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26/09/2011

Le Masque du Fantôme

#2 La Cité des masques
Fabien Grolleau (argumento e desenho)
Delcourt (França, 31 de Agosto de 2011)
127 x 180 mm, 192 p., pb, brochada com sobrecapa
9,40 €

Resumo
Um autor de BD pouco conhecido é contratado para produzir uma banda desenhada que ajude a trazer à razão o maior dos fãs de “The Ghost of the Everglades”, um dos grandes sucessos dos quadradinhos clássicos dos últimos 60 anos.
Arrastado por este numa fantasia imaginária pelo mundo real, encontram-se a braços com sem-abrigo anarquistas e um presidente de câmara pouco honesto, em pleno carnaval.

Desenvolvimento
Se o primeiro tomo terminava num momento em que fantasia e realidade se cruzavam, neste ambas se confundem. Isso transforma o relato num quase delírio atravessado por flashbacks que ajudam a compreender as razões que levaram o jovem fã do Fântome a transformar-se gradualmente no seu herói de papel, em paralelo com o percurso de Leon Moore, o verdadeiro autor das aventuras de “The Ghost of the Everglades”, numa história que tem início durante a Segunda Guerra Mundial,o que serve de pretexto para a evocação/homenagem às criações aos quadradinhos desses tempos áureos da BD.
No início deste tomo, o velho que pensa ser o Fantôme, e Sacha, o autor de BD que o auxilia, perdem-se nos arrabaldes da cidade, sendo recolhidos por sem abrigo que escolhem o “herói” como seu rei para participar no carnaval. Um carnaval que se vai revelar estranhamente perigoso quando nele se defrontam anarquistas e os seguidores do corrupto presidente da Câmara, para gáudio do Fantôme, cada vez mais mergulhado nas ilusões que o arrastam para mundos (pretensamente) mágicos, enfeitiçados, perigosos e fascinantes.
Entre a nostalgia, o piscar de olho aos fãs de comics, fantasia à rédea solta e um misto de crueldade e humor, Grolleau, apesar de um ou outro salto narrativo, constrói um relato que merece ser lido e lança a expectativa sobre as suas futuras criações.

A reter
- Mais uma vez, o sabor nostálgico e a homenagem sentida aos criadores dos grandes heróis clássicos dos quadradinhos.
- O período curto (quatro meses) que mediou entre a publicação dos dois tomos que constituem este relato, permitindo ao leitor completar a sua leitura rapidamente. Que exemplo para as editoras nacionais!

Menos conseguido
- Uma ou outra falha na narração, que quebra o ritmo e obriga o leitor a reposicionar-se no relato.

20/09/2011

Sept Personnages

Fred Duval (argumento)Florento Calvez (desenho)
Delcourt (França, 31 de Agosto de 2011)
230 x 320 mm, 56 p., cor, cartonado
14,95 €

O projecto Sept
Conceito desenvolvido pelo argumentista David Chauvel, este projecto, nascido em 2007, assentava no seguinte mote: “sete histórias, sete missões de alto risco, sete equipas de sete elementos dispostas a serem bem sucedidas!
Escritos por sete argumentistas e desenhados por sete desenhadores, nasceram assim “Sept voleurs”, “Sept Guerrières”, “Sept Missionaires”, “Sept Pirates”. “Sept Prisionniers” e “Sept Psychopates” e“Sept Yazukas”.
O sucesso da série, deu origem a nova “temporada”, que leva já três títulos publicados: “Sept Clones”, “Sept Survivants” e este “Sept Personnages”.

Resumo
Sete personagens emblemáticas criadas por Molière – Agnès, Alceste, Argan, Scapin, Harpagon, Don Juan e Tartuffe - investigação as razões da sua morte.

Desenvolvimento
Este é um álbum diferente, quer considerado individualmente, quer no conjunto da colecção em que está inserido, pela abordagem original de Duval, que escolheu como protagonistas personagens de ficção criadas por Molière, incluindo mesmo um Don Juan arrancado às chamas do Inferno (ou não…), o que confere à narrativa um insuspeitado toque de fantástico. Mantendo as características de cada uma e mantendo-as no seu tempo e no seu contexto histórico, mas fazendo delas actores de um relato em que o tom oscila entre o policial e o conspirativo, para descobrirem quem envenenou o dramaturgo e porquê.
O texto, recheado de citações e referências, históricas e da literatura à pintura, mas com vida própria para além delas, é estimulante e está bem escrito, conseguindo cativar e surpreender o leitor mas também diverti-lo.
Teria ganho, sem dúvida, com um desenhador mais desenvolto que Calvez, que apresenta personagens demasiado rígidas, algumas dificuldades nas proporções e falta de dinamismo gráfico, embora seja de assinalar a planificação diversificada que serve de base ao seu traço.

A reter
- A originalidade da ideia e a forma como Duval a desenvolve.

Menos conseguido
- O traço de Calvez, a necessitar de ganhar maturidade e desenvoltura.

07/09/2011

Contes Cruels du Japon

Jean David Morvan (argumento)Saito Naoki (desenho)
Delcourt (França, 24 de Agosto de 2011)
240 x 320 mm, 64 p., cor, cartonado
14,95 €

Resumo
Oito contos tradicionais japoneses, quase todos da época medieval, recontados aos quadradinhos por um belga e um japonês.

Desenvolvimento
O interesse crescente no Ocidente pelo manga em particular e pela cultura asiática em geral, tem influenciado a banda desenhada ocidental, não apenas a nível gráfico e narrativo, mas também em termos temáticos, procurando assim (re)conquistar as novas gerações (de leitores) que cresceram com os animes televisivos e – por arrastamento – com os mangas cujo sucesso (editorial) fizeram.
Este álbum, escrito por Morvan, um argumentista de créditos firmados, que conta na sua bibliografia feita de dezenas de tomos, sucessos como Sillage ou Troll e uma passagem (recente) por Spirou – é mais um exemplo disto, na abordagem que faz a um punhado de contos e lendas tradicionais do Japão medieval.
A sua abordagem é directa, simples transposição para os quadradinhos, de forma equilibrada e com grande legibilidade, para o que contribui bastante o texto introdutório a cada um dos contos - destas lendas protagonizadas por seres (nem sempre cruéis, ao contrário daquilo que o título afirma) como a mulher das neves de coração gelado, o homem-tubarão, uma cerejeira especial ou um devorador de cadáveres.
Como base, cada um deles tem sempre uma ou mais características do ser humano – verdade, fidelidade às promessas, coragem, covardia, medo, submissão – abordadas de forma metafórica em contextos irreais, oníricos ou fantásticos, mas sempre com efeitos práticos sobre a vida quotidiana dos seus protagonistas.
Para as ilustrar – possivelmente por razões não inocentes – foi escolhido o japonês Samo Naoki, diplomado em Desenho Gráfico pela Universidade de Belas Artes de Tama.
Com mais experiência na ilustração do que na BD, apesar disso revela um bom domínio da planificação, variada e sem limites pré-fixados, e um traço seguro, de alguma forma próximo da linha clara e herdeiro do anime tradicional, mas que se revela demasiado igual de história para história, apesar da sua diversidade temática, denotando assim dificuldades em adequá-lo ao ambiente e contexto próprios de cada uma.

A reter
- Mais um exemplo da influência nipónica na BD franco-belga.

Menos conseguido
- Algumas limitações gráficas reveladas por Naoki.

24/08/2011

Vincent et Van Gogh

Gradimir Smudja (argumento e desenho)Delcourt (França, Maio de 2002)
72 p., cor, cartonado
14,95 €

A vitalidade da banda desenhada (da literatura, do cinema, ...) vê-se – também - pelo aparecimento (a)periódico de obras que inovam e/ou surpreendem, ultrapassando todas as expectativas. Mais a mais quando, por detrás delas, está um desconhecido, como é o caso do autor do álbum que destaco hoje, Gradimir Smudja, nascido na antiga Jugoslávia, em 1954, e actualmente a viver em Itália, onde trabalha como professor.
E não admira que Smudja seja um desconhecido das lides da banda desenhada, porque “Vincent et Van Gogh” é o seu álbum de estreia, o que aumenta a surpresa do leitor. Surpresa que se torna maior, porque, aparentemente, o álbum é apenas uma biografia de Van Gogh. Exactamente “o” Van Gogh, o célebre pintor, que nos é apresentado nas primeiras pranchas como um dos grandes especialistas de quadros sobre Paris, mas com a secreta ambição de se tornar também ele artista. Só que, sempre que chega a um local para dar largas à sua veia criadora, alguém já chegou antes dele: Monet, num jardim, Degas, na Ópera, ... E, ao mesmo tempo, os outros pintores (Gauguin, Toulouse-Lautrec,...) consideram-no uma nulidade. Por isso, Van Gogh, desiludido, deixa a sua cidade e parte para a Provence.
E é aqui que surge a grande surpresa, quando Smudja nos revela um dos mais bem guardados segredos da história da arte: os quadros atribuídos a Van Gogh não foram pintados por ele, mas sim por Vincent... um gato que o pretenso pintor salva de uma aflição! Na continuação do álbum vamos acompanhar a cumplicidade dos dois (Vincent e Van Gogh), e como o segundo se reduz rapidamente a pouco mais do que uma sombra do primeiro, a quem inveja o talento, a ousadia, as atenções do belo sexo... e com quem acabará por se desavir, o que lhe custará a célebre perda da orelha...
Esta é a história que nos conta de forma leve, descontraída e bem-humorada, mas com muito talento, num estilo gráfico próximo da técnica do pastel, Smudja, que transformou este álbum numa bela homenagem aos génios da pintura citados, cujas obras vamos encontrando, ao virar de cada página, como fundo de uma vinheta, ou parte da acção, num belo passeio pela História da Arte do século XIX.

(Texto publicado originalmente no Jornal de Notícias de 25 de Fevereiro de 2003)
NOTA: Este álbum foi editado em português pela Witloof.


23/08/2011

Popotka le petit sioux

#1. La Leçon d'Iktomi
David Chauvel (argumento)
Fred Simon (desenho e cor)
Delcourt (França, Setembro de 2001)
32 p., cor, cartonado
8,95 €


Na banda desenhada, durante muitos anos, como no cinema, aliás, "os índios bons eram os índios mortos". Pontualmente, aparecia uma honrosa excepção, mas apenas para servir de auxiliar ao herói principal, branco, atlético e mais inteligente, como não podia deixar de ser.
Excepções mais consistentes, tiveram de esperar muitos anos, como são exemplos "Sargento Kirk", de Hugo Pratt, "Comanche", de Hermann e Greg ou "Blueberry", de Giraud e Charlier, onde os índios eram, por vezes, apresentados sobre um outro prisma mais humano, embora os estereótipos citados continuassem presente.
Anos mais tarde, Derib, em "Buddy Longway", atreveu-se a ir mais longe, casando o seu herói com uma índia e desenvolvendo, a partir desta base, uma interessante saga pautada mais pelos problemas de relacionamento entre raças e do homem com a natureza (aspecto em que os índios podiam ter dado grandes lições aos brancos...) do que pelas histórias típicas dos westerns. O autor levou ainda mais longe esta experiência mergulhando nos riquíssimos imaginário e mitologia índios em "Celui qui est né deux fois", série que continuaria em "Red Road", passada em época mais recente, com os índios confinados a reservas, humilhados pelos brancos e a braços com problemas como o álcool, o racismo ou a violência gratuita...
"Popotka, le petit sioux - 1. La leçon d'Iktomi" propõe uma abordagem completamente diferente ao género, inspirando-se em verdadeiras lendas índias (sim, a BD pode ter uma componente etnográfica), permitindo aos mais jovens - a quem se dirige especialmente - descobrir os costumes e as crenças de um povo esquecido. E mais uma vez, nesta interessante colecção "Jeunesse", da Delcourt, descobrimos dois autores que, tendo até agora trabalhado para público adulto, em séries de antecipação, como "Rails" ou em policiais, como "Le poisson Clown", são também capazes de criar para os mais pequenos, público que importa cativar para a 9ª arte para assegurar o seu futuro. David Chauvel é o autor do relato simples e divertido, com humor, ternura e fantasia quanto baste, que Fred Simon complementa de forma exemplar com uma linha clara, límpida ,expressiva e desprovida de pormenores desnecessários, a que aplica cores vivas que tornam o livro - enquanto objecto - bem apetecível.




(Texto publicado originalmente no Jornal de Notícias de 4 de Junho de 2002)

17/07/2011

Harry Potter aos quadradinhos

Com a saga cinematográfica de Harry Potter a chegar ao fim – o último filme estreou na passada quinta-feira – está a fazer grande sucesso na internet uma outra adaptação, esta em banda desenhada.Da autoria de Lucy Knisley, uma norte-americana natural de Chicago, onde nasceu há 26 anos e onde se formou em 2007 na School of the Art Institute, surpreende por resumir cada um dos livros numa única página de BD (com excepção do último, dividido a meio, tal como no cinema), como pode ser apreciado no blog da autora.
Desenhadas em estilo cómico – o que não impede que todos os protagonistas sejam facilmente reconhecíveis – as histórias assim recriadas, em tom monocromático, revelam muito humor e um grande poder de síntese por parte da autora, que reproduziu as cenas mais importantes de cada um deles.
Knisley, que já tinha feito uma outra banda desenhada sobre a saga Crepúsculo, compilou igualmente todas as suas pranchas numa única página gigante de BD, que intitulou “The SummHarry”.
Entretanto, aproveitando a estreia do filme, nos Estados Unidos, na semana passada, foi posto à venda um número especial da revista MAD na qual “os idotas do costume”, com a habitual ironia e nonsense, parodiam Harry Potter e o universo desenvolvido por J. K. Rowling.
E se na internet se encontram facilmente outros exemplos de sátiras a Harry Potter, quase sempre na forma de cartoon ou tiras, o caso mais sério relacionado com a obra de Rowling na área do humor, é uma série de quatro volumes intitulada “Harry Cover”. Publicada no mercado francófono pela Delcourt, entre 2005 e 2010, tem argumentos de Pierre Veys e desenho de Baka (no primeiro tomo) e Esdras (nos restantes). A sua acção decorre na escola de feitiçaria de Poudrozieu, onde Harry Cover com os seus amigos Pron e Hormonne têm de enfrentar o repugnante Boldemorve…




(Texto publicado no Jornal de Notícias de 14 de Junho de 2011)

18/05/2011

Sale Fric

Collection Dark Night
Brian Azzarello (argumento)
Victor Santos (desenho)
Delcourt (França, 20 de Abril de 2011)
167 x 257 mm, 200 p., pb, brochado com badanas, 14,95 €


Resumo
Este é o segundo volume de uma nova colecção da Delcourt, que publicará bandas desenhadas provenientes do selo Vertigo, pertencente ao catálogo da DC Comics, e que foi iniciada em Março com Le Frisson, de Jason Starr e Mick Bertilorenzi.
O seu protagonista é Richard Junkin, um falhado. Antiga glória do futebol universitário, afastado do desporto por uma lesão, desde então sonha com a fama que a sua prática – em qualquer ocupação – desmente.
Quando o seu patrão lhe pede para deixar o lugar de vendedor de automóveis – em que mais uma vez é uma nulidade – para se tornar o anjo da guarda da sua filha – um chamariz de sarilhos – Junkin está longe de imaginar os sarilhos em que se está a meter.


Desenvolvimento
Este é mais um elo na longa corrente da relação entre a banda desenhada e o policial.
Bem escrita e desenvolvida, a história reúne todos os ingredientes clássicos do género: um protagonista, falhado mas simpático, que parece ter conseguido o seu momento de sorte na vida, um crime que (parece) perfeito, paixão, sexo, violência, traições, surpresas…
Azzarello demonstra a habitual mestria na sua condução. Uma longa introdução para conhecermos Junkin, o seu passado, curto mas glorioso, o presente, longo e decadente, bem como as outras personagens que o acompanharão ao longo da trama.
Depois, o desenvolvimento, de certa forma paralelo, da sua relação com Vicki, a filha mimada do patrão e Sally. A forma como se aproxima da primeira sem esquecer a segunda, o que o conduzirá a um primeiro homicídio. Avançando, segue-se o adensar da trama, a criação de álibis, culpados improváveis ou falsos e o final surpreendente onde, apesar de alguns ajustes, (quase) tudo - todos – volta(m) ao seu lugar.
Em suma, uma história dinâmica e bem ritmada, com potencialidade para segurar o leitor…
… mas que poderia ser bem mais interessante se o desenhador, o espanhol Victor Santos, tivesse sabido acompanhar o seu argumentista ou, pelo menos, manter um traço estável ao longo do livro. Porque, na verdade, esta obra revela um autor em busca da sua identidade gráfica, oscilando entre vinhetas ao nível de (maus) fanzines, com outras cujos modelos são claramente Eduardo Risso e Frank Miller. A par disso, se por vezes consegue apresentar um traço perfeitamente legível, vinhetas há que são quase incompreensíveis, merecendo também nota negativa o tratamento muitas vezes dado aos rostos, inacabados ou com expressões forçadas.
Por isso, o resultado global, desequilibrado e longe dos modelos gráficos seguidos, não ultrapassa o mediano, desperdiçando os créditos concedidos pelo argumento.

A reter
- O argumento de Azzarello, estruturado, credível, com personagens bem definidas, com tudo para agradar aos apreciadores do género e não só.


Menos conseguido
- O traço de Santos, desigual e poucas vezes inspirado.


Curiosidade
- Filthy Rich é o título original do livro.

12/05/2011

Patte de velours

Collection Mirages
Pascal Bertho (argumento)
Korkydu (desenho)
Delcourt (França, Março de 2005)
210 x 260 mm, 96 p., cor, cartonado com sobrecapa, 14,95 €


Em tempos, os contos de fadas tinham um príncipe e uma princesa que tinham de mover céu e terra, vencer bruxas, dragões ou monstros, com a ajuda de fadas ou duendes, para atingirem o almejado final feliz em que casavam, tinham muitos filhos e viviam juntos para sempre, tudo seguindo a boa moral e os melhores costumes, para delícia e (escape) de quem lia.
Em "Patte de velours" a história é diferente: o príncipe e a princesa deram lugar a gente normal, como cada um de nós, mesmo que ela desenhe BD; os inimigos a vencer tomam a forma de ex-namoradas estranhamente possessivas, chefes de escritório anormalmente atiradiças ou amigos bem intencionados mas - por isso - incomodativos; como fada temos um gato-correio feito Cupido involuntário e como moral da história aparece um suposto conto chinês que fala da necessidade de tomarmos decisões e construirmos o nosso próprio futuro, não deixando tudo nas mãos do acaso.
Os seus autores são Pascal Bertho, responsável pelos diálogos realistas e pelo toque de humor, e Korkydu, dono de um desenho que, não sendo brilhante, cativa, é funcional, expressivo e transmite o ritmo certo à narrativa que, não tendo o habitual final feliz, deixa tudo em aberto para que tal aconteça. Ou talvez não, porque - convém não esquecer - esta é uma história de vidas.


(Texto publicado originalmente no Jornal de Notícias de 1 de Janeiro de 2006)

05/05/2011

Le Masque du Fantôme

Le Château des Ombres
Collection Shampooing
Fabien Grolleau (argumento e desenho)
Delcourt (França, 6 de Abril de 2011)
127 x 180 mm, 192 p., pb, brochada com sobrecapa, 9,40 €


Resumo
Um autor de BD pouco conhecido é contratado para produzir uma banda desenhada que ajude a trazer à razão o maior dos fãs de “Le Fantôme des Everglades”, um dos grandes sucessos dos quadradinhos clássicos dos últimos 60 anos.


Desenvolvimento
Esta é a história de alguém que ficou órfão demasiado cedo (é sempre demasiado cedo para se ficar órfão…) e, ao mesmo tempo, dono de uma colossal fortuna.
A história de alguém que encontrou refúgio e libertação na banda desenhada, em especial em “Le Fantôme des Everglades”, um comic clássico de aventura (que facilmente se percebe ser inspirado no Fantasma, de Lee Falk e Ray Moore), que nos últimos 60 anos foi um enorme sucesso a nível mundial. E a quem o dinheiro permitiu transformar a imensa propriedade numa cópia rigorosa dos cenários das aventuras do herói.
E, por isso, foi a banda desenhada que norteou toda a sua existência de criança, adolescente, jovem, adulto, velho… Primeiro como leitor maravilhado, depois como coleccionador ávido (“dotado de meios infinitos” para “percorrer o mundo inteiro à procura de um exemplar único” ou então “a versão alemã, indiana, turca ou chinesa” do seu comic preferido), mais tarde, mergulhando nela, como que numa realidade paralela, assumindo a pouco e pouco a identidade do seu ídolo, emulando as suas acções, vendo o mundo real deformado pelo olhar proveniente dos comics.
Mais ainda quando, numa tentativa de o chamar à realidade (de que estava cada vez mais ausente) os herdeiros decidiram queimar a sua imensa colecção, provocando exactamente o efeito contrário: roubando-lhe os últimos resquícios de lucidez, fazendo-o mergulhar definitivamente num papel de justiceiro mascarado numa cruzada infinita pela libertação de belas mulheres prisioneiras de horrendos zombies comandados pelo poderoso “Feiticeiro”.
Por isso, esses herdeiros, em especial a bela sobrinha, arrependida do que fez, decidem contratar Sacha, um autor de BD – por acaso pouco famoso e até cultor do género autobiográfico – para criar um comic “pirata” que ajude o novo(/velho) Fantôme a voltar à realidade.
Primeiro surpre-endido e de pé atrás, Sacha aos poucos embarca na estranha aventura, quer porque o perturbado herói o toma pelo seu (fiel…) ajudante, quer porque não fica indiferente à bela sobrinha – principalmente porque em si também vivem, vibram os ecos dos heróis dos quadradinhos.
Hábil combinação de realidade e fantasia, em que a realidade, aos olhos do leitor, é muitas vezes substituída pela ficção que o protagonista imagina real, “Le Masque du Fantôme” é, antes de mais, uma bela homenagem aos autores dos heróis – e aos heróis também - que fizeram – que fazem – sonhar gerações de leitores de quadradinhos. Uma homenagem emotiva, sentida, que se adivinha sincera. O que não implica que o autor não consiga algum distanciamento para mostrar – de forma mordaz - a reacção oposta, as críticas que todos nós, leitores de BD, já ouvimos mais que uma vez: “Com tais leituras, como não há-de a juventude ser perturbada?”, “Se lesses histórias a sério…”, etc…
Apesar de um início um pouco lento e algo confuso, o relato progressivamente ganha ritmo, em boa medida devido à planificação dinâmica, brilha na combinação da realidade com cenas extraídas (ou imaginadas) das páginas de BD e torna-se especialmente estimulante para fãs de banda desenhada, a quem o aconselho vivamente.
Este primeiro volume termina num momento em que o mundo de fantasia se cruza tragicamente com a realidade, partindo os protagonistas – o pretenso herói e o suposto criador das suas histórias – em perseguição de um verdadeiro assassino, deixando os autores em suspenso sobre a forma como o autor vai encaminhar.


A reter
- A homenagem – sentida - aos clássicos – autores e heróis - dos quadradinhos.

Curiosidade
- O blog de Fabien Grolleau, com muita informação sobre a obra.

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