16/03/2011

XIII Mystery

Os Incontornáveis da Banda Desenhada #3
O Mangusto
Xavier Dorison (argumento) e Ralph Meyer (desenho)
Irina
Corbeyran (argumento) e Berthet (desenho)
Público + ASA (Portugal, 16 de Março de 2011)
295 x 220 mm, 108 p., cor, brochado com badanas, 7,40 €


Resumo
Derivada da série XIII, Mystery aborda o passado de alguns dos seus protagonistas secundários. No caso presente, a origem e juventude de dois assassinos: o Mangusto e Irina.

Desenvolvimento
Uma das séries de maior sucesso em França nas últimas três décadas (o seu primeiro álbum data de 1984) e (apesar disso) uma série algo maltratada em Portugal (onde foram editados 9 tomos), XIII, muito resumidamente, narra a história de um amnésico envolvido numa conspiração para assassinar o presidente dos Estados Unidos e a busca que enceta para descobrir a sua verdadeira identidade.
Thriller de espionagem e acção, baseado numa complexa conspiração, magistralmente orquestrado por Jean Van Hamme, um dos maiores argumentistas do género aventura dos quadradinhos franco-belgas, comporta vários ciclos – nos quais o protagonista, XIII (assim designado pela tatuagem que possui no ombro), vai descobrindo e descartando diversas identidades possíveis.
Concluída em 2007, ao fim de 20 tomos – pelo menos para Van Hamme, porque Vance já manifestou o desejo de encetar um novo ciclo - o sucesso da série levou a editora a avançar com XIII Mistery, uma derivação que explora, em one-shots de 54 páginas, o passado de algumas das personagens que ao longo das aventuras se foram cruzando com o protagonista.
A génese desta sequela é narrada por Van Hamme, a abrir o álbum, que revela que diversas duplas (diferentes) de autores foram convidadas, sendo que as obras constantes do presente volume foram as primeiras a serem concluídas (e publicadas, originalmente em 2008 e 2009).
Curiosamente, ambas optaram por dar vida ao passado de dois assassinos e ambas situaram o seu nascimento do outro lado da Cortina de Ferro. Outros pontos comuns às duas narrativas são os equívocos, as traições e algumas surpresas, o que, a par de um retrato realista e credível de épocas não muito distantes no tempo – embora talvez já algo esquecidas… -, faz com que estas duas histórias revelem atractivos suficientes para prender o leitor, beneficiando ainda de uma boa dinâmica e de uma leitura fácil e fluida.
Sem justificar acções ou atenuar responsabilidades, em ambas as histórias há uma humanização, desde logo pelas infâncias e adolescências complicadas que tiveram, de personagens pouco simpáticas – embora carismáticas – e o cruzamento de sentimentos contraditórios mas complementares - sobrevivência, ilusão, desencanto, reconhecimento, gratidão, vingança – para explicar as suas escolhas futuras.
Pessoalmente, se acho mais consistente a história desenvolvida por Dorison – onde existem algumas sequências muito bem conseguidas, a começar pela inicial, no barco – em termos gráficos confesso a minha preferência pela belíssima linha clara de Berthet e pelo seu traço inconfundível.
Sendo episódios soltos, podem ser lidos – e compreendidos - por quem desconhece a série principal e a participação nela do Mangusto e de Irina, mas a sua completa fruição implica esse conhecimento…

Curiosidades
- No primeiro tomo, o Mangusto cruza-se com Joe telenko, o protagonista de “Balada Assassina” (Devir), igualmente desenhada por Meyer.
- Em “Irina”, são retomadas duas cenas do décimo-terceiro álbum de XIII, “L’Enquête” (Dargaud).
- Em França, já foi publicado o terceiro tomo desta série, dedicada à Major Jones, com autoria de Yann (argumento) e de Hénninot (desenho). Na calha, com periodicidade anual, estão álbuns dedicados ao coronel Amos, Sheridan, Billy Stockton e Steve Rowland.

Nota
- Escrito antes da publicação deste álbum, hoje, com o jornal Público, este post ainda vem ilustrado com pranchas extraídas da versão original francesa.

15/03/2011

Cinemax (2)

Para quem não viu na RTPN, aqui fica o excerto do programa Cinemax, do passado dia 12 de Março, no qual estive presente a propósito da estreia em Portugal do filme “As Múmias de Faraó – As Aventuras de Adèle Blanc-Sec”, dirigido por Luc Besson e baseado na banda desenhada homónima de Jacques Tardi.

Manual Zits® para Viver com Eles

Jerry Scott (argumento)
Jim Borgman (desenho)
Gradiva (Portugal, Fevereiro de 2011)
160 x 160 mm, 80 p., cor, cartonado,

12 €

Em publicação desde Julho de 1997, Zits é uma das mais divertidas tiras diárias dos últimos anos, publicada diariamente em centenas de jornais de todo o mundo, entre os quais o Jornal de Notícias (que infelizmente não publica as pranchas dominicais).
Baseadas no (tenebroso) mundo da adolescência, têm como protagonista a família Duncan: Connie, a mãe, pró-activa, Walter, o pai, passivo, e Jeremy, o adolescente de serviço, que alterna entre a preguiça extrema e a hiperactividade - existe ainda um irmão, Chad, (quase) sempre ausente na faculdade.
Do seu núcleo duro fazem igualmente parte Sara Toomey, a namorada de Jeremy, Hector Garcia, o seu melhor amigo, e Pierce, o amigo “esqui-sóide” (não o são quase todos os adolescentes?).
Actuais, divertidas, desconcertantes, certeiras, as tiras diárias têm como pressuposto os inevitáveis choques entre as duas gerações em confronto (e guerrilha permanente): a dos pais de Jeremy e a deste e dos seus amigos. Como principais motivos de choque estão as diferenças de ritmo e de ambições, a (proverbial) incapacidade dos pais para lidarem com as novas tecnologias, a (conhecida) incapacidade do filho para respeitar regras e horários, manter conversas com mais de meia dúzia de monossílabos ou compartilhar problemas e aspirações.
Regularmente editada pela Gradiva em português, que conta já com quinze títulos no seu catálogo (catorze volumes anuais e uma antologia), Zits surge agora num formato diferente. Desde logo no suporte físico: tamanho inferior (mais manu-seável), mais luxuoso (a cores, capa dura). E também na forma, uma vez que esta edição, baptizada de “manual”, compila – em formato aumentado - algumas tiras recolhidas ao longo dos tempos, acrescentando-lhes comentários – na forma de lições de vida ou sugestões para momentos específicos - que explicam (tentam explicar) como lidar com os adolescentes (como se tal fosse de alguma forma possível ou viável).
Objecto derivado, portanto, sinónimo (?) do sucesso da tira (também) em português, é de leitura mais rápida que o habitual e indicado especialmente para quem não conhece Zits ou é normalmente resistente a leituras aos quadradinhos. E, claro, para todos os (pobres) pais de adoles-centes, presentes ou futuros.
Até porque é uma súmula do (muito bom) humor que perpassa diariamente por Zits – quer a nível do texto, quer a nível gráfico pois Borgman frequentemente ajuda o leitor a visualizar emoções, reacções, acções - e, por isso, um excelente cartão de apresentação de uma série de leitura francamente recomendável.

14/03/2011

Tex em 4 rodas

Aberto ao público até ontem, dia 13, o Salão Automóvel de Genebra 2011, um dos mais impor-tantes do género, teve como principais novidades diversos modelos eléctricos e com motorizações ecológicas, entre os quais está o Volkswagen Tex, um protótipo da marca alemã dedicado a Tex Willer, o mais antigo western da BD em publicação.
A viatura em questão, uma criação da Italdesign para o maior fabricante europeu de carros, é um coupé que utiliza a tecnologia Blue e-motion e o sistema de direcção Twin Drive, pois trata-se de um modelo híbrido que tanto pode funcionar a gasolina (com o seu motor de 1.4) como a electricidade (com a bateria de 85 kw). Com uma trans-missão de sete veloci-dades sequen-ciais, atinge a velocidade máxima de 220 km/h, tendo uma autonomia de 35 km quando utiliza apenas o motor eléctrico.
Giorgetto Giugiaro, o estilista que apostou na combinação entre ecologia e desportivismo, afirmou que o Volkswagen Tex “é a nossa interpretação dos carros do futuro, pensados especialmente para a cidade”. E acrescentou: “Além dos automóveis, eu e Fabrizio (o patrão da Italdesign), partilhamos outra paixão: o ranger Tex Willer, herói dos quadradinhos italianos. O Volkswagen Tex é uma homenagem aos homens que escreveram e desenharam uma página importante da nossa cultura popular”.
No caso Giovanni Luigi Bonelli (argumento) e Aurelio Galleppini (desenho), que em 1948 imaginaram o ranger, duro e com um sentido de justiça muito próprio, que fre-quente-mente o transforma em juiz e carrasco dos malfeitores que persegue. E que é um caso ímpar de popula-ridade em Itália, tendo chegado a vender mais de um milhão de exemplares mensalmente, estando na base do sucesso da editora Bonelli, que em 2007 encetou a reedição a cores das suas aventuras, com o jornal “La Reppublica” e a revista “L’Espresso”, numa colecção que, prevista para 50 números, já ultrapassou os 200 volumes.
Em Portugal, onde dispõe de um bom número de fãs, Tex está presente nos quiosques quase ininterruptamente desde a década de 1970, através de edições brasileiras de pequeno formato, que actualmente têm a chancela da Mythos Editora que, mensalmente, disponibiliza diversos títulos de Tex, entre novas histórias e reedições.
Resta saber se, em aventuras futuras, Tex Willer e o seu amigo Kit Carson vão trocar os fogosos cavalos de sempre pelo novo Volkswagen Tex! Com a certeza de que tanto eles como os seus fãs, terão que esperar até 2018, para verem o carro ser produzido em série, se tal vier a suceder.

(Versão revista do texto publicado no Jornal de Notícias de 13 de Março de 2011)

13/03/2011

Selos & Quadradinhos (30)

Stamps & Comics / Timbres & BD (30)
Tema/subject/sujet: Banda Desenhada / Comics / Bande Dessinée
País/country/pays: Suíça / Switzerland / Suisse
Autor/author/auteur:Aloys, Cosey, Zep
Data de Emissão/Date of issue/date d'émission: 1992

12/03/2011

Dennis the menace

Um traquinas sexagenário
Com 5 anos, louro, sardento e um sorriso cândido, Dennis, protagonista de uma BD estreada exactamente há 60 anos nos Estados Unidos, era o exemplo perfeito de um diab(inh)o em corpo de anjo, como aliás deixava antever o seu apelido: the Menace (a ameaça).
Na verdade, justiça lhe seja feita, as diabruras provocadas pelo miúdo, conhecido em Portugal como Denis o Pimentinha, por via das edições brasileiras distribuídas em tempos no nosso país, devem-se mais à sua vontade de ajudar os outros e à inocência própria da idade, do que propriamente a um desejo de fazer o mal ou prejudicar. Só que, infelizmente para ele, “de boas intenções está o Inferno cheio”, pelo que os fundilhos das suas calças frequentemente acabam por ser fraca protecção para as palmadas com que muitas vezes terminam as confusões que originou.
Porque, importa lembrar aos mais desatentos, nos anos 1950 o (enjoativo) “politicamente correcto” era (felizmente) desconhecido e um castigo corporal justo e com a justa medida era algo de natural. Até porque, o Dennis dessa época, por vezes era bem mais rude e mesmo violento, capaz de dar um nó (literalmente) no pescoço dum cisne, de rasteirar o pai ou de dizer à mãe para não ralhar com ele porque não era marido dela.
Depois, com o passar dos anos, amoleceu um tanto, e as suas partidas e travessuras tornaram-se mais leves e inocentes, sem que isso signifique que os cartoons e bandas desenhadas tenham perdido o humor e a capacidade de divertir. Claro que não será essa a opinião dos seus pais, o casal Mitchell, nem de Mr. Wilson, o vizinho do lado, os seus alvos de eleição.
Como imagem de marca Dennis veste umas jardineiras vermelhas, geralmente sujas de lama ou chocolate, tem quase sempre o cabelo revolto e anda na companhia do seu cão Ruff, companheiro de brincadeiras e (involuntárias) partidas. Da sua roda de amigos mais próximos, alternadamente cúmplices ou vítimas, fazem parte Joey, Margaret e Gina.
O seu criador foi Hank Ketcham (1920-2001), que fez a sua aprendizagem como ilustrador nos estúdios de animação de Walter Lantz e de Walt Disney, tendo neste último participado nas longas-metragens “Fantasia”, “Bambi” e “Pinóquio”. Durante a II Guerra Mundial, baseado na sua experiência na Marinha, estreou-se nos quadradinhos com o marinheiro Half Hitch, surgindo em 1951 a sua grande criação, o traquina Dennis the Menace, que, estreado em apenas 18 jornais, em poucos meses chegava já a mais de uma centena e, nos seus tempos áureos foi publicado em mais de um milhar de títulos, por todo o mundo.
Originalmente, Dennis protagonizava cartoons de imagem única, pontualmente divididos em duas vinhetas verticais. O seu sucesso imediato levaria o autor a desenvolver uma prancha dominical, logo no ano seguinte, e à criação de uma revista homónima, em 1953, que, anos mais tarde, ostentaria o selo da Marvel. Ketcham, com recurso a alguns assistentes, assumiu a sua criação até 1994, quando se reformou. A popularidade de Dennis faz com que continue em publicação nos nossos dias, agora assinado por Marcus Hamilton e Ron Ferdinand.

A Fantagraphics Books, a exemplo dos Peantus, tem em curso a reedição integral da obra de Ketcham, e no ano passado, os correios norte-americanos incluíram Dennis the menace (juntamente com Calvin, Garfield, Beetle Bailey e Archie) numa emissão filatélica intitulada Sunday Funnies Stamp.

Do papel, a ameaça saltou para o audiovisual em 1959, numa série televisiva protagonizada por Jay North que durou 4 anos. Regressaria no final da década de 80, em 78 episódios animados, antes de fazer a sua estreia cinematográfica em 1993, com Mason Gamble como protagonista e Walther Matthau como o infeliz Mr. Wilson.

Curiosamente, a 17 de Março de 1951, apenas 5 dias após a estreia do Pimentinha, estreava no reino Unido um outro Dennis the Menace, posteriormente baptizado de Dennis and Gnasher (o seu cão), para evitar confusões.
Publicado na revista infantil “The Beano”, é a banda desenhada mais antiga em publicação em Inglaterra, tendo como protagonista um miúdo considerado “o mais malcriado do mundo”. Criado por David Law, que o assinou até 1970, passaria depois pelas mãos de diversos autores, entre eles David Sutherland e David Parkins.
Este Dennis, que já teve duas adaptações animadas televisivas, é em tudo diferente do seu homónimo americano: mais velho, mais alto, tem cabelo escuro, usa camisola às riscas vermelhas e pretas e é também mais indisciplinado e malvado.

(Versão revista e aumentada do texto publicado no Jornal de Notícias de 12 de Março de 2011)

11/03/2011

Rui Ricardo na Mundo Fantasma

Data: 12 de Março a 1 de Maio de 2011
Local: Galeria Mundo Fantasma, loja 510, Centro Comercial Brasília, Porto
Horário: de 2ª a sábado, das 10h às 20h: Domingo das 15h às 19h


Amanhã, sábado, abre ao público na galeria Mundo Fantasma a exposição “Seduce and Destroy”, constituída por duas dezenas de ilustrações do portuense Rui Ricardo.
O autor, que estará presente na inauguração, publica desde os 15 anos de idade, dividindo a sua actividade artística entre a ilustração e a banda desenhada. Neste último campo, tem vários livros publicados, destacando-se “Superfuzz #1 – vai sonhando Paiva” (Devir), inicialmente publicado no jornal Blitz, “Sonho sem fim” (ASA), uma biografia de Pedro Couceiro, e obras mais pessoais como “Jogos Humanos” (ASIBDP) e “Canção do bandido” (Polvo).
Concluído o curso de Designer Gráfico da Faculdade de Belas Artes do Porto, Rui Ricardo entrou no mundo da animação através de um convite para participar na criação dos cenários digitais da série televisiva Major Alvega, tendo durante oito anos dividido o seu tempo também pela publicidade e video clip’s.
Regressado ao desenho, como freelancer, adoptou uma linha clara onde é notória a influência da estética manga, que tem aplicado em cartazes, campanhas e ilustração editorial. Hoje, é representado pela agência inglesa Folio, tendo colaboração publicada em jornais e revistas como FHM, Men’s Fitness, The Times, The Telegraph, The Mail on Sunday, GQ, Popular Mehanics ou Marketing Week.
A exposição, que é constituída por ilustrações recentes do autor, ficará patente até 1 de Maio na galeria Mundo Fantasma, no Centro Comercial Brasília, no Porto, é complementada com a edição de um giclé (impressão em papel especial) de tiragem limitada, numerado e assinado por Rui Ricardo.

The three paradoxes

Paul Hornschemeier (argumento e desenho)
Fantagraphics Books (EUA, 2007)
165x216 mm, 80 p., cor, brochado com badanas, 16,99 $USD

Que têm em comum o princípio da inexistência de movimento dos filósofos Zenão e Parménidas, os processos de criação em BD e a autobiografia?
A(s) resposta(s) encontra(m)-se (ou não…) em "The three paradoxes", no qual Paul Honrschemeier começa por reflectir sobre a criação em BD, quando não consegue definir uma sequência para a BD que cria. Abandona-a, por isso, para ir dar um passeio nocturno com o pai, a pretexto de fazer fotos dos seus lugares de infância para uma correspondente online, mas buscando isso sim a companhia (a segurança?) do progenitor.
Só que aqueles lugares trazem memórias, muitas memórias - que Honrschemeier vai narrando, em histórias paralelas, de traço e estilo diferentes, que revelam diferentes influências gráficas até - vincando o carácter autobiográfico do livro.
Nessas recordações aleatórias, ele procura as soluções de que a sua BD precisa, em avanços e recuos que não o convencem. E que mostram também a encruzilhada em que ele se encontra pois vai encontrar - finalmente - a tal correspondente, por quem já se apaixonou (?) numa antevisão optimista do encontro… Se bem que na antevisão em versão pessimista, ela traga uma faca para o matar…
"The three paradoxes" é, assim, uma narrativa sobre os processos da mente e a forma como eles condicionam a nossa percepção da realidade e um exercício no qual o autor joga com a forma e o conteúdo da obra que desenvolve - na sua BD e na realidade… da BD!

(Versão revista do texto publicado no Jornal de Notícias de 12 de Agosto de 2007)

10/03/2011

Cinemax


A pretexto da estreia portuguesa, hoje, do filme “As Múmias de Faraó – As Aventuras de Adèle Blanc-Sec”, de Luc Besson, - que pessoalmente aconselho - baseado na banda desenhada de Jacques Tardi, participei na gravação do programa Cinemax, nas suas duas versões (diferentes), na Antena 1 e na RTPN.
A versão áudio pode ser ouvida hoje, a partir das 23h12, com repetição dia 12, Sábado às 5h00 e às 18h00; quanto à versão televisiva, passa na RTPN, no próximo sábado, dia 12, às 20h30, repetindo dia 14, às 2h10.

Capitão América, 70 anos

Datada de Março de 1941 (embora pareça certo que foi distribuída em Dezembro do ano anterior), a “Captain America Comics” marcou a estreia de um novo super-herói, criado por Joe Simon e Jack Kirby e destinado a auxiliar o seu país na luta contra os nazis na II Guerra Mundial.
Por toda a Europa, onde as forças do Eixo tinham acabado de assinar um pacto, a guerra alastrava; na União Soviética, Trotsky, um dos líderes da Revolução Socialista era assassinado; no Norte de África, nada parecia poder deter as tropas de Mussolini; nos Estados Unidos, os preparativos para a guerra estavam a começar. Por isso, neste contexto, nada mais natural do que criar um herói que servisse de modelo, incentivasse e liderasse os jovens contra os nazis e os seus aliados.
Dessa forma, o Capitão América, sem super-poderes nem artefactos tecnológicos, dependia apenas da inteligência, da força física e da coragem. E, fora do uniforme, era Steve Rogers, numa primeira fase dispensado do exército por inaptidão física e posteriormente utilizado como cobaia de um soro especial, numa experiência que visava criar super-soldados que permitissem aos EUA sair vitoriosos do combate que se avizinhava.
Para apelar ao patrio-tismo, o novo herói, vestia as cores e os símbolos da bandeira dos Estados Unidos (as faixas, as estrelas) e tinha como única arma um escudo, que era triangular na revista de estreia, mas passou a redondo a partir da segunda, para evitar confusões (e um processo judicial) com The Shield, um herói surgido semanas antes.
O sucesso foi imediato e a revista, apesar do tom ingénuo (que hoje reconhecemos nas suas histórias), atingiu rapidamente vendas acima do milhão de exemplares – mais do que a “Times”… -, que se mantiveram mesmo com a saída da dupla de criadores no décimo número.
Ao lado do Capitão América, estava Bucky, um adolescente que por acaso descobriu a sua identidade secreta e Betty Ross, agente do governo e sua grande paixão. Mais tarde surgiriam o Falcão, Nick Fury e os Vingadores, como seus aliados nos combates pela liberdade.
Estes, de início eram contra os espiões que, nos EUA, na sombra, tentavam sabotar o esforço de guerra americano, o que não impediu que o Capitão América logo no segundo tomo, fosse até à Europa desbaratar as forças nazis e socar (literalmente) Hitler e Goering!
O fim da guerra – e a crise que se lhe seguiu – esvaziaram o interesse dos heróis patrióticos, levando ao cancelamento da revista em Fevereiro de 1950, pese embora uma tentativa vã de o transpor para a Guerra da Coreia.
E se hoje em dia morrer e ressuscitar é tão natural como respirar no universo Marvel, o Capitão América foi de certa forma um pioneiro neste aspecto. Desaparecido nas águas geladas do Oceano Ártico, na sequência de uma explosão, no final da II Guerra Mundial, sobreviveu graças ao soro que lhe fora injectado, mantendo-se em animação suspensa, até ser resgatado pelos Vingadores, já nos anos 60, pelas mãos de Stan Lee e, de novo, Kirby, vindo depois a passar pelas mãos talentosas da maior parte dos grandes criadores da Marvel-
Só que os tempos eram outros, o seu protagonismo desvaneceu-se, o seu desencanto com os “novos” EUA foi grande. Combateu então vilões comuns (sempre com o Caveira Vermelha à cabeça) e também políticos corruptos, chegando mesmo a enfrentar o governo americano quando os princípios em que acreditava eram postos em causa.
O início deste século trouxe-lhe novos adversários, os terroristas que atacaram Nova Iorque e Washington e todos aqueles que desafiam o exército americano pelo mundo. Por isso não surpreende vê-lo a servir de modelo e exemplo, nos comics que anualmente a Marvel cria para distribuição gratuita aos soldados americanos no estrangeiro.
Em tempos mais recentes, durante a saga “Guerra Civil”, que opôs super-heróis contra e a favor do registo das suas identidades secretas, os ideais que sempre defendeu fizeram dele o líder por excelência dos que, contra o governo, defendiam o direito à liberdade e à privacidade, o que culminou com a sua prisão e posterior assassinato a tiro à entrada do tribunal onde ia ser julgado. Enterrado com honras militares, o seu lugar seria ocupado por Bucky Barnes (um outro ressuscitado…). De forma temporária, no entanto, porque, pouco tempo depois, o Capitão América original regressou porque o seu legado não pode desaparecer enquanto os EUA tiverem inimigos no mundo.
Apesar do sucesso nos quadradinhos, o Capitão América só chegaria ao pequeno ecrã nos anos 60, como integrante da série animada “The Marvel Super Heroes”. Com excepção de dois filmes televisivos na década seguinte, as restantes aparições do herói, em desenhos animados, nunca foram em séries com o seu nome. Nos anos 90, o cinema dedicou-lhe um filme menor, protagonizado por Matt Salinger, e actualmente está em produção “Capitão América – O Primeiro Vingador”, com estreia prevista para Julho deste ano. Dirigido por Joe Johston, a partir do argumento de Christopher Markus e Stephen Mcfeely (que já trabalham na respectiva sequela), tem como protagonistas Chris Evans (Steve Rogers), Hugo Weaving (Caveira Vermelha), Tommy Lee Jones (General Phillips) e Hayley Atwell (Peggy Carter).

(Versão revista do texto publicado no JN de 5 de Março de 2011)

09/03/2011

Peanuts regressam aos quadradinhos

Charlie Brown, Snoopy, Lucy, Linus e os restantes companheiros vão regressar à banda desenhada já este mês. O anúncio foi feito pela editora norte-americana Kaboom!, confirmando assim os rumores que circulavam no meio dos quadradinhos, desde que os herdeiros de Schulz venderam os direitos da série à Iconix Brand Group Inc. por 175 milhões de dólares (cerca de 131,5 milhões de euros), em Abril do ano passado.
Ao contrário do que muitos pensavam, esta volta à BD não vai ser no tradicional formato de tira diária de jornal, mas sim numa novela gráfica intitulada “Happiness is a Warm Blanket, Charlie Brown” (“A felicidade é um cobertor quente, Charlie Brown”), que adapta o filme animado homónimo que também ficará disponível neste mês de Março e que assinala os 45 anos da estreia dos Peanuts na televisão.
São 80 páginas a cores, baseadas no trabalho de Schulz, com argumento do seu filho Craig Schulz e de Stephen Pastis (criador da tira de imprensa Pérolas a Porcos) e desenhadas por Bob Scott, Vicki Scott e Ron Zorman.
Pelas páginas iniciais da obra, já disponibilizadas pela Kaboom!, até agora mais conhecida pelas adaptações aos quadradinhos de criações da Disney e da Pixar (Donald Duck, The Cars, Nemo), é possível verificar que foi utilizado um estilo gráfico muito próximo do de Schulz e uma planificação dinâmica e variada.
Os Peanuts começaram a ser publicados em Outubro de 1950 e através deles, Schulz traçou um retrato duro e desencantado do mundo dos adultos, visto através de um grupo de crianças, que apresentavam todos os defeitos do ser humano. A última prancha dominical foi publicada a 13 de Fevereiro de 2000, um dia após a morte de Schulz, único responsável pelas 17 897 tiras da sua criação, pelo que esta é a primeira vez que os Peanuts têm uma assinatura diferente.
O sucesso da banda desenhada levaria os heróis de Schulz levá-los-ia a serem adaptados na televisão, em teatro e em musicais, gerando um sem número de artigos derivados, o que faz com que os respectivos direitos gerem um encaixe de cerca de 75 milhões de dólares por ano.


(Texto publicado no Jornal de Notícias de 8 de Março de 2011)
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