09/09/2011

Como num comic de super-heróis

(Texto publicado originalmente no Jornal de Notícias de Jornal de Notícias de 18 de Setembro de 2001 )
É óbvio que a maior parte das histórias narradas nos comics de super-heróis só podem ser credíveis , apesar de muitas serem estimulantes, no universo intrínseco em que se desenrolam, criado (e recriado) por autores como Joe Schuster, Jerry Siegel, Bob Kane, Stan Lee, Jack Kirby, Neal Adams, Frank Miller, Joe Madureira e tantos outros.
Nos atentados da passada terça-feira, 11 de Setembro de 2001, a "intriga real" mostrou muitos pontos de contacto com os estereótipos deste género de histórias aos quadradinhos: o ódio aos valores defendidos pelos americanos; a escolha de alvos não só estratégicos mas, sobretudo, simbólicos; a vitimização indiscriminada de milhares de pessoas inocentes, que tiveram o azar de estar no sítio errado, à hora errada.
Mas, ao contrário do que costuma acontecer nos comics de super-heróis, desta vez não houve um Super-Homem a aparecer no último instante para suster os aviões assassinos, um X-Man para abafar as explosões, um Wolverine para derrotar violentamente os terroristas ou um Homem-Aranha para salvar as pessoas desesperadas que se lançavam das torres em chamas.
Por isso, daquela vez, foram os "vilões" a ganhar (pelo menos para já, mas para sempre em muitos aspectos) e as vítimas contam-se aos milhares, de carne e osso, não simples desenhos em coloridas folhas de papel.
Talvez porque a ameaça não vinha de nenhum "super-vilão", mas de simples seres humanos, igualmente de carne e osso, como os americanos - como nós -, embora igualmente desprovidos de sentimentos, de princípios (tal como os definimos no mundo ocidental...), de respeito pelas vidas humanas. Tal como os vilões dos comics de super-heróis igualmente movidos apenas por um ódio irracional e inexplicável.
As histórias de super-heróis estão nas bancas à nossa disposição, em excelentes edições da Devir*, em títulos regulares como "Wolverine", "Homem-Aranha", "Vingadores", "Quarteto Fantástico" ou "X-Men", ou em histórias completos como "Demolidor - O homem sem medo" ou "O regresso dos Heróis".
A realidade de há uma semana continua diante de nós, dos nosso olhares ainda incrédulos. E a destruição vista em "A morte do Super-Homem" ou na saga "Devastação" é tristemente real. E por isso, possivelmente, agora, o olhar sobre estas bandas desenhadas passa a ser diferente. Porque a realidade foi (muito) mais além do que a ficção.

* Em 2001 aqueles títulos estavam disponíveis em excelente edições portuguesas, da Devir, hoje aqueles e/ou outros estão disponíveis em edições brasileiras da Panini Comics.

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