Há 100
anos, a selva ouviu pela primeira vez o grito poderoso de Tarzan, um selvagem
branco, filho de um nobre inglês, criado por gorilas.
A sua
origem, narrada em Tarzan of the Apes, publicado em episódios na revista All-Story Magazine a partir de Outubro de 1912 e editado
em livro em 1914, é bem conhecida: durante um motim, os revoltosos
desembarcaram na costa africana um nobre inglês, John Greystoke, e a sua
esposa, que estava grávida. Meses depois, ela morreria ao dar à luz um menino.
O mesmo aconteceria com o marido, passadas algumas semanas, durante um ataque
de gorilas que levaram consigo o bebé.
Tarzan – “pele
branca” na linguagem dos símios – cresceria no seu meio, como um selvagem. Já
na adolescência, encontrou a cabana que o pai tinha construído, aprendendo a
ler nos seus livros e compreendendo porque era diferente de Kala, a sua mãe
adoptiva e dos outros gorilas. Após derrotar o líder do seu bando, tornou-se no
senhor da selva, respeitado pelos animais e temido pelos indígenas. Anos mais
tarde, uma expedição que procurava o pai encontrou-o; foi assim que conheceu a
bela Jane, que se tornaria sua companheira.
Edgar Rice
Burroughs (1875-1950), que os correios norte-americanos acabam de homenagear
com a emissão de um selo de correio alusivo a este centenário, para além de
criador de outras sagas extraordinárias, como John Carter de Marte
ou Pellucidar, o mundo pré-histórico no centro da Terra, fez Tarzan viver novas
aventuras ao longo de mais de duas dezenas de romances, desenvolvendo o
universo do mito que o cinema e a BD se encarregariam de alargar e tornar mais
popular.
Foi para o
grande ecrã que Tarzan saltou primeiro, logo em 1918, em Tarzan of the Apes, da
National, filme mudo protagonizado por Elmo Lincoln. Para ouvir o senhor da
selva gritar a plenos pulmões foi necessário esperar até 1932, quando Johnny
Weissmuller, contracenando com a sensual Maureen O´Sullivan (Jane), se estreou
em Tarzan of the Apes, da Metro-Gwoldin-Mayer. Weissmuller, campeão olímpico de
natação, protagonizaria mais 11 filmes, até final da década de 1940, destacando-se
posteriormente as interpretações de Lex Barker e Gordon Scott.
No total foram
53 os filmes de Tarzan, entre as quais se conta a versão animada da Disney, de
1999. Actualmente, há notícias não confirmadas de duas novas versões
cinematográficas, associadas a nomes de peso. Uma delas, da Warner Bross.,
teria David Yates como realizador, depois de três filmes de Harry Potter, e Tarzan
seria interpretado pelo multi-campeão olímpico Michael Phelps que, depois das
22 medalhas conquistadas, seguiria assim o percurso de Weissmuller; a outra, da
Summit Entertainment, reuniria de novo Reinhard Klooss e Kellan Lutz, depois da
experiência conjunta na saga Crepúsculo.
Quanto à
banda desenhada, só “descobriu” Tarzan em 1929, quando Joseph H. Neebe
encarregou um certo Hal Foster de desenhar uma adaptação do romance original de
Burroughs (editada em português
pela Libri Impressi). Foster, que desenhou ainda as páginas dominicais de Tarzan
entre 1931 e 1937, viria a tornar-se mundialmente famoso como criador do Príncipe
Valente.
Foram
inúmeros os desenhadores que se encarregaram das aventuras aos quadradinhos do
senhor da selva, destacando-se Burne Hogarth, pela qualidade anatómica e dinamismo do traço, Russ Manning
pelo desenho limpo e agradável, e Joe Kubert
, responsável pela versão mais dura e agreste de Tarzan.
Estreados
em Portugal nas páginas do Diabrete, em 1941, os quadradinhos de Tarzan, que
nos anos 50 chegaram a ser proibidos pelos Serviços de Censura, marcaram também
presença no Cavaleiro Andante e no Mundo de Aventuras, tendo mesmo
protagonizado diversas revistas com o seu nome.
(Versão revista do texto publicado no Jornal de Notícias de
15 de Outubro de 2012)