22/02/2010

Big Ben Bolt nasceu há 60 anos

O nome Big Ben Bolt poderá não dizer muito a alguns dos leitores desta linhas, pois certamente estarão mais familiarizados com o de Luís Euripo, como foi denominado quase sempre em Portugal, em especial nas páginas do Mundo de Aventuras. Por isso, para esses, possivelmente será uma surpresa saberem que o seu verdadeiro nome, ao contrário do que a censura então quis fazer querer, era realmente Ben(jamin) Bolt e que era americano e não português. No entanto, na década de 50 do século passado, foi rebaptizado Luís Euripo para servir como “bom exemplo” e “exaltação dos valores pátrios” para quem lia as suas aventuras aos quadradinhos. Por isso, também, o seu treinador Spider Haines passou a Zé Gomes e as suas aventuras transitaram de Boston para Lisboa!
Estreado a 20 de Fevereiro de 1950 – e apenas cinco meses passados em Portugal, no Mundo de Aventuras - como tira diária, completaria hoje 60 anos, não tivesse Ben Bolt falecido com um tiro no peito, em 1978, quando se preparava para receber o Prémio Nobel da Paz, como agente da Interpax, uma ONG de contornos no mínimo duvidosos. Para trás, tinha já deixado há muito o boxe - em que se sagrara campeão mundial de pesados em 1953 - devido a uma lesão, em 1955, bem como o jornalismo e a investigação privada.
Na sua aventura inicial, publicada pela primeira vez em Portugal no Mundo de Aventuras Especial #18, de Julho de 1977, Ben Bolt era apresentado como filho de americanos, criado na Europa, de regresso ao seu país natal para viver com uns tios aristocráticos mas falidos. Isso precipitou a sua entrada no mundo do boxe, instigado por Spider Haines, antigo lutador e seu futuro mannager, e pela bela e insinuante Charity O’Hara, sem que no entanto abandonasse os seus estudos na Universidade de Harvard, o que lhe conferiu um estatuto distinto.
Os seus criadores foram Elliott Caplin, na escrita (a quem muitos apontam como inspiração Joe Palooka, uma outra BD passada no mundo do boxe, de Ham Fisher), e John Cullen Murphy, no desenho, quer da tira diária, quer da prancha dominical estreada a 25 de Maio de 1952. Murphy deu-lhe um visual forte e facilmente reconhecível e conferiu à tira bastante dinamismo o que lhe permitiu gozar uma assinalável popularidade durante anos, apesar da temática desportiva ter sido rapidamente substituída por intrigas sentimentais que alternavam com narrativas de acção e mistério. Quando abandonou Ben Bolt, em 1970, para retomar o Príncipe Valente de Hal Foster, Murphy foi substituído sucessivamente (mas sem grande empenho…) por Carlos Garzon, Joe Kubert, Gray Morrow e Neal Adams, que mais não conseguiram do que prolongar o estertor da série até ao trágico desfecho, ocorrido a 10 de Abril de 1978, o que levaria ao cancelamento da tira cinco dias volvidos.
Para Abril próximo, a Classic Press Comics anunciou o primeiro volume de “John Cullen Murphy’s Big Ben Bolt Dailies”, com as tiras diárias publicadas entre 29 de Fevereiro de 1950 e 24 de Maio de 1952.

(Versão revista e aumentada do texto publicado no Jornal de Notícias de 20 de Fevereiro de 2010)

3 comentários:

  1. Gostava, mas preferia o Ze SOPAPO

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  2. Gostava, mas preferia o Ze SOPAPO

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    Respostas
    1. Caro António Ferreira,
      Li muito pouco do Zé Sopapo (aliás Joe Palooka) e não tenho opinião formada sobre esta série.
      Do Big Ben Bolt - que, como tantos, descobri como Luís Euripo - admiro o tom bastante humano das histórias e o facto de o protagonista ser pouco herói, no sentido que duvida, hesita, nem sempre vence e a vitória por vezes sabe a derrota...

      Boas leituras!

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