Fora das normas
O leitor de banda desenhada é a espécie mais irritante que existe. Em termos de heróis, fauna que lhe é especialmente querida, exige constância, características bem definidas, perenidade e a certeza de saber - sempre - com o que conta. Mas delira - no bom ou no mau sentido - quando o(s) autor(es) se atrevem a alterar isso.
Hoje, falo de Cisco Kid, de que Manuel Caldas editou mais duas recolhas. A primeira, com as tiras originalmente publicadas entre 29 de Setembro de 1958 e 4 de Julho de 1959, inclui três relatos completos e ainda a primeira parte de uma entrevista com o seu desenhador, o argentino José Luís Salinas.
E, se como já escrevi aqui a propósito de outra recolha destas tiras diárias, "Cisco Kid, como (quase) todas as séries de western, obedece a uns quantos estereótipos - expectáveis", a verdade é que os três relatos contidos nesta edição, se cumprem o que os seus leitores lhe exigem, têm também uma dose de desvio à norma que, paradoxalmente (para alguns) só vem enriquecer os relatos.
O primeiro, apesar de tudo mais 'regular', combina uma tentativa de assassinato do protagonista com a sua contratação (consciente) por um assumido malfeitor e a vida do seu cavalo em risco. A continuação, propõe um exercício narrativo em torno da fábula de "Pedro e o Lobo" ou a assumpção do ditado "uma vez mentiroso, sempre mentiroso", com índios rebeldes e ladrões de gado à mistura. Finalmente o terceiro e último, que inspirou o título desta recolha, brilha - literalmente - pela forma como o protagonismo é assumido, a diferentes níveis, por personagens que em condições normais seriam figurantes - Banjo, o banqueiro, Thap - cabendo a Cisco um papel menor - mas não menos determinante.
No registo conhecido, em que o humor e o cavalheirismo convivem com uma violência que chega a ser extrema - pela forma natural como a brutalidade inerente aos tempos do Velho Oeste é representada - estas variações introduzem nos relatos pequenas variações que os tornam mais interessantes e sedutores.
E comprovam como o western - hoje desprezado por tantos - pode ser uma leitura gratificante mesmo nos tempos que correm.
Rod
Reed (argumento)
José
Luís Salinas (desenho)
Colecção
Cómics de Prensa
Libros
de Papel
Espanha,
Novembro de 2014
280
x 235 mm, 96 p., pb,
brochado
21,00
€
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(imagens disponibilizadas pela Libri Impressi; clicar nesta ligação para ver mais pranchas ou nas aqui reproduzidas para as aproveitar em toda a sua extensão; clicar nos textos a cor diferente para saber mais sobre os temas destacados)
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