Aberto ao público até ontem, dia 13, o Salão Automóvel de Genebra 2011, um dos mais impor-tantes do género, teve como principais novidades diversos modelos eléctricos e com motorizações ecológicas, entre os quais está o Volkswagen Tex, um protótipo da marca alemã dedicado a Tex Willer, o mais antigo western da BD em publicação.
A viatura em questão, uma criação da Italdesign para o maior fabricante europeu de carros, é um coupé que utiliza a tecnologia Blue e-motion e o sistema de direcção Twin Drive, pois trata-se de um modelo híbrido que tanto pode funcionar a gasolina (com o seu motor de 1.4) como a electricidade (com a bateria de 85 kw). Com uma trans-missão de sete veloci-dades sequen-ciais, atinge a velocidade máxima de 220 km/h, tendo uma autonomia de 35 km quando utiliza apenas o motor eléctrico.
Giorgetto Giugiaro, o estilista que apostou na combinação entre ecologia e desportivismo, afirmou que o Volkswagen Tex “é a nossa interpretação dos carros do futuro, pensados especialmente para a cidade”. E acrescentou: “Além dos automóveis, eu e Fabrizio (o patrão da Italdesign), partilhamos outra paixão: o ranger Tex Willer, herói dos quadradinhos italianos. O Volkswagen Tex é uma homenagem aos homens que escreveram e desenharam uma página importante da nossa cultura popular”.
No caso Giovanni Luigi Bonelli (argumento) e Aurelio Galleppini (desenho), que em 1948 imaginaram o ranger, duro e com um sentido de justiça muito próprio, que fre-quente-mente o transforma em juiz e carrasco dos malfeitores que persegue. E que é um caso ímpar de popula-ridade em Itália, tendo chegado a vender mais de um milhão de exemplares mensalmente, estando na base do sucesso da editora Bonelli, que em 2007 encetou a reedição a cores das suas aventuras, com o jornal “La Reppublica” e a revista “L’Espresso”, numa colecção que, prevista para 50 números, já ultrapassou os 200 volumes.
Em Portugal, onde dispõe de um bom número de fãs, Tex está presente nos quiosques quase ininterruptamente desde a década de 1970, através de edições brasileiras de pequeno formato, que actualmente têm a chancela da Mythos Editora que, mensalmente, disponibiliza diversos títulos de Tex, entre novas histórias e reedições.
Resta saber se, em aventuras futuras, Tex Willer e o seu amigo Kit Carson vão trocar os fogosos cavalos de sempre pelo novo Volkswagen Tex! Com a certeza de que tanto eles como os seus fãs, terão que esperar até 2018, para verem o carro ser produzido em série, se tal vier a suceder.
(Versão revista do texto publicado no Jornal de Notícias de 13 de Março de 2011)
14/03/2011
Tex em 4 rodas
Leituras relacionadas
Bonelli,
Mythos,
Tex,
Volkswagen
13/03/2011
Selos & Quadradinhos (30)
Stamps & Comics / Timbres & BD (30)
Tema/subject/sujet: Banda Desenhada / Comics / Bande Dessinée
País/country/pays: Suíça / Switzerland / Suisse
Autor/author/auteur:Aloys, Cosey, Zep
Data de Emissão/Date of issue/date d'émission: 1992
Tema/subject/sujet: Banda Desenhada / Comics / Bande Dessinée
País/country/pays: Suíça / Switzerland / Suisse
Autor/author/auteur:Aloys, Cosey, Zep
Data de Emissão/Date of issue/date d'émission: 1992
Leituras relacionadas
1992,
Cosey,
Selos e Quadradinhos,
Suíça
12/03/2011
Dennis the menace
Um traquinas sexagenário
Com 5 anos, louro, sardento e um sorriso cândido, Dennis, protagonista de uma BD estreada exactamente há 60 anos nos Estados Unidos, era o exemplo perfeito de um diab(inh)o em corpo de anjo, como aliás deixava antever o seu apelido: the Menace (a ameaça).
Na verdade, justiça lhe seja feita, as diabruras provocadas pelo miúdo, conhecido em Portugal como Denis o Pimentinha, por via das edições brasileiras distribuídas em tempos no nosso país, devem-se mais à sua vontade de ajudar os outros e à inocência própria da idade, do que propriamente a um desejo de fazer o mal ou prejudicar. Só que, infelizmente para ele, “de boas intenções está o Inferno cheio”, pelo que os fundilhos das suas calças frequentemente acabam por ser fraca protecção para as palmadas com que muitas vezes terminam as confusões que originou.
Porque, importa lembrar aos mais desatentos, nos anos 1950 o (enjoativo) “politicamente correcto” era (felizmente) desconhecido e um castigo corporal justo e com a justa medida era algo de natural. Até porque, o Dennis dessa época, por vezes era bem mais rude e mesmo violento, capaz de dar um nó (literalmente) no pescoço dum cisne, de rasteirar o pai ou de dizer à mãe para não ralhar com ele porque não era marido dela.
Depois, com o passar dos anos, amoleceu um tanto, e as suas partidas e travessuras tornaram-se mais leves e inocentes, sem que isso signifique que os cartoons e bandas desenhadas tenham perdido o humor e a capacidade de divertir. Claro que não será essa a opinião dos seus pais, o casal Mitchell, nem de Mr. Wilson, o vizinho do lado, os seus alvos de eleição.
Como imagem de marca Dennis veste umas jardineiras vermelhas, geralmente sujas de lama ou chocolate, tem quase sempre o cabelo revolto e anda na companhia do seu cão Ruff, companheiro de brincadeiras e (involuntárias) partidas. Da sua roda de amigos mais próximos, alternadamente cúmplices ou vítimas, fazem parte Joey, Margaret e Gina.
O seu criador foi Hank Ketcham (1920-2001), que fez a sua aprendizagem como ilustrador nos estúdios de animação de Walter Lantz e de Walt Disney, tendo neste último participado nas longas-metragens “Fantasia”, “Bambi” e “Pinóquio”. Durante a II Guerra Mundial, baseado na sua experiência na Marinha, estreou-se nos quadradinhos com o marinheiro Half Hitch, surgindo em 1951 a sua grande criação, o traquina Dennis the Menace, que, estreado em apenas 18 jornais, em poucos meses chegava já a mais de uma centena e, nos seus tempos áureos foi publicado em mais de um milhar de títulos, por todo o mundo.
Originalmente, Dennis protagonizava cartoons de imagem única, pontualmente divididos em duas vinhetas verticais. O seu sucesso imediato levaria o autor a desenvolver uma prancha dominical, logo no ano seguinte, e à criação de uma revista homónima, em 1953, que, anos mais tarde, ostentaria o selo da Marvel. Ketcham, com recurso a alguns assistentes, assumiu a sua criação até 1994, quando se reformou. A popularidade de Dennis faz com que continue em publicação nos nossos dias, agora assinado por Marcus Hamilton e Ron Ferdinand.
A Fantagraphics Books, a exemplo dos Peantus, tem em curso a reedição integral da obra de Ketcham, e no ano passado, os correios norte-americanos incluíram Dennis the menace (juntamente com Calvin, Garfield, Beetle Bailey e Archie) numa emissão filatélica intitulada Sunday Funnies Stamp.
Do papel, a ameaça saltou para o audiovisual em 1959, numa série televisiva protagonizada por Jay North que durou 4 anos. Regressaria no final da década de 80, em 78 episódios animados, antes de fazer a sua estreia cinematográfica em 1993, com Mason Gamble como protagonista e Walther Matthau como o infeliz Mr. Wilson.
Curiosamente, a 17 de Março de 1951, apenas 5 dias após a estreia do Pimentinha, estreava no reino Unido um outro Dennis the Menace, posteriormente baptizado de Dennis and Gnasher (o seu cão), para evitar confusões.
Publicado na revista infantil “The Beano”, é a banda desenhada mais antiga em publicação em Inglaterra, tendo como protagonista um miúdo considerado “o mais malcriado do mundo”. Criado por David Law, que o assinou até 1970, passaria depois pelas mãos de diversos autores, entre eles David Sutherland e David Parkins.
Este Dennis, que já teve duas adaptações animadas televisivas, é em tudo diferente do seu homónimo americano: mais velho, mais alto, tem cabelo escuro, usa camisola às riscas vermelhas e pretas e é também mais indisciplinado e malvado.
(Versão revista e aumentada do texto publicado no Jornal de Notícias de 12 de Março de 2011)
Com 5 anos, louro, sardento e um sorriso cândido, Dennis, protagonista de uma BD estreada exactamente há 60 anos nos Estados Unidos, era o exemplo perfeito de um diab(inh)o em corpo de anjo, como aliás deixava antever o seu apelido: the Menace (a ameaça).
Na verdade, justiça lhe seja feita, as diabruras provocadas pelo miúdo, conhecido em Portugal como Denis o Pimentinha, por via das edições brasileiras distribuídas em tempos no nosso país, devem-se mais à sua vontade de ajudar os outros e à inocência própria da idade, do que propriamente a um desejo de fazer o mal ou prejudicar. Só que, infelizmente para ele, “de boas intenções está o Inferno cheio”, pelo que os fundilhos das suas calças frequentemente acabam por ser fraca protecção para as palmadas com que muitas vezes terminam as confusões que originou.
Porque, importa lembrar aos mais desatentos, nos anos 1950 o (enjoativo) “politicamente correcto” era (felizmente) desconhecido e um castigo corporal justo e com a justa medida era algo de natural. Até porque, o Dennis dessa época, por vezes era bem mais rude e mesmo violento, capaz de dar um nó (literalmente) no pescoço dum cisne, de rasteirar o pai ou de dizer à mãe para não ralhar com ele porque não era marido dela.
Depois, com o passar dos anos, amoleceu um tanto, e as suas partidas e travessuras tornaram-se mais leves e inocentes, sem que isso signifique que os cartoons e bandas desenhadas tenham perdido o humor e a capacidade de divertir. Claro que não será essa a opinião dos seus pais, o casal Mitchell, nem de Mr. Wilson, o vizinho do lado, os seus alvos de eleição.
Como imagem de marca Dennis veste umas jardineiras vermelhas, geralmente sujas de lama ou chocolate, tem quase sempre o cabelo revolto e anda na companhia do seu cão Ruff, companheiro de brincadeiras e (involuntárias) partidas. Da sua roda de amigos mais próximos, alternadamente cúmplices ou vítimas, fazem parte Joey, Margaret e Gina.
O seu criador foi Hank Ketcham (1920-2001), que fez a sua aprendizagem como ilustrador nos estúdios de animação de Walter Lantz e de Walt Disney, tendo neste último participado nas longas-metragens “Fantasia”, “Bambi” e “Pinóquio”. Durante a II Guerra Mundial, baseado na sua experiência na Marinha, estreou-se nos quadradinhos com o marinheiro Half Hitch, surgindo em 1951 a sua grande criação, o traquina Dennis the Menace, que, estreado em apenas 18 jornais, em poucos meses chegava já a mais de uma centena e, nos seus tempos áureos foi publicado em mais de um milhar de títulos, por todo o mundo.
Originalmente, Dennis protagonizava cartoons de imagem única, pontualmente divididos em duas vinhetas verticais. O seu sucesso imediato levaria o autor a desenvolver uma prancha dominical, logo no ano seguinte, e à criação de uma revista homónima, em 1953, que, anos mais tarde, ostentaria o selo da Marvel. Ketcham, com recurso a alguns assistentes, assumiu a sua criação até 1994, quando se reformou. A popularidade de Dennis faz com que continue em publicação nos nossos dias, agora assinado por Marcus Hamilton e Ron Ferdinand.
A Fantagraphics Books, a exemplo dos Peantus, tem em curso a reedição integral da obra de Ketcham, e no ano passado, os correios norte-americanos incluíram Dennis the menace (juntamente com Calvin, Garfield, Beetle Bailey e Archie) numa emissão filatélica intitulada Sunday Funnies Stamp.
Do papel, a ameaça saltou para o audiovisual em 1959, numa série televisiva protagonizada por Jay North que durou 4 anos. Regressaria no final da década de 80, em 78 episódios animados, antes de fazer a sua estreia cinematográfica em 1993, com Mason Gamble como protagonista e Walther Matthau como o infeliz Mr. Wilson.
Curiosamente, a 17 de Março de 1951, apenas 5 dias após a estreia do Pimentinha, estreava no reino Unido um outro Dennis the Menace, posteriormente baptizado de Dennis and Gnasher (o seu cão), para evitar confusões.
Publicado na revista infantil “The Beano”, é a banda desenhada mais antiga em publicação em Inglaterra, tendo como protagonista um miúdo considerado “o mais malcriado do mundo”. Criado por David Law, que o assinou até 1970, passaria depois pelas mãos de diversos autores, entre eles David Sutherland e David Parkins.
Este Dennis, que já teve duas adaptações animadas televisivas, é em tudo diferente do seu homónimo americano: mais velho, mais alto, tem cabelo escuro, usa camisola às riscas vermelhas e pretas e é também mais indisciplinado e malvado.
(Versão revista e aumentada do texto publicado no Jornal de Notícias de 12 de Março de 2011)
Leituras relacionadas
Dennis the Menace,
Efeméride,
Ketcham
11/03/2011
Rui Ricardo na Mundo Fantasma
Data: 12 de Março a 1 de Maio de 2011
Local: Galeria Mundo Fantasma, loja 510, Centro Comercial Brasília, Porto
Horário: de 2ª a sábado, das 10h às 20h: Domingo das 15h às 19h
Amanhã, sábado, abre ao público na galeria Mundo Fantasma a exposição “Seduce and Destroy”, constituída por duas dezenas de ilustrações do portuense Rui Ricardo.
O autor, que estará presente na inauguração, publica desde os 15 anos de idade, dividindo a sua actividade artística entre a ilustração e a banda desenhada. Neste último campo, tem vários livros publicados, destacando-se “Superfuzz #1 – vai sonhando Paiva” (Devir), inicialmente publicado no jornal Blitz, “Sonho sem fim” (ASA), uma biografia de Pedro Couceiro, e obras mais pessoais como “Jogos Humanos” (ASIBDP) e “Canção do bandido” (Polvo).
Concluído o curso de Designer Gráfico da Faculdade de Belas Artes do Porto, Rui Ricardo entrou no mundo da animação através de um convite para participar na criação dos cenários digitais da série televisiva Major Alvega, tendo durante oito anos dividido o seu tempo também pela publicidade e video clip’s.
Regressado ao desenho, como freelancer, adoptou uma linha clara onde é notória a influência da estética manga, que tem aplicado em cartazes, campanhas e ilustração editorial. Hoje, é representado pela agência inglesa Folio, tendo colaboração publicada em jornais e revistas como FHM, Men’s Fitness, The Times, The Telegraph, The Mail on Sunday, GQ, Popular Mehanics ou Marketing Week.
A exposição, que é constituída por ilustrações recentes do autor, ficará patente até 1 de Maio na galeria Mundo Fantasma, no Centro Comercial Brasília, no Porto, é complementada com a edição de um giclé (impressão em papel especial) de tiragem limitada, numerado e assinado por Rui Ricardo.
Local: Galeria Mundo Fantasma, loja 510, Centro Comercial Brasília, Porto
Horário: de 2ª a sábado, das 10h às 20h: Domingo das 15h às 19h
Amanhã, sábado, abre ao público na galeria Mundo Fantasma a exposição “Seduce and Destroy”, constituída por duas dezenas de ilustrações do portuense Rui Ricardo.
O autor, que estará presente na inauguração, publica desde os 15 anos de idade, dividindo a sua actividade artística entre a ilustração e a banda desenhada. Neste último campo, tem vários livros publicados, destacando-se “Superfuzz #1 – vai sonhando Paiva” (Devir), inicialmente publicado no jornal Blitz, “Sonho sem fim” (ASA), uma biografia de Pedro Couceiro, e obras mais pessoais como “Jogos Humanos” (ASIBDP) e “Canção do bandido” (Polvo).
Concluído o curso de Designer Gráfico da Faculdade de Belas Artes do Porto, Rui Ricardo entrou no mundo da animação através de um convite para participar na criação dos cenários digitais da série televisiva Major Alvega, tendo durante oito anos dividido o seu tempo também pela publicidade e video clip’s.
Regressado ao desenho, como freelancer, adoptou uma linha clara onde é notória a influência da estética manga, que tem aplicado em cartazes, campanhas e ilustração editorial. Hoje, é representado pela agência inglesa Folio, tendo colaboração publicada em jornais e revistas como FHM, Men’s Fitness, The Times, The Telegraph, The Mail on Sunday, GQ, Popular Mehanics ou Marketing Week.
A exposição, que é constituída por ilustrações recentes do autor, ficará patente até 1 de Maio na galeria Mundo Fantasma, no Centro Comercial Brasília, no Porto, é complementada com a edição de um giclé (impressão em papel especial) de tiragem limitada, numerado e assinado por Rui Ricardo.
Leituras relacionadas
BD para ver,
Mundo Fantasma,
Rui Ricardo
The three paradoxes
Paul Hornschemeier (argumento e desenho)
Fantagraphics Books (EUA, 2007)
165x216 mm, 80 p., cor, brochado com badanas, 16,99 $USD
Que têm em comum o princípio da inexistência de movimento dos filósofos Zenão e Parménidas, os processos de criação em BD e a autobiografia?
A(s) resposta(s) encontra(m)-se (ou não…) em "The three paradoxes", no qual Paul Honrschemeier começa por reflectir sobre a criação em BD, quando não consegue definir uma sequência para a BD que cria. Abandona-a, por isso, para ir dar um passeio nocturno com o pai, a pretexto de fazer fotos dos seus lugares de infância para uma correspondente online, mas buscando isso sim a companhia (a segurança?) do progenitor.
Só que aqueles lugares trazem memórias, muitas memórias - que Honrschemeier vai narrando, em histórias paralelas, de traço e estilo diferentes, que revelam diferentes influências gráficas até - vincando o carácter autobiográfico do livro.
Nessas recordações aleatórias, ele procura as soluções de que a sua BD precisa, em avanços e recuos que não o convencem. E que mostram também a encruzilhada em que ele se encontra pois vai encontrar - finalmente - a tal correspondente, por quem já se apaixonou (?) numa antevisão optimista do encontro… Se bem que na antevisão em versão pessimista, ela traga uma faca para o matar…
"The three paradoxes" é, assim, uma narrativa sobre os processos da mente e a forma como eles condicionam a nossa percepção da realidade e um exercício no qual o autor joga com a forma e o conteúdo da obra que desenvolve - na sua BD e na realidade… da BD!
(Versão revista do texto publicado no Jornal de Notícias de 12 de Agosto de 2007)
Fantagraphics Books (EUA, 2007)
165x216 mm, 80 p., cor, brochado com badanas, 16,99 $USD
Que têm em comum o princípio da inexistência de movimento dos filósofos Zenão e Parménidas, os processos de criação em BD e a autobiografia?
A(s) resposta(s) encontra(m)-se (ou não…) em "The three paradoxes", no qual Paul Honrschemeier começa por reflectir sobre a criação em BD, quando não consegue definir uma sequência para a BD que cria. Abandona-a, por isso, para ir dar um passeio nocturno com o pai, a pretexto de fazer fotos dos seus lugares de infância para uma correspondente online, mas buscando isso sim a companhia (a segurança?) do progenitor.
Só que aqueles lugares trazem memórias, muitas memórias - que Honrschemeier vai narrando, em histórias paralelas, de traço e estilo diferentes, que revelam diferentes influências gráficas até - vincando o carácter autobiográfico do livro.
Nessas recordações aleatórias, ele procura as soluções de que a sua BD precisa, em avanços e recuos que não o convencem. E que mostram também a encruzilhada em que ele se encontra pois vai encontrar - finalmente - a tal correspondente, por quem já se apaixonou (?) numa antevisão optimista do encontro… Se bem que na antevisão em versão pessimista, ela traga uma faca para o matar…
"The three paradoxes" é, assim, uma narrativa sobre os processos da mente e a forma como eles condicionam a nossa percepção da realidade e um exercício no qual o autor joga com a forma e o conteúdo da obra que desenvolve - na sua BD e na realidade… da BD!
(Versão revista do texto publicado no Jornal de Notícias de 12 de Agosto de 2007)
Leituras relacionadas
Fantagraphics,
Hornschemeier
10/03/2011
Cinemax
A pretexto da estreia portuguesa, hoje, do filme “As Múmias de Faraó – As Aventuras de Adèle Blanc-Sec”, de Luc Besson, - que pessoalmente aconselho - baseado na banda desenhada de Jacques Tardi, participei na gravação do programa Cinemax, nas suas duas versões (diferentes), na Antena 1 e na RTPN.
A versão áudio pode ser ouvida hoje, a partir das 23h12, com repetição dia 12, Sábado às 5h00 e às 18h00; quanto à versão televisiva, passa na RTPN, no próximo sábado, dia 12, às 20h30, repetindo dia 14, às 2h10.
A versão áudio pode ser ouvida hoje, a partir das 23h12, com repetição dia 12, Sábado às 5h00 e às 18h00; quanto à versão televisiva, passa na RTPN, no próximo sábado, dia 12, às 20h30, repetindo dia 14, às 2h10.
Capitão América, 70 anos
Datada de Março de 1941 (embora pareça certo que foi distribuída em Dezembro do ano anterior), a “Captain America Comics” marcou a estreia de um novo super-herói, criado por Joe Simon e Jack Kirby e destinado a auxiliar o seu país na luta contra os nazis na II Guerra Mundial.
Por toda a Europa, onde as forças do Eixo tinham acabado de assinar um pacto, a guerra alastrava; na União Soviética, Trotsky, um dos líderes da Revolução Socialista era assassinado; no Norte de África, nada parecia poder deter as tropas de Mussolini; nos Estados Unidos, os preparativos para a guerra estavam a começar. Por isso, neste contexto, nada mais natural do que criar um herói que servisse de modelo, incentivasse e liderasse os jovens contra os nazis e os seus aliados.
Dessa forma, o Capitão América, sem super-poderes nem artefactos tecnológicos, dependia apenas da inteligência, da força física e da coragem. E, fora do uniforme, era Steve Rogers, numa primeira fase dispensado do exército por inaptidão física e posteriormente utilizado como cobaia de um soro especial, numa experiência que visava criar super-soldados que permitissem aos EUA sair vitoriosos do combate que se avizinhava.
Para apelar ao patrio-tismo, o novo herói, vestia as cores e os símbolos da bandeira dos Estados Unidos (as faixas, as estrelas) e tinha como única arma um escudo, que era triangular na revista de estreia, mas passou a redondo a partir da segunda, para evitar confusões (e um processo judicial) com The Shield, um herói surgido semanas antes.
O sucesso foi imediato e a revista, apesar do tom ingénuo (que hoje reconhecemos nas suas histórias), atingiu rapidamente vendas acima do milhão de exemplares – mais do que a “Times”… -, que se mantiveram mesmo com a saída da dupla de criadores no décimo número.
Por toda a Europa, onde as forças do Eixo tinham acabado de assinar um pacto, a guerra alastrava; na União Soviética, Trotsky, um dos líderes da Revolução Socialista era assassinado; no Norte de África, nada parecia poder deter as tropas de Mussolini; nos Estados Unidos, os preparativos para a guerra estavam a começar. Por isso, neste contexto, nada mais natural do que criar um herói que servisse de modelo, incentivasse e liderasse os jovens contra os nazis e os seus aliados.
Dessa forma, o Capitão América, sem super-poderes nem artefactos tecnológicos, dependia apenas da inteligência, da força física e da coragem. E, fora do uniforme, era Steve Rogers, numa primeira fase dispensado do exército por inaptidão física e posteriormente utilizado como cobaia de um soro especial, numa experiência que visava criar super-soldados que permitissem aos EUA sair vitoriosos do combate que se avizinhava.
Para apelar ao patrio-tismo, o novo herói, vestia as cores e os símbolos da bandeira dos Estados Unidos (as faixas, as estrelas) e tinha como única arma um escudo, que era triangular na revista de estreia, mas passou a redondo a partir da segunda, para evitar confusões (e um processo judicial) com The Shield, um herói surgido semanas antes.
O sucesso foi imediato e a revista, apesar do tom ingénuo (que hoje reconhecemos nas suas histórias), atingiu rapidamente vendas acima do milhão de exemplares – mais do que a “Times”… -, que se mantiveram mesmo com a saída da dupla de criadores no décimo número.
Ao lado do Capitão América, estava Bucky, um adolescente que por acaso descobriu a sua identidade secreta e Betty Ross, agente do governo e sua grande paixão. Mais tarde surgiriam o Falcão, Nick Fury e os Vingadores, como seus aliados nos combates pela liberdade.
Estes, de início eram contra os espiões que, nos EUA, na sombra, tentavam sabotar o esforço de guerra americano, o que não impediu que o Capitão América logo no segundo tomo, fosse até à Europa desbaratar as forças nazis e socar (literalmente) Hitler e Goering!
O fim da guerra – e a crise que se lhe seguiu – esvaziaram o interesse dos heróis patrióticos, levando ao cancelamento da revista em Fevereiro de 1950, pese embora uma tentativa vã de o transpor para a Guerra da Coreia.
E se hoje em dia morrer e ressuscitar é tão natural como respirar no universo Marvel, o Capitão América foi de certa forma um pioneiro neste aspecto. Desaparecido nas águas geladas do Oceano Ártico, na sequência de uma explosão, no final da II Guerra Mundial, sobreviveu graças ao soro que lhe fora injectado, mantendo-se em animação suspensa, até ser resgatado pelos Vingadores, já nos anos 60, pelas mãos de Stan Lee e, de novo, Kirby, vindo depois a passar pelas mãos talentosas da maior parte dos grandes criadores da Marvel-
Só que os tempos eram outros, o seu protagonismo desvaneceu-se, o seu desencanto com os “novos” EUA foi grande. Combateu então vilões comuns (sempre com o Caveira Vermelha à cabeça) e também políticos corruptos, chegando mesmo a enfrentar o governo americano quando os princípios em que acreditava eram postos em causa.
O início deste século trouxe-lhe novos adversários, os terroristas que atacaram Nova Iorque e Washington e todos aqueles que desafiam o exército americano pelo mundo. Por isso não surpreende vê-lo a servir de modelo e exemplo, nos comics que anualmente a Marvel cria para distribuição gratuita aos soldados americanos no estrangeiro.
Em tempos mais recentes, durante a saga “Guerra Civil”, que opôs super-heróis contra e a favor do registo das suas identidades secretas, os ideais que sempre defendeu fizeram dele o líder por excelência dos que, contra o governo, defendiam o direito à liberdade e à privacidade, o que culminou com a sua prisão e posterior assassinato a tiro à entrada do tribunal onde ia ser julgado. Enterrado com honras militares, o seu lugar seria ocupado por Bucky Barnes (um outro ressuscitado…). De forma temporária, no entanto, porque, pouco tempo depois, o Capitão América original regressou porque o seu legado não pode desaparecer enquanto os EUA tiverem inimigos no mundo.
Apesar do sucesso nos quadradinhos, o Capitão América só chegaria ao pequeno ecrã nos anos 60, como integrante da série animada “The Marvel Super Heroes”. Com excepção de dois filmes televisivos na década seguinte, as restantes aparições do herói, em desenhos animados, nunca foram em séries com o seu nome. Nos anos 90, o cinema dedicou-lhe um filme menor, protagonizado por Matt Salinger, e actualmente está em produção “Capitão América – O Primeiro Vingador”, com estreia prevista para Julho deste ano. Dirigido por Joe Johston, a partir do argumento de Christopher Markus e Stephen Mcfeely (que já trabalham na respectiva sequela), tem como protagonistas Chris Evans (Steve Rogers), Hugo Weaving (Caveira Vermelha), Tommy Lee Jones (General Phillips) e Hayley Atwell (Peggy Carter).
(Versão revista do texto publicado no JN de 5 de Março de 2011)
Estes, de início eram contra os espiões que, nos EUA, na sombra, tentavam sabotar o esforço de guerra americano, o que não impediu que o Capitão América logo no segundo tomo, fosse até à Europa desbaratar as forças nazis e socar (literalmente) Hitler e Goering!
O fim da guerra – e a crise que se lhe seguiu – esvaziaram o interesse dos heróis patrióticos, levando ao cancelamento da revista em Fevereiro de 1950, pese embora uma tentativa vã de o transpor para a Guerra da Coreia.
E se hoje em dia morrer e ressuscitar é tão natural como respirar no universo Marvel, o Capitão América foi de certa forma um pioneiro neste aspecto. Desaparecido nas águas geladas do Oceano Ártico, na sequência de uma explosão, no final da II Guerra Mundial, sobreviveu graças ao soro que lhe fora injectado, mantendo-se em animação suspensa, até ser resgatado pelos Vingadores, já nos anos 60, pelas mãos de Stan Lee e, de novo, Kirby, vindo depois a passar pelas mãos talentosas da maior parte dos grandes criadores da Marvel-
Só que os tempos eram outros, o seu protagonismo desvaneceu-se, o seu desencanto com os “novos” EUA foi grande. Combateu então vilões comuns (sempre com o Caveira Vermelha à cabeça) e também políticos corruptos, chegando mesmo a enfrentar o governo americano quando os princípios em que acreditava eram postos em causa.
O início deste século trouxe-lhe novos adversários, os terroristas que atacaram Nova Iorque e Washington e todos aqueles que desafiam o exército americano pelo mundo. Por isso não surpreende vê-lo a servir de modelo e exemplo, nos comics que anualmente a Marvel cria para distribuição gratuita aos soldados americanos no estrangeiro.
Em tempos mais recentes, durante a saga “Guerra Civil”, que opôs super-heróis contra e a favor do registo das suas identidades secretas, os ideais que sempre defendeu fizeram dele o líder por excelência dos que, contra o governo, defendiam o direito à liberdade e à privacidade, o que culminou com a sua prisão e posterior assassinato a tiro à entrada do tribunal onde ia ser julgado. Enterrado com honras militares, o seu lugar seria ocupado por Bucky Barnes (um outro ressuscitado…). De forma temporária, no entanto, porque, pouco tempo depois, o Capitão América original regressou porque o seu legado não pode desaparecer enquanto os EUA tiverem inimigos no mundo.
Apesar do sucesso nos quadradinhos, o Capitão América só chegaria ao pequeno ecrã nos anos 60, como integrante da série animada “The Marvel Super Heroes”. Com excepção de dois filmes televisivos na década seguinte, as restantes aparições do herói, em desenhos animados, nunca foram em séries com o seu nome. Nos anos 90, o cinema dedicou-lhe um filme menor, protagonizado por Matt Salinger, e actualmente está em produção “Capitão América – O Primeiro Vingador”, com estreia prevista para Julho deste ano. Dirigido por Joe Johston, a partir do argumento de Christopher Markus e Stephen Mcfeely (que já trabalham na respectiva sequela), tem como protagonistas Chris Evans (Steve Rogers), Hugo Weaving (Caveira Vermelha), Tommy Lee Jones (General Phillips) e Hayley Atwell (Peggy Carter).
(Versão revista do texto publicado no JN de 5 de Março de 2011)
Leituras relacionadas
Capitão América,
Efeméride,
Marvel
09/03/2011
Peanuts regressam aos quadradinhos
Charlie Brown, Snoopy, Lucy, Linus e os restantes companheiros vão regressar à banda desenhada já este mês. O anúncio foi feito pela editora norte-americana Kaboom!, confirmando assim os rumores que circulavam no meio dos quadradinhos, desde que os herdeiros de Schulz venderam os direitos da série à Iconix Brand Group Inc. por 175 milhões de dólares (cerca de 131,5 milhões de euros), em Abril do ano passado.
Ao contrário do que muitos pensavam, esta volta à BD não vai ser no tradicional formato de tira diária de jornal, mas sim numa novela gráfica intitulada “Happiness is a Warm Blanket, Charlie Brown” (“A felicidade é um cobertor quente, Charlie Brown”), que adapta o filme animado homónimo que também ficará disponível neste mês de Março e que assinala os 45 anos da estreia dos Peanuts na televisão.
São 80 páginas a cores, baseadas no trabalho de Schulz, com argumento do seu filho Craig Schulz e de Stephen Pastis (criador da tira de imprensa Pérolas a Porcos) e desenhadas por Bob Scott, Vicki Scott e Ron Zorman.
Pelas páginas iniciais da obra, já disponibilizadas pela Kaboom!, até agora mais conhecida pelas adaptações aos quadradinhos de criações da Disney e da Pixar (Donald Duck, The Cars, Nemo), é possível verificar que foi utilizado um estilo gráfico muito próximo do de Schulz e uma planificação dinâmica e variada.
Os Peanuts começaram a ser publicados em Outubro de 1950 e através deles, Schulz traçou um retrato duro e desencantado do mundo dos adultos, visto através de um grupo de crianças, que apresentavam todos os defeitos do ser humano. A última prancha dominical foi publicada a 13 de Fevereiro de 2000, um dia após a morte de Schulz, único responsável pelas 17 897 tiras da sua criação, pelo que esta é a primeira vez que os Peanuts têm uma assinatura diferente.
O sucesso da banda desenhada levaria os heróis de Schulz levá-los-ia a serem adaptados na televisão, em teatro e em musicais, gerando um sem número de artigos derivados, o que faz com que os respectivos direitos gerem um encaixe de cerca de 75 milhões de dólares por ano.
(Texto publicado no Jornal de Notícias de 8 de Março de 2011)
Ao contrário do que muitos pensavam, esta volta à BD não vai ser no tradicional formato de tira diária de jornal, mas sim numa novela gráfica intitulada “Happiness is a Warm Blanket, Charlie Brown” (“A felicidade é um cobertor quente, Charlie Brown”), que adapta o filme animado homónimo que também ficará disponível neste mês de Março e que assinala os 45 anos da estreia dos Peanuts na televisão.
São 80 páginas a cores, baseadas no trabalho de Schulz, com argumento do seu filho Craig Schulz e de Stephen Pastis (criador da tira de imprensa Pérolas a Porcos) e desenhadas por Bob Scott, Vicki Scott e Ron Zorman.
Pelas páginas iniciais da obra, já disponibilizadas pela Kaboom!, até agora mais conhecida pelas adaptações aos quadradinhos de criações da Disney e da Pixar (Donald Duck, The Cars, Nemo), é possível verificar que foi utilizado um estilo gráfico muito próximo do de Schulz e uma planificação dinâmica e variada.
Os Peanuts começaram a ser publicados em Outubro de 1950 e através deles, Schulz traçou um retrato duro e desencantado do mundo dos adultos, visto através de um grupo de crianças, que apresentavam todos os defeitos do ser humano. A última prancha dominical foi publicada a 13 de Fevereiro de 2000, um dia após a morte de Schulz, único responsável pelas 17 897 tiras da sua criação, pelo que esta é a primeira vez que os Peanuts têm uma assinatura diferente.
O sucesso da banda desenhada levaria os heróis de Schulz levá-los-ia a serem adaptados na televisão, em teatro e em musicais, gerando um sem número de artigos derivados, o que faz com que os respectivos direitos gerem um encaixe de cerca de 75 milhões de dólares por ano.
(Texto publicado no Jornal de Notícias de 8 de Março de 2011)
08/03/2011
Tintin
#11 – O Segredo do Licorne
#12 – O Tesouro de Rackham, o terrível
Hergé (argumento e desenho)
Edições ASA (Portugal, Setembro de 2010)
160 x 220 mm, 64 p., cor, cartonado, 8,90 €
Entre as muitas leituras aos quadradinhos que faço, confesso que Tintin tem (continua a ter) um lugar especial. Não por nostalgia de infância porque, se é verdade que o li – parcialmente - em criança, a minha relação – voluntária e consciente - com Tintin surgiu bem mais tarde e tem, por isso, mais contornos de relação estável e duradoura do que de paixão avassaladora mas passageira. Até porque, cada nova leitura, me leva a (re)descobrir novos motivos para admirar a obra-prima de Hergé.
Entre os diversos álbuns com as suas aventuras, “O Segredo do Licorne”, não sendo o meu preferido – esse destaque vai sem dúvida para “Tintin no Tibete” e “As Jóias da Castafiore” – será o que mais memórias me evoca. Curiosamente, em contradição com o que atrás escrevi. Porque o descobri – incompleto – em páginas de velhos exemplares de O Papagaio existentes em casa da minha avó e nelas, muitas vezes, o reli – incompleto, reforço – sem saber se e como Tintin chegaria a encontrar o famoso tesouro de Rackham, o Terrível.
Se este facto é determinante para o peso ”sentimental” que ele tem para mim, a verdade é que este álbum, melhor, o díptico “O Segredo do Licorne”/”O Tesouro de Rackham, o Terrível”, tem tudo para seduzir e conquistar qualquer leitor que a ele chegue sem preconceitos.
Desde logo, porque é, sem dúvida, um dos argumentos mais sólidos de Hergé, baseado na sempre motivadora busca de um tesouro, feita através de um inquérito, longo e recheado de percalços em que humor e mistério se combinam com perfeição.
Depois, porque é nele que se solidifica a relação do repórter com Haddock e é nele que se estreia Girassol. Também porque nele os Dupond/t têm um papel fundamental, não tanto como heróis, mas ainda como co-protagonistas com o papel – mais importante do que por vezes se pensa - de atenuar o clima de mistério, graças aos sucessivos disparates que dizem e fazem. E não deixa de ser curioso analisar como todos eles vieram, de alguma forma, ocupar um espaço que até agora (praticamente só) Milu preenchia, enquanto companhia, elemento de salvação e/ou de introdução de humor.
Voltando à questão do argumento, na construção da (longa) narrativa, veja-se como, em especial no primeiro álbum, ela funciona em blocos, de alguma forma autónomos, mas perfeitamente interligados e contribuintes imprescindíveis para o todo: a Feira da Ladra, a insistência pela caravela, a (fabulosa) recriação da história do Cavaleiro de Hadoque (com os paralelos entre o passado e o empolgado Haddock no presente), o carteirista, o rapto e prisão de Tintin, o confronto com os irmãos Pardal, a sua libertação.
E como, no segundo tomo, a tensão cresce, a expectativa aumenta, a curiosidade do leitor é incontrolável num relato em que, na verdade… se pode mesmo dizer que nada acontece! Porque se há uma busca a decorrer, sucedem-se os equívocos, os falhanços, as desilusões.
Tudo narrado com mestria, com uma técnica gráfica e narrativa inigualável, apurada, de uma enorme legibilidade, atraente e expressiva, aqui com um recurso pouco comum a vinhetas grandes. E com um perfeito controle do desenrolar das cenas, das atitudes das personagens, dos diálogos estabelecidos, com os momentos de tensão, de dúvida, de suspense a multiplicarem-se no final de cada prancha (a isso obrigava a publicação semanal em revista), sem uma quebra, um erro…
Tudo motivos para o leitor chegar ao final da leitura satisfeito, recompensado pelo tempo empregue. Tenha sido a primeira ou a vigésima vez que a fez.
E com a certeza que, depois deste díptico, nada ficou como dantes. Tintin, encontrou uma casa – o Castelo de Moulinsart – e uma família estável – Milu, Haddock, Girassol, os Dupond/t. As bases para o melhor período do herói – menos espontâneo, mais genial… - sobre o qual, possivelmente, virei a escrever (algumas vezes mais) aqui.
#12 – O Tesouro de Rackham, o terrível
Hergé (argumento e desenho)
Edições ASA (Portugal, Setembro de 2010)
160 x 220 mm, 64 p., cor, cartonado, 8,90 €
Entre as muitas leituras aos quadradinhos que faço, confesso que Tintin tem (continua a ter) um lugar especial. Não por nostalgia de infância porque, se é verdade que o li – parcialmente - em criança, a minha relação – voluntária e consciente - com Tintin surgiu bem mais tarde e tem, por isso, mais contornos de relação estável e duradoura do que de paixão avassaladora mas passageira. Até porque, cada nova leitura, me leva a (re)descobrir novos motivos para admirar a obra-prima de Hergé.
Entre os diversos álbuns com as suas aventuras, “O Segredo do Licorne”, não sendo o meu preferido – esse destaque vai sem dúvida para “Tintin no Tibete” e “As Jóias da Castafiore” – será o que mais memórias me evoca. Curiosamente, em contradição com o que atrás escrevi. Porque o descobri – incompleto – em páginas de velhos exemplares de O Papagaio existentes em casa da minha avó e nelas, muitas vezes, o reli – incompleto, reforço – sem saber se e como Tintin chegaria a encontrar o famoso tesouro de Rackham, o Terrível.
Se este facto é determinante para o peso ”sentimental” que ele tem para mim, a verdade é que este álbum, melhor, o díptico “O Segredo do Licorne”/”O Tesouro de Rackham, o Terrível”, tem tudo para seduzir e conquistar qualquer leitor que a ele chegue sem preconceitos.
Desde logo, porque é, sem dúvida, um dos argumentos mais sólidos de Hergé, baseado na sempre motivadora busca de um tesouro, feita através de um inquérito, longo e recheado de percalços em que humor e mistério se combinam com perfeição.
Depois, porque é nele que se solidifica a relação do repórter com Haddock e é nele que se estreia Girassol. Também porque nele os Dupond/t têm um papel fundamental, não tanto como heróis, mas ainda como co-protagonistas com o papel – mais importante do que por vezes se pensa - de atenuar o clima de mistério, graças aos sucessivos disparates que dizem e fazem. E não deixa de ser curioso analisar como todos eles vieram, de alguma forma, ocupar um espaço que até agora (praticamente só) Milu preenchia, enquanto companhia, elemento de salvação e/ou de introdução de humor.
Voltando à questão do argumento, na construção da (longa) narrativa, veja-se como, em especial no primeiro álbum, ela funciona em blocos, de alguma forma autónomos, mas perfeitamente interligados e contribuintes imprescindíveis para o todo: a Feira da Ladra, a insistência pela caravela, a (fabulosa) recriação da história do Cavaleiro de Hadoque (com os paralelos entre o passado e o empolgado Haddock no presente), o carteirista, o rapto e prisão de Tintin, o confronto com os irmãos Pardal, a sua libertação.
E como, no segundo tomo, a tensão cresce, a expectativa aumenta, a curiosidade do leitor é incontrolável num relato em que, na verdade… se pode mesmo dizer que nada acontece! Porque se há uma busca a decorrer, sucedem-se os equívocos, os falhanços, as desilusões.
Tudo narrado com mestria, com uma técnica gráfica e narrativa inigualável, apurada, de uma enorme legibilidade, atraente e expressiva, aqui com um recurso pouco comum a vinhetas grandes. E com um perfeito controle do desenrolar das cenas, das atitudes das personagens, dos diálogos estabelecidos, com os momentos de tensão, de dúvida, de suspense a multiplicarem-se no final de cada prancha (a isso obrigava a publicação semanal em revista), sem uma quebra, um erro…
Tudo motivos para o leitor chegar ao final da leitura satisfeito, recompensado pelo tempo empregue. Tenha sido a primeira ou a vigésima vez que a fez.
E com a certeza que, depois deste díptico, nada ficou como dantes. Tintin, encontrou uma casa – o Castelo de Moulinsart – e uma família estável – Milu, Haddock, Girassol, os Dupond/t. As bases para o melhor período do herói – menos espontâneo, mais genial… - sobre o qual, possivelmente, virei a escrever (algumas vezes mais) aqui.
07/03/2011
Portugueses na Marvel
Lançados em meados de Fevereiro nos Estados Unidos, chegam no início desta semana, às lojas nacionais especializadas em banda desenhada importada, dois comics de super-heróis com participação portuguesa na sua autoria.
Um deles é o primeiro dos quatro números previstos de “Onslaught Unleashed”, que fica como a primeira mini-série desenhada por um artista português, no caso Filipe Andrade. Esta narrativa de Sean McKeever, um argumentista de primeira linha, que reúne o Capitão América, a Mulher-Aranha e alguns dos X-Men em novo confronto com o vilão Onslaught, conta com outro português na sua ficha técnica, Ricardo Tércio, como responsável pelas cores da publicação. Como é normal em projectos de alguma relevância da Marvel, foram feitas tiragens com capas alternativas, desenhadas por dois grandes autores da Casa das Ideias, Humberto Ramos e Rob Liefeld.
Ao mesmo tempo, chegará também “Marvel Girl #1”, uma história completa de Josh Fialkov, desenhada e colorida por Nuno Plati Alves, que narra como os poderes psíquicos da mutante Jean Grey se manifestaram após o seu namorado falecer num acidente automóvel, sendo necessária a intervenção do professor Xavier, dos X-Men, para a ajudar a controlá-los.
Entretanto, Nuno Plati Alves que, tal como Filipe Andrade, tem multiplicado as suas colaborações com a Marvel, terminou recentemente uma história curta do Homem-Aranha, estando agora a trabalhar num one-shot com o mesmo herói. A BD, de 8 páginas, será incluída na revista “Amazing Spider-Man” #657, em que, na sequência do recente desaparecimento do Tocha Humana e a sua substituição pelo Homem-Aranha, várias personagens evocam episódios que partilharam com aquele membro fundador do Quarteto Fantástico.
A participação de autores portugueses em revistas Marvel, que tem vindo a crescer nos últimos anos, geralmente leva a uma maior procura desses títulos nas lojas portuguesas, como aconteceu na Mundo Fantasma, no Porto, com “Onslaught Unleashed” e Marvel Girl #1, revelou ao JN Vasco Carmo.
(Versão revista do texto publicado no Jornal de Notícias de 27 de Fevereiro de 2011)
Um deles é o primeiro dos quatro números previstos de “Onslaught Unleashed”, que fica como a primeira mini-série desenhada por um artista português, no caso Filipe Andrade. Esta narrativa de Sean McKeever, um argumentista de primeira linha, que reúne o Capitão América, a Mulher-Aranha e alguns dos X-Men em novo confronto com o vilão Onslaught, conta com outro português na sua ficha técnica, Ricardo Tércio, como responsável pelas cores da publicação. Como é normal em projectos de alguma relevância da Marvel, foram feitas tiragens com capas alternativas, desenhadas por dois grandes autores da Casa das Ideias, Humberto Ramos e Rob Liefeld.
Ao mesmo tempo, chegará também “Marvel Girl #1”, uma história completa de Josh Fialkov, desenhada e colorida por Nuno Plati Alves, que narra como os poderes psíquicos da mutante Jean Grey se manifestaram após o seu namorado falecer num acidente automóvel, sendo necessária a intervenção do professor Xavier, dos X-Men, para a ajudar a controlá-los.
Entretanto, Nuno Plati Alves que, tal como Filipe Andrade, tem multiplicado as suas colaborações com a Marvel, terminou recentemente uma história curta do Homem-Aranha, estando agora a trabalhar num one-shot com o mesmo herói. A BD, de 8 páginas, será incluída na revista “Amazing Spider-Man” #657, em que, na sequência do recente desaparecimento do Tocha Humana e a sua substituição pelo Homem-Aranha, várias personagens evocam episódios que partilharam com aquele membro fundador do Quarteto Fantástico.
A participação de autores portugueses em revistas Marvel, que tem vindo a crescer nos últimos anos, geralmente leva a uma maior procura desses títulos nas lojas portuguesas, como aconteceu na Mundo Fantasma, no Porto, com “Onslaught Unleashed” e Marvel Girl #1, revelou ao JN Vasco Carmo.
(Versão revista do texto publicado no Jornal de Notícias de 27 de Fevereiro de 2011)
Leituras relacionadas
Filipe Andrade,
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06/03/2011
Selos & Quadradinhos (29)
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