Gilles Chaillet (argumento e desenho)
Christophe Ansar (participação nos
cenários)
Chantal Defachelle (cor)
NetCom 2 Editorial
(Portugal, Fevereiro de
2012)
240 x 320 mm, 48 p., cor, cartonado
15,00 €
Resumo
Após o assassinato da esposa, durante a ocupação
de Roma pelos exércitos cristãos do imperador Teodósio e do seu mestre de armas
Estilicão, Flaviano não hesita em ir ao próprio inferno para a tentar resgatar
da morte.
Desenvolvimento
Se as opções editoriais da NetCom 2, numa
primeira vista de olhos, parecem (demasiado?) clássicas, quer “Keos”, quer
esta “A Última Profecia”, se não (re)negam aquela etiqueta, conseguem mesmo
assim surpreender pelo tom fantástico que acrescentam ao relato mais
tradicional.
Se em “Keos” havia aparições do deus Osíris, aqui
Chaillet vai mais longe, enviando o protagonista, Flaviano, ao inferno em busca
da alma da sua esposa.
No entanto, na leitura das primeiras trinta e
tal pranchas nada o parece indiciar, dando este discípulo de Jacques Martin uma
lição de como narrar História aos quadradinhos, com rigor factual mas também
com liberdade ficcional num relato dinâmico que consegue captar a atenção do
leitor e cativá-lo. Relato esse que mostra o confronto entre os romanos
politeístas e os cristãos monoteístas, com estes desde logo a mostrar pouco
amor e caridade, optando antes por impor pela força a sua vontade e crenças,
contrariando claramente os ensinos daquele que diziam seguir. Tal como sempre
aconteceu desde então…
Para a conquista do leitor atrás referida, contribui
igualmente o traço realista e pormenorizado mas desenvolto e com espaço para
respirar, em grande parte devido à opção (quase sempre) de apenas três tiras
por página o que permite vinhetas menos preenchidas e mais legíveis.
A par disso, nas primeiras páginas, Chaillet
mais do que uma vez opta por pranchas duplas, com tiras longas que as ocupam de
uma extremidade à outra, conseguindo magníficos planos de conjunto e imprimir
uma dinâmica de leitura que se contrapõe à maior dose de informação necessária
para o arranque da história.
Depois, já na fase final deste tomo – o primeiro
de cinco, o último dos quais foi terminado por Ansar, devido ao falecimento do
criador da série – quando a temática histórica já captara na íntegra o
interesse do leitor, dá-se o volte-face com a descida (literal) aos Infernos do
protagonista.
O que ela nos irá trazer – e muito fica
prometido - fica reservado para o segundo tomo, porque para já está quase tudo em
aberto e as respostas dadas são quase nenhumas.
A reter
- A surpresa da combinação do relato histórico
inicial com o tom claramente fantástico que ele depois assume.
- O grafismo de Chaillet, com o rigor conhecido
e a mais-valia de uma planificação mais desenvolta.
- A boa edição da NetCom 2 Editorial: boa
encadernação, bom papel, boa impressão…
Menos
conseguido
- … que, também por isso, merecia uma legendagem
à altura.
- Mais uma vez, a parca distribuição que o álbum
tem. O que, ao fim e ao cabo, tem que ser aceite, devendo cada um dos
potenciais leitores vencer a tradicional inércia e proceder à encomenda online,
no site da editora…