Baseado na obra homónima de J. R. R. Tolkien
Charles Dixon e Sean Deming (argumento)
David Wenzel (desenho)
Devir (Portugal, Agosto de 2012)
195 x 285 mm, 140 p., cor, cartonado
24,99 €
A propósito da recente reedição por parte da Devir da
adaptação em banda desenhada de “O Hobbit”, recordo o texto que escrevi no
Jornal de Notícias, a propósito da primeira edição portuguesa desta obra, em
2002, intitulado “Adaptações(1)”.
Uma adaptação, para ser conseguida, tem, a meu ver, que
cumprir dois requisitos: ser fiel ao original e funcionar de forma autónoma,
consistente e credível na nova forma narrativa à qual foi adaptada. Isto porque
cada género narrativo – literatura, banda desenhada, cinema de animação, cinema
– tem características e regras próprias que importa seguir.
Na maior parte dos casos, as adaptações originam obras
inferiores às originais, podendo surgir excepções quando a adaptação, mais do
que seguir ao detalhe o seu modelo, se mantém fiel ao seu espírito, mas
recria-o totalmente de acordo com as características inerentes à nova forma
narrativa adoptada. Foi isto que foi ignorado durante muitos anos, nas
transposições da literatura para a banda desenhada (as mais comuns), resultando
daí romances (mal) ilustrados, nalguns casos com a transposição integral do
texto original sob as ilustrações, numa prática que demonstra claramente
ignorância acerca da forma narrativa escolhida.
Toda esta introdução vem a propósito do recente lançamento
de “Bilbo, o Hobbit” (Devir) que se baseia na obra homónima de J. R. R.
Tolkien, que serve de prelúdio à trilogia “O senhor dos anéis”.
Contando mais de 60 anos, mantém uma frescura invejável,
graças à coerência e à riqueza do mundo imaginado por Tolkien, e conta como o
pequeno Bilbo é convencido pelo feiticeiro Gandalf a acompanhar um bando de
anões na busca de um mítico tesouro, o que o levará a ter de enfrentar um
terrível dragão. E mais do que um tesouro, o hobbit que protagoniza a história
acaba por se descobrir a si mesmo, após uma busca iniciática em que descobre
facetas e capacidades que ignorava possuir.
A adaptação, assinada por Charles Dixon, atinge bons
momentos quando se consegue libertar do texto original e funcionar como uma
verdadeira banda desenhada. Quando isso não acontece, se a trama ganha em
densidade, perde em ritmo narrativo e afasta-se das características próprias de
uma BD.
Os desenhos, num estilo realista que combina técnicas
clássicas de desenho e aguarela, são de David Wenzel e devem ter servido de
referência a Peter Jackson para a recente adaptação cinematográfica de “O
senhor dos anéis”, dada a semelhança entre os personagens comuns às duas obras.
(Texto publicado originalmente no Jornal de Notícias de 12
de Junho de 2002)