Quentin Blake (argumento e desenho)
Caminho (Portugal, Outubro de 2009)
220 x 308 mm, 32 p., cor, brochado
Embora a data de nascimento da banda desenhada tenha sido (mediaticamente) estabelecida em função da utilização de balões de fala, este “Palhaço” é um belo exemplo de como uma BD muda – sem palavras escritas, entenda-se – pode ser tão eloquente e expressiva.
É verdade que a sua ideia base é simples e até pouco original: uma série de bonecos velhos (ultrapassados pela tecnologia?) são deitados ao lixo na sequência de uma arrumação – depreende-se porque, uma das características da banda desenhada é permitir ao leitor perceber/intuir/adivinhar, o que nela não está escrito/desenhado. Entre eles está um palhaço que – numa bela e maravilhosa efabulação – ganha vida e parte em busca de uma nova dona. A primeira escolha falha, devido ao seu pobre aspecto (de brinquedo de pobre). Mas, após algumas peripécias divertidas, com a ternura que os contos infantis (ainda) sabem ter, acaba por encontrar quem realmente precisa dele, conseguindo ainda resgatar os seus antigos companheiros de brincadeira para alegria geral, mostrando como a felicidade pode estar nas coisas simples.
O que faz a diferença nesta narrativa – galardoada com o prémio Bologna Ragazzi – é o traço do autor, próximo do cartoon, simples mas mais pormenorizado do que parece indicar uma leitura rápida, ágil, vivo extremamente expressivo, bem tingido – de forma parcimoniosa mas muito eficaz - por cores suaves e alegres.
E se esta é uma BD sem palavras, é também uma BD a cujas pranchas faltam também (quase todos) os enquadramentos, o que de forma alguma serve para dificultar a sua leitura, servindo para lhe conferir uma grande liberdade (também visual), dotando-a de movimento e acentuando o seu ritmo vivo e o seu tom maravilhoso.
(Texto publicado originalmente a 23 de Janeiro de 2010, na página de Livros do suplemento In’ da revista NS, distribuída aos sábados com o Jornal de Notícias e o Diário de Notícias)