Aparências
Convencido pela forma como Michele Masiero recontou as origens de Mister No em Revolution, decidi avançar para este Hollywoodland, a história de dois irmãos separados pela forma de ser, pelas mulheres que amaram e pelas escolhas que fizeram, nos Estados Unidos dos anos 1920, com a meca do cinema em plena ascensão sob a sombra ameaçadora/protectora da Mafia, numa terra que ainda era de todos os sonhos.
Monty é o modelo ideal: bem parecido, atlético, herói de guerra, polícia condecorado, casado com uma bela mulher, com um filho…
Quanto a Danny, é rude, tem peso a mais, acabou transformado no homem-de-mão de diversa gente importante, mas muitas vezes pouco recomendável, para executar as tarefas mais esconsas e desagradáveis.
Entre eles há um segredo - que vem desde a infância e Masiero só revela no final - que moldou e direccionou as suas existências e os transformou no que são hoje.
Durante este verdadeiro romance policial de tom negro e contornos dramáticos, mais uma bela narrativa oriunda da tão recomendável colecção Le Storie, Masiero traça-nos um retrato realista, cru e decepcionante de uma indústria - a cinematográfica - que geralmente surge aureolada em tons brilhantes e glamorosos, mas que se fez e cresceu assente em inúmeras intrigas, nas influências mafiosas, em jogos escusos, na destruição de carreiras de actores impolutos e na ascensão daqueles que se deixavam comprar ou dirigir.
Neste meio conspícuo e violento, onde as paixões têm tanto de inevitável quanto de insustentável, com o dinheiro - e a droga, e o crime… - a imporem a sua lei, Monty e Danny vão acabar por se encontrar em lados diferentes da barricada - tendo mesmo que se defrontar… - quando os cadáveres se começarem a acumular, os segredos vierem ao de cima e muito do que nós fomos lendo e, por isso, intuindo, se revelar enganador.
Porque, se em Hollywwodland - assim se chamava a meca do cinema nas suas origens - o mais importante são as aparências, raramente o que vemos realmente é e Masiero mostra-se um mestre em enganar o seus leitores, acompanhado pelo desenho a preto e branco de Baldazzini, feito de fortes contrastes de branco e negro e onde apetece adivinhar influências de Chester Gould - nos retratos mais caricaturais - e de Charles Burns - quando vem ao de cima um certo realismo mais chocante.
Hollywoodland
Michele
Masiero (argumento)
Roberto
Baldazzini (desenho)
Paquet
França,
Maio de 2021
197
x 268 mm, 288 p., pb, capa dura
25,00
€
(imagens disponibilizadas pela Paquet e pela Sergio Bonelli Editore; clicar nelas para as aproveitar em toda a sua extensão)
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