Três meses depois da sua estreia no cinema, em Junho de
1934, com uma prestação secundária na animação The Wise Little Hen, Donald Duck fazia a sua aparição na banda
desenhada, numa adaptação do filme citado.
A continuação está já a seguir.
A publicação teve lugar nos jornais norte-americanos, na
página dominical das Silly Symphonies, assinada por Ted Osborne (1901-1968) e
Al Taliaferro (1905-1969). A história durou até Dezembro e, a 10 de Fevereiro
do ano seguinte, Donald surgia nas tiras diárias de Mickey Mouse, em publicação
desde 1931, desenhado por Floyd Gottfredson (1905-1986).
O seu carácter explosivo, colérico e quezilento e a
tendência para armar confusões contribuíram rapidamente para o seu sucesso – no
papel e nos ecrãs – pelo que não surpreendeu que a partir de Agosto se tornasse
o protagonista das Silly Symphonies.
A dupla Osborne/Taliaferro aos poucos transformou o
provinciano Donald num habitante citadino. Ao mesmo tempo encolheram-lhe o bico,
deram-lhe um olhar mais expressivo e colocaram-no como responsável pelos seus
sobrinhos trigémeos e traquinas, Huey, Dewey e Louie – que conhecemos como
Huguinho, Zézinho e Luisinho. Filhos da sua irmã Della Duck, fizeram a sua
primeira aparição a 17 de Outubro de 1937, mas o carácter passageiro da sua
visita rapidamente passou a definitivo e ainda hoje vivem com Donald. Ao longo
dos tempos tornaram-se mais ajuizados e responsáveis, para que fosse maior o
contraste com a postura conflituosa do tio, que, pelo contrário, não melhorou
nada ao longo dos anos.
Ainda em 1937, na primeira história feita para uma revista,
o pato mais famoso da Disney conheceria aquela que viria a ser a sua namorada Daisy
Duck (Margariada) que na época se chamava Donna. Criada por William Ward, para a
revista inglesa Mickey Mouse Weekly #67, foi a primeira vez que uma BD de Donald
foi escrita e desenhada fora dos EUA algo que nas décadas seguintes se tornaria
normal, pois, entre outros, seria recriado na Dinamarca, Brasil e Itália, sendo
oriundas deste último país as histórias actualmente publicadas em Portugal.
A introdução do seu carro, com a significativa matrícula
313, representativa do seu carácter azarado, e o alargamento do círculo das
suas relações com a introdução de Grandma Duck (Vovó Donalda, 1943), Scrooge
McDuck (Tio Patinhas, em 1947), Gladstone gander (Gastão, 1948) ou Fethry Duck
(Peninha, 1964), entre muitos outros, vieram dar uma nova dimensão às aventuras
de Donald.
Para este aspecto contribuiu decisivamente Carl Barks (1901-2000), o
desenhador dos patos, que fez de Donald um pato mais humano, ao agravar os seus
maiores defeitos: a tendência para a preguiça e para adiar para amanhã o que
devia ter feito ontem, o seu carácter colérico, a facilidade com que cria
inimizades ou provoca desconhecidos, multiplicando as suas aventuras urbanas,
entremeadas com as grandes caçadas a tesouros perdidos, patrocinadas pelo seu
Tio Patinhas.
Embora o (re)conhecessem como trapalhão, azarado e
irritadiço, os leitores de BD Disney em 1969 descobriram uma nova faceta de
Donald, quando os italianos Guido Martina e Giovan Battista Carpi o transformaram
no Superpato (Paperinik no original italiano) para se vingar dos sucessivos
desaires sofridos às mãos do Tio Patinhas e do Gastão, como visto na recente
Disney Especial Super-Heróis, ainda nas bancas. O sucesso alcançado – também graças aos
equipamentos inventados pelo professor Pardal - manteve este super-herói Disney
em actividade até aos nossos dias.
Uma outra faceta de Donald, decidido e corajoso, é a de
agente secreto, sob a identidade de Double Duck, personagem criado em 2008 por
Fausto Vitaliano e Andrea Freccero, que a Goody introduziu na Disney Especial Double Duck e com presença recorrente marcada na Hiper, desde o número #20 até
ao #24.
Mas, nestes ou noutros contextos, sozinho ou acompanhado, 80
anos depois, a entrada em cena de Donald continua a ser sinónimo de
divertimento e de peripécias sem fim.
(Versão revista do texto publicado no Jornal de Notícias de
16 de Setembro de 2014)
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