02/07/2025

Akira #1

Acelerar outra vez nas ruínas de Tóquio





Escrevi pela primeira vez sobre Akira já lá vão 35 anos. Na altura, era um caso muito especial por ser um dos primeiros mangas - BD japonesa como hoje quase todos sabem e então muitos ignoravam - a ser publicado no ocidente.

Agora, mais de três décadas depois, impõe-se - continua a impor-se - pela sua qualidade intrínseca e é isso que justifica a nova edição portuguesa da Distrito Manga, acabada de chegar às livrarias nacionais. E isso acontece na chamada 'edição definitiva', de formato generoso, com o sentido de leitura original da direita para a esquerda e a preto e branco como Katsuhiro Otomo o concebeu, em pranchas realistas, ultra-violentas, plenas de dinamismo e acção, acentuados pelo uso de linhas de movimento, um traço ágil e cativante e uma intriga densa e irresistível.

A esta nova (re)leitura, depois da iniciação na edição espanhola da Dragon Glénat e de novo mergulho na edição portuguesa da Meribérica-Líber surgida na mudança de século, naturalmente faltou o factor descoberta de então e a componente de antecipação científica, uma vez que a narrativa decorre em 2019, nas vésperas de uns Jogos Olímpicos, após uma guerra nuclear iniciada em 1982 com o lançamento de um novo tipo de bomba em território nipónico.

Por todo este peso, foi com algum receio que voltei a Kaneda, Tetsuo e aos seus companheiros, nas loucas corridas noturnas de mota pelas estradas abandonadas e semi-destruídas de Neo Tóquio, numa história consistente, desenvolvida em crescendo, em que investigação genética secreta, poderes paranormais, conspirações políticas e um exército com demasiados poderes e ambições convivem lado a lado com a sede de liberdade dos mais jovens, o confronto entre os seus gangues pelo domínio das ruas e dos pequenos contrabandos ilegais e a atracção/repulsão entre Kaneda e Kei.

Se o factor descoberta se perdeu, saiu reforçada a nostalgia e poder ler de uma só vez quase 400 páginas, ao contrário das parcas 64 que contava a edição espanhola em que descobri Akira, dá uma outra dimensão a experiência de leitura intensa e vibrante que, literalmente, nos arrasta pelas corridas noturnas, a fuga à autoridade, o mistério das personagens precocemente envelhecidas e com poderes paranormais e o suspense de um relato que não permite uma única paragem para reflectir ou retomar o fôlego, enquanto ressoa continuamente a pergunta: afinal quem ou o que é Akira?


Akira - Livro 1
Katsuhiro Otomo
Distrito Manga
Portugal, Junho de 2025
178 x 256 mm, 362 p., pb e cor, capa mole
28,85 €

(versão revista do texto publicado na edição online do Jornal de Notícias a 20 de Junho de2025 e na edição em papel do dia seguinte; imagens disponibilizadas pela Distrito Manga; clicar nesta ligação para ver mais pranchas ou nas aqui reproduzidas para as aproveitar em toda a sua extensão; clicar nos textos a cor diferente para saber mais sobre os temas destacados)

3 comentários:

  1. Qual é a diferença entre esta edição, e estou a falar só do 1º volume, e a edição da JBC Portugal, de 2019, premiada no Amadora BD? O formato é exatamente o mesmo.

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    1. Tanto quanto se consegue avaliar as edições são idênticas. O que falta saber é se há um verdadeiro compromisso por parte da editora em colocar todos os volumes no mercado e em que prazo. E isso, infelizmente, não foi divulgado.

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    2. Há vídeos no YouTube que comparam as duas edições

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