ter sido publicado em tiras diárias nos jornais Ouest-France e Le Soir durante o verão e pelas exposições que lhe são agora dedicadas em Paris, Bruxelas e Neuchatel.
O grande mediatismo da edição foi aumentado pelo processo recente que opôs a Media Participations, detentora dos direitos de Blake e Mortimer, à editora Delcourt, que anunciara para 7 de Novembro o lançamento de La Marque Jacobs, uma biografia não autorizada em BD do criador da dupla de heróis. Na origem da queixa esteve a eventual existência de demasiados elementos ligados à obra de Jacobs na capa do livro, da autoria de Rodolphe e Louis Alloing, o que configuraria uma situação de plágio e não de citação. A justiça francesa foi célere na sua decisão, não dando razão aos queixosos, pelo que La Marque Jacobs foi lançada no passado dia 14. Na prática, foi uma publicidade extra para os dois álbuns que deve ter caído bem a ambas as editoras.

(Versão revista do texto publicado no Jornal de Notícias de 23 de Novembro de 2012)




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