16/03/2010

Hellboy – Verme conquistador

Mike Mignola (argumento e desenho)
G. Floy Studio (Portugal, 2008)
170 x 256 mm, 144 p., cor, brochado com badanas


Por vezes há coisas assim.
A estreia de “Hellboy 2: O Exército Dourado” nos cinemas aconteceu em simultâneo com a chegada de mais um volume aos quadradinhos às livrarias – conjugação em que o mercado português tem sido parco, o que não abona a seu favor – o que justifica uma breve análise das razões do seu sucesso – mais marcante nas páginas impressas do que nas telas. O que facilmente se percebe, porque apesar dos muitos avanços tecnológicos, continua a haver aspectos em que a concretização dos sonhos nascidos no papel continua a ser impossível, sendo estes mais capazes de sugestionarem a mente humana.
O que primeiro atrai em Hellboy é a arte de Mike Mignola, que quase se poderia classificar como uma “linha clara” escura, já que o seu desenho plano, estilizado, desprovido de pormenores desnecessários, extremamente legível, invulgar no universo dos comics norte-americanos, é servido por tons soturnos, sombrios, mesmo quando a acção decorre em montanhas verdejantes…
Isso contribui sobremaneira para o ambiente opressivo e tenso das narrativas, onde o inesperado espreita a cada página e onde cada construção – quase sempre velhos castelos decadentes - esconde perigos inimaginados.
Mas são as narrativas, bem construídas, envolventes, alternando suspense com cenas de acção, com as pontas soltas necessárias para serem retomadas mais tarde, fazendo a ligação entre as histórias e criando uma interessante cumplicidade com o leitor, que mais surpreendem, pela conjugação de aspectos que aparentemente nada têm em comum: investigações de tom detectivesco e demónios saídos do inferno – o primeiro dos quais o próprio Hellboy -, o paranormal par a par com a ciência, a retoma da temática nazi como personalização do mal absoluto como um dos lados do eterno confronto entre este e o bem…
“Verme Conquistador”, que tem introdução de Guillermo del Toro, reúne todos aqueles aspectos, cruzando-os com diversas referências literárias, cinematográficas e televisivas agradavelmente retros, numa história que traz Hellboy de novo à velha Europa, a mais um castelo em ruínas, para evitar a concretização de um plano iniciado pelos nazis 60 anos antes, quando enviaram o primeiro ser humano para o espaço.

(Versão revista e actualizada do texto publicado no Jornal de Notícias de 8 de Setembro de 2008)

15/03/2010

Entrevista com Filipe Melo


















Chamam-se Dog Mendonça e Pizza Boy e correm o risco de fazer história nas histórias aos quadradinhos nacionais porque acabam de salvar o mundo, num relato delirante acabado de chegar às livrarias. Mas a verdade, é que o principal responsável por isto é Filipe Melo, “pianista de jazz de profissão”, que apesar de querer “ter mais tempo para melhorar” a sua música, mete-se “em aventuras que não deixam muito tempo para o piano, como o cinema” – onde realizou o mais famoso filme de zombies nacional, “I'll see you in my dreams” e a série televisiva “Mundo Catita” – e agora “também a banda desenhada”. Para esta última, transportou as suas influências do cinema fantástico - de “Gremlins” a “Regresso ao Futuro”, de “Matrix” às obras de John Landis, que prefacia o livro – e de outro mais sério, como “Casablanca”, e da BD, de “Hellboy” a “Dylan Dog”.
Durante uma conversa numa sessão de promoção do livro, que teve lugar na livraria Central Comics, no Porto, dia 6 de Março, revelou que tudo começou por um sem número de ideias “anotadas em post-its, até o conjunto começar a tomar forma. Depois, seguiu-se um retiro “em Tondela, onde em cerca de 20 dias” escreveu “de forma muito detalhada o guião do que deveria ser um filme”, pois demorou muito tempo “a perceber que esta história tinha que ser contada em BD”. Hoje, satisfeito com o resultado final de uma “obra feita pelas razões certas, por gosto, não para ganhar dinheiro”, pensa que “teria dado um mau filme, pois não haveria dinheiro suficiente para os efeitos especiais necessários!”.
Depois do seu argumento passar por uma série de pessoas pois acredita “que se ganha muito no plano colaborativo”, e ter tido algumas “alterações superficiais”, após uma série de peripécias, acabou por “encontrar o desenhador na Argentina”, com quem trabalhou ao longo de um ano, através de mails e do Skype. Pessoalmente, só se conheceram “há dias, quando o desenhador chegou ao nosso país”, para participar numa série de eventos de promoção do livro.
Livro para o qual imagina como banda sonora “um grande arranjo orquestral” em que os seus (invulgares) heróis – que incluem um demónio encarnado no corpo de uma criança e uma gárgula - têm de “salvar o mundo e tentar conquistar uma rapariga”, combatendo um eventual regresso do Quarto Reich. E tudo acontece em Lisboa, “baseado no facto de durante a II Guerra Mundial a capital portuguesa ter fervilhado de espiões e refugiados”.
E se a hipótese de ver publicados os seus heróis noutros mercados já lhe passou pela cabeça, primeiro quer tratar da promoção nacional e de tentar esgotar “o mais rápido possível os 1300 exemplares desta edição”. Depois de cumprir esta missão, pode ser que “mande uns mails e faça uns contactos, para tentar que o livro seja publicado noutro sítio, nem que seja no Sri lanka!”.
Entretanto, qual bom zombie, está morto… “por convencer toda a gente a fazer a sequela”. Que até já tem título – “Apocalipse” – e que parte das mesmas premissas: “acontecimentos muito estranhos, Lisboa como ponto de partida e a missão de salvar o mundo em 12 horas”. Começará “cinco anos depois da primeira história” e nela “o Pizza Boy, que não teve muitas mais oportunidades de salvar o planeta, teve que ir trabalhar para um call-center, a única actividade mais deprimente do que ser entregador de pizzas”. E como foi pensada desde a sua génese como “novela gráfica, isso permite destruir muito mais coisas!” Por isso, Filipe Melo revela que no seu final “Portugal vai ficar feito em cacos!”

(Versão alargada do texto publicado no Jornal de Notícias de 11 de Marços de 2010)

14/03/2010

Vulcão dos Capelinhos

António Bulcão (argumento)
Paulo Neves (desenho)
OMA – Observatório do Mar dos Açores (Portugal, Setembro de 2007)
210 x 297 mm, 36 p., cor, brochado

O recente temporal que se abateu sobre a Madeira com as consequências (sobejamente…) conhecidas (e exploradas…) levou a que – como é hábito - fossem feitos levantamentos, mais ou menos exaustivos sobre outros acontecimentos similares no território nacional, mais ou menos próximos no tempo.
Entre eles surgiu a erupção do Vulcão dos Capelinhos, nos Açores, que durou entre Setembro de 1957 e Outubro de 1958, de que existe esta narração em banda desenhada.
Editada pelo OMA – Observatório do Mar dos Açores, está disponível no site daquela organização, ou seja, é mais uma daquelas obras aos quadradinhos, editadas neste país, com uma tiragem – assinalável – de 1500 exemplares, mas sem distribuição nem visibilidade, que muitas vezes nem os próprios aficionados do género sabem que existe.
De carácter didáctico e destinado a um público infanto-juvenil, a narrativa de António Bulcão utiliza (bem) como estratégia um peixe como narrador, conseguindo dessa forma apontar de forma ficcionada os factos mais marcantes, transmitindo a informação necessária mas sem ser de todo maçador.
O desenho foi entregue a Paulo Neves que revela alguma insegurança do traço – na linha do estilo cómico franco-belga – possivelmente devido a pouca experiência nesta área, o que se nota também na utilização de cores demasiado vivas, que acabaram prejudicadas na reprodução, especialmente ao nível da capa, que resultou demasiado escura. No entanto, Paulo Neves apresenta um certo domínio da planificação, com algumas soluções interessantes (como na prancha aqui reproduzida), e algum dinamismo narrativo que contribuem sem dúvida para ritmar a obra.

13/03/2010

Jérôme K. Jérôme Bloche - L'intégrale - tome 1

Alain Dodier, Serge Le Tendre e Makyo (argumento)
Alain Dodier (desenho)
Dupuis, Bélgica, Fevereiro de 2010)
174 x 244 mm, 160 p., cor, cartonado, 19,00 €


Resumo
Jérôme K. Jérôme Bloche é um detective privado, criado por Alain Dodier, em 1982, para a revista belga “Spirou”, como evoca no prefácio Alain De Kuyssche, então chefe de redacção daquela publicação.
Este tomo, integrado na nova colecção “Intégrales petit format”, reúne as suas três primeiras aventuras, “L'Ombre qui tue", "Les Êtres de papier", "À la vie, à la mort", e ainda “L’anniversaire”, uma história curta de quatro páginas.

Desenvolvimento
Admirador de Humphrey Bogart e de Robert Mitchum, JKJ Bloche é um detective privado parisiense, do tipo tradicional, daqueles de chapéu mole e gabardina, que tem como marca distintiva uns óculos redondos de aro fino e usar como transporte preferencial uma bicicleta, a sua “Solex”. Que é juntamente com a sua amiga Babette, as únicas personagens recorrentes nas várias histórias deste livro. Apesar dos seus esforços, a sagacidade e a capacidade de dedução não são os pontos fortes de Bloche, que é mais do género sonhador e distraído, parecendo que mais do que confiar nos seus méritos, o (aprendiz de) detective conta mais com a ajuda do destino para deslindar os casos que lhe são entregues.
No seu primeiro caso – a primeira história deste livro – a investigação que leva a cabo, funciona, de certa maneira, como tese de graduação, pois tem que investigar o assassino do professor que lhe ensinava as bases do ofício. Como suspeitos, surgem todos os outros colegas de curso, num caso que acaba por se (con)fundir com o aparecimento em Paris de diversas pessoas assassinadas com flechas envenenadas lançadas por uma misteriosa sombra emplumada que após cada morte parece dissolver-se no ar.
Segue-se um interessante conto, no qual Bloche é chamado a descobrir quem ameaça o Barão de Verville, deslocando-se por isso para o seu castelo, um local onde todos parecem esconder algo e onde nada parece corresponder ao que aparenta, até o detective descobrir que o caso em que se encontra envolvido não passa de uma bem conseguida encenação. Na sua terceira aventura, o simpático protagonista desloca-se a casa dos seus tios e da sua avó, para investigar quem anda a ajustar contas em nome de um passado que muitos dos habitantes locais parecem recear.
Comum às três histórias é o grande número de personagens que orbitam em volta dos casos (e por arrastamento) do protagonista, contribuindo para adensar os mistérios e tornar mais complicada a sua resolução.
Neste início de vida do detective, que hoje já conta 21 tomos com as suas andanças, percebe-se alguma inexperiência dos autores, ainda em busca de definir os traços da personalidade do seu herói e o tom certo para as suas histórias, que são rodeadas de um certo ambiente fantástico e de um tom humorístico que se hão-de atenuar com o desenrolar da série. Esta, assumirá antes um carácter calmo, terno e tranquilo, sem dúvida estranho para um registo policial, mas compreensível pelo tom humano que progressivamente adquire.
Aliás, uma das vantagens desta reedição em forma de integrais, é permitir que se assista à evolução de protagonistas e autores. Por isso, apesar de nalguns casos ser necessário voltar atrás para acompanhar o raciocínio de Bloche, as três histórias são consistentes, estruturadas e, até, bastante originais, contribuindo para prender o leitor e deixando antever um bom futuro para o protagonista, como se veio a verificar.
Graficamente, a evolução também é notória, quer na forma como os tons se vão suavizando, quer no aperfeiçoamento gráfico de Dodier, que progressivamente se afasta de algumas influências humorísticas, a caminho de uma linha clara semi-realista, cada vez mais legível e funcional, cujo futuro já se adivinha na BD curta que encerra o volume.

A reter
- A evolução da série, aventura a aventura.
- As intrigas originais e bem imaginadas…

Menos conseguido
- … pese embora alguma confusão pontual na sua estruturação.

Curiosidades
- Jérôme K. Jérôme Bloche recebeu o Prix de la Série (Fauve d’Angoulême), em Janeiro último, pelo seu 21º tomo, “Déni de Fuite”.
- Companheiros de Dodier no início do seu percurso, Le Tendre co-assinaria apenas os dois primeiros episódios de Jérôme K. Jérôme Bloche, enquanto que Makyo “resistiria” até ao quinto tomo. A partir daí Dodier prosseguiu como único autor.
- A colecção “Intégrales petit format”, cujo número de páginas oscila entre as 160 e as 264, e o preço entre 18 e 27 euros, neste seu início de vida, integra também os títulos “Jessica Blandy”, “Ethan Ringler”, “Le Choucas” e “Kogaratsu”.

12/03/2010

BD para ver – Alex Gozblau na Mundo Fantasma

Amanhã, sábado, dia 13 de Março, a galeria Mundo Fantasma, situada inaugura uma exposição de Alex Gozblau intitulada “Má Raça”, composta por “22 ilustrações originais retratando, no seu estilo inconfundível, um conjunto de personagens e situações oriundas de universos nocturnos e fantásticos”, lê-se no comunicado de imprensa.
Natural de Perugia, Itália, onde nasceu em 1971, Gozblau, galardoado com o Grande Prémio de Ilustração do Prémio Stuart de Desenho de Imprensa em 2009, está há vários anos radicado em Portugal, onde tem construído a sua carreira artística na área da banda desenhada, da ilustração para jornais e revistas – Expresso, Público, Sábado - e de livros para a infância e juventude – como “Romance do 25 de Abril”, escrito por João Pedro Mésseder -, tendo também incursões na escrita de banda desenhada - “Março”, com desenho de Miguel Rocha – e no cinema de animação – “Café”, com João Fazenda.
Esta exposição ficará patente naquela galeria portuense, integrada na loja especializada em BD com o mesmo nome, no Shopping Center Brasília, 1º. Andar, Loja 509/510, até dia 25 de Abril.

11/03/2010

Tex Anual #10 – O esquadrão infernal

Cláudio Nizzi (argumento)
Ugolino Cossu (desenho)
Mythos Editora (Brasil, Dezembro de 2008)
136 x 176 mm, 332 páginas, preto e branco, capa brochada 

Resumo Tex Willer e Kit Carson são enviados para o Colorado, onde um misterioso bando de ladrões semeia o terror e a morte, desaparecendo misteriosamente após cada investida. 

Desenvolvimento Se não se pode falar de revolução, mesmo que tranquila, a verdade é que nos últimos anos Tex tem passado por uma renovação, para uma maior adequação ao tempo em que vivemos, embora sem perder as características marcantes que lhe permitiram resistir durante 60 anos. Essa renovação surge quer a nível gráfico, com a chamada de alguns mestres – especialmente espanhóis, como Font, Ortiz ou Sommer – e de novos e talentosos autores, quer a nível temático, com a elaboração de enredos mais consistentes, com o ranger a perder um pouco da sua invencibilidade e da sua aura de intocável e com a introdução de elementos geralmente ausentes das suas aventuras. Esta história é um bom exemplo disso. Graficamente, Cossu apresenta um traço limpo e agradável, pouco habitual em Tex – a excepção será Civitelli – com um bom uso de tramas e pontilhados, as personagens bem proporcionadas e um bom trabalho na reconstituição dos cenários, sejam urbanos ou naturais Que nalgumas pranchas, desculpem a comparação, que não tem qualquer tom acusatório, apenas pretende apontar uma referência, me fez lembrar o de Manara em “Quatro dedos – O Homem de papel”, um atípico western desenhado pelo mestre do erotismo. Como contra há que apontar algum estaticismo dos intervenientes, o que num western é sempre de considerar. Como elementos inovadores no relato, há a presença de mulheres na história, com algum protagonismo, em especial a índia Flor de Inverno que – oh, heresia! - na capa surge abraçada a Tex. E em algumas poses bem sensuais, por diversas vezes, durante o relato. Também nada habituais são as cenas de cariz sexual, como a violação com que termina o assalto inicial, logo na página 24, e as acusações de abuso que Flor de Inverno faz ao coronel que a mantinha prisioneira. Que apesar de invulgares em Tex, fazem todo o sentido no conjunto do relato, no contexto da acção e na época em que ele decorre. Quanto à narrativa em si, ganharia se a identidade dos ladrões fosse mantida em segredo até mais perto do final, pois o facto de o leitor descobrir muito cedo a quem imputar responsabilidades retira-lhe um potencial suspense que só a beneficiaria. Fora isso tem, na generalidade, com um bom nível, os padrões habituais em Tex, ou seja: é longa e bem estruturada, com algumas inflexões se surpresas, momentos de tensão e acção q.b.. Ou seja, trezentas páginas de western que permitem passar um bom par de horas.

A reter - O traço de Cossu, em especial quando aplicado nos cenários.
Menos conseguido - Volto ao tema. Eu conheço e compreendo as razões da Mythos para optarem pelo “formatinho” em lugar do formato original italiano (160 x 210 mm) para as suas edições Bonelli: menor desperdício de papel e, consequentemente, preço de capa bem mais baixo. Mas será que, pelo menos pontualmente – por exemplo, no caso desta colecção anual ou no do especial colorido dos 60 anos de Tex – não seria possível abrir uma excepção e oferecer aos leitores o formato maior – como está a acontecer agora no Brasil com a edição colorida - que permitiria desfrutar melhor e apreciar com mais justiça a parte gráfica?

Curiosidade - Não apostaria, mas possivelmente esta é uma das poucas capas de Tex em que aparece uma mulher. Possivelmente, uma das raras em que ela abraça Tex. Fico o desafio aos admiradores do ranger para descobrirem quantas são!

A noiva que o rio disputa ao mar + Portimão – Como se faz uma cidade

A noiva que o rio disputa ao mar
João Paulo Cotrim (argumento)
Miguel Rocha (desenho)
Câmara Municipal de Portimão (Portugal, Dezembro de 2009)
172 x 250 mm, 128 p., cor, cartonado

Portimão – Como se faz uma cidade
João Paulo Cotrim (argumento)
Alex Gozblau, Daniel Lima, Filipe Abranches, Jorge Mateus, Pedro Brito, Ricardo Cabral, Susa Monteiro e Zé Manel (desenho)
Câmara Municipal de Portimão (Portugal, Dezembro de 2009)
172 x 250 mm, 152 p., cor, cartonado

Num país em que muitas autarquias continuam a apostar na banda desenhada para contarem a sua História ou as suas histórias, esta edição da C. M. Portimão merece destaque duplo. Não pelo facto (relevante) de se tratar de dois livros – é esse o seu formato – mas pela aposta numa utilização dos quadradinhos moderna e atraente, que foge às narrativas habituais, mais ou menos monocórdicas e pouco estimulantes, que se limitam a debitar informação (mais ou menos bem) ilustrada.
Não que ela esteja ausente destas obras, mas encontra-se (muito) diluída, só limitada ao essencial, surgindo Portimão como cenário e pano de fundo e, na realidade, único protagonista dos dois livros.
Isto acontece mais no primeiro título, sobre a génese da cidade – bela amante dividida entre as carícias do rio e do mar – devido à escolha de um fotógrafo (intemporal, para cobrir cerca de 500 anos de história…) cujos instantâneos fotográficos vão marcando os momentos destacados – um casamento, a construção de naus, a chegada do comboio, a atribuição do foral… - e também pelo facto de estes tanto serem reais como fictícios, históricos como anónimos, dando corpo(s) e alma(s) ao relato. Tudo assinado com cores fortes mas difusas, apropriadas aos diversos aspectos abordados, mas sempre com o azul (forte) da água como tom predominante, por um Miguel Rocha na posse de todas as suas (muitas) qualidades gráficas.
Mas o protagonismo de Portimão é mais evidente em “Como se faz uma cidade”, em que alguns dos mais relevantes ilustradores e autores de BD nacionais contemporâneos, com os seus traços, técnicas e estilos personalizados, mostram diversos aspectos daquela localidade algarvia, cosmopolita mas humana, com belezas naturais e artificiais, que servem de referência e preenchem as memórias (de férias) de tantos e que é local onde vivem e se cruzam tantas pessoas, tantas vivências, tantas (outras) histórias…
Neste conjunto – desculpem-me os outros… - quero destacar em especial os trabalhos de Filipe Abranches, Ricardo Cabral e Pedro Brito, que considero especialmente conseguidos.
No (bom) resultado final, pesa João Paulo Cotrim, escolhido para coordenar e escrever os argumentos, já que é marcante o tom poético que costuma pontuar a sua escrita em que mais do que o que diz, deixa no ar hipóteses, sugestões, dúvidas, desafios que pedem ao leitor várias (re)leituras e abrem a porta a interpretações diversas. E que no todo apresentam Portimão pelo que é mais do que por aquilo que foi ou lá aconteceu.

Curiosidades
- O livro “Portimão – Como se faz uma cidade” inclui no seu miolo um caderno intitulado “Como se vive esta cidade” com pranchas de 19 jovens que participaram num workshop de BD conduzido por Pedro Brito, merecendo algumas delas um olhar atento.

(Versão revista e aumentada do texto publicado originalmente a 6 de Março de 2010, na página de Livros do suplemento In’ da revista NS, distribuída aos sábados com o Jornal de Notícias e o Diário de Notícias)

10/03/2010

Le tour du monde en bande dessinée #2

Igal Sarna (argumento)
Gipi, Erwann Terrier, Carlos Nine, Sonny Liew, Khamel Khelif, Vanessa Davis, Nick Abadzis, Mazen Kerbaj (argumento e desenho)
Rutu Modan (desenho)
Delcourt (França, Fevereiro de 2010)
226 x 298 mm, 112 p., cor, cartonado

Colectânea de histórias curtas, feitas por autores provenientes de Israel, França, Argentina, Singapura, Tailândia, Estados Unidos, Grécia e Líbano, comprova, mais uma vez, como a banda desenhada pode ser – é, sem dúvida! – uma arte plural e maior, que pode assumir todos os estilos, todos os géneros, todas as temáticas – documentário, reportagem, autobiografia, sátira política, poesia… - de acordo com a sensibilidade e a formação de cada um.
Por isso os israelitas Sarna e Modan abordam a (impossível) normalidade quotidiana em Israel e em Gaza, com (mais) um bombardeamento como pano de fundo e coelhos por toda a parte, na sequência da invasão dos territórios palestinianos no início do ano passado; Gipi põe dois mafiosos a comparar Berlusconi e Sarkozy, antes de (mais) uma execução; Terrier evoca os bons velhos tempos do bairro de Saint-Germain-des-Prés, quando era ponto de encontro de intelectuais, artistas e revolucionários; o argentino Carlos Nine elabora uma fábula política que tem a conspiração como tema; Vanessa Davis combina reportagem e autobiografia num relato sobre o Festival de Filmes Judeus de Palm Beach; Abazis aponta vantagens e inconvenientes de ser um cidadão do mundo sem/com várias nacinalidade(s); Khelif traça a (pungente) história de Mi Su, uma prostituta tailandesa, vendida duas vezes, pela mãe e a irmã; Liew, num relato em torno da própria criação, homenageia de forma curiosa alguns dos maiores autores de quadradinhos actuais; Kerbaj, desde o Líbano transforma em imagens um poema de Khaled Saghieh.
São formas, estilos, géneros, materiais, sensibilidades, educações diferentes, que marcam como se está na vida e como se faz banda desenhada,. Usando uma arte, a 9ª, uma mesma linguagem, a dos quadradinhos, para narrar quotidianos.
Como só em BD é possível fazer.

09/03/2010

Sonho sem fim – Pedro Couceiro

Pedro Couceiro (história)
Hugo Jesus (argumento)
Rui Ricardo (desenho)
ASA (Portugal, Novembro de 2009)
222 x 300 mm, 48 p., cor, cartonado


Se a vida de algumas pessoas dava um (ou vários) filmes/livros, Pedro Couceiro é certamente um deles, enquanto (pequeno) cantor/fadista de (algum) sucesso, nº 1 do ranking mundial de ténis na sua idade, piloto de corridas com diversos títulos conquistados ou Embaixador da Unicef. Por isso se compreende que a sua (ainda curta?) biografia tenha originado esta banda desenhada – uma paixão antiga -, nascida por sua iniciativa, tornada possível pelo patrocínio de diversas entidades, cuja venda reverte integralmente a favor da Aldeia de Crianças SOS, e cuja menagem base é que mostrar que com empenho e trabalho todos nós podemos concretizar os nossos sonhos.
Narrando a sua vida desde criança até à actualidade, esta é uma obra de leitura agradável, apesar de alguma (inevitável) sobrecarga de informação, que é de alguma forma compensada por apontamentos de humor que a suavizam. Faltaram-lhe, possivelmente, mais algumas páginas, que permitissem aprofundar momentos mais marcantes – quem sabe até ficcionando-os de alguma forma – como uma ou outra das corridas que venceu (ou não…) para dar um pouco mais de emoção, de sentimento, ao relato.
O traço semi-realista adoptado para o álbum, embora aqui e ali surja um pouco preso ao material fotográfico que lhe serviu de base, cumpre bem a sua função, mas teria ganho com a utilização de cores mais vivas (ou com uma melhor reprodução de cor?).

(Versão revista e aumentada do texto publicado originalmente a 6 de Março de 2010, na página de Livros do suplemento In’ da revista NS, distribuída aos sábados com o Jornal de Notícias e o Diário de Notícias)

08/03/2010

Dans mes yeux












Bastien Vivés (argumento e desenho)
Casterman + KSTR
(França, Março de 2009)
190 x 276 mm, 136 p., cor, cartonado

Resumo
Dans mes yeux narra uma história de amor. Bela como todas as histórias de amor. Enquanto duram. Triste, como todas as histórias de amor, quando terminam. Porque terminam.

07/03/2010

J. Kendall – Aventuras de uma criminóloga #58

Giancarlo Berardi, Giuseppe De Nardo e Lorenzo Calza (argumento) 
Marco Soldi (desenho) 
Mythos Editora (Brasil, Setembro de 2009) 
135 x 178 mm, 132 p., pb, brochado, mensal 

 Resumo O assassínio de um polícia em simultâneo com o aparecimento de uma série de mafiosos mortos desencadeia mais uma investigação da polícia de Garden City que, como habitualmente, recorre à consultoria de Júlia. 

Desenvolvimento
Esta é mais uma história policial bem contada, com a investigação e os momentos de acção intercalados com aspectos banais do quotidiano ou com um registo mais intimista em que a protagonista se expõe, dando voz às suas dúvidas, sentimentos, desejos e ansiedades, num todo como habitualmente bem escrito e ritmado, com protagonistas credíveis e bem definidos. E em que nada acontece por acaso. Veja-se como exemplo a interligação entre a cena em que a gata Toni liga inadvertidamente a televisão assustando Júlia e Emily – aparentemente um fait-divers - e, mais à frente, como ela influencia a reacção inicial da protagonista à intrusão do mafioso “John Smith” em sua casa. Desta vez, Berardi aproveita o relato para levantar duas questões muitas vezes associadas à actuação policial. Por um lado – com um curioso toque romântico, porque o inacessível parece sempre exercer uma grande atracção sobre nós – se é legítimo o recurso – com custos… - a informadores ou a acordos de legalidade duvidosa com criminosos, mesmo quando os fins a atingir o parecem justificar. Por outro, a existência de vigilantes, que se colocam acima da lei face à (aparente?) inutilidade/incapacidade dela. Graficamente – embora a edição nem sempre possibilite uma boa apreciação – a arte mantém a qualidade média que este título costuma apresentar mensalmente, com um traço realista, não excessivamente detalhado mas funcional, equilibrado no tratamento do ser humano, com especial atenção nos rostos, e eficiente no retrato de interiores e exteriores, nas cenas mais calmas como nas de acção. Uma referência ainda para a excelente cena do tiroteio na rua, nas páginas 25 a 31, credibilizada pela utilização de enquadramentos variados e o recurso a grandes (e expressivos) planos dos rostos dos intervenientes.

05/03/2010

Sutures

David Small (argumento e desenho)
Delcourt (França, Dezembro de 2009)
182 x 210 mm, 328 p., pb, brochado com badanas


Resumo

Autobiografia em banda desenhada, Sutures conta a infância e adolescência de David Small, a quem foi descoberto um quisto aos 11 anos, nos anos 1950, resultante de um tratamento intensivo com radiação, prescrito pelo pai, devido aos seus problemas de garganta, e que veio a resultar na perda das suas capacidades vocais.

Desenvolvimento
De uma (aparente) simplicidade desarmante, de leitura rápida, com longas sequências mudas e outras providas de muito pouco texto, Sutures conta diversos episódios da infância, adolescência e juventude de David Small, cartoonista em publicações como o New Yorker, o New York Times, o Washington Post, a Esquire ou a Playboy, mas mais conhecido como ilustrador de livros infantis.
Nesta estreia em banda desenhada, que não se adivinha pela mestria com que gere a planificação e o ritmo narrativo, grande parte dessa legibilidade extrema deve-se ao apuramento do seu traço, fino, por vezes esquemático, habituado que está a condensar o desenho o mais possível, apoiado em tons cinzentos dados a aguarela.
E é assim que nos conta a sua história, num claro exercício de exorcismo pessoal, em que vai saltando de episódio para episódio. Todos marcantes, todos com uma enorme carga emocional, a que o leitor não consegue ficar indiferente. Não que o tom seja de lamúria, lamentação ou de exposição gratuita, mas porque o simples desfiar dos acontecimentos impressiona.
A primeira memória – subtítulo original perdido nesta tradução francesa - começa aos seis anos. David mostra-se e à sua família, constituída por uma mãe, dona de casa de poucas palavras, sem paciência, autoritária e incapaz de expressar afectos – reflexo da sua própria experiência com a sua mãe e avó de David?-, um pai, médico especialista em raios X, quase sempre ausente, e um irmão mais velho, claramente preferido pelos progenitores. Uma família disfuncional, em que se sente deslocado, mergulhando por isso nos mundos imaginários que os livros e a sua imaginação lhe proporcionam, comunicando muitas vezes por desenhos. Motivos de sobra para que tenha crescido (quase sempre) solitário, cada vez mais introvertido, mergulhado em silêncio – num triste prenúncio do que o destino lhe reservava. Uma existência difícil em que os únicos oásis foram o (pouco) tempo que passou com o avô materno, durante férias sazonais em que acompanhava a mãe.
Nascido com problemas digestivos e respiratórios, de constituição débil, David desde pequeno foi muitas vezes sujeito pelo pai a injecções e tratamentos com raios X – algo vulgar nos anos 1950 – o que viria a ter consequências funestas, que começariam a revelar-se, por volta dos 11 anos, quando lhe surgiu um quisto, supostamente sebáceo, no pescoço, deixado pelos pais para tratar mais tarde, “quando houvesse dinheiro”. Dinheiro que começou a entrar e a sair num autêntico corropio, gasto em remodelações na casa, novos electrodomésticos, carros mais luxuosos e festas com os amigos.
Novo salto, até aos 14 anos, quando finalmente o quisto foi extraído e acabou por se revelar maligno, implicando uma segunda operação, da qual saiu sem as cordas vocais e com uma enorme (e inestética) cicatriz no pescoço, resultante da sutura que dá título ao livro. Tempo do qual guarda como memória – mais uma – a única vez (!) em que a mãe foi simpática com ele, embora de forma transitória. Mais exactamente durante o curto espaço de tempo em que acreditou que a segunda operação seria fatal…
De regresso a casa, agora ainda mais confinado a um silêncio - já não voluntário, provocado pela perda de voz e pela inestética cicatriz – David, encontra-se cada vez mais sozinho, cada vez mais mergulhado em si mesmo e no seu mundo, cada vez mais afastado dos pais que não tentaram – pelo contrário – qualquer gesto de aproximação, que não lhe revelaram, sequer que tinha tido um cancro. Mais um entre muitos segredos de que sempre rodearam David. Um cancro provocado ou, pelo menos, potenciado – tudo o indica – pelo excesso de radiação recebido ao longo dos anos, como o pai mais tarde lhe confessará. Como se aos olhos deles, para além de vítima fosse também culpado. Por isso, possivelmente, foi enviado para um colégio interno. Talvez para que os pais afastassem dos seus olhos o objecto que lhes podia inspirar um sentimento de culpa?
Seguem-se tempos tormentosos – com diversas fugas do colégio, sessões de psiquiatria – cujos custos, tal como os do colégio, lhe foram atirados à cara várias vezes -, a descoberta que a mãe enganava o pai com outra mulher… Até se tornar evidente aos seus olhos que a mãe nunca o amou, que nunca foi desejado. E é nesta descoberta – ilustrada de forma soberba por várias páginas em que apenas se vê chuva a cair, como se a água o pudesse limpar de todas aquelas memórias indesejadas - e também no abalo provocado pela morte do avô, que vai acabar por encontrar forças para sair de casa, se afastar da família, num distanciamento imperioso para uma busca e descoberta interiores, num percurso de queda e redenção, em que finalmente se vai encontrar a si próprio, descobrindo no desenho a melhor forma de se expressar. E encontrando, também, as forças necessárias para não seguir o mesmo caminho da avó e da mãe, como transmite na transcrição do sonho com que encerra o livro. Porque, apesar do tom hiper-realista do relato, há ao longo da narrativa diversos momentos com elementos fantásticos ou oníricos, que servem de contraponto ao tom do registo e ilustram aspirações, devaneios ou sonhos do protagonista.
É verdade que faltou a Small aprofundar algumas questões que poderiam ajudar a dar mais consistência ao livro, em especial a sua relação (inexistente?) com o irmão ou as razões porque os pais eram incapazes de manifestar sentimentos e afectos, mas acabam por ser aspectos menores numa obra magnífica embora dolorosa, de uma enorme carga humana.

A reter
- O ritmo com que o autor dotou a narrativa
- A expressividade de algumas sequências mudas.
- A utilização de diversos registos gráficos para distinguir estados de espírito ou a dualidade realidade/sonho.
- A conseguida sequência da chuva – o seu significado… - nas páginas 255 a 262.

Menos conseguido
- Este texto. Escrever sobre algumas obras, por vezes, é para mim um problema. Não porque a sua qualidade não o justifique, mas pela sensação de que por mais que explique, evoque ou desenvolva, nunca serei capaz de exprimir tudo o que a leitura me transmitiu. Sutures foi um desses livros. E já sei que uma vez postadas estas linhas, um sem número de vezes (re)escritas, vou sentir que faltou isto ou aquilo, que aqui ou além podia ter chegado mais fundo ou mais longe, que possivelmente ele está demasiado descritivo. Pelo que, como sempre, mas mais ainda desta vez, deixo o conselho: leiam estas linhas, se quiserem, mas não deixem de ler o livro.

Curiosidades
- A versão original deste livro, Stitches: A Memoir (da editor norte-americana W.W. Norton), foi finalista do National Book Award em 2009, um prémio habitualmente concedido apenas a obras literárias, e chegou a estar no primeiro lugar da lista dos livros mais vendidos do The New York Times.

04/03/2010

O Combate Ilustrado de 1986 a 2007



Vários autores
Edições Combate (Portugal, Janeiro de 2010)
216 x 160 mm, 198 p., cor e pb, brochado


“O Combate” foi o jornal/revista do PSR – Partido Socialista Revolucionário – de Francisco Louça, uma das formações políticas que esteve na origem do Bloco de Esquerda. E foi também um local de divulgação, descoberta, experimentação e afirmação - com uma grande, imensa, enorme liberdade criativa - de um grande número de artistas plásticos nacionais, de Pedro Amaral a João Fazenda, passando por Alice Geirinhas, Nuno Saraiva, João Fonte Santa, Fernando Relvas, Cristina Sampaio, José Feitor e muitos outros, entre os anos de 1986 e de 2007.
20 anos traduzidos em cartoons, ilustrações e bandas desenhadas, trabalhados a preto e branco ou a cores, em diversas técnicas e estilos, que hoje - nalguns casos duas décadas mais tarde - funcionam a vários níveis: causam estranheza, evocam recordações, perturbam pela actualidade que se mantém inalterada, marcam percursos, registam evoluções, recuperam nomes esquecidos …
E que esta colectânea – a que faltam, naturalmente, os textos que muitas vezes inspiraram os artistas – em boa ocasião resgata, exercitando a memória, dando um novo fôlego e existência mais duradoura a cerca de duas centenas de obras de 40 autores nacionais, nascidas em páginas perecíveis, numa “Primavera gráfica, nada comum nas esquerdas da época”, lê-se na introdução de Jorge Silva, então director de arte e responsável pela selecção .
E que constitui “um olhar sobre as coisas de ontem (…) uma viagem na máquina do tempo, revelando camadas e tesouros de arqueólogo”, de uma época em que “computadores e e-mail nem em sonhos”. Sendo ao mesmo tempo “um testemunho da evolução da ilustração em Portugal, desde a produção manual, com aguarelas, acrílicos, até ao predomínio do digital”, enquanto revela “cores insuspeitas e texturas subtis que a pelintrice de outrora não permitiu”, e traz para os dias que (hoje) correm gritos, palavras, afirmações, ideais, ideias que já/ainda não passaram. Mas que ainda (nos) podem deslumbrar.

(Versão revista e aumentada do texto publicado originalmente a 27 de Fevereiro de 2010, na página de Livros do suplemento In’ da revista NS, distribuída aos sábados com o Jornal de Notícias e o Diário de Notícias)
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