No
ano de Orwell
No
ano em que a obra de George Orwell entrou no domínio público,
Dorison e Delep - e a Arte de Autor! - continuam a mostrar-nos a sua
versão de O
triunfo dos porcos -
o Animal
Farm original.
Não
numa adaptação - ao contrário do que acontece com 1984
que, só em França, viu recentemente serem editadas quatro (!)
versões diferentes - mas numa espécie de sequela que, no entanto,
mantém intocável a base original: 'os
animais são todos iguais, mas há alguns mais iguais do que os
outros'...
Apoteose
Construída num
crescendo, esta série de 4 álbuns, termina agora em
grande apoteose, reunindo num volume extremamente visual todos que
até agora desempenharam papeis de destaque.
Rúben,
o (agora) coronel Jonas Moura, Capitu, Bakar, Luana... juntam-se uma
última vez, num tomo em que redenção e queda no abismo caminham
lado a lado, sob a influência de forças sobrenaturais do bem e do
mal e da
própria natureza.
Estranheza
Estranha-se
desde logo a capa. E depois também um título (aparentemente) tão revelador
sobre o
conteúdo do livro - a exemplo do que acontecia, aliás, em O
Homem que Matou Lucky Luke...
embora no
caso presente
seja bem mais assertivo.
E
num caso e noutro, estranha-se que tão 'depressa' essa morte ocorra.
Num caso e noutro, o morto era uma celebridade: uma lenda do Oeste,
num caso, o mais famoso sniper americano, no outro... Um sniper, um
herói...? Que estranho.
Já
referi por aqui, a propósito da Tex
#600, a actual tendência nas
aventuras do ranger para 'recuperar
personagens que de alguma forma foram marcantes pelo tempo de uma
história'.
Obviamente,
este tipo de exercício presta-se a diferentes interpretações - que
também estão relacionadas com o posicionamento de cada leitor em
relação a Tex. Uma delas, crítica, é associar a opção a falta
de imaginação dos actuais argumentistas, daí a necessidade do
regresso recorrentemente aos 'bons tempos passados'. Outra, mais
favorável, é considerar que as personagens (agora reencontradas)
eram tão ricas e fortes que era uma pena limitá-las a uma única
história.
Este
díptico, A
aldeia dos danados/A fúria de Makua, é
mais um exemplo.
O
homem com medo
Já
referi várias vezes que, no Universo Marvel, uma das minhas
preferências é o Demolidor possivelmente pela forte componente
trágica que caracteriza o lado mais humano, de alguém que ao mesmo
tempo é cego, carrega a(lguma) culpa da sua orfandade e revela uma
gran de incapacidade de amar e viver a felicidade, quando ela surge.
Por
isso, as suas melhores histórias são aquelas que exploram essas
características, não surpreendendo que, uma vez e outra - entre breves oásis de felicidade - Matt Murdock - e o seu alter-ego - regressem
ao local de origem e, mais do que isso, à sua vertente marginal,
perseguida, despojada e, às vezes, até odiada.
Desafio
perpétuo
Criar
uma situação original e estimulante, não é fácil, mas são
inúmeros os casos em que tal acontece. Mas, manter esse interesse e
essa capacidade de prender o leitor volume após volume, é muito
mais exigente e já são bem menos os casos que o concretizam
plenamente. Ao fim de 5 tomos, The Promised Neverland continua a consegui-lo plenamente e é uma das leituras mais desafiantes que neste m omento é possível acompanhar em português.
Onde
é que já vi isto...?
Há
demasiado tempo a aguardar leitura, feita de forma intermitente ao
sabor das muitas novidades que - ainda bem! - têm surgido no nosso
país, este era um dos vários volumes de Ken Parker que diariamente
me desafiam por detrás do computador onde escrevo estas linhas.