A pré-História - menos a real do que a ficcionada - sempre exerceu
uma especial atracção sobre o leitor que eu sou - possivelmente
desde um romance juvenil lido na idade certa.
Estes Piteco, em dose dupla,
reavivaram esse fascínio, ao mesmo tempo que comprovavam a
diversidade
da obra de Maurício de Sousa - e o enorme potencial das personagens
que ele criou há cinco, seis
décadas atrás.
Curiosamente, na primeira incursão da colecção Graphic MSP neste período, em Piteco: Ingá, da autoria de Shiko, a relação com o mundo actual e a força dramática proveniente da relação entre Piteco e Thuga, afastavam de certa forma a obra - magnífica em si - daquela minha atracção.
De forma muito interessante, Eduardo Ferigato, ao voltar a Piteco, assumiu como ponto de partida o ponto crucial do final da versão de Shiko - a gravidez de Thuga - arrancando a sua narrativa com o fruto do seu ventre transformado numa adolescente, Thala, que tenta impressionar o pai - e imitá-lo como caçadora da tribo - apesar de toda a tensão e diferenças de opinião entre eles.
Se há entre os dois uma clara tensão adulto/adolescente - possivelmente inexistente na época mas necessária em termos narrativos para leitores actuais - encontrei em Fogo - e depois em Presas - tudo aquilo que me atraía nas aventuras pré-históricas: a pequenez dos homens face ao seu mundo, a bestialidade das feras - e dos dinossauros! - a ignorância crédula face aos fenómenos inexplicáveis - o fogo, a chuva, o gelo..., o domínio dos feiticeiros sobre as tribos - por saberem um pouco mais ou por saberem interpretar a seu favor o que os outros desconheciam ou temiam. A estes factores, Ferigato acrescentou ainda a aventura em estado puro - num caso partindo de um ataque de um povo inimigo, no outro da busca de um amigo desaparecido - e, em Presas, um verdadeiro achado: os inimigos que Piteco enfrenta - e a razão para o confronto, que nos deve fazer pensar...
Neste segundo álbum, para lá do salto cronológico - evidente no crescimento de Thala - que a eleva à posição de parceira do pai e lhe permite um protagonismo diferente, há uma interessante deslocação do foco central da narrativa, do fogo abrasador inicial para o branco desolador e gelado da neve - e do gelo.
Graficamente, a composição variada das pranchas, o recurso frequente a páginas duplas, vinhetas de grande formato ou vinhetas dentro de vinhetas, permite por um lado dimensionar a pequenez humana face ao gigantismo do mundo e dos seus perigos e, por outro, conferir um grande dinamismo às narrativas.
Piteco:
Fogo
Piteco:
Presas
Eduardo
ferigato
Panini
Brasil,
Junho
de 2019/Dezembro
de 2021
190
x 275 mm, 96 p., cor, capa dura
R$
44,90
(imagens disponibilizadas pela editor, aquando da apresentação do livro; clicar nelas para as aproveitar em toda a sua extensão)
Conseguimos comprar isto em Portugal? ou só por importação?
ResponderEliminarEstes foram comprados na Casa da BD. A loja costuma ter alguns títulos em stock e também aceita encomendas.
ResponderEliminarBoas leituras!