Sacha Goerg
Dargaud (França, 20 de Janeiro de 2012)
180 x 240 mm, 192 p., cor, brochado com badanas
18,00 €
Resumo
Numa manhã de Outono, Judith,
uma adolescente disfarçada de rapaz, simula uma queda no lago para se
introduzir, encharcada até aos ossos, numa magnífica casa moderna que pertenceu
a um famoso escultor recentemente falecido.
Pretende, desta forma,
descobrir mais sobre a sua origem, sobre o pai que mal conheceu e sobre aqueles
de quem ele sempre a escondeu.
Desenvolvimento
Esta é uma história sensível
mas estranha.
Decorre nume belíssima casa,
isolada, nas margens de um lago, tudo traçado – tal como as personagens - num
traço fino e subtil, ao qual a cor confere profundidade e movimento, em
pranchas desprovidas dos enquadramentos tradicionais (ou de todo desprovidas de
enquadramentos) o que só acentua a sua estranheza.
Nesse local fechado, isolado
de tudo, durante várias horas, vão conviver seis pessoas: Judith, Sonia, viúva
do falecido, o seu filho Mattew, Hugo, amigo deste, Chris, que organiza uma
retrospectiva do escultor, e Miki, a sua companheira do momento. E, pairando
sobre todos, como uma sombra – literalmente no desenho, num belo achado de
Sacha Goerg – falando-lhes (de alguma forma, a alguns…) está o morto.
Entre alguns – entre todos? –
a tensão é evidente, os desencontros, maus encontros, meias-palavras e questões
mal resolvidas acumulam-se, tentando uns afogá-los em vinho, outros em
recordações, outros ainda no sexo.
Porque, naquela casa, Judith
não é a única a ter segredos – os segredos são (bem) mais do que os
protagonistas e todos os tentam esconder – e os segredos de Judith não são os
únicos a serem conhecidos por (alguns dos) outros.
É neste clima de estranheza,
de intranquilidade, de incerteza, de dúvidas e de desconfianças que os seis
(mais o falecido…) vão conversando e/ou interagindo, confrontando-se,
defrontando-se, jogando com as palavras, em avanços e recuos, insinuações e
acusações, com a tensão a acumular-se e a ameaçar explodir a cada momento.
Até ao desfecho final,
inesperado e surpreendente, onde se adivinha a mão do escultor e se destaca
afinal a fragilidade e impotência de cada um dos protagonistas face ao papel
principal que a casa, então, assume.
A reter
- O tom estranho do relato,
que obriga a reler algumas passagens e provoca uma estranha sensação de
incómodo no leitor que chega ao fim e percebe que cabe à sua intuição completar
o que nele ficou por dizer.
- O inesperado mas conseguido
desfecho final.
Menos conseguido
- Alguns desequilíbrios a
nível do desenho que não são, no entanto, suficientes, para pôr em causa o belo
trabalho gráfico de Sacha Goerg ao longo da maior parte das pranchas.