Sem (a) protagonista
Nas
histórias de Julia Kendall, é normal que ela partilhe o
protagonismo com os criminosos que acabará por investigar. Menos
normal, penso eu - confesso que não fui verificar - é que lhes
entregue completamente a boca de cena, deixando-se ficar no fundo,
quase na sombra.
Escrito
de outra forma, nas duas histórias deste volume, Julia apenas
aparece em 40 das 126 pranchas de A
gangue e
em 35 do segundo relato, O
quarto de pânico.
Periféricos...
Este é um novo projecto, que chega da Madeira,
assumindo-se como revista e com a pretensão de uma periodicidade
semestral.
O primeiro número já anda por lá - mas pode
chegar a toda a parte - e da sua leitura fica a vontade de o voltar a
reencontrar, se bem que são evidentes as
tremuras do recomeço e alguma falta de experiência dos
intervenientes - mas é também para que a ganhem que a Outermost
Comics Edition serve...
Depois
da apoteose...
Pode
um livro valer mais por si mesmo do que pelo seu conteúdo
intrínseco?
A
responder que sim, este seria um exemplo.
Marcas
a longo
prazo
Diz-se que os homens não se medem aos palmos e,
numa adaptação livre, pode dizer-se que os livros não se medem
pelo número de páginas.
Curto nas suas quarenta e poucas pranchas, A
Cicatriz, obra dos italianos Renato
Chiocca e Andrea Ferraris, que acaba de ter edição nacional pela
Escorpião Azul, mergulha-nos numa situação incómoda,
geograficamente afastada, mas que a televisão e o cinema tornaram de
alguma forma próxima.
Montanha-russa
Confessei
aqui alguma desilusão pela forma como Seuls
se foi desenvolvendo. Com um ponto de partida desafiante - o
desaparecimento de todos os adultos de uma cidade, Fortville - foi
aos poucos assumindo contornos (ainda) mais fantásticos.
Essa
desilusão - que na altura classifiquei de parcial - fez com que o
regresso à série demorasse mais do que inicialmente previra, mas em
boa altura o fiz porque, iludidas as expectativas iniciais, avancei
de espírito aberto para ler mais quatro álbuns de uma das mais
desafiantes e intrigantes narrativas aos quadradinhos a que me
dediquei nos últimos anos.
Enciclopédia...
Adolfo
Simões Müller foi, possivelmente o mais importante director de
publicações infanto-juvenis que este país teve e a comprová-lo
estão títulos como o Papagaio,
Diabrete, Cavaleiro Andante, Foguetão ou Zorro que,
durante décadas, proporcionaram o melhor da banda desenhada (com
predominância da franco-belga) aos leitores portugueses.
Depois
das obras monográficas dedicadas às duas primeiras revistas
referidas, José Azevedo e Menezes
reuniu neste volume reúne as outras a que Müller se dedicou.
O viajante de uma vida
Em determinada altura, a banda desenhada
habituou-nos a relacionar implicitamente biografias aos quadradinhos
com leituras maçudas e pesadas devido a o excesso de informação e ao exagerado tom didáctico, mas felizmente isso é passado como o prova a colecção
Descobridores da Gradiva.
Depois de Darwin,
Magalhães ou Tenzing,
Marco Polo
é o mais recente exemplo - e possivelmente aquele em que
BD e tom biográfico atingem uma simbiose
mais conseguida.