20/06/2010
BD nacional cresce à margem das grandes editoras – Inquérito a Fil*
- Qual o objectivo das vossas edições?
Fil - O objectivo da Zona é essencialmente publicar BD, nacional ou internacional, com a maior qualidade possível, mas mantendo a porta aberta a autores mais novos ou inexperientes, mas que apresentem trabalhos com qualidade e uma boa margem de progressão.
O objectivo passa ainda por divulgar o trabalho de autores desconhecidos do grande público, ou não, e motivar a produção de mais e melhores trabalhos nesta área.
- Até onde conseguem chegar/que visibilidade têm estas edições?
Fil - Neste momento eu diria que não deveremos conseguir grande visibilidade fora do meio da BD pois não temos uma estrutura profissional que apoie a produção e divulgação. E francamente, além da falta de tempo a verdade é que não somos muito fortes em termos de capacidade de divulgação, não temos por exemplo grande experiência em contactar a imprensa e na realidade não sabemos sequer bem como abordar esse meio. A falta de tempo também impede que tenhamos mais acções de divulgação. O ponto onde somos mais fortes será talvez a divulgação pela internet, em que todos os autores colaboram e penso que fazemos um bom uso sobretudo dos blogs e redes sociais, mas mesmo aí, há margem de progressão.
Seja como for tem havido um progresso grande, e pretendemos criar uma associação cultural que espero possa dar um apoio mais forte e consistente a este projecto e a outros. A colaboração entre autores é fundamental neste caso.
- Nestes moldes, que futuro antevês para a BD nacional?
Fil - Imagino que por estes moldes, te refiras à edição independente e de autor.
Penso que o futuro deste tipo de publicação depende sobretudo do gosto pelo que se faz, ou mais a paixão, gosto não deve chegar. Pois dá muito trabalho, perde-se muito tempo, e pela minha experiência é possível não perder o dinheiro investido, mas por outro lado também não se ganha.
Por outro lado, penso que faz falta uma publicação do género da Zona para a divulgação e como motivação para os autores produzirem mais e melhor. Eu penso que neste ano fizemos com que a BD nacional crescesse mais um pouco. Pusemos autores a trabalhar mais, a produzir mais e melhor.
No panorama nacional penso que seria difícil muitos destes autores encontrarem um veículo tão interessante para divulgar e expor o seu trabalho. E viemos agitar um bocado o meio também.
Penso que temos muitos autores de grande nível e muitos outros com potencial para chegar a níveis elevados. A Internet veio abrir muitas portas e como tal vemos agora muitos autores a trabalhar para grandes empresas de BD estrangeiras, mesmo sem ter de sair do país.
A BD nacional tem futuro, mas é preciso muito trabalho e não desistir.
* Editor do projecto Zona Gráfica
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Zona
19/06/2010
BD nacional cresce à margem das grandes editoras – Inquérito David Soares*
Publicar em pequenas editoras é uma opção pessoal ou a única alternativa face ao desinteresse por parte das “grandes” editoras?
David Soares - Quanto à questão do desinteresse das grandes editoras, aquilo que elas demonstram não é isso, mas algum temor em publicar autores menos conhecidos e tal não acontece apenas no mercado da BD. Publicar o álbum "Mucha" pela Kingpin Books começou por ser o desejo que eu tinha de trabalhar com o Mário Freitas, porque somos amigos e achámos que seria enriquecedor fazer algo em parceria. No que diz respeito ao meu trabalho de banda desenhada, eu não teria problemas nenhuns em publicá-lo por qualquer editora que eu escolhesse, fosse ela mais pequena ou maior, considerando o currículo que tenho e isso é factual. Eu gosto é de trabalhar com quem gosto, por conseguinte a dimensão da Kingpin Books nunca foi uma questão que tivesse sido sequer equacionada por mim.
- Até onde conseguem chegar/que visibilidade têm estas edições?
David Soares - Os distribuidores não querem saber se as editoras com quem trabalham são pequenas ou grandes: apenas estão preocupados em distribuir o maior número possível de edições, a um ritmo constante. Garantir a distribuição dos álbuns de BD depende, em exclusivo, do capital do editor. Se tiver capital para publicar muitos títulos com regularidade assegura uma boa distribuição. Se não, pode defender-se oferecendo livros de características únicas. O leitor "normal" de BD é conservador, lê sempre a mesma coisa e, quase sempre, desconfia da BD nacional. Os leitores "especializados" que compram BD nacional sabem que podem encontrá-la nas livrarias de BD ou encomendá-la pela Internet aos próprios editores, por isso nem sequer vale a pena falar sobre distribuição nas grandes superfícies, porque os leitores "especializados" não precisam dela para nada.
- Nestes moldes, que futuro antevês para a BD nacional?
David Soares - O mercado da BD nacional sempre foi de nicho, feito com obras de qualidade sismográfica realizadas por autores que, na sua maioria, nunca se profissionalizaram - ou seja, nunca chegaram a viver da BD ou (para não ir tão longe) a produzir trabalhos de qualidade a um ritmo constante. Existiram e existem autores que fogem a esta caracterização, mas de maneira geral o que se passou e passa é isto. Logo, se não crescemos mais até agora é porque o nosso estado natural é este. Em termos de proporção, se calhar até temos o mesmo número de autores que Espanha: países maiores, e com mais leitores, têm de ter mais autores, mais editores e mais livros - isso parece-me evidente. Acho que o futuro da BD portuguesa vai ser idêntico ao que tivemos ontem. Mudarão os actores, as linguagens, os veículos de expressão, mas as mecânicas continuarão a ser as mesmas. Hoje continuamos a ter autores que nem sequer pensam em publicar cá e publicam directamente lá fora (como sempre tivemos, verdade seja dita) e essa mecânica irá manter-se, senão acentuar-se.
* Romancista e argumentista de Mucha e do álbum É de noite que faço as perguntas
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18/06/2010
BD nacional cresce à margem das grandes editoras – Inquérito a Pepedelrey*
- A edição é para ti um projecto pessoal ou surge para suprir uma falta (por parte das “grandes” editoras)?
Pepedelrey - São, talvez, dois dos motivos válidos para ter decidido a criar a El Pep. Creio que a criação de um registo editorial é um passo natural depois de anos envolvido na edição de fanzines. O espírito do it yourself continua na base de todas as decisões editoriais. A El Pep não existe para suprir a inexistência de grandes editoras de BD em Portugal. Afinal, não existem em Portugal verdadeiras casas editoriais de BD. A existência de micro estruturas editoriais, a editar BD em Portugal, compensa essa inexistência. Felizmente que estamos a assistir à criação de algumas dessas micro estruturas editoriais. Todas elas passam pelo espírito da auto-edição. Ou quase todas. Portugal continua a não ter um mercado, uma indústria de BD, apesar de existirem diversos autores e de grande qualidade e de existirem consumidores. Continua a falhar a existência de verdadeiras casas editoriais e distribuidores/lojistas.
- Até onde conseguem chegar/que visibilidade têm estas edições (como as tuas)?
Pepedelrey - Depende da vontade e do trabalho feito por essas micro estruturas. Sei que algumas conseguem ter alguma visibilidade, dentro da pequenez de mercado livreiro nacional. A El Pep tem tido mais visibilidade fora da fronteira nacional, com a presença em certames internacionais como Angoulême. Os livros editados tem sido vendidos em diversos países, dentro e fora da união europeia.
Pepedelrey - São, talvez, dois dos motivos válidos para ter decidido a criar a El Pep. Creio que a criação de um registo editorial é um passo natural depois de anos envolvido na edição de fanzines. O espírito do it yourself continua na base de todas as decisões editoriais. A El Pep não existe para suprir a inexistência de grandes editoras de BD em Portugal. Afinal, não existem em Portugal verdadeiras casas editoriais de BD. A existência de micro estruturas editoriais, a editar BD em Portugal, compensa essa inexistência. Felizmente que estamos a assistir à criação de algumas dessas micro estruturas editoriais. Todas elas passam pelo espírito da auto-edição. Ou quase todas. Portugal continua a não ter um mercado, uma indústria de BD, apesar de existirem diversos autores e de grande qualidade e de existirem consumidores. Continua a falhar a existência de verdadeiras casas editoriais e distribuidores/lojistas.
- Até onde conseguem chegar/que visibilidade têm estas edições (como as tuas)?
Pepedelrey - Depende da vontade e do trabalho feito por essas micro estruturas. Sei que algumas conseguem ter alguma visibilidade, dentro da pequenez de mercado livreiro nacional. A El Pep tem tido mais visibilidade fora da fronteira nacional, com a presença em certames internacionais como Angoulême. Os livros editados tem sido vendidos em diversos países, dentro e fora da união europeia.
- Nestes moldes, que futuro antevês para a BD nacional?
Pepedelrey - Lamento mas não tenho uma visão nacionalista da BD. Em Portugal existem grandes autores, sejam desenhadores, argumentistas ou arte finalistas. O mercado nacional não existe e como tal, o que não existe não tem futuro. Acredito que actualmente estamos a assistir ao nascimento de uma plataforma editorial e de negócio de BD, apesar de micro estruturas, que no futuro vai se transformar num verdadeiro mercado de BD. Como é claro, não estou a referir-me às vendas de BD pelos lojistas. Porque os lojistas vendem BD mas não a nacional. Com diversas argumentações ridículas como aquela de que o consumidor não está interessado. Acredito que a produção de BD em Portugal está a aumentar em quantidade e qualidade e que ainda estamos a dar os primeiros passos.
- Gostava também que explicasses brevemente o propósito e os objectivos do TLS Mag.
Pepedelrey - O The Lisbon Studio MAG#1 é uma co-edição do The Lisbon Studio e da El Pep. A revista vai ser editada de 6 em 6 meses. A revista nasceu da vontade dos membros do The Lisbon Studio editarem um Art Book como portfólio do estúdio. Após as diversas reuniões de estúdio, decidimos que com a frenética produção nas áreas da BD, Ilustração, Fotografia, Arquitectura, Design e outras mais, justificava-se a edição de uma revista com a periodicidade de 6 meses, escoando assim muito trabalho produzido e que iria ser guardado para memória futura. Não é objectivo do estúdio colmatar a falta de revistas de BD no mercado.
Pepedelrey - Lamento mas não tenho uma visão nacionalista da BD. Em Portugal existem grandes autores, sejam desenhadores, argumentistas ou arte finalistas. O mercado nacional não existe e como tal, o que não existe não tem futuro. Acredito que actualmente estamos a assistir ao nascimento de uma plataforma editorial e de negócio de BD, apesar de micro estruturas, que no futuro vai se transformar num verdadeiro mercado de BD. Como é claro, não estou a referir-me às vendas de BD pelos lojistas. Porque os lojistas vendem BD mas não a nacional. Com diversas argumentações ridículas como aquela de que o consumidor não está interessado. Acredito que a produção de BD em Portugal está a aumentar em quantidade e qualidade e que ainda estamos a dar os primeiros passos.
- Gostava também que explicasses brevemente o propósito e os objectivos do TLS Mag.
Pepedelrey - O The Lisbon Studio MAG#1 é uma co-edição do The Lisbon Studio e da El Pep. A revista vai ser editada de 6 em 6 meses. A revista nasceu da vontade dos membros do The Lisbon Studio editarem um Art Book como portfólio do estúdio. Após as diversas reuniões de estúdio, decidimos que com a frenética produção nas áreas da BD, Ilustração, Fotografia, Arquitectura, Design e outras mais, justificava-se a edição de uma revista com a periodicidade de 6 meses, escoando assim muito trabalho produzido e que iria ser guardado para memória futura. Não é objectivo do estúdio colmatar a falta de revistas de BD no mercado.
* Editor da El Pep
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TSM Mag
17/06/2010
BD nacional cresce à margem das grandes editoras – Inquérito a Paulo Monteiro*
- Qual o objectivo das vossas edições?
Paulo Monteiro - Com a edição do Venham +5 temos essencialmente dois objectivos: por um lado divulgar o trabalho dos autores, dentro das limitações impostas por este tipo de publicações ao nível da divulgação e da distribuição; por outro, incentivar a própria produção artística, já que a publicação, para os autores, é sempre essencial e motiva sempre novos projectos. A edição constitui, em si mesmo, um incentivo à produção. E isso é muito importante...
- Até onde conseguem chegar/que visibilidade têm estas edições?
Paulo Monteiro - Têm grande visibilidade dentro do meio ligado à banda desenhada: autores, críticos, pequenos editores, etc. (basta consultar os blogs e sites da especialidade, para termos essa noção). Fora deste nicho, acho que a visibilidade é muito reduzida, ou quase nula. Aliás, isto não se passa apenas com as pequenas edições ou com a edição de fanzines. Passa-se a uma escala mais alargada, mesmo com as grandes casas editoras. A banda desenhada não abre os noticiários nem é primeira página de jornal, salvo em raras ocasiões (não obstante o esforço levado a cabo por muitos jornalistas). As redacções raramente destacam a banda desenhada. Basicamente: a banda desenhada constitui um nicho de leitores. Como constitui um nicho não tem visibilidade. Como não tem visibilidade não "merece" destaque. É um círculo vicioso que vamos tentando anular (instituições ligadas à banda desenhada, autores, jornalistas, etc.). Mas nem sempre é fácil contrariar esta situação.
- Nestes moldes, que futuro antevês para a BD nacional?
Paulo Monteiro - Se nos quisermos circunscrever a um pequeno nicho (como sucede, de certa forma, com a poesia ou com o cinema de animação), antevejo um futuro relativamente tristonho. Faltam-nos leitores... (Teremos que os ir buscar a outros sítios, nomeadamente à literatura).
Ao nível artístico, que considero verdadeiramente surpreendente na banda desenhada portuguesa (há de tudo para todos os gostos), acredito que os autores continuem a criar obras absolutamente excepcionais, como sucede de quando em quando. Todos os anos surgem novos projectos. Mas falta-nos estratégia. Falta-nos agregar gente à volta da banda desenhada. Há muitas ideias, muitas intenções, mas uma falta de visão estratégica que só se resolve juntando autores, críticos e editores para estabelecer um plano de divulgação e leitura.
*Director do Festival Internacional de Banda Desenhada de Beja e editor do Venham +5 e da colecção Toupeira
Paulo Monteiro - Com a edição do Venham +5 temos essencialmente dois objectivos: por um lado divulgar o trabalho dos autores, dentro das limitações impostas por este tipo de publicações ao nível da divulgação e da distribuição; por outro, incentivar a própria produção artística, já que a publicação, para os autores, é sempre essencial e motiva sempre novos projectos. A edição constitui, em si mesmo, um incentivo à produção. E isso é muito importante...
- Até onde conseguem chegar/que visibilidade têm estas edições?
Paulo Monteiro - Têm grande visibilidade dentro do meio ligado à banda desenhada: autores, críticos, pequenos editores, etc. (basta consultar os blogs e sites da especialidade, para termos essa noção). Fora deste nicho, acho que a visibilidade é muito reduzida, ou quase nula. Aliás, isto não se passa apenas com as pequenas edições ou com a edição de fanzines. Passa-se a uma escala mais alargada, mesmo com as grandes casas editoras. A banda desenhada não abre os noticiários nem é primeira página de jornal, salvo em raras ocasiões (não obstante o esforço levado a cabo por muitos jornalistas). As redacções raramente destacam a banda desenhada. Basicamente: a banda desenhada constitui um nicho de leitores. Como constitui um nicho não tem visibilidade. Como não tem visibilidade não "merece" destaque. É um círculo vicioso que vamos tentando anular (instituições ligadas à banda desenhada, autores, jornalistas, etc.). Mas nem sempre é fácil contrariar esta situação.
- Nestes moldes, que futuro antevês para a BD nacional?
Paulo Monteiro - Se nos quisermos circunscrever a um pequeno nicho (como sucede, de certa forma, com a poesia ou com o cinema de animação), antevejo um futuro relativamente tristonho. Faltam-nos leitores... (Teremos que os ir buscar a outros sítios, nomeadamente à literatura).
Ao nível artístico, que considero verdadeiramente surpreendente na banda desenhada portuguesa (há de tudo para todos os gostos), acredito que os autores continuem a criar obras absolutamente excepcionais, como sucede de quando em quando. Todos os anos surgem novos projectos. Mas falta-nos estratégia. Falta-nos agregar gente à volta da banda desenhada. Há muitas ideias, muitas intenções, mas uma falta de visão estratégica que só se resolve juntando autores, críticos e editores para estabelecer um plano de divulgação e leitura.
*Director do Festival Internacional de Banda Desenhada de Beja e editor do Venham +5 e da colecção Toupeira
Leituras relacionadas
Beja,
Paulo Monteiro,
Toupeira,
Venham +5
16/06/2010
Al Williamson (1931-2010)
Al Williamson, um dos grandes nomes dos comics das últimas cinco décadas, faleceu aos 79 anos. Dele, os leitores do Jornal de Notícias e/ou do Mundo de Aventuras recordarão certamente o traço fino, elegante e dinâmico com que desenhou o Agente Secreto X-9. A sua visão de Philip Corrigan, agente do FBI e – no seu “consulado”, que durou entre 1967 e 1980, com Archie Godwin nos argumentos – também agente espacio-temporal, protagonista de várias aventuras de temática fantástica, fica como um dos marcos de uma carreira notável, onde se destaca também a sua versão de Flash Gordon, caracterizada por paisagens exóticas e mulheres sensuais, que lhe valeu o prémio da National Cartoonist Society para melhor desenhador, em 1967.Nascido a 2 de Março de 1931, em Nova Iorque, encetou uma carreira profissional aos 17 anos, após frequentar um curso de desenho na Cartoonists and Illustrators School, leccionado por Burne Hogarth, de quem se tornou assistente em Tarzan. Westerns, terror, guerra e ficção-científica foram alguns dos géneros que experimentou durante a década de 50, muitas vezes ao lado de nomes como Frank Frazzeta, Wally Wood, Reed Crandall, Roy Krenkel ou Jack Kirby. Em 1961 John Prentice convidou-o para o assistir em Rip Kirby.
Após deixar X-9, Williamson, foi convidado por George Lucas para desenhar a adaptação em BD de O Império Contra-Ataca, assumindo depois as tiras diárias e dominicais de Star Wars, entre 1981 e 1984.As adaptações de filmes como Flash Gordon, Blade Runner ou O Regresso de Jedi foram alguns dos seus trabalhos nos anos 80 e 90, em que também trabalhou para a Marvel, como arte-finalista de John Romita Jr. (em Daredevil), Gene Colan, John Buscema, Rick Leonardi, Pat Oliffe, Mike Mignola ou Lee Weeks.
Em 2000 Williamson foi justamente distinguido com o Eisner Hall of Fame, por uma longa carreira de mais de 50 anos, que só a doença de Alzheimer interrompeu, e durante a qual conquistou inúmeros prémios como desenhador.
(Versão alargada do texto publicado no Jornal de Notícias de 16 de Junho de 2010)
Após deixar X-9, Williamson, foi convidado por George Lucas para desenhar a adaptação em BD de O Império Contra-Ataca, assumindo depois as tiras diárias e dominicais de Star Wars, entre 1981 e 1984.As adaptações de filmes como Flash Gordon, Blade Runner ou O Regresso de Jedi foram alguns dos seus trabalhos nos anos 80 e 90, em que também trabalhou para a Marvel, como arte-finalista de John Romita Jr. (em Daredevil), Gene Colan, John Buscema, Rick Leonardi, Pat Oliffe, Mike Mignola ou Lee Weeks.
Em 2000 Williamson foi justamente distinguido com o Eisner Hall of Fame, por uma longa carreira de mais de 50 anos, que só a doença de Alzheimer interrompeu, e durante a qual conquistou inúmeros prémios como desenhador.
(Versão alargada do texto publicado no Jornal de Notícias de 16 de Junho de 2010)
As Viagens de Loïs – Portugal
Luís Diferr (texto e ilustrações)
ASA (Portugal, Junho de 2010)
225 x 302 mm, 56 p., cor, cartonado
Hoje, às 18h30, é apresentado em Lisboa, no Palácio Beau Séjour – Gabinete de Estudos Olisiponenses, este álbum ilustrado, cuja versão nacional já está disponível nas livrarias, cerca de um mês após o lançamento da versão original francesa da Casterman.
Terceiro tomo das viagens de Loïs – mas o único até à data lançado em Portugal – constitui um retrato escrito e desenhado do Portugal dos séculos XVII e XVIII, feito por Luís Filipe Diferr, nascido em Angola em 1956, diplomado em arquitectura, professor de desenho e autor de bandas desenhadas como “As aventuras de Herb Krox” ou “Dakar o Minossauro”.
Na base desta colecção, imaginada pelo criador da série Alix, Jacques Martin - que apenas assina o prefácio, apesar do seu nome constar igualmente da capa - está a exploração dos ambientes mágicos e faustosos das mais poderosas nações do mundo, sendo este volume sobre a capital lusa e a cidade do Porto.
Nascido em 2002, aquando da passagem de Martin pelo Festival de BD da Amadora, o presente volume levou 6 anos a concretizar, mas apresenta como resultado uma conjunto de belas ilustrações, nas quais se reconhece um trabalho aturado de investigação cuidada e minuciosa ao nível da arquitectura, vestuário, veículos e utensílios da época e um grande rigor na sua recriação gráfica, ao nível daquela que era uma das imagens de marca de Martin.
ASA (Portugal, Junho de 2010)
225 x 302 mm, 56 p., cor, cartonado
Hoje, às 18h30, é apresentado em Lisboa, no Palácio Beau Séjour – Gabinete de Estudos Olisiponenses, este álbum ilustrado, cuja versão nacional já está disponível nas livrarias, cerca de um mês após o lançamento da versão original francesa da Casterman.
Terceiro tomo das viagens de Loïs – mas o único até à data lançado em Portugal – constitui um retrato escrito e desenhado do Portugal dos séculos XVII e XVIII, feito por Luís Filipe Diferr, nascido em Angola em 1956, diplomado em arquitectura, professor de desenho e autor de bandas desenhadas como “As aventuras de Herb Krox” ou “Dakar o Minossauro”.
Na base desta colecção, imaginada pelo criador da série Alix, Jacques Martin - que apenas assina o prefácio, apesar do seu nome constar igualmente da capa - está a exploração dos ambientes mágicos e faustosos das mais poderosas nações do mundo, sendo este volume sobre a capital lusa e a cidade do Porto.
Nascido em 2002, aquando da passagem de Martin pelo Festival de BD da Amadora, o presente volume levou 6 anos a concretizar, mas apresenta como resultado uma conjunto de belas ilustrações, nas quais se reconhece um trabalho aturado de investigação cuidada e minuciosa ao nível da arquitectura, vestuário, veículos e utensílios da época e um grande rigor na sua recriação gráfica, ao nível daquela que era uma das imagens de marca de Martin.
Leituras relacionadas
As viagens de Loïs,
ASA,
Luís Diferr,
Martin
15/06/2010
Crepúsculo – A novela Gráfica – Volume I
Stephenie Meyer (argumento)
Young Kim (adaptação e desenho)
Gailivro (Portugal, Abril de 2010)
152 x 235, 244 p., pb e cor, brochado com badanas
Êxito sob a forma de romance e também no cinema, a saga da luz e escuridão iniciada com Crepúsculo, chega agora também à banda desenhada, compreensivelmente em estilo manga, aquele que mais apela aos seus jovens fãs.
Mas esta adaptação traz consigo alguns motivos de surpresa. Desde logo, por ter demorado tanto a surgir, face ao êxito da saga. Depois, por não ser, como tantas vezes acontece, uma simples adaptação do filme. O que possibilitou, possivelmente, que se trate de uma obra completa em si mesma – qualidade frequentemente ausente nesse tipo de adaptações - que dispensa o conhecimento prévio do romance (ou da versão cinematográfica). A isso, não será estranha a cuidada supervisão exercida por Stephenie Meyer, a autora original, neste aspecto e também ao nível dos diálogos.
O que nos leva à terceira surpresa: descobrir que o homem por detrás deste livro, o coreano Young Kim, não tinha experiência em banda desenhada antes de a executar. Porque esse aspecto não é notório ao longo da leitura, com a narrativa a levar-nos aos poucos para o mundo de Isabella Swan, recém-chegada a Forks, onde acabará apaixonada pelo enigmático Edward Cullen, atracção que se manterá mesmo depois de saber que ele é um vampiro. Os problemas de adaptação de Bella à sua cidade natal de onde esteve afastada alguns anos, a estranheza face ao comportamento de Edward ou a hostilidade latente em Forks em relação aos Cullen, são-nos apresentados progressivamente neste primeiro volume de Crepúsculo, de forma consistente e sustentada, num relato que se vai adensando ao correr das páginas, que se destaca também pelo uso contido de texto escrito.
Já a nível gráfico, detectam-se algumas oscilações no traço, com Kim a revelar algumas insuficiências, nomeadamente ao nível da transmissão de movimento e da expressividade dos rostos, por vezes demasiado parecidos, o que nem sempre é compensado pela diversidade da planificação, pelo bom uso (pontual) da cor ou de referências fotográficas ou pelo curioso recurso a balões “transparentes”.
Se à tradução nacional há que apontar alguns deslizes, sempre lamentáveis, é incompreensível a utilização de uma legendagem mecânica, hoje em dia algo completamente obsoleto e em desuso, o que diminui a beleza plástica das pranchas, mas essa é uma herança incontornável da versão original…
Young Kim (adaptação e desenho)
Gailivro (Portugal, Abril de 2010)
152 x 235, 244 p., pb e cor, brochado com badanas
Êxito sob a forma de romance e também no cinema, a saga da luz e escuridão iniciada com Crepúsculo, chega agora também à banda desenhada, compreensivelmente em estilo manga, aquele que mais apela aos seus jovens fãs.
Mas esta adaptação traz consigo alguns motivos de surpresa. Desde logo, por ter demorado tanto a surgir, face ao êxito da saga. Depois, por não ser, como tantas vezes acontece, uma simples adaptação do filme. O que possibilitou, possivelmente, que se trate de uma obra completa em si mesma – qualidade frequentemente ausente nesse tipo de adaptações - que dispensa o conhecimento prévio do romance (ou da versão cinematográfica). A isso, não será estranha a cuidada supervisão exercida por Stephenie Meyer, a autora original, neste aspecto e também ao nível dos diálogos.
O que nos leva à terceira surpresa: descobrir que o homem por detrás deste livro, o coreano Young Kim, não tinha experiência em banda desenhada antes de a executar. Porque esse aspecto não é notório ao longo da leitura, com a narrativa a levar-nos aos poucos para o mundo de Isabella Swan, recém-chegada a Forks, onde acabará apaixonada pelo enigmático Edward Cullen, atracção que se manterá mesmo depois de saber que ele é um vampiro. Os problemas de adaptação de Bella à sua cidade natal de onde esteve afastada alguns anos, a estranheza face ao comportamento de Edward ou a hostilidade latente em Forks em relação aos Cullen, são-nos apresentados progressivamente neste primeiro volume de Crepúsculo, de forma consistente e sustentada, num relato que se vai adensando ao correr das páginas, que se destaca também pelo uso contido de texto escrito.
Já a nível gráfico, detectam-se algumas oscilações no traço, com Kim a revelar algumas insuficiências, nomeadamente ao nível da transmissão de movimento e da expressividade dos rostos, por vezes demasiado parecidos, o que nem sempre é compensado pela diversidade da planificação, pelo bom uso (pontual) da cor ou de referências fotográficas ou pelo curioso recurso a balões “transparentes”.
Se à tradução nacional há que apontar alguns deslizes, sempre lamentáveis, é incompreensível a utilização de uma legendagem mecânica, hoje em dia algo completamente obsoleto e em desuso, o que diminui a beleza plástica das pranchas, mas essa é uma herança incontornável da versão original…
Leituras relacionadas
Crepúsculo,
Gailivro,
Kim Dong-hwa,
Meyer
11/06/2010
Aqueles que te amam
Étienne Davodeau (argumento e desenho)
MaisBD (Portugal, Outubro de 2002)
230 x 320 mm, 48 p., cor, cartonado
Resumo
“Aqueles que te amam” começa nos últimos momentos da grande final europeia em que se enfrentam franceses e italianos. O empate, a manter-se, assegura a vitória dos primeiros. Jogam-se os últimos segundos da partida e Renaud Landy, o guarda-redes dos franceses do F.C.E., prepara-se para bater o último pontapé de baliza. Faz um compasso de espera, dá alguns passos para a bola, pára e, de repente, golpe de teatro! Chuta para a própria baliza, dando a vitória à equipa italiana.
Desenvolvimento
“Porquê?”, interrogam-se todos. Para conhecer a resposta, é preciso recuar alguns dias, quando Titou, a estrela da equipa francesa, após muita insistência, acede a participar no jantar de aniversário de Adrien, um seu fã indefectível, que está às portas da morte. Só que, o que parecia ser um relaxante jantar, é perturbado pela aparição de Pascal, um amigo de Adrien, recentemente despedido pela empresa que patrocina Titou, e que está decidido a receber “a sua parte” da fama do jogador, nem que para isso tenha que o raptar.
Ao mesmo tempo, em casa dos Bertin, estala uma tempestade entre pai e filho, ambos apostados em assistir à grande final, mas com a relação a ser perturbada pelas sucessivas negativas escolares do filho.
Estes são os pontos de partida de “Aqueles que te amam”, cujo relato se vai desenvolvendo num crescendo, narrando em paralelo as duas situações, que se vão tornando cada vez mais rocambolescas, até se cruzarem num final inesperado e caótico.
Neste álbum, já quase com uma década, Étienne Davodeau faz um retrato distorcido – embora não tanto como parece - de uma realidade a que todos assistimos no nosso dia a dia, por onde perpassavam nomes como Figo, Zidane, Khan, Raúl ou Ronaldo (o brasileiro), hoje substituídos por outro Ronaldo, o Cristiano, Kaká, Ribery ou Di Maria, que todos identificámos imediatamente como talentosos futebolistas. Mas o que são eles? Ídolos ou meras mercadorias, das quais cada um – fans, famílias, dirigentes desportivos, políticos, imprensa, eles próprios – tenta tirar o máximo proveito possível, enquanto dá, esquecendo que, antes de tudo, são seres humanos.
É a esta reflexão que Étienne Davodeau nos convida em “Aqueles que te amam”, um olhar atento, sério e preocupado sobre este “mundo tão tranquilo” em que nós vivemos.
Curiosidade
- O “mundo tão tranquilo” referido no final do texto era o título da colecção em que este one-shot estava inserido em França, e que incluía também os títulos (não traduzidos em português mas igualmente muito recomendáveis) “La Gloire D’Albert” e “Anticyclone”.
(Versão revista e actualizada do texto escrito para a nota de imprensa de apresentação deste álbum, em 2002)
MaisBD (Portugal, Outubro de 2002)
230 x 320 mm, 48 p., cor, cartonado
Resumo
“Aqueles que te amam” começa nos últimos momentos da grande final europeia em que se enfrentam franceses e italianos. O empate, a manter-se, assegura a vitória dos primeiros. Jogam-se os últimos segundos da partida e Renaud Landy, o guarda-redes dos franceses do F.C.E., prepara-se para bater o último pontapé de baliza. Faz um compasso de espera, dá alguns passos para a bola, pára e, de repente, golpe de teatro! Chuta para a própria baliza, dando a vitória à equipa italiana.
Desenvolvimento
“Porquê?”, interrogam-se todos. Para conhecer a resposta, é preciso recuar alguns dias, quando Titou, a estrela da equipa francesa, após muita insistência, acede a participar no jantar de aniversário de Adrien, um seu fã indefectível, que está às portas da morte. Só que, o que parecia ser um relaxante jantar, é perturbado pela aparição de Pascal, um amigo de Adrien, recentemente despedido pela empresa que patrocina Titou, e que está decidido a receber “a sua parte” da fama do jogador, nem que para isso tenha que o raptar.
Ao mesmo tempo, em casa dos Bertin, estala uma tempestade entre pai e filho, ambos apostados em assistir à grande final, mas com a relação a ser perturbada pelas sucessivas negativas escolares do filho.
Estes são os pontos de partida de “Aqueles que te amam”, cujo relato se vai desenvolvendo num crescendo, narrando em paralelo as duas situações, que se vão tornando cada vez mais rocambolescas, até se cruzarem num final inesperado e caótico.
Neste álbum, já quase com uma década, Étienne Davodeau faz um retrato distorcido – embora não tanto como parece - de uma realidade a que todos assistimos no nosso dia a dia, por onde perpassavam nomes como Figo, Zidane, Khan, Raúl ou Ronaldo (o brasileiro), hoje substituídos por outro Ronaldo, o Cristiano, Kaká, Ribery ou Di Maria, que todos identificámos imediatamente como talentosos futebolistas. Mas o que são eles? Ídolos ou meras mercadorias, das quais cada um – fans, famílias, dirigentes desportivos, políticos, imprensa, eles próprios – tenta tirar o máximo proveito possível, enquanto dá, esquecendo que, antes de tudo, são seres humanos.
É a esta reflexão que Étienne Davodeau nos convida em “Aqueles que te amam”, um olhar atento, sério e preocupado sobre este “mundo tão tranquilo” em que nós vivemos.
Curiosidade
- O “mundo tão tranquilo” referido no final do texto era o título da colecção em que este one-shot estava inserido em França, e que incluía também os títulos (não traduzidos em português mas igualmente muito recomendáveis) “La Gloire D’Albert” e “Anticyclone”.
(Versão revista e actualizada do texto escrito para a nota de imprensa de apresentação deste álbum, em 2002)
Leituras relacionadas
Étienne Davodeau,
MaisBD,
opinião
10/06/2010
BD nacional cresce à margem das grandes editoras
O lançamento de quase uma dezena de títulos de autores nacionais durante o VI Festival de BD de Beja, veio reforçar uma evidência dos últimos anos, a vitalidade da 9ª arte nacional faz-se à margem das grandes editoras.
Essa ideia era defendida por Paulo Monteiro, director do festival que decorre até ao próximo domingo, quando, no lançamento do festival, afirmou ao Jornal de Notícias que “a BD portuguesa é um fabuloso caldeirão de estilos e tendências em que os autores fervilham de criatividade e todos os anos surgem projectos assombrosos!”. Mas, ao mesmo tempo, lamentava que “muitos destes projectos não conseguem a visibilidade que merecem, pois dificilmente ultrapassam a auto-edição em fanzine ou o esquema da pequena editora”, o que é quase sempre sinónimo de pequena tiragem e circulação limitada.
Exemplo paradigmático é “A Fórmula da felicidade”, uma edição da Kingpin Books, premiada e aplaudida pela crítica, mas cuja tiragem do segundo tomo, agora lançado, não chega a meio milhar de exemplares. Se é verdade que as novas tecnologias de impressão permitem fazer novas edições com facilidade (o que reduz ou quase elimina a existência de stocks), o que não poderia ter sido a carreira deste díptico no catálogo de uma editora maior. Nuno Duarte, o seu argumentista, associado das Produções Fictícias, considera que “não há "grandes" editoras de BD em Portugal”, defendendo que “as "pequenas" são uma alternativa interessante, face à liberdade temática, estilística e de formato que permitem”. Pelo mesmo diapasão alinha Miguel Rocha, nome marcante da nova 9ª arte nacional que em Beja lançou pela Polvo “Hans, o cavalo cansado”, baseado na peça homónima de Francisco Campos, quando afirma que gosta das pequenas editoras pois sente que tem “um maior controle sobre o processo”, embora reconheça que não tem “outra experiência e portanto pode ser tudo ilusão”.
Já João Tércio, que lançou “Março Anormal” pela El Pep, avança que “talvez por efeito da crise, as grandes editoras não mostram grande interesse em apostar em novos autores, preferindo dedicar-se à reedição de clássicos e a trabalhar com os talentos já confirmados”. David Soares, argumentista e romancista (“O Evangelho do enforcado”) acredita que a não aposta das “grandes editoras na BD, não é desinteresse mas que se deve a algum temor em publicar autores menos conhecidos, mas tal não acontece apenas no mercado da BD”.
Mas, se aqueles dois títulos potencialmente podem ser considerados de “grande público”, outros há cujos propósitos são bem diferentes. É o caso do projecto Zona, com cinco números no espaço de um ano, dois deles – Zona Gráfica I e II - agora mostrados durante o festival, do “Venham +5” (edição da Bedeteca de Beja) ou do Seitan Seitan Scum (El Pep+Chili Com Carne) que têm por preocupação, face à inexistência de revistas especializadas, proporcionar uma montra aos “autores mais novos ou inexperientes, que apresentem trabalhos com qualidade e uma boa margem de progressão” e “motivar a produção de mais e melhores trabalhos nesta área”, refere Fil, um dos responsáveis pela Zona, corroborado por Paulo Monteiro que acrescenta que “a edição constitui, em si mesmo, um incentivo à produção”. Herdeiros dos antigos fanzines policopiados (no espírito, não na forma, porque as novas tecnologias permitem qualidade quase profissional), por vezes trocando colaborações com publicações congéneres estrangeiras, acolhem nas suas páginas algumas dezenas de autores, do mais ilustre desconhecido a nomes já com um percurso assinalável no meio nacional ou mesmo como Filipe Andrade, que actualmente colabora com a Marvel. Não sendo colectivo mas comungando das mesmas prerrogativas, o sexto número da colecção Toupeira, “Há sempre um eléctrico que espera por mim”, de André Oliveira e Maria João Careto, distingue-se por os seus autores terem “ousado” explorar de forma ficcionada uma temática que, apesar de potencialmente rica, tem sido quase ignorada pela BD nacional: o período que antecedeu o 25 de Abril.
Muitas das condicionantes referidas aplicam-se também ao BDJornal (da pedranocharco), dedicado ao estudo e análise da BD, cujo nº 25 saiu 18 meses depois do anterior destacando o festival de Beja, Hermann, Fábio Civitelli e o novo projecto de Hugo Teixeira, e também à nova revista “The Lisbon Studio Mag”, que se anuncia semestral e tem por objectivo servir de montra e portfolio para os 19 autores que formam aquele estúdio, onde se contam Jorge Coelho, Ricardo Tércio ou Rui Lacas, já com obras publicadas nos mercados norte-americano e francófono.
E se dando voz ao sentir de todos, Paulo Monteiro refere que estas edições têm “grande visibilidade dentro do meio da BD”, acrescentando Nuno Duarte “a divulgação que é feita nas redes sociais”, todos os envolvidos reconhecem que a distribuição é o maior entrave, muitas vezes limitada apenas às lojas especializada e eventos do género.
Por isso, se Tércio vê o futuro ”negro, como é habitual, para os autores de BD”, embora pense que “se conseguirmos entrar no mercado brasileiro a BD em língua portuguesa pode crescer muito nos próximos anos”, já Miguel Rocha considera “interessantes os novos formatos de distribuição electrónicos”, que Nuno Duarte aponta como “uma possibilidade das pequenas editoras se implementarem cada vez mais”.
Em jeito de conclusão, Paulo Monteiro defende que só a existência de “uma visão estratégica que só se consegue juntando autores, críticos e editores para estabelecer um plano de divulgação e leitura” congregará mais pessoas em torno da BD” e permitirá “estabelecer um plano de divulgação e leitura” que lhe permita crescer para além do seu nicho habitual, indo “buscar leitores a outros sítios, nomeadamente à literatura”.
Para ler a versão integral das respostas dos diversos entrevistados:
- Paulo Monteiro
- Pepedelrey
- David Soares
- Fil
- Miguel Rocha
- Nuno Duarte
- João Tercio
- Osvaldo Medina
- Mário Freitas
- Machado Dias
(Versão revista e alargada do texto publicado no Jornal de Notícias de 8 de Junho de 2010)
Essa ideia era defendida por Paulo Monteiro, director do festival que decorre até ao próximo domingo, quando, no lançamento do festival, afirmou ao Jornal de Notícias que “a BD portuguesa é um fabuloso caldeirão de estilos e tendências em que os autores fervilham de criatividade e todos os anos surgem projectos assombrosos!”. Mas, ao mesmo tempo, lamentava que “muitos destes projectos não conseguem a visibilidade que merecem, pois dificilmente ultrapassam a auto-edição em fanzine ou o esquema da pequena editora”, o que é quase sempre sinónimo de pequena tiragem e circulação limitada.
Exemplo paradigmático é “A Fórmula da felicidade”, uma edição da Kingpin Books, premiada e aplaudida pela crítica, mas cuja tiragem do segundo tomo, agora lançado, não chega a meio milhar de exemplares. Se é verdade que as novas tecnologias de impressão permitem fazer novas edições com facilidade (o que reduz ou quase elimina a existência de stocks), o que não poderia ter sido a carreira deste díptico no catálogo de uma editora maior. Nuno Duarte, o seu argumentista, associado das Produções Fictícias, considera que “não há "grandes" editoras de BD em Portugal”, defendendo que “as "pequenas" são uma alternativa interessante, face à liberdade temática, estilística e de formato que permitem”. Pelo mesmo diapasão alinha Miguel Rocha, nome marcante da nova 9ª arte nacional que em Beja lançou pela Polvo “Hans, o cavalo cansado”, baseado na peça homónima de Francisco Campos, quando afirma que gosta das pequenas editoras pois sente que tem “um maior controle sobre o processo”, embora reconheça que não tem “outra experiência e portanto pode ser tudo ilusão”.
Já João Tércio, que lançou “Março Anormal” pela El Pep, avança que “talvez por efeito da crise, as grandes editoras não mostram grande interesse em apostar em novos autores, preferindo dedicar-se à reedição de clássicos e a trabalhar com os talentos já confirmados”. David Soares, argumentista e romancista (“O Evangelho do enforcado”) acredita que a não aposta das “grandes editoras na BD, não é desinteresse mas que se deve a algum temor em publicar autores menos conhecidos, mas tal não acontece apenas no mercado da BD”.
Mas, se aqueles dois títulos potencialmente podem ser considerados de “grande público”, outros há cujos propósitos são bem diferentes. É o caso do projecto Zona, com cinco números no espaço de um ano, dois deles – Zona Gráfica I e II - agora mostrados durante o festival, do “Venham +5” (edição da Bedeteca de Beja) ou do Seitan Seitan Scum (El Pep+Chili Com Carne) que têm por preocupação, face à inexistência de revistas especializadas, proporcionar uma montra aos “autores mais novos ou inexperientes, que apresentem trabalhos com qualidade e uma boa margem de progressão” e “motivar a produção de mais e melhores trabalhos nesta área”, refere Fil, um dos responsáveis pela Zona, corroborado por Paulo Monteiro que acrescenta que “a edição constitui, em si mesmo, um incentivo à produção”. Herdeiros dos antigos fanzines policopiados (no espírito, não na forma, porque as novas tecnologias permitem qualidade quase profissional), por vezes trocando colaborações com publicações congéneres estrangeiras, acolhem nas suas páginas algumas dezenas de autores, do mais ilustre desconhecido a nomes já com um percurso assinalável no meio nacional ou mesmo como Filipe Andrade, que actualmente colabora com a Marvel. Não sendo colectivo mas comungando das mesmas prerrogativas, o sexto número da colecção Toupeira, “Há sempre um eléctrico que espera por mim”, de André Oliveira e Maria João Careto, distingue-se por os seus autores terem “ousado” explorar de forma ficcionada uma temática que, apesar de potencialmente rica, tem sido quase ignorada pela BD nacional: o período que antecedeu o 25 de Abril.
Muitas das condicionantes referidas aplicam-se também ao BDJornal (da pedranocharco), dedicado ao estudo e análise da BD, cujo nº 25 saiu 18 meses depois do anterior destacando o festival de Beja, Hermann, Fábio Civitelli e o novo projecto de Hugo Teixeira, e também à nova revista “The Lisbon Studio Mag”, que se anuncia semestral e tem por objectivo servir de montra e portfolio para os 19 autores que formam aquele estúdio, onde se contam Jorge Coelho, Ricardo Tércio ou Rui Lacas, já com obras publicadas nos mercados norte-americano e francófono.
E se dando voz ao sentir de todos, Paulo Monteiro refere que estas edições têm “grande visibilidade dentro do meio da BD”, acrescentando Nuno Duarte “a divulgação que é feita nas redes sociais”, todos os envolvidos reconhecem que a distribuição é o maior entrave, muitas vezes limitada apenas às lojas especializada e eventos do género.
Por isso, se Tércio vê o futuro ”negro, como é habitual, para os autores de BD”, embora pense que “se conseguirmos entrar no mercado brasileiro a BD em língua portuguesa pode crescer muito nos próximos anos”, já Miguel Rocha considera “interessantes os novos formatos de distribuição electrónicos”, que Nuno Duarte aponta como “uma possibilidade das pequenas editoras se implementarem cada vez mais”.
Em jeito de conclusão, Paulo Monteiro defende que só a existência de “uma visão estratégica que só se consegue juntando autores, críticos e editores para estabelecer um plano de divulgação e leitura” congregará mais pessoas em torno da BD” e permitirá “estabelecer um plano de divulgação e leitura” que lhe permita crescer para além do seu nicho habitual, indo “buscar leitores a outros sítios, nomeadamente à literatura”.
Para ler a versão integral das respostas dos diversos entrevistados:
- Paulo Monteiro
- Pepedelrey
- David Soares
- Fil
- Miguel Rocha
- Nuno Duarte
- João Tercio
- Osvaldo Medina
- Mário Freitas
- Machado Dias
(Versão revista e alargada do texto publicado no Jornal de Notícias de 8 de Junho de 2010)
09/06/2010
Tarzan: A Origem do Homem-Macaco e Outras Histórias
Joe Kubert (argumento e desenho)
Devir Livraria (Brasil, Maio de 2010)
165 × 240 mm, 208 p., cor, brochado com abas
Tarzan foi um dos heróis que mais me marcou e ao qual ainda volto com prazer – não igual, porque a minha idade, as minhas experiências, a minha mentalidade, a minha própria concepção do mundo, em geral, e da banda desenhada, em particular, são outras – mas, ainda, prazer.
Possivelmente – eu pelo menos acredito nisso – porque o tenha lido na altura certa, quando era capaz de me maravilhar com o seu exotismo, a sua selvajaria, as suas aventuras…
Entre os diversos autores que passaram por Tarzan, dois ouve que me marcaram especialmente, apesar das suas concepções gráficas e narrativas serem (quase) diametralmente opostas: Russ Manning (de traço limpo, imaculado, pormenorizado, anatomicamente perfeito, belo, delicado, se assim o posso definir) e Joe Kubert (com um traço sujo, agressivo, violento, selvagem como Tarzan, os animais da selva e o seu mundo). Mais tarde, descobri (e maravilhei-me plasticamente) também (com) Burne Hogarth, mas já vivia então um tempo diferente…
No Brasil, país onde a indústria (e o mercado) de “quadrinhos” existe(m) e atravessa(m) um bom momento, acaba de sair este tomo com as primeiras histórias de Tarzan feitas por Kubert e são as mesmas que o (para mim saudoso) Mundo de Aventuras publicou a partir de 1975. E que correspondem à origem do homem-macaco, adaptando o primeiro romance escrito por Edgar Rice Burroughs, o “pai” de Tarzan. Uma origem que Kubert, (re)cria de forma violenta, animal mesmo, encenando, possivelmente, o mais selvagem de todos os Tarzan que a BD conheceu, mais próximo dos animais em cujo meio foi criado e sobrevive, do que dos seres humanos a cuja raça pertence.
O traço de Kubert – pormenorizado, eficaz, muito dinâmico – é agreste, intimida quase – vejam-se as cenas em que Tarzan se exalta mais – transporta-nos para uma selva bem mais real (e assustadora) do que a maior parte das versões em banda desenhada da criação de Burroughs.
Com excepção de uma, talvez, onde Kubert foi beber muita da sua inspiração, nalguns casos decalcando poses e vinhetas: a primeira aventura de Tarzan nos quadradinhos, a que Manuel Caldas há poucos meses editou, recuperada e restaurada, da forma que só ele é capaz de fazer.
Curiosidade
- Numa das histórias deste tomo, algumas das pranchas são da autoria de Burne Hogarth.
Devir Livraria (Brasil, Maio de 2010)
165 × 240 mm, 208 p., cor, brochado com abas
Tarzan foi um dos heróis que mais me marcou e ao qual ainda volto com prazer – não igual, porque a minha idade, as minhas experiências, a minha mentalidade, a minha própria concepção do mundo, em geral, e da banda desenhada, em particular, são outras – mas, ainda, prazer.
Possivelmente – eu pelo menos acredito nisso – porque o tenha lido na altura certa, quando era capaz de me maravilhar com o seu exotismo, a sua selvajaria, as suas aventuras…
Entre os diversos autores que passaram por Tarzan, dois ouve que me marcaram especialmente, apesar das suas concepções gráficas e narrativas serem (quase) diametralmente opostas: Russ Manning (de traço limpo, imaculado, pormenorizado, anatomicamente perfeito, belo, delicado, se assim o posso definir) e Joe Kubert (com um traço sujo, agressivo, violento, selvagem como Tarzan, os animais da selva e o seu mundo). Mais tarde, descobri (e maravilhei-me plasticamente) também (com) Burne Hogarth, mas já vivia então um tempo diferente…
No Brasil, país onde a indústria (e o mercado) de “quadrinhos” existe(m) e atravessa(m) um bom momento, acaba de sair este tomo com as primeiras histórias de Tarzan feitas por Kubert e são as mesmas que o (para mim saudoso) Mundo de Aventuras publicou a partir de 1975. E que correspondem à origem do homem-macaco, adaptando o primeiro romance escrito por Edgar Rice Burroughs, o “pai” de Tarzan. Uma origem que Kubert, (re)cria de forma violenta, animal mesmo, encenando, possivelmente, o mais selvagem de todos os Tarzan que a BD conheceu, mais próximo dos animais em cujo meio foi criado e sobrevive, do que dos seres humanos a cuja raça pertence.
O traço de Kubert – pormenorizado, eficaz, muito dinâmico – é agreste, intimida quase – vejam-se as cenas em que Tarzan se exalta mais – transporta-nos para uma selva bem mais real (e assustadora) do que a maior parte das versões em banda desenhada da criação de Burroughs.
Com excepção de uma, talvez, onde Kubert foi beber muita da sua inspiração, nalguns casos decalcando poses e vinhetas: a primeira aventura de Tarzan nos quadradinhos, a que Manuel Caldas há poucos meses editou, recuperada e restaurada, da forma que só ele é capaz de fazer.
Curiosidade
- Numa das histórias deste tomo, algumas das pranchas são da autoria de Burne Hogarth.
08/06/2010
Hellboy – Terras Estranhas
Mike Mignola (argumento e desenho)
Dave Stewart (cor)
G. Floy Studio (Portugal, 2009)
258 x 168 mm, 136 p., cor, brochado com badanas
Se à primeira vista, Hellboy pode ser classificado como banda desenhada de terror, um género que fez furor nos anos 50, mas hoje pouco em voga, a verdade é que essa seria uma leitura apressada e incompleta. Porque se o protagonista é um demónio, com um curioso sentido de moral - dualidade que Mignola explora bem - o que o leva a combater os nazis que o invocaram numa tentativa de mudarem o rumo à II Guerra Mundial, bem como a outros demónios e criaturas estranhas, também é indiscutível que a sua leitura pode – deve – ir bem mais além das cenas de acção.
Desde logo, porque subjacente à temática há um toque de humor, em especial nos diálogos do protagonista, que confere um surpreendente tom de comédia trágica aos relatos. Depois, porque Mignola semeia em profusão referências e citações - da literatura, do cinema, da própria BD - que, neste álbum em concreto, vão de Charles Dickens a William Hodgson, da Pequena Sereia, de Hans Christian Andersson, à versão cinematográfica do Moby Dick, de Herman Melville.
A par delas, é patente uma pesquisa aprofundada de lendas e mitos das mais diversas civilizações, em especial quando versam o sobrenatural, traduzida depois – por vezes em excesso – nas situações e nos intervenientes das duas histórias incluídas neste tomo – O Terceiro Desejo e a Ilha -, nas quais Hellboy, um joguete nas mãos dos seus adversários – a um tempo poderosos e impotentes - vai descobrir mais sobre o seu passado… e o seu futuro.
Se na altura da publicação original, ela marcou o regresso de Mignola ao desenho, o afastamento não o fez perder qualidades, mantendo-se o alto nível do seu traço, depurado, aparentemente simples, muito legível, expressiva e dinâmico, assente numa linha clara, quase sempre tingida de tons sombrios, que contribuem sobremaneira para dar consistência aos cenários góticos e desolados, de edifícios escuros e em ruínas.
(Versão revista e aumentada do texto publicado originalmente a 29 de Maio de 2010, na página de Livros do suplemento In’ da revista NS, distribuída aos sábados com o Jornal de Notícias e o Diário de Notícias)
Dave Stewart (cor)
G. Floy Studio (Portugal, 2009)
258 x 168 mm, 136 p., cor, brochado com badanas
Se à primeira vista, Hellboy pode ser classificado como banda desenhada de terror, um género que fez furor nos anos 50, mas hoje pouco em voga, a verdade é que essa seria uma leitura apressada e incompleta. Porque se o protagonista é um demónio, com um curioso sentido de moral - dualidade que Mignola explora bem - o que o leva a combater os nazis que o invocaram numa tentativa de mudarem o rumo à II Guerra Mundial, bem como a outros demónios e criaturas estranhas, também é indiscutível que a sua leitura pode – deve – ir bem mais além das cenas de acção.
Desde logo, porque subjacente à temática há um toque de humor, em especial nos diálogos do protagonista, que confere um surpreendente tom de comédia trágica aos relatos. Depois, porque Mignola semeia em profusão referências e citações - da literatura, do cinema, da própria BD - que, neste álbum em concreto, vão de Charles Dickens a William Hodgson, da Pequena Sereia, de Hans Christian Andersson, à versão cinematográfica do Moby Dick, de Herman Melville.
A par delas, é patente uma pesquisa aprofundada de lendas e mitos das mais diversas civilizações, em especial quando versam o sobrenatural, traduzida depois – por vezes em excesso – nas situações e nos intervenientes das duas histórias incluídas neste tomo – O Terceiro Desejo e a Ilha -, nas quais Hellboy, um joguete nas mãos dos seus adversários – a um tempo poderosos e impotentes - vai descobrir mais sobre o seu passado… e o seu futuro.
Se na altura da publicação original, ela marcou o regresso de Mignola ao desenho, o afastamento não o fez perder qualidades, mantendo-se o alto nível do seu traço, depurado, aparentemente simples, muito legível, expressiva e dinâmico, assente numa linha clara, quase sempre tingida de tons sombrios, que contribuem sobremaneira para dar consistência aos cenários góticos e desolados, de edifícios escuros e em ruínas.
(Versão revista e aumentada do texto publicado originalmente a 29 de Maio de 2010, na página de Livros do suplemento In’ da revista NS, distribuída aos sábados com o Jornal de Notícias e o Diário de Notícias)
Leituras relacionadas
G. Floy Studio,
Hellboy,
Mignola
07/06/2010
Bill Baroud
La Little Big Collec’ - Série Or
Manu Larcenet (argumento e desenho)
Fluide Glacial (França, Maio de 2010)
190 x 240 mm, 216 p., pb, cartonado
Resumo
Fluide Glacial (França, Maio de 2010)
190 x 240 mm, 216 p., pb, cartonado
Resumo
Chama-se Bill Baroud (embora tenha nascido… William Baroudsky) e é espião profissional, ao serviço da sua pátria, os Estados Unidos da América, “cuja segurança não o pode dispensar dois minutos” e em nome de quem se encarrega das mais perigosas e atribuladas missões, desde que algo ponha em perigo a liberdade, a sua terra natal, os valores em que acredita ou o “futuro do mundo civilizado”!
Desenvolvimento
Como ponto de partida, arrancando-o quase sempre dos lençóis onde está em companhia de uma bela mulher, há um contacto por telefone, fax ou telegrama, uma mensagem nas estrelas (sic) ou presencial, do próprio presidente, do capitão Andrews, chefe dos assuntos estrangeiros do FBI, de um urso polar (sic) ou de alguém que marca um encontro discreto no zoo, dizendo apenas que leva um “chapéu alto e um vestido branco” e que acaba por se revelar não a bela mulher com quem Baroud sonhava mas… o papa!
Se o seu tempo é o actual, há (vestígios – ou evidências? – de) uma anacrónica Guerra-fria, por isso, muitas vezes são soviéticas ou vietnamitas as ameaças que Baroud enfrenta, em missões que o podem levar aos quatro cantos do mundo, ao espaço ou ao passado, mas em cujo decorrer também pode enfrentar uns certos irmãos Dalton, um Calimero gigantesco que se revela um bom – e muito longo – jantar, o último dos Barbapapas (quem se lembra ainda deles?), Hulk, o Ku Klux Klan, os irmãos Metralha ou descobrir – literalmente – Deus. Com custos irreversíveis e eternos (literalmente) para si e (mais) para os outros, pois se Baroud atinge sempre os seus fins, tem o dedo demasiado próximo do gatilho e os meios que utiliza são (quase) sempre muito questionáveis… e definitivos!
Pelo meio, ainda há oportunidade para descobrir a sua infância, onde a vocação (e os métodos) já eram omnipresentes mas em que tudo apontava que seria encarregado de um campo de algodão onde apanharia algodão (quem mais?) o seu melhor amigo… um negro! Uma série de relatos, correspondentes ao quarto tomo da série, onde a par do humor habitual há, no entanto, um tom mais sério e, até, uma ponta de emoção, quando Larcenet descreve a situação dos desfavorecidos e dos negros numa América desequilibrada pelas desigualdades sociais, onde o dinheiro e o Ku Klux Klan imperavam…
Com esta base, em histórias curtas, de apenas meia dúzia de pranchas, Manu Larcenet, aqui e ali ainda hesitante, como é normal numa obra de início de carreira, mas mostrando já o potencial do autor de eleição que viria a ser, subverte os estereótipos das tramas de espionagem, repescados da literatura e do cinema, com muita inteligência (vejam-se os textos curtos, mas bombásticos) e um humor mordaz, por vezes (muito) negro e politicamente incorrecto, mas sempre irresistível e renovado, história após história, achando novas saídas para situações similares, conseguindo surpreender sempre, inventando desfechos inesperados… Fá-lo com um traço “sujo” e “feio”, que por vezes cruza com fotografia, mas sempre dinâmico e eficaz, com utilização de diferentes planos e enquadramentos e extremamente legível.
A reter
- O humor e a inteligência de Larcenet.
- O preço (quase) simbólico desta (bem conseguida) edição integral, que reúne os 4 tomos anteriormente publicados: 14 €. É nestes momentos que a inveja pelos leitores francófonos de quadradinhos vem ao de cima.
Menos conseguido
- Não é culpa do autor nem do álbum objecto, mas a leitura de Bill Baroud avivou-me as saudades do tempo em que havia revistas de BD, onde histórias como estas marcavam presença (e prioridades) e fidelizavam leitores. Por isso, estas histórias devem ser lidas com moderação, uma ou duas de cada vez, ao longo dos dias. Não porque possam provocar cansaço ou saturação, mas para que cada situação possa ser bem digerida e apreciada.
Curiosidades
- Bill Baroud foi publicado originalmente nas páginas da revista Fluide Glacial entre 1998 e 2001.
- Esta edição inclui quatro histórias que não faziam parte da tetralogia original.
Se o seu tempo é o actual, há (vestígios – ou evidências? – de) uma anacrónica Guerra-fria, por isso, muitas vezes são soviéticas ou vietnamitas as ameaças que Baroud enfrenta, em missões que o podem levar aos quatro cantos do mundo, ao espaço ou ao passado, mas em cujo decorrer também pode enfrentar uns certos irmãos Dalton, um Calimero gigantesco que se revela um bom – e muito longo – jantar, o último dos Barbapapas (quem se lembra ainda deles?), Hulk, o Ku Klux Klan, os irmãos Metralha ou descobrir – literalmente – Deus. Com custos irreversíveis e eternos (literalmente) para si e (mais) para os outros, pois se Baroud atinge sempre os seus fins, tem o dedo demasiado próximo do gatilho e os meios que utiliza são (quase) sempre muito questionáveis… e definitivos!
Pelo meio, ainda há oportunidade para descobrir a sua infância, onde a vocação (e os métodos) já eram omnipresentes mas em que tudo apontava que seria encarregado de um campo de algodão onde apanharia algodão (quem mais?) o seu melhor amigo… um negro! Uma série de relatos, correspondentes ao quarto tomo da série, onde a par do humor habitual há, no entanto, um tom mais sério e, até, uma ponta de emoção, quando Larcenet descreve a situação dos desfavorecidos e dos negros numa América desequilibrada pelas desigualdades sociais, onde o dinheiro e o Ku Klux Klan imperavam…
Com esta base, em histórias curtas, de apenas meia dúzia de pranchas, Manu Larcenet, aqui e ali ainda hesitante, como é normal numa obra de início de carreira, mas mostrando já o potencial do autor de eleição que viria a ser, subverte os estereótipos das tramas de espionagem, repescados da literatura e do cinema, com muita inteligência (vejam-se os textos curtos, mas bombásticos) e um humor mordaz, por vezes (muito) negro e politicamente incorrecto, mas sempre irresistível e renovado, história após história, achando novas saídas para situações similares, conseguindo surpreender sempre, inventando desfechos inesperados… Fá-lo com um traço “sujo” e “feio”, que por vezes cruza com fotografia, mas sempre dinâmico e eficaz, com utilização de diferentes planos e enquadramentos e extremamente legível.
A reter
- O humor e a inteligência de Larcenet.
- O preço (quase) simbólico desta (bem conseguida) edição integral, que reúne os 4 tomos anteriormente publicados: 14 €. É nestes momentos que a inveja pelos leitores francófonos de quadradinhos vem ao de cima.
Menos conseguido
- Não é culpa do autor nem do álbum objecto, mas a leitura de Bill Baroud avivou-me as saudades do tempo em que havia revistas de BD, onde histórias como estas marcavam presença (e prioridades) e fidelizavam leitores. Por isso, estas histórias devem ser lidas com moderação, uma ou duas de cada vez, ao longo dos dias. Não porque possam provocar cansaço ou saturação, mas para que cada situação possa ser bem digerida e apreciada.
Curiosidades
- Bill Baroud foi publicado originalmente nas páginas da revista Fluide Glacial entre 1998 e 2001.
- Esta edição inclui quatro histórias que não faziam parte da tetralogia original.
Leituras relacionadas
Bill Baroud,
Fluide Glacial,
Larcenet
04/06/2010
Frères Siamois – Coup Double
Serge Dehaes e Bernard Hellebaut (argumento)
Serge Dehaes (desenho e cor)
paquet (Suíça, Março de 2010)
238 x 322 mm, 48 p., cor, cartonado
Partilhando um tronco comum com apenas dois braços, mas com duas cabeças e quatro pernas os dois irmãos siameses que protagonizam este álbum são únicos. Apesar de dois. Se é que me faço entender. O que transforma situações banais ou pormenores corriqueiros em momentos hilariantes ou desconcertantes. Com um humor politicamente incorrecto – ou não pretenda fazer rir à custa da desgraça dos outros, salienta Géluck no prefácio que não escreveu (!) – mostra quão difícil é aos siameses fazerem coisas que normalmente os irmãos fazem: brincar às escondidas ou lutarem um com o outro, dormirem ambos de lado, um ver televisão enquanto o outro passeia, jogar ténis ou futebol, quererem coisas diferentes ao mesmo tempo… Ou como se torna complicado, quando ambos são afectados por uma diarreia…!
Mas, cumprindo uma nobre missão de serviço público, explica também que os champôs 2 em 1 não foram criados para os siameses ou que um pai natal siamês não entra por duas chaminés… gémeas!
E sabendo que Serge Dehaes é assistente e colorista de Géluck – o tal Géluck que (não) escreveu o prefácio, não sei se já o referi… – há 20 anos, não surpreende que o modelo utilizado neste álbum pelos autores seja o mesmo de Le Chat – uma criação do Géluck que…. - quer na composição das páginas, que alternam gags com tiras ou mesmo pranchas completas, quer no humor, mordaz, sarcástico, virulento, muitas vezes visual ou baseado em bem conseguidos trocadilhos, que não deixam o leitor ficar indiferente.
Serge Dehaes (desenho e cor)
paquet (Suíça, Março de 2010)
238 x 322 mm, 48 p., cor, cartonado
Partilhando um tronco comum com apenas dois braços, mas com duas cabeças e quatro pernas os dois irmãos siameses que protagonizam este álbum são únicos. Apesar de dois. Se é que me faço entender. O que transforma situações banais ou pormenores corriqueiros em momentos hilariantes ou desconcertantes. Com um humor politicamente incorrecto – ou não pretenda fazer rir à custa da desgraça dos outros, salienta Géluck no prefácio que não escreveu (!) – mostra quão difícil é aos siameses fazerem coisas que normalmente os irmãos fazem: brincar às escondidas ou lutarem um com o outro, dormirem ambos de lado, um ver televisão enquanto o outro passeia, jogar ténis ou futebol, quererem coisas diferentes ao mesmo tempo… Ou como se torna complicado, quando ambos são afectados por uma diarreia…!
Mas, cumprindo uma nobre missão de serviço público, explica também que os champôs 2 em 1 não foram criados para os siameses ou que um pai natal siamês não entra por duas chaminés… gémeas!
E sabendo que Serge Dehaes é assistente e colorista de Géluck – o tal Géluck que (não) escreveu o prefácio, não sei se já o referi… – há 20 anos, não surpreende que o modelo utilizado neste álbum pelos autores seja o mesmo de Le Chat – uma criação do Géluck que…. - quer na composição das páginas, que alternam gags com tiras ou mesmo pranchas completas, quer no humor, mordaz, sarcástico, virulento, muitas vezes visual ou baseado em bem conseguidos trocadilhos, que não deixam o leitor ficar indiferente.
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