A boa, velha e
inexistente BD nacional
Reduzir a BD portuguesa - o período de 1872 a
1999 - a (apenas) 25 obras, era um risco enorme, mas Júlio Moreira
fê-lo para esta co-edição A Seita/Turbina que, para alem de um
belíssimo livro, evocou em mim - em muitos da minha geração mas
não só - boas recordações… sobre algo que aparentemente não
existe.
As palavras deste paradoxo são do próprio
Júlio e deixo aos leitores de Variantes
descobrir
a sua justificação para o que escreve.
Reportagem
aos quadradinhos
Na década
final do século passado, a banda desenhada de reportagem ganhou
notoriedade e mediatismo e Joe Sacco foi um dos seus principais
cultores.
Maltês,
radicado nos Estados Unidos e com formação na área do jornalismo,
Joe Sacco - convidado de um dos Salões Internacionais de BD do Porto
- teve em Palestina (1993) um dos seus principais sucessos,
pela presença constante então daquele território nos espaços
noticiosos devido ao crescer das tensões entre os habitantes locais
e o ocupante israelita.
Grandes mudanças... inconsequentes
Demasiada
proximidade de uma personagem de ficção - no caso de banda
desenhada - tem um risco:
perdermos (alguma) noção da realidade e deixarmos
que ela, de alguma forma, entre na nossa vida e
se torne quase parte
da
nossa família. Risco
que se revela
acrescido, quando começamos a fantasiar (com)
situações
da
vida delas E que
a nossa, de leitores empedernidos,
já nos ensinou serem
irrealizáveis.
Seguir
Mesmo
sendo a banda desenhada uma arte com uma componente gráfica
predominante, sempre fui muito mais um leitor de argumentistas do que
desenhadores.
Defendo,
aliás, que um bom desenhador vende um álbum; um bom argumentista
vende uma série completa.
Ficcionar
a partir da realidade
Uma
das formas de credibilizar a ficção, é baseá-la em factos reais
para,
a partir deles
construir a ficção.
Por
mais incrível -
ou ousada - que
ela possa ser,
aparecerá
aos olhos dos leitores com uma aura de realidade, que os empurrará a
embarcarem
melhor na
proposta dos autores.
É
isso que acontece com Primordial,
a mais recente proposta em português de Jeff Lemire, autor
cuja
importância no catálogo da G. Floy continua a crescer.