Jean Van Hamme (argumento)
Philippe Aymond (desenho)
Sébastien Gérard (cores)
Dupuis (Bélgica, Novembro 2009)
217 x 298, 48 p., cor, cartonado
Resumo
Shania Rivkas é uma jovem estoniana que trabalha como intérprete no Parlamento Europeu, em Estrasburgo. E é também Lady S., uma agente que, por vezes, trabalha às ordens da CIA.
Neste sexto tomo das suas aventuras, um imprevisto, involuntariamente relacionado com a preparação de um atentado terrorista da Al Qaeda, mais importante que os de 11 de Setembro, obriga-a a partir de urgência para Lisboa, para seguir uma pista que a pode levar a encontrar o pai, que julgava morto há uma dúzia de anos.
Desenvolvimento
Tudo começa, quando a sua companheira de apartamento, a bela Kadija, sempre sedenta de sexo, a convence a participar num jantar a quatro. Durante a refeição conhece Kader Bessaoui, um jovem e interessante professor islâmico.
Só que, desde logo, nem tudo é o que parece neste início de álbum, com (quase) todos os participantes a esconderem segredos e a assumirem ser o que não são, num desenrolar de situações – dois fugitivos mortos pela policia, um CD escondido na bolsa de Shania, um atentado da Al Qaeda em preparação, a notícia do aparecimento do pai da protagonista, a perseguição encetada por russos e muçulmanos radicais, uma atribulada refeição á sombra da ponte 25 de Abril, diversos atentados, uma animada perseguição pelas ruas lisboetas, um vistoso acidente automóvel…. - que se tornam cada vez mais intrigantes, até ao (também) inesperado final.
Esta é uma série típica da banda desenhada de aventuras de matriz franco-belga, dinâmica, com muita acção, ritmo elevado, suspense q.b., diversas surpresas e vitória final da protagonista, dos bons.
Pelo meio, Van Hamme, com a sua habitual competência, cria alguns laços com os tomos anteriores – que explicam alguns aspectos mas cuja leitura não é necessária para a compreensão deste episódio -, gere com eficácia as situações, puxa os cordelinhos certos, introduz diversos elementos surpresa, faz algumas inflexões no rumo da narrativa e, com isso, prende e cativa o leitor, que, sem dar por ela, percorre página após página em busca do desfecho que concederá algum descanso à adrenalina.
Aymond, sem deslumbrar, mas também sem erros de relevo, cumpre bem o seu papel, melhor nos cenários, pormenorizados e credíveis, do que no tratamento da figura humana, à qual falta um pouco mais de dinamismo.
Curiosidades
- Para nós, portugueses, este álbum apresenta a particularidade de dois terços das suas páginas se desenrolarem em Lisboa e arredores, a começar logo pela capa, que apresenta uma boa perspectiva da cidade e do castelo de S. Jorge. Algo raro, mesmo em obras de autores nacionais.
- A protagonista viaja num avião da TAP.
- Uma das cenas finais do livro utiliza de forma no mínimo curiosa um dos eléctricos lisboetas.
- Os diálogos incluem um balão num português impecável.
- E há também uma Amália (era inevitável o lugar comum) e – mácula desnecessária – um Manoël…
07/12/2009
04/12/2009
BD e Literatura - L’Hôte
Jacques Ferrandez (argumento e desenho)
Galimard (França, Novembro de 2009)
235 x 315 mm, 62 p., cor, cartonado
Resumo
Este álbum baseia-se num conto de Albert Camus, retirado de “L’Exil et le Royaume”.
É a história de um preso acusado de ter morto um familiar, que é entregue a um professor para este o levar até à prisão. Por pano de fundo tem a (sombra da) guerra (de libertação) da Argélia.
Desenvolvimento
Aliás, pode bem dizer-se que a Argélia protagoniza esta (estranha) história, de tal forma ela é omnipresente, quer nos grandiosos cenários com que Ferrandez enche as páginas em que a acção se desenrola, quer como contexto sociopolítico de fundo, quer como matriz cultural das (poucas) personagens envolvidas. E, principalmente, na forma como a narrativa, pausada, quase muda, respira (e transpira) o país.
Algo quase inevitável em Camus – argelino de naturalidade e de vocação – como salienta Boualem Sansal na introdução em que defende a necessidade de releitura das obras do autor longe dessa sombra, para as valorizar mais.
O local central de “L’Hôte”, é uma pequena escola, perdida numa inóspita região montanhosa, onde um professor – branco, mas argelino – lecciona – e ajuda, e alimenta, e compartilha o que tem com – os poucos alunos que se recusa a abandonar, mesmo sob a ameaça do confronto civil.
A sua paz, é quebrada pela chegada de um polícia, com quem tem um laço familiar e afectivo forte, que o vem requisitar para ir entregar o preso – um indígena, se assim se me permite escrever - que o acompanha numa prisão a um dia de distância – a pé – porque a situação de tensão social o impede de o fazer pessoalmente. Apesar da recusa passiva do professor, o preso é-lhe entregue.
O resto da trama – o final desse dia, a noite e algumas poucas horas do dia seguinte – decorre numa situação de tensão latente entre duas formas de viver e pensar diferentes, embora com mais pontos de contacto do que inicialmente se suporia. Tentando tratar o preso com humanidade - como igual, algo impensável então – deixando-o livre e a dormir no mesmo quarto, o professor não deixa de temer pela sua vida. O preso, receoso do que o espera, não compreendendo a atitude de quem agora o escolta, também surge algo perdido numa situação que não buscou.
Após o pequeno-almoço, partem para o destino – a prisão anunciada. Aparentemente, porque o propósito do professor é diferente, como o demonstra ao chegarem a um local onde deixa ao detido escolher o destino: a cidade onde está a prisão ou a liberdade junto das tribos nómadas
Não vou revelar a escolha, nem as consequências (eventuais) dela para o professor – e são estas que marcam sem dúvida o tom do relato, que é antes de mais uma ode à liberdade, ao direito ao livre arbítrio e ao desejo de conviver com a diferença. Apesar do tom pessimista desse mesmo final, sem dúvida uma das marcas fortes da escrita de Camus.
Jacques Ferrandez, também argelino, com uma planificação em que utiliza muitas vezes pranchas (ou pelo menos grandes vinhetas) duplas, traçadas com belas aguarelas, em que enquadra (outr)as vinhetas em que decorre a acção, consegue dar o protagonismo ao país, à agreste paisagem, quase lunar, conseguindo belos efeitos e retardar a leitura, pausando-a e reforçando sensações de silêncio, solidão, impotência…
As excepções são os dois diálogos – do polícia com o professor e deste com o detido – aparentemente simples e directos, mas com inúmeras implicações de vária ordem, que obrigam a uma e outra releitura para interiorizar completamente o peso das palavras e, mais ainda, dos incómodos silêncios que as permeiam.
A reter
- A forma como a Argélia – a sua paisagem, o seu espírito(?) – se impõe na planificação e está interiorizada na narrativa de Ferrandez.
- O final, forte, inesperado, imprevisível, que reforça a sensação de solidão e impotência que são permanentes ao longo do conto.
Menos conseguido
- A forma menos feliz como estão desenhados os protagonistas, algo rígidos e pouco expressivos.
Galimard (França, Novembro de 2009)
235 x 315 mm, 62 p., cor, cartonado
Resumo
Este álbum baseia-se num conto de Albert Camus, retirado de “L’Exil et le Royaume”.
É a história de um preso acusado de ter morto um familiar, que é entregue a um professor para este o levar até à prisão. Por pano de fundo tem a (sombra da) guerra (de libertação) da Argélia.
Desenvolvimento
Aliás, pode bem dizer-se que a Argélia protagoniza esta (estranha) história, de tal forma ela é omnipresente, quer nos grandiosos cenários com que Ferrandez enche as páginas em que a acção se desenrola, quer como contexto sociopolítico de fundo, quer como matriz cultural das (poucas) personagens envolvidas. E, principalmente, na forma como a narrativa, pausada, quase muda, respira (e transpira) o país.
Algo quase inevitável em Camus – argelino de naturalidade e de vocação – como salienta Boualem Sansal na introdução em que defende a necessidade de releitura das obras do autor longe dessa sombra, para as valorizar mais.
O local central de “L’Hôte”, é uma pequena escola, perdida numa inóspita região montanhosa, onde um professor – branco, mas argelino – lecciona – e ajuda, e alimenta, e compartilha o que tem com – os poucos alunos que se recusa a abandonar, mesmo sob a ameaça do confronto civil.
A sua paz, é quebrada pela chegada de um polícia, com quem tem um laço familiar e afectivo forte, que o vem requisitar para ir entregar o preso – um indígena, se assim se me permite escrever - que o acompanha numa prisão a um dia de distância – a pé – porque a situação de tensão social o impede de o fazer pessoalmente. Apesar da recusa passiva do professor, o preso é-lhe entregue.
O resto da trama – o final desse dia, a noite e algumas poucas horas do dia seguinte – decorre numa situação de tensão latente entre duas formas de viver e pensar diferentes, embora com mais pontos de contacto do que inicialmente se suporia. Tentando tratar o preso com humanidade - como igual, algo impensável então – deixando-o livre e a dormir no mesmo quarto, o professor não deixa de temer pela sua vida. O preso, receoso do que o espera, não compreendendo a atitude de quem agora o escolta, também surge algo perdido numa situação que não buscou.
Após o pequeno-almoço, partem para o destino – a prisão anunciada. Aparentemente, porque o propósito do professor é diferente, como o demonstra ao chegarem a um local onde deixa ao detido escolher o destino: a cidade onde está a prisão ou a liberdade junto das tribos nómadas
Não vou revelar a escolha, nem as consequências (eventuais) dela para o professor – e são estas que marcam sem dúvida o tom do relato, que é antes de mais uma ode à liberdade, ao direito ao livre arbítrio e ao desejo de conviver com a diferença. Apesar do tom pessimista desse mesmo final, sem dúvida uma das marcas fortes da escrita de Camus.
Jacques Ferrandez, também argelino, com uma planificação em que utiliza muitas vezes pranchas (ou pelo menos grandes vinhetas) duplas, traçadas com belas aguarelas, em que enquadra (outr)as vinhetas em que decorre a acção, consegue dar o protagonismo ao país, à agreste paisagem, quase lunar, conseguindo belos efeitos e retardar a leitura, pausando-a e reforçando sensações de silêncio, solidão, impotência…
As excepções são os dois diálogos – do polícia com o professor e deste com o detido – aparentemente simples e directos, mas com inúmeras implicações de vária ordem, que obrigam a uma e outra releitura para interiorizar completamente o peso das palavras e, mais ainda, dos incómodos silêncios que as permeiam.
A reter
- A forma como a Argélia – a sua paisagem, o seu espírito(?) – se impõe na planificação e está interiorizada na narrativa de Ferrandez.
- O final, forte, inesperado, imprevisível, que reforça a sensação de solidão e impotência que são permanentes ao longo do conto.
Menos conseguido
- A forma menos feliz como estão desenhados os protagonistas, algo rígidos e pouco expressivos.
Leituras relacionadas
BD e literatura,
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Gallimard
03/12/2009
As Leituras dos Heróis – Nathan Never
(segundo Michele Medda *)
Pergunta - Se lesse banda desenhada quais seriam as preferidas de Nathan Never?
Resposta – Em minha opinião, Nathan Never leria as bandas desenhadas de Oesterheld, sobretudo Mort Cinder e Ernie Pike.
* com a preciosa intermediação de José Carlos Pereira Francisco
Pergunta - Se lesse banda desenhada quais seriam as preferidas de Nathan Never?
Resposta – Em minha opinião, Nathan Never leria as bandas desenhadas de Oesterheld, sobretudo Mort Cinder e Ernie Pike.
Quanto a romances, por sua vez, recordo-me que mostramos livros na sua biblioteca mas não me lembro em que história. Parece-me que seriam “The Grapes of Wrath”, de John Steinbeck, “Ten Little Niggers”, de Agatha Christie, e “The Lord of Rings”, de Tolkien. E, seguramente, tudo de Chandler!
* com a preciosa intermediação de José Carlos Pereira Francisco
Leituras relacionadas
As Leituras dos Heróis,
Bonelli,
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BD para o Natal – De Profundis
De Profundis
Miguelanxo Prado
ASA (Portugal, Setembro de 2008)
300 x 212, 88 p., cartonado, edição com DVD
“De Profundis” é a história de uma relação intensa e apaixonada de um pintor pelo mar, contada na forma de filme animado por Miguelanxo Prado.
Conhecido (e aclamado) como autor de BD, o autor galego, aquando da sua passagem pelo Fantasporto, em 2007, definiu-o ao JN como “uma pesquisa artística para relacionar a pintura, a música e as novas tecnologias da imagem, um projecto extremamente pessoal" no qual se empenhou "durante quatro anos: os dois primeiros na pré-produção, e os dois seguintes de dedicação total e exclusiva", porque fez "todos os desenhos - em pintura a óleo - necessários para a animação".
Mas desengane-se quem pensa ir assistir a uma película animada por computador, em 3D, com ritmo frenético e (algum) humor; Prado optou pela animação tradicional e um ritmo contemplativo, “para quem é capaz de estar 15 minutos a ver um pôr-do-sol no mar". O que não impede que neste filme, talvez como nunca, o desenho virtuoso de Prado brilhe, reluza, cative e atraia, realçado pela forma pausada como a acção decorre, qual mergulho extasiado no mar que o protagoniza, ao som da música original (indissociável da animação) de Nani Garcia “um amigo, músico de Jazz, com larga experiência de escrita de música para cinema e televisão", cujas composições, interpretadas pela Orquestra Sinfónica da Galiza, marcam o ritmo, acentuam a narrativa, exprimem emoções e sensações e são o único som dos 75 minutos deste filme sem diálogos, produzido pela Continental Producciones, em co-produção com a Desembarco Produccións e a Zeppelin Filmes.
A história, lê-se na versão em banda desenhada (ou texto ilustrado…?), editada pela ASA, começa numa “casa no meio do mar, que tinha uma torre voltada a Poente, uma escadaria que se estendia pela água adentro e, a Levante, uma árvore que floria entre Março e Abril”. Nesta minúscula e estranha ilhota, um lugar de todo improvável, que desde logo marca o tom do filme, fantástico e maravilhoso, mais próximo do sonho do que da (nossa) realidade cinzenta, “viviam, apaixonados, uma mulher que tocava violoncelo e um pintor fascinado pelo mar e pelas suas criaturas…”. Pintor que, após um naufrágio, enceta uma viagem iniciática pelo misterioso fundo do mar, onde redescobre tudo o que já pintou - memórias que desconhecia serem-no – de desfecho fantástico.
Mais aberto no filme, que apela mais à descoberta, à capacidade de nos maravilharmos; mais directo no livro, de respostas mais concretas.
Na origem desta história, simples e maravilhosa, combinação onírica de fantasia e lendas marítimas, está a paixão pelo mar (da Corunha, onde o autor vive). Prado acredita que os portugueses "que vivem com o mesmo Atlântico que me inspirou" e que têm “uma cultura marítima e uma relação próxima com o mar, terão uma sensibilidade especial para entender a história, o seu lado onírico, a mitologia de sereias e monstros marinhos, os sonhos e terrores que o mar inspira".
E, se a gestação de "De Profundis" coincidiu com a catástrofe do petroleiro "Prestige", Prado nega "a ideia de denúncia”; o filme tem “uma clara vocação de redenção, uma espécie de ritual propiciatório, um pedido de perdão. Pretende recuperar o oceano na sua concepção mais limpa, mais brilhante, mais tradicional. É um conto, com muita poesia".
(Versão revista e actualizada de dois textos publicados no Jornal de Notícias em 17 de Novembro de 2008 e em 28 de Julho de 2009)
Leituras relacionadas
ASA,
Miguelanxo Prado,
Natal,
opinião
Israel - Sketchbook
Ricardo Cabral (texto e desenhos)
ASA (Portugal, Outubro de 2009)
172 x 236 mm, 214 p., cor, cartonado
Este é um livro sem histórias, um livro que desfia – em belos desenhos presos no papel - lembranças, sensações, instantâneos, pequenos momentos banais, daqueles pequenos momentos banais que, todos juntos, formam horas, dias, meses, uma vida.
É um livro com muitas histórias, tantas as que possamos imaginar relacionadas com cada lugar que nos mostra, tantas as que possamos adivinhar em cada rosto que retrata, tantas quantas as que possamos intuir na vida de cada pessoa que cruza as suas páginas.
É um livro com uma única história, a vivida por Ricardo Cabral ao longo de várias viagens a Israel, porque esta é uma obra pessoal: – são as suas impressões, as suas sensações, é o seu olhar transmitido pelos seus desenhos e pelas suas (poucas) palavras.
Um Israel menos mediático, onde não encontramos o país “vencedor da Guerra dos Seis Dias” nem o “opressor dos palestinianos”, mas onde ainda há o Muro das Lamentações, a Igreja do Santo Sepulcro ou a fronteira com Gaza. Mas, acima de tudo, o Israel anónimo, desconhecido, ignorado, tão mais real, feito de paisagens diferentes mas vulgares, de ruas e quiosques, de desertos e praias, habitado por gente diferente, que fala uma língua diferente, mas que é igual àquela com quem nos cruzamos todos os dias. Um Israel que Ricardo Cabral nos revela com os seus desenhos, quase sempre de base fotográfica, mas cujo traço ganha maior espontaneidade, mais vida, mais força quando usa (só ou também?) o esboço do momento.
E se o desenho é agradável, revelador, se prende e dá vontade de mergulharmos nele, o que mais se salienta é a cor, as cores - que o fundo negro das páginas faz sobressair, num contraste bem conseguido - que em muitas páginas parecem bem mais do que tintas aplicadas num papel, transmitindo, quase, o calor abrasador ou a brisa do fim da tarde, que nos fazem procurar o sol que projecta esta ou aquela sombra ou os elementos que as provocam.
(Artigo publicado originalmente 28 de Novembro de 2009, na secção de Livros do suplemento In’ da revista NS, distribuída aos sábados com o Jornal de Notícias e o Diário de Notícias)
ASA (Portugal, Outubro de 2009)
172 x 236 mm, 214 p., cor, cartonado
Este é um livro sem histórias, um livro que desfia – em belos desenhos presos no papel - lembranças, sensações, instantâneos, pequenos momentos banais, daqueles pequenos momentos banais que, todos juntos, formam horas, dias, meses, uma vida.
É um livro com muitas histórias, tantas as que possamos imaginar relacionadas com cada lugar que nos mostra, tantas as que possamos adivinhar em cada rosto que retrata, tantas quantas as que possamos intuir na vida de cada pessoa que cruza as suas páginas.
É um livro com uma única história, a vivida por Ricardo Cabral ao longo de várias viagens a Israel, porque esta é uma obra pessoal: – são as suas impressões, as suas sensações, é o seu olhar transmitido pelos seus desenhos e pelas suas (poucas) palavras.
Um Israel menos mediático, onde não encontramos o país “vencedor da Guerra dos Seis Dias” nem o “opressor dos palestinianos”, mas onde ainda há o Muro das Lamentações, a Igreja do Santo Sepulcro ou a fronteira com Gaza. Mas, acima de tudo, o Israel anónimo, desconhecido, ignorado, tão mais real, feito de paisagens diferentes mas vulgares, de ruas e quiosques, de desertos e praias, habitado por gente diferente, que fala uma língua diferente, mas que é igual àquela com quem nos cruzamos todos os dias. Um Israel que Ricardo Cabral nos revela com os seus desenhos, quase sempre de base fotográfica, mas cujo traço ganha maior espontaneidade, mais vida, mais força quando usa (só ou também?) o esboço do momento.
E se o desenho é agradável, revelador, se prende e dá vontade de mergulharmos nele, o que mais se salienta é a cor, as cores - que o fundo negro das páginas faz sobressair, num contraste bem conseguido - que em muitas páginas parecem bem mais do que tintas aplicadas num papel, transmitindo, quase, o calor abrasador ou a brisa do fim da tarde, que nos fazem procurar o sol que projecta esta ou aquela sombra ou os elementos que as provocam.
(Artigo publicado originalmente 28 de Novembro de 2009, na secção de Livros do suplemento In’ da revista NS, distribuída aos sábados com o Jornal de Notícias e o Diário de Notícias)
Nas bancas – Edições Mythos
Estão já nas bancas nacionais as revistas da brasileira Mythos Editora que um atraso alfandegário impediu que fossem distribuídas em Novembro.
Eis a sua relação:
Tex #449 - Chantagem Infame, de Claudio Nizzi e Giovanni Ticci
Eis a sua relação:
Tex #449 - Chantagem Infame, de Claudio Nizzi e Giovanni Ticci
Tex Colecção #241 - A Mesa dos Esqueletos, de G. L. Bonelli e Giovanni Ticci.
Tex Edição de Ouro #34 - Além da Fronteira, de Claudio Nizzi e Raffaele Della Mónica
Zagor #98 - Pirâmide de Sangue, de Moreno Burattini e G. Ferri
Tex Edição de Ouro #34 - Além da Fronteira, de Claudio Nizzi e Raffaele Della Mónica
Zagor #98 - Pirâmide de Sangue, de Moreno Burattini e G. Ferri
Zagor Extra #62 - Luta Sem Quartel, de Toninelli e Donatelli
J. Kendall – Aventuras de uma criminóloga #55 - Enigmas Mortais, de Giancarlo Berardi, L. Calza e Ernesto Michelazzo
Magico Vento #84 - Punho de Aço, de Gianfranco Manfredi e Mario Milano
Conan, o bárbaro #71
J. Kendall – Aventuras de uma criminóloga #55 - Enigmas Mortais, de Giancarlo Berardi, L. Calza e Ernesto Michelazzo
Magico Vento #84 - Punho de Aço, de Gianfranco Manfredi e Mario Milano
Conan, o bárbaro #71
Leituras relacionadas
Bancas,
Mundo dos Super-Heróis,
Mythos
02/12/2009
As Leituras dos Heróis – Ken Parker
(segundo Ivo Milazzo *)
Pergunta - Se lesse banda desenhada quais seriam as preferidas de Ken Parker?
Resposta – Todas aquelas cuja sintonia entre texto e desenho conseguem envolver-me e oferecer-me alguma emoção.
* com a preciosa intermediação de José Carlos Pereira Francisco
Leituras relacionadas
As Leituras dos Heróis,
Ivo Milazzo,
Ken Parker
As Melhores Leituras de Novembro
Krazy + Ignatz + Pupp - Uma Kolecção de Pranchas a Kores Kompletamente Restauradas (Libri Impressi), de George Herriman
La Genèse (Denoelle Graphique), de Robert Crumb
L'Hôte (Galimard), de Jacques Ferrandez
Mesmo Delivery (Desiderata), de Rafael Grampá
As melhores tiras de Nico Demo (Globo), de Maurício de Sousa
RubyDum e TawnyDee in NiePOoRTland (Niepoort+Afrontamento), de Regina Pessoa
O gato do Simon - Os gatos são mesmo assim (Objectiva), de Simon Toefield
Tarzan dos Macacos (Libri Impressi), de Harold Foster
TX Comics #1 (Kingpin Books), de Cameron Stewart, Kark Kerschl e Ramón Pérez
Y, o ultimo homem #1 – Extinção (Panini Brasil), de Brian Vaughan, Pia Guerra e José Marzán Jr.
La Genèse (Denoelle Graphique), de Robert Crumb
L'Hôte (Galimard), de Jacques Ferrandez
Mesmo Delivery (Desiderata), de Rafael Grampá
As melhores tiras de Nico Demo (Globo), de Maurício de Sousa
RubyDum e TawnyDee in NiePOoRTland (Niepoort+Afrontamento), de Regina Pessoa
O gato do Simon - Os gatos são mesmo assim (Objectiva), de Simon Toefield
Tarzan dos Macacos (Libri Impressi), de Harold Foster
TX Comics #1 (Kingpin Books), de Cameron Stewart, Kark Kerschl e Ramón Pérez
Y, o ultimo homem #1 – Extinção (Panini Brasil), de Brian Vaughan, Pia Guerra e José Marzán Jr.
BD e literatura
Durante anos usadas como forma de promoverem e dignificarem a própria banda desenhada, as adaptações de obras literárias em versões aos quadradinhos estão de novo na ordem do dia.
Mas, ao contrário daquilo a que estamos habituados, hoje o caminho seguido – em França, no Brasil, em Espanha, nos EUA… - é outro: entregar as adaptações a jovens criadores ou a autores consagrados na BD de ficção, o que tem garantido interessantes resultados – entre nós, veja-se o caso recente de “O Romance da Raposa” de Aquilino, trabalhado por Artur Correia. Ou, em memória de (bons) tempos idos, relembre-se o notavel trabalho da dupla Adolfo Simões Muller/Fernando Bento.
Porque esta opção permite que as obras literárias sejam (re)lidas à luz de abordagens modernas, inovadoras, gráfica e narrativamente atraentes e estimulantes para os leitores de BD e também para os que não o são.
Escrita esta breve introdução, voltarei recorrentemente ao tema nas próximas semanas….
Mas, ao contrário daquilo a que estamos habituados, hoje o caminho seguido – em França, no Brasil, em Espanha, nos EUA… - é outro: entregar as adaptações a jovens criadores ou a autores consagrados na BD de ficção, o que tem garantido interessantes resultados – entre nós, veja-se o caso recente de “O Romance da Raposa” de Aquilino, trabalhado por Artur Correia. Ou, em memória de (bons) tempos idos, relembre-se o notavel trabalho da dupla Adolfo Simões Muller/Fernando Bento.
Porque esta opção permite que as obras literárias sejam (re)lidas à luz de abordagens modernas, inovadoras, gráfica e narrativamente atraentes e estimulantes para os leitores de BD e também para os que não o são.
Escrita esta breve introdução, voltarei recorrentemente ao tema nas próximas semanas….
30/11/2009
Isabelle - Intégrale - Volume 1
Isabelle - Intégrale - Volume 1
Delporte, Macherot e Franquin (argumento) e Will (desenho)
Le Lombard (Bélgica, Abril de 2007)
Delporte, Macherot e Franquin (argumento) e Will (desenho)
Le Lombard (Bélgica, Abril de 2007)
222 x 295 mm, 216 p., cor, cartonado
Resumo
Em 1969 nascia Isabelle. Com a particularidade de ter três pais (algo que poderia ser perfeitamente normal no mundo mágico em que vivia). E que pais: Delporte e Macherot nos textos e Will no desenho. E a que se viria a juntar mais tarde Fanquin, substituindo Macherot, doente, à partida provisoriamente por algumas semanas, numa colaboração que se tornaria definitiva e duraria uma década. Mas a isso já lá vamos, até porque tal terá lugar neste primeiro volume desta reedição integral que reúne os álbuns “Le tableau enchanté”, “Isabelle et le capitaine”, “Les maléfices de l’Oncle Hermes” e “L’Astragale de Cassiopée”.
Desenvolvimento
Isabelle é uma jovem que vive numa pequena cidade, em que todos se conhecem, mas onde tudo pode acontecer: uma aventura de um pequeno ser (que vive num quadro de parede) num mundo em que tudo lhe parece gigante (a lembrar as deliciosas histórias de Chlorophylle ou Sibylline que Macherot já criara); a passagem de uma sineta de Páscoa, poedeira de… ovos de chocolate!; uma pacífica e florida invasão hippie que deixa a cidade em polvorosa; a passagem de um simpático capitão, acompanhado por uma gaivota cantora, que após cada soluço - e são muitos! - pode formular um pedido que se torna de imediato realidade…
Um universo em que tudo é possível (em que só vejo rival na série "Oliver Rameau", de Dany e Greg) a um tempo terno, agradável, simples e servido por um humor gentil e sem pretensões, no qual se nota o dedo de mestre de Raymond Macherot. E ao qual Will deu vida, na sua linha clara expressiva e eficiente, e que vai evoluindo de forma notória ao longo das histórias, acompanhando também as transformações que estas vão sofrendo, com a protagonista a interagir cada vez mais com mundos feéricos e oníricos. Aos quais, depois, Franquin trará a sua marca, aprofundando a psicologia das personagens, criando histórias mais movimentadas e dinâmicas, com personagens cada vez mais estranhas e inimagináveis (para desespero de Will…) e dando a Delporte oportunidade para soltar o seu humor mais mordaz.
Esta edição, que inclui 12 páginas sobre as origens de Isabelle, com ilustrações inéditas, e também histórias nunca publicadas em álbum, é mais um (bom) exemplo da utilidade das reedições: redescoberta de séries esquecidas (ou nunca publicadas em álbum - ou nunca publicadas, ponto, quando se trata de outro pais… …) a um preço bem interessante. No caso, 25 € por 216 páginas a cores, no formato franco-belga tradicional.
A reter
- A reunião de “quatro monstros” da BD belga na mesma série: Delporte, Macherot, Will e Fanquin.
- Mais uma vez, as características destas edições integrais: qualidade gráfica, introduções, recuperação de material que de outra forma é impossível encontrar e preço.
Resumo
Em 1969 nascia Isabelle. Com a particularidade de ter três pais (algo que poderia ser perfeitamente normal no mundo mágico em que vivia). E que pais: Delporte e Macherot nos textos e Will no desenho. E a que se viria a juntar mais tarde Fanquin, substituindo Macherot, doente, à partida provisoriamente por algumas semanas, numa colaboração que se tornaria definitiva e duraria uma década. Mas a isso já lá vamos, até porque tal terá lugar neste primeiro volume desta reedição integral que reúne os álbuns “Le tableau enchanté”, “Isabelle et le capitaine”, “Les maléfices de l’Oncle Hermes” e “L’Astragale de Cassiopée”.
Desenvolvimento
Isabelle é uma jovem que vive numa pequena cidade, em que todos se conhecem, mas onde tudo pode acontecer: uma aventura de um pequeno ser (que vive num quadro de parede) num mundo em que tudo lhe parece gigante (a lembrar as deliciosas histórias de Chlorophylle ou Sibylline que Macherot já criara); a passagem de uma sineta de Páscoa, poedeira de… ovos de chocolate!; uma pacífica e florida invasão hippie que deixa a cidade em polvorosa; a passagem de um simpático capitão, acompanhado por uma gaivota cantora, que após cada soluço - e são muitos! - pode formular um pedido que se torna de imediato realidade…
Um universo em que tudo é possível (em que só vejo rival na série "Oliver Rameau", de Dany e Greg) a um tempo terno, agradável, simples e servido por um humor gentil e sem pretensões, no qual se nota o dedo de mestre de Raymond Macherot. E ao qual Will deu vida, na sua linha clara expressiva e eficiente, e que vai evoluindo de forma notória ao longo das histórias, acompanhando também as transformações que estas vão sofrendo, com a protagonista a interagir cada vez mais com mundos feéricos e oníricos. Aos quais, depois, Franquin trará a sua marca, aprofundando a psicologia das personagens, criando histórias mais movimentadas e dinâmicas, com personagens cada vez mais estranhas e inimagináveis (para desespero de Will…) e dando a Delporte oportunidade para soltar o seu humor mais mordaz.
Esta edição, que inclui 12 páginas sobre as origens de Isabelle, com ilustrações inéditas, e também histórias nunca publicadas em álbum, é mais um (bom) exemplo da utilidade das reedições: redescoberta de séries esquecidas (ou nunca publicadas em álbum - ou nunca publicadas, ponto, quando se trata de outro pais… …) a um preço bem interessante. No caso, 25 € por 216 páginas a cores, no formato franco-belga tradicional.
A reter
- A reunião de “quatro monstros” da BD belga na mesma série: Delporte, Macherot, Will e Fanquin.
- Mais uma vez, as características destas edições integrais: qualidade gráfica, introduções, recuperação de material que de outra forma é impossível encontrar e preço.
(Versão revista e actualizada do texto originalmente publicado no BDJornal #19 de Junho/Julho de 2007)
27/11/2009
As Leituras dos Heróis – Legs Weaver
(segundo Michele Medda *)
Pergunta - Se lesse banda desenhada quais seriam as preferidas de Legs Weaver?
Resposta – Acho que leria as bandas desenhadas de Garth Ennis e Warren Ellis, como “Preacher” e “Transmetropolitan”. E sabemos com certeza que Garcia Marquez a faz adormecer!
* com a preciosa intermediação de José Carlos Pereira Francisco
Pergunta - Se lesse banda desenhada quais seriam as preferidas de Legs Weaver?
Resposta – Acho que leria as bandas desenhadas de Garth Ennis e Warren Ellis, como “Preacher” e “Transmetropolitan”. E sabemos com certeza que Garcia Marquez a faz adormecer!
* com a preciosa intermediação de José Carlos Pereira Francisco
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Legs Weaver
26/11/2009
As Leituras dos Heróis – Dylan Dog
(segundo a pessoalíssima opinião de Pasquale Ruju *)
Pergunta - Se lesse banda desenhada quais seriam as preferidas de Dylan Dog?
Resposta – Dylan Dog… A resposta a esta pergunta seria melhor dada por Tiziano Sclavi... Mas vejo bem o Dylan a ler Martin Mystère. Os dois já se encontraram (num par de números especiais) e têm de certeza coisas em comum. E depois, Dylan sempre teve curiosidade por tudo o que diz respeito ao oculto e ao sobrenatural.
* Com a preciosa intermediação de José Carlos Pereira Francisco
Leituras relacionadas
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Pasquale Ruju
BD para o Natal - RubyDum e TawnyDee in NiePOoRTland
Regina Pessoa (argumento e desenho)
Edições Afrontamento/Niepoort (Portugal, 2009)
Livro: 185 x 292 mm, 24 p., cor, cartonado
Embalagem: 304 x 196 x 80 mm
Depois do (justamente) multipremiado filme animado “História Trágica com final feliz”, este livro marca uma incursão de Regina Pessoa pela banda desenhada para (nos) contar (um)a história do Vinho do Porto. E da razão porque nele existem categorias diferentes: Ruby e Tawny. Para o fazer, inspirou-se (e que bela e bem conseguida foi esta inspiração) na história, melhor, em personagens e situações de “Alice no País das Maravilhas”, em especial nos gémeos TweedleDum e TweedleDee.
Tudo começa numa rua normal, de uma cidade normal, com gente normal, homogénea, cinzenta, de pasta e telemóvel, seguindo (n)a manada, ao longo de passeios e ruas, com rumo definido, sem saber para onde vai. (A)Normalizada.
Só que um dos homens da nossa história – da história da Regina – vislumbra um coelho (branco, de relógio…) a virar uma esquina e decide segui-lo, por um longo corredor, ao fundo do qual descobre uma pequenina porta, com uma fechadura em forma de… cálice! Entra então num mundo novo e diferente, onde (já) existe cor, onde se fabrica (de forma apaixonada…) o vinho, compreendendo as suas diferenças, ganhando vontade de ser diferente, transformando-se também ele em…
A história, assim simples, mas bela e dinâmica, onírica e fantástica, sem palavras para que imaginemos nós tudo o que dizem e pensam – e, porque não, sentem - os protagonistas, está traçada de forma agradável e harmoniosa, com pontuais aplicações de cor que dão vida e realçam pormenores (vivos).
E se a obra por si só é uma bela prenda, que dizer da embalagem que a acondiciona, uma requintada caixa, selada com etiqueta desenhada por Regina Pessoa, que no seu interior, para além do livro, contém duas garrafas de Vinho do Porto – Ruby e Tawny, claro – com RubyDum e TawnyDee nos seus rótulos, a inevitável etiqueta “Drink me” (!) pendurada do gargalo, para degustar enquanto se lê ou apenas para guardar zelosamente e fazer inveja aos amigos que nos visitam.
Uma edição em relação à qual há que agradecer que os livros não tenham todos esta (excelente) embalagem porque, senão, de quantas mais casas ia precisar eu para guardar a minha biblioteca de BD?!
Edições Afrontamento/Niepoort (Portugal, 2009)
Livro: 185 x 292 mm, 24 p., cor, cartonado
Embalagem: 304 x 196 x 80 mm
Depois do (justamente) multipremiado filme animado “História Trágica com final feliz”, este livro marca uma incursão de Regina Pessoa pela banda desenhada para (nos) contar (um)a história do Vinho do Porto. E da razão porque nele existem categorias diferentes: Ruby e Tawny. Para o fazer, inspirou-se (e que bela e bem conseguida foi esta inspiração) na história, melhor, em personagens e situações de “Alice no País das Maravilhas”, em especial nos gémeos TweedleDum e TweedleDee.
Tudo começa numa rua normal, de uma cidade normal, com gente normal, homogénea, cinzenta, de pasta e telemóvel, seguindo (n)a manada, ao longo de passeios e ruas, com rumo definido, sem saber para onde vai. (A)Normalizada.
Só que um dos homens da nossa história – da história da Regina – vislumbra um coelho (branco, de relógio…) a virar uma esquina e decide segui-lo, por um longo corredor, ao fundo do qual descobre uma pequenina porta, com uma fechadura em forma de… cálice! Entra então num mundo novo e diferente, onde (já) existe cor, onde se fabrica (de forma apaixonada…) o vinho, compreendendo as suas diferenças, ganhando vontade de ser diferente, transformando-se também ele em…
A história, assim simples, mas bela e dinâmica, onírica e fantástica, sem palavras para que imaginemos nós tudo o que dizem e pensam – e, porque não, sentem - os protagonistas, está traçada de forma agradável e harmoniosa, com pontuais aplicações de cor que dão vida e realçam pormenores (vivos).
E se a obra por si só é uma bela prenda, que dizer da embalagem que a acondiciona, uma requintada caixa, selada com etiqueta desenhada por Regina Pessoa, que no seu interior, para além do livro, contém duas garrafas de Vinho do Porto – Ruby e Tawny, claro – com RubyDum e TawnyDee nos seus rótulos, a inevitável etiqueta “Drink me” (!) pendurada do gargalo, para degustar enquanto se lê ou apenas para guardar zelosamente e fazer inveja aos amigos que nos visitam.
Uma edição em relação à qual há que agradecer que os livros não tenham todos esta (excelente) embalagem porque, senão, de quantas mais casas ia precisar eu para guardar a minha biblioteca de BD?!
Leituras relacionadas
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Natal,
Niepoort,
Regina Pessoa
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