Os títulos iludem
Apesar do Batman surgir no título, ele não é o protagonista;
apesar de ele referir que esta é uma história real do Homem-Morcego, também não
é verdade.
O título, neste caso, é como as aparências: ilude!
Quem não gosta de super-heróis não se deixe enganar e compre
o livro. Vai valer a pena.
Já escrevi: o Batman não é protagonista, mas aparece
recorrentemente nas páginas desta obra, bem como vários dos seus super-vilões e
coadjuvantes.
Também deixei claro que esta não é uma história verdadeira
do Homem-Morcego, mas é uma história verdadeira: um relato autobiográfico de
Paul Dini, que se tornou conhecido como argumentista da série televisiva Batman The Animated Series, que fez
furor em 1992 - e desde então continua a agradar.
O que o livro narra - um assalto de rua seguido de
espancamento do argumentista e as consequências psicológicas que daí advieram -
data do ano seguinte, 1993, quando Dini e a restante equipa da Warner Bros. trabalhavam
em Batman: The Mask of the Phantasm.
Centrado, naturalmente em Dini, apresenta-se contido sem
deixar de o expor e flui com naturalidade mas também sensibilidade e
despojamento, revelando tudo o que lhe passou pela cabeça - literalmente - após
aquele acontecimento traumático.
Começando um pouco antes, num flashback de infância que
explica a sua relação com os super-heróis em geral - e com Batman em particular
- o livro é (quase) todo uma longa sequência de conversas entre Dini e esses
seres de ficção que fazem parte do seu (trabalho do) dia-a-dia e como essas
conversas - obviamente ficcionais mas reflexo do seu apego a esse universo - contribuíram para Paul Dini reencontrar o
seu equilíbrio e, mais do que isso, retomar o rumo da sua vida.
Obra catártica, lançada mais de 20 anos após os
acontecimentos, encontrou em Eduardo Risso o autor ideal para colocar no papel,
em estilos diversos, ajustados aos diferentes momentos e estados de espírito,
não só o que realmente aconteceu mas, mais ainda, também o que o argumentista
imaginou, os pesadelos que o atormentaram, os medos que em muitos momentos o
dominaram e quase o levaram à auto-destruição.
Repito o aviso: espero que o título não afugente os leitores
que normalmente não lêem histórias de ‘super-heróis com as cuecas por cima da
roupa’, porque perdem um belíssimo relato, para mais verdadeiro, no qual o Batman - e todo o seu imaginário - faz todo o sentido…
Uma história verdadeira do Batman
Paul Dini (argumento)
Eduardo Risso (desenho)
Levoir/Público
Portugal, 21 de Julho de 2017
170 x 260 mm, 128 p., cor, capa dura
9,99 €
(imagens disponibilizadas pela editora; clicar nelas para as
aproveitar em toda a sua extensão)
É curioso estamos quase de acordo com tudo, mas penso exactamente o contrário em relação ao Risso. Parece-me que ele não era o artista adequado para este livro e sempre foi a minha maior crítica.
ResponderEliminarA natureza da narrativa pedia, a meu ver outro tipo de artista. Para Risso deve ter sido excelente a oportunidade de sair do seu registo, mas parece-me que para algo deste tipo, eu ia para um Jonh Paul Leon, Tommy Edwards.
Opiniões....
Fernando, opiniões, sem dúvida...
ResponderEliminarAcho que o Risso conseguiu adoptar estilos diferentes, consoante o que era narrado e que os diferentes traços funcionaram. O que não quer dizer que outros não pudessem fazer melhor...
Boas leituras!
Claro. Eu adoro o Risso e ao saber que por causa deste livro ele não fez o Dark Knight: Master Race com o Miller e Azzarello, fico chateado.
EliminarAdorava ver o Risso a trabalhar com o Miller, porque na verdade era o artista perfeito.