12/09/2011

12 Septembre

L’Amérique d’après
Collection Univers d’auteurs
Enki Bilal (capa)
Sophia Aram, Russell Banks, Daryl Cagle, CharlÉlie, Jerome Charyn, Roger Cohen, Jacques Ferrier, Jean-Luc Hees, Barbara Hendricks, Miles Hyman, Jul, Lorenzo Mattotti, José Muñoz, Plantu, Joe Sacco, Carlos Sampayo, Fabienne Sintes e Art Spiegelman
Casterman + Radio France (França, 17 de Agosto de 2011)
187 x 260, 208 p., pb e cor, brochado com badanas
22,50 €

Resumo
Obra colectiva que reúne autores de um e outro lado do Atlântico que reflectem sobre as mudanças que os atentados de 11 de Setembro de 2001 provocaram nos Estados Unidos, no sonho e nos ideais norte-americanos.

Desenvolvimento
Este é um livro diferente, pensado pelos jornalistas franceses Pascal Dellanoy e Jean-Christophe Ogier, que junta em parcerias ou diálogos autores francófonos ou norte-americanos, oriundos das mais diversas áreas: jornalistas, cartoonistas, escritores, arquitectos, ilustradores, músicos, autores de BD, fotógrafos…
A base, para (quase) todos, é a mesma: reflectir sobre o que mudou com os atentados de há uma década. E a respostas, em forma de ficção ou reflexivas, críticas dos atentados e das acções (retaliatórias) que se lhe seguiram, são maioritariamente marcadas pelo pessimismo, a desilusão, a dúvida. Naturalmente. Mas sem esconder (algum) fascínio, e, no fundo, a crença que continuam a depositar numa América capaz de os surpreender.
Em termos práticos, é evidente que o que melhor funciona são os cartoons, no saboroso e (apesar de tudo) divertido diálogo entre Cagle e Plantu.
É, no entanto, nalguns dos textos escritos que o tema é melhor esmiuçado e é neles que se cumpre melhor o propósito do livro: fornecer ao leitor pistas, pontos de partida, indicações para elaborar a sua própria reflexão sobre o tema.
Para quem tem maior interesse pela BD – a maioria dos leitores deste blog, suponho – para além da bela capa de Bilal, o destaque vai para a criação de Joe Sacco, desta vez despido da sua farda de BD-jornalista, enveredando por um relato com (invulgar) tom de ficção-científica, numa viagem a um aterrador futuro dos EUA. Muñoz e Sampayo, com o tom negro e desiludido que os caracteriza mostram como os emigrantes estão (sempre) por detrás dos (sonhos) norte-americanos, desta vez com uma viagem à cozinha do império. Miles Hyman, nova-iorquino que reside em Paris traça um retrato sombrio de uns EUA transformados em vítimas de uma hiper-segurança obsessiva.
De uma obra com estas características, aberta para permitir ao leitor, claramente apontada para lá do mercado tradicional de banda desenhada, ressalta o facto de as participações aos quadradinhos ombrearem perfeitamente com as outras formas de expressão, por alguns ditas “mais nobres”, ganhando em expressividade sem perder profundidade ou capacidade de afirmar posições.

A reter
- A qualidade dos nomes reunidos nesta obra.
- O tom da obra, que privilegia a reflexão sobre o futuro em detrimento da homenagem ou da evocação, partilhando pistas e sinais com o leitor.
- As participações dos cartoonistas Cagle, Jul e Plantu.

Menos conseguido
- O facto de a participação de Art Spigelman, um nome com muito peso e com diversos trabalhos sobre o tema, se limitar a respostas a uma entrevista (ilustradas por Mattotti), embora com muito para reflectir.
- A inexistência de uma edição portuguesa, que pode de alguma forma ser compensada pela edição brasileira da Record/Galera, já disponível.

11/09/2011

11 de Setembro inspira BD

Poucas semanas após os atentados de 11 de Setembro de 2011, surgiram as primeiras das múltiplas edições aos quadradinhos em que o protagonismo se dividia entre super-heróis e heróis anónimos, todos abalados e incrédulos face á destruição das torres gémeas. Agora, uma década mais tarde, a data é de novo assinalada em BD, sendo várias as edições a lançar esta semana.

A mais mediática é, sem dúvida, “Holly terror”, da nova editora Legendary Pictures, assinada por Frank Miller, criador de “Sin City”, “300” ou “Batman: The Dark Night Returns”. Em formato horizontal, esta graphic novel, que na sua génese era uma história de Batman, foi concluída após 6 anos de trabalho criativo do autor, que mais uma vez dá provas do seu virtuosismo gráfico a preto e branco. O protagonista é The Fixer, um herói que vai defender Nova Iorque de novo atentado terrorista, numa BD que deverá ter tanto de violenta quanto de polémica, que o autor classificou como “120 páginas de propaganda política descarada”.






Outros dois nomes conceituados dos comics norte-americanos, Rick Veitch e Gary Erskine, assinam “The Big Lie”, na Image Comics, uma ficção inspirada num episódio da série televisiva The Twilight Zone e narrada pelo institucional Tio Sam. Nela, a mulher de uma das vítimas dos atentados regressa à manhã do dia 11 de Setembro para tentar tirar o seu marido do World Trade Center. Resta saber se conseguirá convencê-lo do que está para acontecer e qual a grande mentira que o título da BD aponta.








Quanto a “Code Word: Geronimo”, com a chancela da IDW Publishing, narra de forma pormenorizada e ficcionada todos os passos da missão que teve como objectivo eliminar Bin Laden. O argumento é assinado por Julia e Dale Dye, este último capitão aposentado da marinha dos EUA e conselheiro de Hollywood para assuntos militares, estando o desenho a cargo de Gerry Kissell.





Finalmente, em França (mas com edição já anunciada para vários países), encontramos “12 Septembre – l’Amerique d’après”, edição conjunta da Casterman e da Radio France que reúne nomes conceituados de um e outro lado do Atlântico, da imprensa (Roger Cohen), literatura (Russell Banks, Jerôme Charyn), BD (Enki Bilal, Myles Hyman, Joe Sacco, Muñoz e Sampayo, Art Spiegelman), ilustração (Lorenzo Mattotti), cartoon (Jul, Daryl Cagle, Plantu) e música (CharlÉlie, Barbara Hendricks). A solo ou em animados diálogos, todos reflectem sobre as consequências dos atentados na imagem que habitantes locais e estrangeiros têm hoje da América, de como esta mudou e do que é feito do sonho americano, predominando nas diferentes análises a dúvida, a desilusão e o pessimismo sobre o futuro.




(Versão revista e aumentada do texto publicado no Jornal de Notícias de 9 de Setembro de 2011)

10/09/2011

XVII Salão Internacional de Banda Desenhada de Viseu

Hoje, às 17 horas, abrem-se as portas do XVII Salão Internacional de Banda Desenhada de Viseu que tem como tema aglutinador “Cidades na BD”.A decorrer até 21 de Setembro no Pavilhão Multiusos, em plena Feira de São Mateus, voltando assim às suas origens, o evento conta hoje e amanhã com dois convidados muito especiais, ambos distinguidos com os Prémios Anim’Arte 2010, o português Eugénio Silva, autor de biografias aos quadradinhos de Eusébio e Inês de Castro, e o italiano Fabio Civitelli, hoje em dia o mais destacado desenhador de Tex, o western mais antigo dos quadradinhos. A propósito do seu regresso a Portugal, depois de ter participado nos salões de Moura, Beja e Amadora, Civitelli fez uma belíssima ilustração que mostra Tex Willer emboscado no claustro da Sé de Viseu.
As cidades do velho Oeste calcorreadas pelo ranger, que Civitelli mostrará hoje aos seus admiradores numa visita guiada, antes de uma inevitável sessão de autógrafos, são algumas das que estarão em destaque no salão, a par dos cenários intemporais portugueses desenhados por Luís Diferr em “Portugal”, da Veneza que Pratt tão bem recriou para Corto Maltese, das cidades do passado que Alix conheceu, daquelas onde Hergé levou Tintin e das Cidades Obscuras imaginadas por Schuiten e Peeters.
O salão assinala ainda o 2º Centenário do Nascimento do Historiador e Escritor Alexandre Herculano, através de uma exposição colectiva que mostra diversas adaptações das suas obras para os quadradinhos.

(Texto publicado no Jornal de Notícias de 10 de Setembro de 2011)

09/09/2011

Como num comic de super-heróis

(Texto publicado originalmente no Jornal de Notícias de Jornal de Notícias de 18 de Setembro de 2001 )
É óbvio que a maior parte das histórias narradas nos comics de super-heróis só podem ser credíveis , apesar de muitas serem estimulantes, no universo intrínseco em que se desenrolam, criado (e recriado) por autores como Joe Schuster, Jerry Siegel, Bob Kane, Stan Lee, Jack Kirby, Neal Adams, Frank Miller, Joe Madureira e tantos outros.
Nos atentados da passada terça-feira, 11 de Setembro de 2001, a "intriga real" mostrou muitos pontos de contacto com os estereótipos deste género de histórias aos quadradinhos: o ódio aos valores defendidos pelos americanos; a escolha de alvos não só estratégicos mas, sobretudo, simbólicos; a vitimização indiscriminada de milhares de pessoas inocentes, que tiveram o azar de estar no sítio errado, à hora errada.
Mas, ao contrário do que costuma acontecer nos comics de super-heróis, desta vez não houve um Super-Homem a aparecer no último instante para suster os aviões assassinos, um X-Man para abafar as explosões, um Wolverine para derrotar violentamente os terroristas ou um Homem-Aranha para salvar as pessoas desesperadas que se lançavam das torres em chamas.
Por isso, daquela vez, foram os "vilões" a ganhar (pelo menos para já, mas para sempre em muitos aspectos) e as vítimas contam-se aos milhares, de carne e osso, não simples desenhos em coloridas folhas de papel.
Talvez porque a ameaça não vinha de nenhum "super-vilão", mas de simples seres humanos, igualmente de carne e osso, como os americanos - como nós -, embora igualmente desprovidos de sentimentos, de princípios (tal como os definimos no mundo ocidental...), de respeito pelas vidas humanas. Tal como os vilões dos comics de super-heróis igualmente movidos apenas por um ódio irracional e inexplicável.
As histórias de super-heróis estão nas bancas à nossa disposição, em excelentes edições da Devir*, em títulos regulares como "Wolverine", "Homem-Aranha", "Vingadores", "Quarteto Fantástico" ou "X-Men", ou em histórias completos como "Demolidor - O homem sem medo" ou "O regresso dos Heróis".
A realidade de há uma semana continua diante de nós, dos nosso olhares ainda incrédulos. E a destruição vista em "A morte do Super-Homem" ou na saga "Devastação" é tristemente real. E por isso, possivelmente, agora, o olhar sobre estas bandas desenhadas passa a ser diferente. Porque a realidade foi (muito) mais além do que a ficção.

* Em 2001 aqueles títulos estavam disponíveis em excelente edições portuguesas, da Devir, hoje aqueles e/ou outros estão disponíveis em edições brasileiras da Panini Comics.

08/09/2011

Leituras de Banca

Setembro 2011
Títulos que já estão ou estarão em breve disponíveis nas bancas portuguesas.


Panini
Marvel

Homem-Aranha #109

Os Novos Vingadores #84

Wolverine #73

X-Men #109

Universo Marvel #7

 

DC Comics

Batman #99

Liga da Justiça #98

Superman #99

Universo DC #8

 

Turma da Mónica

Almanaque do Louco #1

Almanaque da Mônica #26

Almanaque do Cascão #26

Almanaque do Cebolinha #26

Almanaque Temático Turma da Mônica #17 – Marina Artes

Cascão #51

Cebolinha #51

Chico Bento #51

Magali #51

Mônica #51

Ronaldinho Gaúcho e Turma da Mônica #51

Turma da Mônica – Uma aventura no parque #51

Turma da Mónica – Saiba mais #42 – Villa Lobos

Turma da Mônica Jovem #32

Turma da Mônica – Colecção Histórica #22

 

Mythos

TEX ANUAL 12 - A Fera Humana
Texto: Tito Faraci – Desenhos: Roberto Diso

TEX 471 - Sangue no Paraíso
Texto: Claudio Nizzi - Desenhos: Rossano Rossi
TEX COLEÇÃO 263 - O Círculo do Crime
Texto: G. L. Bonelli – Desenhos: G. Letteri

Texto: Mauro Boselli – Desenhos: Carlo Rafaelle Marcello

TEX EDIÇÃO EM CORES 8 - O Filho de Tex
Texto: G. L. Bonelli – Desenhos: Aurelio Galleppini

ZAGOR 120 - Armadilha de Fogo
Texto: Moreno Burattini – Desenhos: Marco Verni

ZAGOR EXTRA 84 - Um Pacto Trágico
Texto: Guido Nolitta – Desenhos: Galieno Ferri

ZAGOR ESPECIAL 31 - A Lua dos Esqueletos
Texto: Jacopo Rauch – Desenhos: Gramaccioni

MÁGICO VENTO 105 - A Face do Mal
Texto: Gianfranco Manfredi – Desenhos: B. Ramella

AVENTURAS DE UMA CRIMINÓLOGA 76 - A História de Jason
Texto: Giancarlo Berardi & L. Calza – Desenhos: Calcaterra e Marinetti

07/09/2011

Contes Cruels du Japon

Jean David Morvan (argumento)Saito Naoki (desenho)
Delcourt (França, 24 de Agosto de 2011)
240 x 320 mm, 64 p., cor, cartonado
14,95 €

Resumo
Oito contos tradicionais japoneses, quase todos da época medieval, recontados aos quadradinhos por um belga e um japonês.

Desenvolvimento
O interesse crescente no Ocidente pelo manga em particular e pela cultura asiática em geral, tem influenciado a banda desenhada ocidental, não apenas a nível gráfico e narrativo, mas também em termos temáticos, procurando assim (re)conquistar as novas gerações (de leitores) que cresceram com os animes televisivos e – por arrastamento – com os mangas cujo sucesso (editorial) fizeram.
Este álbum, escrito por Morvan, um argumentista de créditos firmados, que conta na sua bibliografia feita de dezenas de tomos, sucessos como Sillage ou Troll e uma passagem (recente) por Spirou – é mais um exemplo disto, na abordagem que faz a um punhado de contos e lendas tradicionais do Japão medieval.
A sua abordagem é directa, simples transposição para os quadradinhos, de forma equilibrada e com grande legibilidade, para o que contribui bastante o texto introdutório a cada um dos contos - destas lendas protagonizadas por seres (nem sempre cruéis, ao contrário daquilo que o título afirma) como a mulher das neves de coração gelado, o homem-tubarão, uma cerejeira especial ou um devorador de cadáveres.
Como base, cada um deles tem sempre uma ou mais características do ser humano – verdade, fidelidade às promessas, coragem, covardia, medo, submissão – abordadas de forma metafórica em contextos irreais, oníricos ou fantásticos, mas sempre com efeitos práticos sobre a vida quotidiana dos seus protagonistas.
Para as ilustrar – possivelmente por razões não inocentes – foi escolhido o japonês Samo Naoki, diplomado em Desenho Gráfico pela Universidade de Belas Artes de Tama.
Com mais experiência na ilustração do que na BD, apesar disso revela um bom domínio da planificação, variada e sem limites pré-fixados, e um traço seguro, de alguma forma próximo da linha clara e herdeiro do anime tradicional, mas que se revela demasiado igual de história para história, apesar da sua diversidade temática, denotando assim dificuldades em adequá-lo ao ambiente e contexto próprios de cada uma.

A reter
- Mais um exemplo da influência nipónica na BD franco-belga.

Menos conseguido
- Algumas limitações gráficas reveladas por Naoki.
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